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The End

Revista algomais

No fim, o amor que você recebe é equivalente ao amor que você dá. Esse trecho da canção “The End” do álbum “Abbey Road” (1969) marca o fim dos Beatles. Entretanto, “o fim” é algo muito relativo. Diferente dos seres humanos, as empresas podem ser imortais. Sua marca pode continuar pra sempre. Os Beatles, em 1970, aos 30 anos, já tinham deixado sua marca para, talvez, a eternidade.

Apenas 5% das empresas chegam nas mãos dos netos do fundador. A partir da segunda geração, os filhos vão tomando seus próprios rumos, alguns assumem o controle da empresa, mas, na grande maioria dos casos, sem um adequado processo sucessório. Conheço o caso de um dono de barbearia, seu Pituca, que sustentou a família por décadas, teve o negócio seguido pelo filho por mais 20 anos. Em 2016 o neto de Pituca abriu um salão em um bairro chique do Recife, com serviços tradicionais destinados à experiência do cliente. A terceira geração do mesmo negócio do barbeiro Pituca chegava na era da indústria 4.0, design thinking, contabilidade digital, blockchain, etc.

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Não existe diferença, do ponto de vista do objetivo final, entre o planejamento sucessório do neto de seu Pituca e o de uma holding familiar de um grande grupo empresarial. O êxito está na continuidade do negócio, pautado na disseminação da cultura da empresa, acrescida por valores de uma geração, modificada por valores de outra, mas com o objetivo comum da continuidade da marca, não importando o tempo nem as transformações, inevitáveis, sofridas no processo.

Os filhos dos Beatles não alcançaram, na música, o sucesso de seus pais. Quando o talento e a oportunidade (no sentido amplo) não conseguem ser herdados, só existe duas maneiras da “empresa” alcançar longevidade: a primeira é a singularidade da obra. Uma sinfonia de Beethoven, um quadro de Leonardo da Vinci e uma canção como “Yesterday” são coisas que não dependem de esforço para se manterem vivas por gerações. Dizemos que elas possuem “herdeiros naturais” que são seus próprios apreciadores.

A segunda é a insistência no propósito. Diferente do neto de seu Pituca, muitas empresas não conseguem durar mais que 50 anos pela falta da disseminação do “nome familiar” durante o processo de sucessão. É um processo complexo e que quase nenhuma empresa faz. Quando o sucessor morre, na maioria dos casos, coincide com o fim da empresa. Ainda que o negócio continue com os herdeiros, esse é um processo que, com raras exceções, culmina em brigas familiares sobre os rumos que o negócio deve tomar, sobre quem tem mais capacidade, quem vai administrar, quem não tem interesse no negócio, mas quer sua parte, enfim, uma série de conflitos em um momento de fragilidade pessoal dos membros da família. Esse é o momento que a empresa tem seu obituário assinado. Muitas vezes, longe da figura do fundador, as diferenças entre os herdeiros emergem acintosamente.

Os Beatles tinham total incapacidade de planejar com eficácia as contingências inevitáveis da vida, inclusive a morte. Afinal, quando a banda acabou, John e Paul estavam apenas com 30 e 28 anos, respectivamente. Planejamento sucessório não deve ser feito “no fim”, mas sobretudo “durante”. Afinal, o amor que você planta será equivalente ao amor que seus sucessores irão colher.

*Alessandro Carneiro é contador e fã dos Beatles

Esta coluna é de responsabilidade da AC Consult Contadores.

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