Como está Israel após 60% da população receber segunda dose da vacina?

*Por Débora de Souza Leão Albuquerque

O Estado de Israel começou a oferecer gratuitamente a todos os seus residentes doses das vacinas da Pfizer/BioNTech a partir de dezembro de 2020. Por causa da minha faixa etária e de eu não ser pertencente a nenhum grupo de risco, eu estava em um dos últimos grupos na fila para receber as doses, tendo recebido a primeira em fevereiro deste ano e a segunda dose, 3 semanas depois da primeira. Passado uma semana da segunda dose, recebi minha declaração de imunizada, ou o certificado “passe verde”. A negociação do país para obter as vacinas envolveu não apenas a compra delas, mas também o comprometimento da nação em oferecer ao laboratório dados que ajudassem a entender a efetividade da vacina, a duração de sua eficácia e seus possíveis efeitos colaterais. Com todos os seus 9.3 milhões de habitantes tendo acesso exclusivamente à vacina de um único laboratório, Israel ofereceu à Pfizer um importante grupo amostral para o estudo científico deste produto medicinal.

Por ser um produto novo, o governo se esforçou na comunicação com a população para encoraja-la a aderir a campanha de vacinação. O então primeiro-ministro Benjamin Netanyahu foi o primeiro a ser vacinado, juntamente com as autoridades máximas do país, para dar o exemplo para todos. No mesmo dia, milhares de profissionais de saúde também receberam a primeira dose. A campanha de vacinação foi um sucesso: no final de janeiro deste ano metade da população já havia tomado pelo menos uma dose da vacina. Recentemente, as pessoas de 12 a 15 anos começaram a ser vacinadas, depois que as autoridades concluíram sobre a segurança das doses também para essa faixa etária. Michal Bennett, a filha de 14 anos do atual primeiro-ministro, deu o exemplo tomando a vacina final do mês passado.

O esforço coletivo no combate à pandemia trouxe resultados positivos para a qualidade de vida de todos que moram por aqui. Por exemplo, depois de muitos e muitos meses de obrigatoriedade do uso de máscaras em ambientes públicos, no dia 18 de abril a máscara foi dispensada em ambientes públicos abertos; conseqüência da drástica redução do número de novos infectados pelo coronavírus. Em 7 de junho tivemos o primeiro dia com zero novos casos de infectados, padrão que se manteve por vários dias depois. Como conseqüência, em 15 de junho ficamos livres das máscaras também em ambientes públicos fechados.

As autoridades pediram para a população evitar viagens ao exterior, porque a entrada no país de uma variante do vírus poderia trazer o retorno da obrigatoriedade das máscaras. Apesar das restrições impostas na entrada e saída do país, a variante indiana chegou por aqui, o número de novas pessoas com COVID-19 ultrapassou os 100 por dia, e em 25 de junho a obrigação do uso de máscaras em ambientes públicos fechados voltou! Também houve um pedido para o uso delas quando houvesse aglomeração em ambientes abertos, como durante a parada LGBT+, que reuniu dezenas de milhares de pessoas nas ruas de Tel Aviv, também em 25 de junho.

As limitações no número de pessoas em reuniões foram sendo eliminadas paulatinamente: em fevereiro eram permitidas reuniões com no máximo 5 pessoas em ambientes fechados e 10 pessoas em ambientes abertos, restrições válidas inclusive para cultos religiosos. Existiam multas para quem descumprisse a regra. Expectadores de futebol ficaram sem freqüentar estádios por mais de um ano! Finalmente, em março foi permitido até 1.500 pessoas assistindo partidas de futebol, condicionadas ao passe verde (certificado de imunização). Já em abril, as reuniões em ambientes fechados poderiam ter no máximos 20 pessoas e a as reuniões em ambientes abertos poderiam ter no máximo 100, já os imensos estádios de futebol ao ar livre poderiam abrigar até 10.000 pessoas. As restrições no número de pessoas tanto em ambientes fechados como em abertos foram totalmente eliminadas em 1 de junho. A partir dessa data também não havia mais a necessidade de se mostrar o passe verde para se juntar a quaisquer reuniões.

Dessa forma, desde janeiro até final de junho deste ano estávamos assistindo às flexibilizações nas restrições, conforme o número e a gravidade dos novos casos de pacientes com COVID-19 se reduziam drasticamente. Mas esses números voltaram a subir.

Acontece que a pessoa imunizada aqui no país tem pouco mais de 90% de chance de não adoecer caso entre em contato com o vírus em sua forma original. Porém, esse percentual se reduz para pouco mais de 60% no caso da variante delta. Mesmo assim, atualmente a vacina ainda previne a ocorrência de 93% dos casos graves de covid-19 e hospitalizações, ante 98% em fevereiro, segundo recente comunicado do Ministério da Saúde daqui. Nesse contexto, a Pfizer comunicou sua ideia de uma terceira dose da vacina, para nos deixar mais protegidos contra a variante. Logo em seguida, o Ministro da Saúde Nitzan Horowitz convidou todos os pacientes imunocomprometidos para o imediato exercício do direito ao recebimento da terceira dose.

Diante da possibilidade de aumento futuro na demanda pela vacina, ainda neste mês de julho o primeiro-ministro Naftali Bennett oficializou intenção, junto com o ministro das finanças e o ministro da saúde, de estabelecer uma fábrica de vacinas contra o coronavírus no território nacional. As vacinas poderiam ser as estrangeiras ou a nacional em fase de testes no Instituto de Pesquisa Biológica. Nesse sentido, são varias as iniciativas do país para aumentar a oferta mundial de produtos medicinais. Por exemplo, milhões de máscaras de grau médico N95 estão sendo produzidas e exportadas desde junho do ano passado pela fábrica da Sion Medical localizada na cidade de Sderot. Trata-se da primeira linha de produção desse tipo em Israel e são poucas as existentes ao redor do mundo. O país também lidera em acordos internacionais para promoção da oferta mundial de produtos médicos: depois da proposta ter sido aceita e, posteriormente rejeitada por autoridades vizinhas de Israel, foi fechado com a Coreia do Sul o primeiro swap de vacinas de COVID-19 do mundo: neste momento a Coreia do Sul está recebendo 700.000 vacinas Pfizer-BioNTech próximas a data de validade e, mais tarde, enviará o mesmo número de volta para Israel. O esforço entre os dois países foi feito para que nem uma dose sequer expire. Isso porque cada dose representa a possibilidade de salvar uma vida e, principalmente por isso, deve ser aplicada com zelo antes de sua data de validade.

Todos os dias esta pandemia apresenta, a cada um de nós, novos desafios. Isso traz muitas incertezas sobre nossos futuros. Talvez nossa maior defesa contra os novos riscos seja a confiança em valores básicos como o cuidado com nossa própria saúde e com a saúde do próximo. Quando todos puderem higienizar suas mãos e ter acesso à informação de qualidade, máscaras e vacinas, estaremos vivendo num mundo onde o vírus circula menos, as mutações são cada vez mais raras e a saúde de todos está mais protegida. Estamos acompanhando a possibilidade de uma nova variante nascida em qualquer parte do mundo poder colocar em risco a vida de todos os seres humanos. Nesta realidade, quanto menos o vírus circular, menos oportunidade ele terá para se modificar geneticamente e se tornar mais danoso para nossas vidas, saúde e economia.

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