Entre o Natal e o Ano Novo de 2022, os pernambucanos fomos surpreendidos por uma facada nas costas do desenvolvimento do Estado com a remoção do trecho que permitia a chegada da Transnordestina em Pernambuco até o porto de Suape. Na calada do recesso natalino, foi assinado, entre o Governo Federal e a empresa concessionária (TLSA), um aditivo ao contrato de concessão fazendo desaparecer o trecho pernambucano sem o qual Suape não passará de um porto local, deixando de realizar sua enorme vocação para hubport internacional. Não há porto relevante no mundo que não seja servido por ferrovia.
Depois que percebemos a traição cometida com Pernambuco (a União, que é o poder concedente da ferrovia, nunca poderia ter permitido isso, muito menos da forma como foi feita, praticamente às escondidas), começamos uma articulação das entidades empresariais da sociedade civil com o Governo do Estado e a classe política que culminou no evento da Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe) em 17.07.23.
O manifesto divulgado no evento solicitava a inclusão do trecho pernambucano no novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e no PPA (Plano Plurianual) 2024-2027. Com o lançamento do PAC na sexta-feira 11.08.23, ganhamos a primeira batalha. Agora, falta o PPA e a retomada das obras interrompidas. Mas as próximas batalhas tendem a ser crescentemente mais difíceis porque os concorrentes (que fizeram desaparecer o trecho Salgueiro-Suape) estão atuantes, inclusive com um anúncio veiculado na GloboNews tratando da ferrovia que só chega ao porto de Pecém, sem o trecho de Salgueiro a Suape.
É preciso, pois, nos mantermos vigilantes e mobilizados pois foi a mobilização que nos trouxe de volta ao jogo depois do trecho pernambucano ter sido colocado no limbo no final de 2022. E essa mobilização aponta para os seguintes próximos passos: (1) o Governo do Estado formalizar o pedido dos projetos do trecho pernambucano à ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), incluindo o famoso relatório da consultoria McKinsey & Company (que supostamente embasou a decisão da retirada do trecho pernambucano da concessão), como na música Conceição cantada por Cauby Peixoto, “ninguém sabe, ninguém viu”; e (2) efetivação de um convênio entre o Governo do Estado e o Governo Federal que deixe claras as responsabilidades das partes envolvidas na retomada das obras da ferrovia em Pernambuco.
Isso porque, nunca é demais salientar, a Transnordestina é um equipamento vital para o desenvolvimento de Suape, de Pernambuco e de todo o chamado Nordeste Oriental (Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte). Se, por um terrível acaso, o trecho de Salgueiro a Suape não fosse construído, toda esta parte do Nordeste estaria irremediavelmente desconectada da malha ferroviária nacional conforme definido pelo Plano Nacional de Logística que, inclusive, prevê uma continuidade da Transnordestina completa até a ferrovia Norte-Sul (ver o trecho vermelho dentro do círculo cinza no mapa acima), a partir de Eliseu Martins no Piauí.
Em suma, como já se disse por aí, em frase atribuída ao presidente norte-americano Thomas Jefferson, “o preço da liberdade é a eterna vigilância”. Pois se quisermos ter a liberdade de conduzir o desenvolvimento Pernambuco, temos que nos manter eternamente vigilantes porque tem uma turma aí, que não é pequena, querendo nos tungar.