Quilombolas de Pernambuco - As mestras cozinheiras do Quilombo Mundo Novo serão as protagonistas da edição de agosto do projeto Xepa Cult - Mostra de Gastronomia de Tradição pelo Consumo Consciente. Pâmela Antunes Bezerra Mariano e Cenivalda de Carvalho Silva compartilham, neste sábado (31.08), a partir das 14h, no espaço Pequeno Latifúndio, no bairro do Espinheiro, os saberes e sabores preservados pela comunidade local. No cardápio: Galinha de Capoeira com Xerém e Pirão de Tilápia.
Neste mês de agosto de 2019, a comunidade do antigo Sítio Mundo Novo, localizada no município de Buíque, Região do Agreste Meridional de Pernambuco, está comemorando 5 anos de sua certificação como Comunidade Remanescente de Quilombo, pela Fundação Palmares, órgão do antigo Ministério da Cultura. Essa foi, também, o início de uma longa batalha jurídica para titulação das terras quilombolas pelo INCRA, que na atual conjuntura política, ninguém sabe quando, onde e nem como vai terminar..
Nos roçados plantam milho, feijão de arranque, feijão gandu, fava, jerimum, melancia, batata-doce e macaxeira. Uns poucos produzem a farinha de mandioca de forma artesanal. Antigamente, pescavam muita tilápia, peixe de água doce de origem africana, que foi introduzido no continente americano pelos colonizadores. Nos longos períodos de seca, a tilápia escasseia e os roçados ficam à mingua. Aí, a fome bate à porta e muitos migram, como aconteceu com a nossa Mestra Cozinheira Pâmela Bezerra, que morou com o marido em Campinas, São Paulo, onde trabalhavam em uma granja. Depois de juntar dinheiro suficiente para construir uma casinha no terreno do pai, botou as malas debaixo de um braço e o marido debaixo do outro e ano passado voltou para o velho Mundo Novo. Hoje, ela é a principal liderança do quilombo.
Aliás, o quilombo é pródigo em mulheres fortes, animadas, que gostam muito de narrar memórias e causos, que além de excelentes cozinheiras, adoram cantar e dançar um samba de coco, que pega fogo na hora da “mazurca”, que é quando o passo acelera e o casal brincante por pouco não tira faíscas do chão de cimento. Contam elas que, antigamente, era sambando o coco que as pessoas assentavam o piso de barro das casas de taipa. A grande maioria sobrevive da agricultura familiar de subsistência, criação de pequenos animais domésticos e pouquíssimo gado.
Além de acompanhar o preparo e degustar os tradicionais pratos do Quilombo Mundo Novo, o público poderá conferir a apresentação de Mestre Nado, Patrimônio Vivo de Pernambuco, que traz a aula espetáculo "Som do Barro" para o Xepa Cult. O evento conta nesta edição com apoio da Secretaria Municipal das Mulheres de Buíque, com a presença confirmada da secretária Santina Tereza de Oliveira.
“As mulheres afrodescendentes e indígenas pernambucanas são o registro do rico patrimônio gastronômico do nosso Estado. Mais do que colaborar com o registro da história, o Xepa Cult valoriza o conhecimento e trabalho dessas mulheres", comenta a pesquisadora Mônica Jácome, cozinheira e produtora cultural.
Xingu – O rio Xingu nasce ao sul do Parque Nacional do Xingu, percorre aproximadamente 1.979 km e vai se transformar em afluente do rio Amazonas, já no Pará onde, após ser atravessado pela Rodovia Transamazônica, num serviço de barcos em Belo Monte, vai morrer em Altamira. Às suas margens vivem povos indígenas de diferentes etnias e pertencentes a quatro grupos linguísticos: caribe, aruaque, tupi e macro-jê. As suas margens, também, encontram-se 4 dos 10 municípios da Amazônia que, desde o início de 2019, vêm apresentando as maiores devastações na floresta: ao todo, os quatro municípios somavam até 18 de agosto, 4.613 focos de incêndio e, de janeiro a julho, 651,8 km2 de área desmatada. Se traçarmos 4 linhas ligando essas cidades, formamos um quadrado no centro do qual encontram-se a Reserva Extrativista Rio Iriri e a Estação Ecológica Terra do Meio. Nas vizinhanças destas duas encontram-se, pelo menos, mais oito reservas extrativistas e oito povos indígenas, todos vítimas desses desmatamentos e queimadas criminosos, sobretudo nas últimas semanas.
A Xepa Cult deste dia 31 de agosto de 2019 prestará sua homenagem e solidariedade a esses povos originários do nosso país, que bravamente resistem à destruição e morte promovida pelos latifúndios de gado, mineradoras e empresas extrativistas, exibindo o minidocumentário do Instituto Socioambiental (ISA) - que este ano comemora 25 anos de trabalho impecável com povos indígenas e quilombolas da Amazônia - “Xingu: histórias dos produtos da floresta”.
Realizado em 2017, o minidoc conta as histórias das diferentes cadeias de produtos da sociobiodiversidade da Amazônia, com depoimentos dos povos da região responsáveis por seu manejo, gestão e preservação, um exemplo do bem viver e um retrato da beleza contida na..., pela... e para a floresta e seus povos, um legado dos mesmos a todas e todos nós, que está sendo literalmente queimado pela ganância dos poderosos. Dividido em três partes – 1. Terra do Meio; 2. Sementes; 3. Frutas - o vídeo mostra a atuação de índios, extrativistas, pequenos agricultores, sobretudo mulheres, que vivem, trabalham e protegem as matas.
O documentário tem direção/Imagens de Fábio Nascimento; entrevistas de Marina Yamaoka e Isabel Harari; montagem/finalização de Daniel Carezzato; animações de Sérgio Castro; trilha sonora de Bruno Prado; narração de Dani Scopin e foi realizado pelo ISA, dentro do seu “Programa Xingu”. Este programa integra projetos voltados à proteção e sustentabilidade dos 26 povos indígenas e das populações ribeirinhas que habitam a região, à viabilização da agricultura familiar, à adequação ambiental da produção agropecuária e à proteção dos recursos hídricos, contribuindo assim para o ordenamento socioambiental da Bacia do Rio Xingu. O ISA é uma organização da sociedade civil brasileira, sem fins lucrativos, fundada em 1994, para propor soluções de forma integrada a questões sociais e ambientais (mais informações no site do instituto: https://www.socioambiental.org/pt-br).
Slow Food – O Projeto Xepa Cult conta com incentivo cultural do Fundo de Apoio à Cultura (FUNCULTURA), da Fundação de Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (FUNDARPE), Secretaria de Cultura, Governo do Estado, Inspirado no DiscoXepa do movimento internacional Slow Food, o projeto defende a sociobiodiversidade alimentar e a valorização da agricultura familiar, prezando pela comida de verdade, boa, limpa e justa para todos e todas.
Iniciado em agosto de 2017, o projeto, em seu primeiro ano ocupou o Centro de Cultura Luiz Freire, em Olinda, e depois a Casa Maumau, no Recife, com degustação gastronômica, aula espetáculo “O Som do Barro” com Mestre Nado, e exposições fotográficas com a alimentação como tema. No segundo ano, a Xepa Cult seguiu como mostra gastronômica e passou a realizar exibições audiovisuais, além da aula espetáculo de Mestre Nado.
Latifúndio - O Pequeno Latifúndio é um espaço criado pela jornalista e produtora Aline Feitosa, na casa onde mora há mais de 18 anos. Desde 2017, abre o seu pequeno e aconchegante quintal aos interessados na cena cultural independente, em suas diversas manifestações. O lugar conta com uma cozinha afetiva, de preparos feitos pela própria família. Nos dias do Xepa Cult o acesso é gratuito.
SERVIÇO:
Xepa Cult Ano II - Edição Agosto
Data: 31 de agosto de 2019
Horário: das 14h às 18h
Local: Espaço Pequeno Latifúndio (Rua Gomes Pacheco, 426 – Espinheiro)
Acesso gratuito