João Cabral de Melo Neto, no poema O Rio, narra a força dos trabalhadores que movem as engrenagens da indústria que transforma o canavial em açúcar e álcool. Um dos setores mais tradicionais do Estado, que segue tendo um papel forte na economia e na geração de empregos.
Em Pernambuco, diante de um solo fértil, mas acidentado, que inviabiliza a mecanização da produção, trabalhadores da Zona da Mata Norte permanecem sendo um dos grandes ativos para a produtividade do setor. Na Usina Petribú, no município de Lagoa de Itaenga, a política trabalhista e social inovadora tem estimulado a valorização dos seus profissionais e o progresso na carreira.
No quadro dos colaboradores da Petribú há diversas histórias de funcionários com longos anos de carreira, como a de Erivaldo Severo da Silva, 54 anos, dos quais 27 como funcionário da empresa. Sua trajetória foi de progressão na vida profissional. Começou no corte da cana, com um desempenho de destaque – ele venceu por três edições o Facão de Ouro, uma premiação interna que reconhece o funcionário com maior produtividade do ano. Ao longo de sua carreira, ele assumiu várias funções até chegar a posição de fiscal agrícola. “Comecei a estudar depois dos 40 anos. Era analfabeto, leigo. Tive o prazer de poder crescer no trabalho”, revela Seu Severo.
Quem também atravessou longos anos dentro da usina é a educadora Evanice Rodrigues de Carvalho. Ela trabalhou na Petribú entre 1965 e 1975. A professora retornou em 1985, permanecendo até hoje na direção da Escola Josepha de Petribú. A instituição, que é um dos braços da responsabilidade social do grupo, existe desde 1909 e atende atualmente 105 crianças, com turmas formadas por filhos dos funcionários. “São 43 anos na empresa, trabalhando com muito carinho na formação das nossas crianças”, relata.
A escola, localizada próximo à sede, em Lagoa de Itaenga, dispõe de uma infraestrutura com biblioteca, assistência médica odontológica, sala de música e laboratório de informática. As crianças e professoras são conduzidas para as aulas diariamente de ônibus financiado pela empresa.
A oferta de educação para os filhos e o estímulo a fazer carreira não são as únicas características do relacionamento da empresa com seus funcionários. “Essa relação é muito sadia e transparente. Há famílias que estão na terceira ou quarta geração trabalhando conosco. Poucas usinas têm uma convivência tão próxima com os trabalhadores”, relata Jorge Petribú, presidente do Conselho da empresa.
De acordo com Arnaldo Andrade, gerente de desenvolvimento organizacional da Usina Petribú, o estímulo ao crescimento profissional é uma marca que tem contribuído inclusive para o desempenho competitivo da usina. “Uma grande mudança começou quando passamos a fazer a gestão do conhecimento”, destaca. Arnaldo relata que existem vários programas para formação de líderes entre os trabalhadores e até para preparar os futuros gestores do grupo. Os treinamentos internos também são bastante estruturados, passando por disciplinas como atendimento ao cliente e gestão de processos.
O gerente lembra que a empresa também incentiva a formação superior, por isso apoia aqueles funcionários que já têm tempo de casa e desejam seguir seus estudos na universidade. “O posicionamento é sempre positivo para a educação. Tive vários estagiários que tiveram seus estudos patrocinados”, orgulha-se Arnaldo.
DESAFIOS
Uma quebra de paradigma vivida na empresa há 5 anos foi a escolha de Daniela Petribú para a presidência. Ela é a primeira mulher à frente dos negócios da família que têm uma história de três séculos com a atividade sucroalcooleira, um setor marcado historicamente por lideranças masculinas. Vinda da área financeira, ela afirma não ter sofrido qualquer preconceito na direção da Petribú. “As pessoas me olhavam com alguma curiosidade, mas nunca houve preconceito. Além disso, trabalho muito em conjunto. Isso contribui para essa relação de respeito”.
Entre os desafios para o futuro, além de lidar com as intempéries das mudanças climáticas, Daniela destaca a grande quantidade de pessoas envolvidas na atividade. “Devido à topografia acidentada da Mata Norte, não podemos trabalhar com o corte mecanizado. Tem que ser manual. Por isso, sempre empregamos um contingente muito grande de trabalhadores”. Na época da safra da cana-de-açúcar trabalham aproximadamente quatro mil pessoas na usina, enquanto que na entressafra a média de colaboradores é de 2,3 mil pessoas. Uma multidão, que se assemelha com o cenário narrado por João Cabral há 65 anos no seu poema.
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