No trajeto do Capibaribe, contado por João Cabral de Melo Neto no poema O Rio, as empresas produtoras de açúcar faziam parte do cenário narrado. Uma delas, em especial, é a Petribú, cujo nome é mencionado pelo poeta. “Foram terras de engenho, /agora são terras de usina. /É o que contam os rios/que vou encontrando por aqui. (…) Primeiro é o Petribú”.
Mas a história da usina remonta a períodos bem anteriores ao da publicação desses versos. São quase três séculos voltados para a economia da cana-de-açúcar. Numa trajetória que se confunde não apenas com o rio, mas com a próprio desenvolvimento econômico de Pernambuco.
A família Petribú, que chegou ao Brasil junto com Duarte Coelho, teve no ano de 1729 os primeiros registros de sua produção de açúcar. A chegada da família à região veio por intermédio do empreendedorismo de Cristóvão Cavalcanti de Albuquerque, filho de João Cavalcanti de Albuquerque.
“A agricultura está no nosso sangue. Manter essa ligação com a terra é muito importante para a família”, relata o empresário Jorge Petribú, que é presidente do Conselho da Usina Petribú. Uma tradição que também levou os familiares a optarem pela permanência da empresa e da residência no mesmo local da sua fundação no Século 18, isto é, nas proximidades do Capibaribe, numa área que hoje está localizada no município de Lagoa de Itaenga, na Zona da Mata. Opção muito movida por um sentimento de pertencimento à cultura pernambucana. “Foi uma escolha muito simbólica, porque o rio representa muito para Pernambuco. Hoje o ponto mais limpo dele é aqui na usina. O cuidado é tão grande que tem até camarão de água doce”, conta.
Depois da chegada dos ancestrais que iniciaram a lavoura de cana, outro momento fundamental para a sustentabilidade dos negócios da família foi a modernização do processo produtivo. A transformação do então engenho em usina, que passou a entrar na era industrial. As máquinas foram uma inovação trazida por João Cavalcanti de Albuquerque em 1909, ano em que a empresa já produzia 20 mil sacos de açúcar.
Dois anos depois, ele passa a adotar Petribú como sobrenome. João Cavalcanti de Petribú dava início à trajetória que levaria a empresa à liderança na produção de açúcar em Pernambuco. “Era um homem de pouca instrução, mas de muita visão para trazer as máquinas a vapor. E, em 1917, montou a destilaria de álcool. Chegamos a ter uma ferrovia, que meu avô construiu para trazer cana dos outros engenhos que ele possuía. Essa transformação foi no começo da era industrial, quando Pernambuco ainda era repleto de engenhos. Só em Nazaré da Mata existiam 365 funcionando”, relata Jorge Petribú.
O terceiro marco dessa história se deu quando Paulo Cavalcanti Petribú, pai do atual presidente do conselho e avô da presidente, Daniela Petribú, comprou a parte da empresa dos seus irmãos em 1953. De acordo com o relato do livro Petribú – Terra e Homem, de Luís Carvalheira de Mendonça, a usina encontrava-se em crise naquele momento. A partir daí, com uso de estratégias gerenciais, a empresa foi reerguida. A publicação destaca como características dessa gestão “a presença constante à frente de todos os assuntos empresariais, gerenciais e comerciais da usina”. O gestor também investiu na formação de quadros da “prata da casa” e na aproximação com os seus liderados.
Os resultados foram transformadores. Na época em que adquiriu a empresa, ela era aproximadamente a 40ª em produção no Estado, uma das últimas posições. Em 1977 saltou para a produção de um milhão de sacos de açúcar por safra. Mas o auge aconteceu em 1995, quando se tornou a mais produtiva de Pernambuco, ano em que também adquiriu a Usina São José.
O início dessa mudança, em 1953, foi no mesmo ano em que João Cabral lançou O Rio. “Ele vivia aqui na região durante a sua juventude, tomava banho no Capibaribe. Os escritos dele revelam isso. Como a comunidade era pequena na época, havia uma relação social sadia com ele, que se tornou posteriormente uma pessoa muito importante para a cidade, com uma projeção nacional”, comenta Jorge Petribú.
Na trajetória de crescimento da empresa, a aquisição do Engenho Trapuá, em 1974, se cruza com a história de João Cabral. O poeta tinha uma ligação sentimental com o local e nutria o desejo – ainda não realizado – de ser sepultado nessas terras.
Nas próximas edições da Algomais será apresentada a relação da usina com o rio aclamado pelo poeta e com a gente que fixou suas raízes na região por meio da atividade do plantio de cana-de-açúcar às margens do Capibaribe.
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