*Por Tiago Siqueira
É muito comum ouvirmos em rodas de conversas com colegas de trabalho, amigos ou mesmo familiares, alguma fala com certa entonação de angústia em relação à dificuldade que as pessoas têm em equilibrar o seu tempo entre trabalho e vida pessoal.
Eu ouvi, recentemente, de uma pessoa que tem função de liderança numa empresa a sua experiência sobre essa questão. A angústia principal dele era de se sentir devedor em casa por achar que estava se ocupando (em presença física e mental) demasiadamente do trabalho. Isso significava que, mesmo estando fisicamente em casa ou se divertindo com alguma atividade de lazer com a sua família, a cabeça dele não estava necessariamente lá, junto com o corpo, aproveitando esses momentos de lazer. A sua cabeça, na realidade, muitas vezes, se encontrava pensando nos problemas do trabalho, e isso fazia o nível de angústia dele aumentar muito mais do que o normal.
Ou seja, além das quase 12 horas diárias dedicadas ao trabalho durante a semana e, muitas vezes, algumas horinhas a mais durante os finais de semana, como se tudo isso não fosse suficiente, a cabeça o traía durante os seus momentos de lazer. Ele era mentalmente sugado para o trabalho, e seus pensamentos não ficavam em compasso com o que seu corpo estava fazendo durante esses momentos de lazer. E, como resultado, ele ficava mais e mais apreensivo, sentindo-se mais e mais devedor com a sua família.
Pois bem, alguém se identificou com essa realidade? Essa é uma situação que costuma ser bastante comum no dia a dia de todos nós. A pressão por realizar mais e mais atividades e por entregar resultados cada vez mais exigentes, e cada vez mais num menor espaço de tempo, tudo isso faz refletir na necessidade de aumentar a produtividade das pessoas no trabalho. E essa pressão, se não cuidar, pode fazer com que essas pessoas acabem entrando numa espécie de círculo vicioso, que pode acabar resultando numa bola de neve de tal maneira que elas não irão mais conseguir assumir as rédeas de sua própria rotina. E no final, todo esse comprometimento terá impactos na vida dessa pessoa como um todo: na profissional e na pessoal. E nada disso será bom. Aliás, tudo isso será bastante tenebroso e as consequências não serão nada positivas.
E, aí, fica a pergunta para reflexão: como poderemos equilibrar melhor o nosso tempo dedicado ao trabalho e à vida pessoal sem sacrificar a nossa produtividade e nem a nossa qualidade de vida?
A resposta a essa pergunta pode não ser tão simples e muito menos fácil de aplicar, mas pode servir de base para você, leitor, fazer uma reflexão sobre sua vida. E eu digo que pode não ser tão fácil porque, mesmo até podendo parecer óbvio, se fosse fácil, ninguém viveria essas angústias (de que falei no início desse artigo). Aliás, resolveria logo isso! Mas não consegue resolver porque “a prática” muitas vezes anda em caminhos diferentes “dos desejos”; o ideal é sempre conflitante com o possível. Mas é preciso mudar! Em prol da saúde mental e da qualidade de vida, e sem deixar a produtividade profissional ficar comprometida. Aliás, o ideal mesmo é termos produtividade profissional crescente e aproveitamento da vida pessoal com qualidade!
Pois bem, para que nós possamos equilibrar melhor trabalho e vida pessoal:
1. Primeiro, é buscar fazer o que gosta e encontrar satisfação nas atividades com que se ocupa. A vida de cada um de nós é uma só. Não tem isso de termos a vida profissional dissociada da vida pessoal. Então, necessariamente, uma impactará na outra. E ainda mais, em termos de dedicação de tempo (horas aplicadas no dia), temos mais tempo de horas dedicadas ao trabalho. Se nós nos ocupamos com atividades que não sejam prazerosas, viveremos mais tempo durante o dia nos ocupando com algo que não nos faz bem. E se não nos sentimos bem durante maior parte do nosso tempo, isso vai acabar contaminando “a outra parte” do nosso tempo. E, no final, a nossa vida como um todo é que ficará comprometida, sacrificada.
Então, talvez não pareça muito fácil, mas a gente tem que ter em mente que, se a gente ocupa tempo com algo que não nos faz bem, além disso afetar a qualidade de nossa vida como um todo, também vai afetar – diretamente! – a nossa produtividade. Tenha certeza disso; ou comece a perceber que isso tem alguma fundamentação; e que, se você estiver nessa situação, é importante refletir com carinho para enfrentar algumas decisões que você talvez precise tomar.
2. Segundo, é levar a vida com mais leveza, ocupando o seu tempo com qualidade. Quando a gente gasta nosso tempo com momentos prazerosos, fazendo o que gosta durante os momentos de descanso mental, por exemplo, isso faz a gente se revigorar e estar mais disposto para enfrentar o dia a dia e todas as suas habituais pressões.
Então, sobretudo na sua vida pessoal, encontre atividades que façam bem e que lhe completem. Experimente dedicar mais tempo para sua família, e para você mesmo! Aí, antes de você me perguntar sobre de que tipo de atividades você pode se ocupar, eu já me anteciparei dizendo que essa resposta quem deve dar não sou eu. É você! Você, mais do que ninguém, sabe o que faz bem. Identifique então o que possa te fazer bem, crie agenda no seu dia a dia para isso e priorize a sua realização! Depois, agradeça a você mesmo por isso.
3. Terceiro, tente aproveitar ao máximo os momentos em que você estiver fisicamente presente. Se você estiver no trabalho, foque nas atividades com toda vontade e disposição possível. Ser produtivo não é só saber das coisas e executar o que precisa ser feito; é, sobretudo, estar disposto para realizar o que precisa ser feito dando o máximo de si. E o diferencial está exatamente aí: dando o máximo de si!
E se você estiver nos seus momentos de lazer, com você mesmo ou com seus familiares ou amigos, aproveite do mesmo jeito. Tente não se dispersar disso. Aproveite esses momentos, que costumam passar bem rapidinho. Isso vai te fazer bem; vai te deixar bem e melhor; e vai fazer você ter mais disposição para também ser mais produtivo nas atividades de que se ocupar profissionalmente.
E aí, essas respostas são possíveis para se fazer uma boa reflexão sobre a sua vida? Se sim, não deixe de refletir. Aproveite para fazer alguns ajustes na sua vida e na forma como você lida com ela. Viva mais e melhor, tanto no seu trabalho quanto também em casa
*Tiago Siqueira é sócio da TGI