Modelo de negócios fundamentado na economia compartilhada, a loja colaborativa pode ser entendida como um espaço físico coletivo, onde pequenos empresários compartilham do mesmo local físico para comercializar seus produtos de uma forma direta, e sem a necessidade de investir em um ponto de comércio próprio. Essa tendência tem crescido nos últimos tempos e chamado a atenção de empreendedores para investir no modelo.
A Plural Colab, loja colaborativa localizada em Caruaru e idealizada pelo empresário Milton Oliveira durante a sua graduação em administração, reúne em seu espaço físico mais de 50 marcas locais, de diversos segmentos. A maioria dos produtos são feitos artesanalmente e vendidos exclusivamente na Plural. “É um negócio que tem um impacto social muito grande, um modelo de negócio que dá oportunidade para que pequenos empreendedores tenham um ponto físico de exposição, sem os altos custos e a burocracia de ter uma loja física, como é o tradicional. Essa foi a razão de criar a loja. Eu não empreendi por empreender, somente pra ganhar dinheiro”, distingue-se Milton.
Para que as lojas colaborativas obtenham sucesso, de acordo com Conceição Moraes, analista do Sebrae-PE, é preciso que exista o conhecimento aprofundado do consumidor que será um futuro cliente das marcas. “Tem que haver sinergia de produto, mas, principalmente, com o perfil de público que se quer conquistar. A sinergia entre os lojistas também é fundamental para que haja uma ação conjunta e uma vivência colaborativa, como sugere o nome desse negócio”, aponta. O economista da Fecomércio-PE Rafael Ramos concorda: “é preciso que o empresário estude o modelo de negócios de economia compartilhada, e que conheça bem as pessoas (outros empresários) com quem irá dividir o seu negócio”.
Uma vantagem destacada pelo economista é que por meio do marketing colaborativo, é possível que a clientela de uma marca se torne consumidora da outra. Outro benefício é a redução de gastos com o imóvel. “Esse tipo de negócio é uma maneira de baratear o aluguel e de compartilhar gastos, como água e luz, podendo até aumentar a margem de lucro da loja”, declara.
Localizada no bairro da Jaqueira, a Rosamarela fidelizou seu espaço a três marcas: Calma Monga, Duas Design e Trocando em Miúdos. Elas já haviam dividido espaço em uma casarão no bairro de Casa Amarela, mas em momentos diferentes. Perceberam ali que as clientes eram as mesmas, e quase sempre aquelas que gostavam de uma das marcas, gostavam também das outras.
“Observamos nisso uma oportunidade de nos juntarmos em um único espaço. E, como tínhamos experiências com ateliês mais intimistas, resolvemos arriscar um ponto mais comercial, numa galeria de rua. A Rosamarela é um projeto fechado de três marcas que uniu as sócias em uma outra marca, que não produz, mas apenas revende nossas marcas”, resume Lia Tavares, responsável pela Duas Design, loja de vestuário feminino.
A Calma Monga, coordenada por Gabrielle Fiuza, produz acessórios, como bolsas e pochetes. Já a Trocando em Miúdos fabrica acessórios de design exclusivos, como colares, anéis e brincos, idealizada pelas designers e sócias Amanda Braga e Juliane Miranda. Outra experiência que, segundo Lia Tavares, agrega à atividade é a troca de ideias existente entre as empresárias: “ter outros olhares criativos e de negócio dentro do mesmo ambiente é inspirador. Por mais que não haja unanimidade em todas as escolhas, sempre sabemos resolver e chegar num denominador comum que seja mais interessante para a Rosamarela em si”, constata.
As vantagens dessa tendência de mercado também valem para os consumidores. Estar em contato com produtos de diversos empreendedores reduz o esforço de procurar mercadorias e também se mantém um contato direto com o produtor. “Tanto para o consumidor quanto para o criador é perfeito. Ver vários artistas reunidos, dentro de um mesmo conceito, ficar mais próximo de quem produz, é um consumo mais consciente. Você tem muito mais carinho, cria um laço. É afetivo. O consumidor está mudando o olhar na hora de consumir”, declara Vívian Lima, proprietária da loja colaborativa Casa Viva, que tem um formato mais diferenciado das outras lojas. O modelo popup permite que a loja fique por um tempo determinado em exposiçãoem locais como RioMar Shopping, ou seja, tem data para abrir e fechar.
POPUP
Uma exposição da Casa Viva dura em torno de dois meses e passeia por diferentes locais da cidade. Vívian além de proprietária é curadora da loja. Ela seleciona as marcas que vão ser expostas. “A Casa Viva pode ser considerada hoje uma aceleradora para muitos desses pequenos empreendedores, que ainda não tinham ganhado espaço, que apostam em suas marcas e querem a relação direta com o consumidor. São ofertados artigos de moda, acessórios, casa, decoração e papelaria”, destaca a empresária.
Tal tendência tem chamado a atenção dos shopping centers. Na Zona Norte do Recife, o Shopping Plaza vem trazendo esse mercado para os seus clientes, por meio da Parada Criativa, projeto iniciado há dois anos em parceria com a Casa Viva. “Os shoppings deixaram de ser um simples local de compras para se tornarem um lugar para vivenciar experiências. A loja colaborativa é uma tendência em resposta aos desejos do consumidor e a sua necessidade de conveniência, de ter tudo reunido em um único local”, explica Zuleica Lira, superintendente do mall.
A iniciativa atendeu ao perfil do frequentador do shopping. “Os clientes do Plaza adoram atividades culturais e artísticas, trabalhos autorais e querem estar sempre por dentro das tendências. Por isso, criamos em 2016 a Parada Criativa, uma parceria com a Casa Viva. Nosso objetivo foi aproximar nossos clientes das novidades e inovações produzidas pelo rico leque de produtores da área da economia criativa, muitos da Zona Norte do Recife. Ao mesmo tempo, também contribuímos para o desenvolvimento e valorização desse movimento que vem crescendo no nosso Estado”, afirma Zuleica.
Além desse projeto, o Plaza abriga a loja colaborativa Ôpa, que comercializa produtos elaborados por designers e artistas. São quadros, miniaturas em cerâmica, xilogravuras, porcelanas pintadas, anéis, colares, roupas e bolsas, entre outros artigos, com valores que variam de R$ 5 a R$ 1.800. Fátima Barros, proprietária e responsável financeira, relata que esse é um negócio de mão dupla, em que o dono da loja e o artista trocam experiências. “É uma pegada muito boa não só para eles como para mim. Eu adoro esse meio artístico e cultural, e poder representá-los na Ôpa é maravilhoso”, comemora Fátima.
O Paulista North Way Shopping também aderiu à inovação das lojas colaborativas, mas com um viés mais filantrópico. O mall ofereceu espaços para que integrantes dos projetos Mãos Talentosas, da organização Amne, e Fêmea, desenvolvido pela Secretaria Executiva de Proteção à Mulher da Prefeitura de Paulista, comercializem os produtos artesanais que confeccionam.
“São mulheres em situação de vulnerabilidade que vendem o artesanato que produzem, garantindo a autonomia financeira delas”, explica Marco Motta superintendente do Paulista North Way. Motta também ressalta que o centro de compras é cada vez mais um centro de conveniência. “Agregar a produção dessas organizações, que atuam na Região Metropolitana do Recife, é uma maneira de abrir o mall para a população que mora no entorno do shopping”, justifica o superintendente do Paulista North Way.
*Por Laís Arcanjo