Um futuro mais tecnológico e humano

Em meio a tantos avanços tecnológicos, o que o futuro reserva para a formação do profissional de saúde e a sua relação com o paciente? As respostas à indagação foram debatidas no Cidades Algomais FPS, evento realizado pela Algomais e Rádio CBN Recife, com patrocínio da Faculdade Pernambucana de Saúde. As discussões levaram em conta dados como os do FEM (Fórum Econômico Mundial). Um deles, exibido por Carlos Figueira, diretor acadêmico da faculdade, aponta a necessidade de mais de 50% dos trabalhadores aumentarem suas habilidades num futuro bem próximo, caso contrário serão ultrapassados. Ainda segundo o fórum, 65% dos jovens nos próximos cinco ou 10 anos vão trabalhar em lugares e profissões que não existem atualmente.

“Isso significa que os próximos anos serão muitos difíceis, com regras ainda não definidas. Neste mundo da convergência digital, o aprendizado saiu das escolas e das universidades e hoje ele está na internet. O protagonismo está com os alunos. Mas, inovação não é máquina, nem software. É gente, é conjunto de pessoas, é preocupação com o futuro”, ressalva o diretor acadêmico.

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Carlos Figueira: “65% dos jovens nos próximos cinco ou 10 anos vão trabalhar em lugares e profissões que não existem atualmente”.

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Lília Porto, palestrante do evento concorda com Figueira. Fundadora do site O Futuro das Coisas, ela também recorre aos números do FEM para mostrar que as transformações podem não ser tão catastróficas. “Até 2025, serão criados no mundo 133 milhões de novos empregos, mas 75 milhões vão desaparecer. Então, temos um saldo de 58 milhões de novos empregos”, contabiliza.

Mas, quais os trabalhos que vão continuar existindo? “Aqueles que têm um componente humano muito forte. Quanto mais tiver interação humana, mais difícil será automatizar”, assegura Lília. Logo, profissões de saúde, caracterizadas pela relação com o paciente, têm pouca chance de serem executadas por robôs.

Mas não é só isso. Um estudo da McKinsey apresentado por Lília, indicou que dificilmente serão automatizados: processos criativos e tomada de decisão complexos, trabalhos físicos em ambientes também complexos e gerenciar humanos e híbridos tecnológicos. Muitas dessas atividades fazem parte do cotidiano dos profissionais de saúde. Já as tarefas facilmente automatizadas são: coleta e organização de dados, processamento primários de informações, trabalhos físicos simples e repetitivos (como os da indústria automobilística), interação de instrução ou informações, gerenciar metas e indicadores.

Além da automatização, outra macrotendência que afetará o mundo do trabalho, segundo Lília, é a longevidade das populações. “Até 2060, um em cada quatro brasileiros terá acima de 65 anos, no mundo haverá mais pessoas com mais de 60 anos do que entre 10 e 24 anos”, aponta. “Possivelmente haverá uma competição intergeracional”, estima Lília. “Haverá um médico sênior, mais velho que tem um monte de experiência e de vivência para compartilhar com um jovem profissional que tem uma cabeça mais tecnológica, mas que precisa dessa interação”.

BICO
A chamada “economia do bico” é outra megatendência. Isso significa fazer um trabalho temporário para uma empresa, que pode estar no Brasil ou em qualquer lugar do mundo. Pode-se, por exemplo, formar uma equipe para fazer uma pesquisa, num projeto que tenha início, meio e fim. “É menos cargo e mais trabalho. Em vez de se ter um empregador, serão diversos”, explica Lília.

Como em outras atividades, a medicina será digitalizada, mas não significa que o paciente terá um tratamento mais frio. Será automatizado apenas aquilo que softwares e robôs fazem melhor que o homem. “Temos que nos diferenciar com habilidades humanas e resgatar aquele velho médico de família que olha no olho. Tenho muito ouvido falar: ‘prefiro ser atendido por um algoritmo do que por um médico que não olha na minha cara, ou que me atende em cinco minutos’”, adverte.

Com tantas transformações, há a necessidade de adaptar o aprendizado dos alunos a essa nova realidade. O assunto também foi debatido no Cidades Algomais FPS, em que o destaque foi o uso da simulação como recurso pedagógico. A obstetra e professora da FPS, Brena Melo, mostrou como utiliza modelos e atores numa aula para simular a realização de um parto com os estudantes.

 

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Brena Melo mostrou como o método de simulação pode ajudar no aprendizado.

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“A simulação permite treinar o aluno num ambiente que não oferece risco ao paciente e também dá a oportunidade de repetição da prática, que é condição básica para a capacitação”, destaca Brena. Outra vantagem é a possibilidade de avaliar não apenas habilidades cognitivas e técnicas do aluno, mas também suas atitudes, como atuar utilizando critérios éticos, empatia e o trabalho em equipe.

Imersão é outro recurso que tem sido utilizado para formar os profissionais de saúde do futuro. Já era comum no ensino de idiomas, em que os alunos viajam para outro país para aprender uma segunda língua, imersos no cotidiano de outra cultura. O surgimento das novas tecnologias deu um “upgrade” a esse método.

Em sua palestra, Romero Tori, professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), mostrou o projeto de uso da realidade virtual para treinamento da anestesia odontológica, desenvolvido em parceria com a Faculdade de Odontologia da instituição paulista. Essa tecnologia permite ao aluno visualizar um ambiente de consultório e o paciente. “A simulação não é só visual, colocamos uma seringa na mão do estudante e ele sente a resistência da mucosa bucal quando introduz a agulha, dando mais realismo”, explica Tori.

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Tori criou um projeto que usa a realidade virtual para treinar anestesia odontológica.

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O CAM FPS, que teve apoio da Rádio Globo, Hotéis Pernambuco, Luck Viagens e Shopping RioMar, faz parte do Projeto Cidades Algomais, que debate soluções para os problemas dos grandes centros urbanos. Todas as experiências e análises mostradas durante o evento tiveram o objetivo de encontrar alternativas para o futuro da formação dos profissionais de saúde e de sua atuação no mercado de trabalho.

A intenção desses encontros é inspirar práticas criativas. “Acreditamos que inspiração gera atitude e queremos compartilhar ideias que deram certo. Todos nós – professores, estudantes, gestores públicos e empresários – temos o poder e a missão de melhorar a experiência humana”, resume a coordenadora do projeto Mariana de Melo.

*Por Cláudia Santos, editora da Revista Algomais (claudia@algomais.com)

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