Por Manu Siqueira
O mundo mudou. Nosso país mudou. Eu e você também mudamos. Não é exagero nem frase pronta, é apenas a constatação do que temos vivido. Fomos criadas acreditando em utopias. Achávamos que o futuro seria sempre melhor que o presente, que o progresso era bom (para o bolso de quem?), que a vida iria, em algum momento, entrar nos eixos. Mas hoje lidamos com distopias que jamais imaginamos encontrar. O ódio que se espalha como uma praga, a violência que invade o cotidiano sem pedir licença, tudo isso dá a sensação de que, em algum ponto do caminho, fracassamos como humanidade.
Ainda assim, 2025 não foi um ano de uma cor só. A vida segue multifacetada, furta cor. Tivemos encontros que reacenderam afetos, famílias que voltaram a se reunir depois de longos afastamentos, amizades que renasceram com mais maturidade, amores que floresceram. Vimos o cinema nacional lotar salas com histórias nossas, com sotaques nossos, traduzindo a alma brasileira com frescor, talento e potência. Assistimos artistas recuperarem espaço e projetos culturais e sociais ressurgirem com força.

Mas, claro, enfrentamos abismos. O aumento dos casos de violência contra as mulheres é um deles, talvez o mais doloroso. Eu repito porque isso precisa ser dito sem descanso: parem de nos matar. Não suportamos mais perder mulheres enquanto homens continuam perpetuando a violência sem punição. O Brasil não pode seguir normalizando o inaceitável.
Em meio a tudo isso, a arte, como sempre, me salvou, e espero que tenha te salvado também. Recentemente ouvi Lenine, que lançou “Foto de Família”, com participação de Maria Bethânia e letra de João Cavalcanti. A música me lembrou que ela é sempre uma espécie de bússola afetiva. Em um dos versos mais bonitos, ele canta que o amor é uma espécie de vacina. E é mesmo. O amor que protege. O amor que transforma, guarda e cuida. O amor que desinfeta o que a violência toca, que repara o que o autoritarismo tenta quebrar, que reacende a chama quando a desesperança assombra.

Se existe uma força capaz de nos manter de pé, essa força é, sem dúvidas, o amor. E vamos precisar dela. 2026 é ano de eleição. Ano de disputa, de transformação, de combate ao medo com coragem. Que a esperança nos acompanhe e que a alegria, essa sim revolucionária, esteja presente em cada escolha que fizermos, individual ou coletivamente.

Que sigamos, portanto, felizes, atentos e fortes. Vamos sorrir. Sorriam!
*Manu Siqueira é jornalista

