Segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE, o volume das vendas do Varejo pernambucano voltou a apresentar recuo em março de 2021. É importante lembrar que este movimento já era esperado, visto que o Governo do Estado voltou a adotar medidas restritivas para controle da segunda onda de infecções da covid-19 durante o período em questão. Esta análise é feita pelo economista e MBA em Gestão Empresarial, Rafael Ramos.
Pela leitura da PMC, o desempenho do comércio foi impactado devido ao retorno das medidas que impossibilitaram o funcionamento normal das atividades consideradas não essenciais. Isso implica nos primeiros quinze dias em limitação de horário, o que se transformou na segunda quinzena na decretação de uma quarentena mais rígida que impossibilitou abertura dos centros comerciais considerados não essenciais.
A taxa mostrou variação negativa de -6,81% no indicador mês, confirmando que março não foi um bom período para as vendas, resultado principalmente de um cenário mais crítico diante do aumento do número de infecções e mortes. A conjuntura é extremamente adversa para as famílias que passam por um processo de queda na renda real, resultado de uma inflação com movimento de alta mais acentuado na maioria dos produtos de alimentação, habitação e transportes. Este cenário restringe ainda mais o orçamento familiar, que passa a contar com uma renda disponível cada vez menor, impossibilitando o consumo de itens não essenciais.
Outra questão importante é o crítico quadro do mercado de trabalho pernambucano. A taxa de desocupação atingiu os 18% no último trimestre de 2020, número que representa mais de 700 mil desocupados no período. A estatística piora quando somamos aquelas pessoas que estão subutilizadas, ou seja, trabalham menos horas do que poderiam e os desalentados, que são aquelas pessoas que já desistiram de buscar empregos.
A geração de vagas formais também evolui de maneira muito modesta, atingindo no primeiro trimestre saldo negativo de -22 postos, não recuperando os mais de 5 mil empregos perdidos em 2020. Essa configuração cria ainda mais dificuldades para que a população obtenha renda, com isso sofrem o comércio, os serviços, o turismo e a arrecadação das esferas públicas. Outras variáveis apresentaram um resultado negativo e influenciariam no desempenho de março. Como o endividamento das famílias que se encontra em patamar elevado e atua também para restringir o consumo.
Auxílio Emergencial
Um ponto, também muito importante, é que o retorno do auxílio emergencial não será capaz de salvar parte das atividades do Varejo como ocorreu no ano passado. Lembrando que o Auxílio Emergencial é um benefício financeiro pago pelo Governo Federal para garantir uma renda mínima aos brasileiros em situação de vulnerabilidade social, durante o período de emergência de saúde pública decorrente do novo coronavírus (Covid-19), previsto na Lei nº 13.982, de 2 de abril de 2020.
O projeto injetou em Pernambuco mais de R$ 17 bilhões entre abril e dezembro, contribuindo para atenuar a queda do consumo, além de aquecer parte dos segmentos do comércio, como móveis, eletrodomésticos, material de construção, hipermercados e farmácia. Este ano o efeito será bem limitado, visto que a expectativa é de que a transferência em 2021 não alcance 25% do valor disponibilizado para as famílias elegíveis em 2020.
Destaques da PMC de março
Os segmentos que apresentaram as maiores variações negativas em março deste ano comparado com o mesmo período do ano passado foram justamente aqueles impossibilitados de funcionar durante os dias de restrição. Os móveis (-23,2%), os eletrodomésticos (-24,5%), os Equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-23,3%) e os Tecidos vestuários, e calçados (-8,6%).
A queda no desempenho dos Hiper e Supermercados está muito mais ligada à questão da inflação do período, que vem obrigando as famílias, em especial as mais pobres, a reduzirem o consumo diante de preços elevados e uma renda bem menor do que no ano passado. Por outro lado, os segmentos que tiveram a possibilidade de continuar abertos e mantiveram as vendas presenciais apresentaram crescimento significativo como Veículos, partes e peças (+80,6%), Material de construção (+56,3%), Artigos farmacêuticos (+40,2%), Artigos de uso pessoal e doméstico (+38,5%) e combustíveis e lubrificantes (+4,0%).
Para o mês de abril se espera uma melhora nas vendas, visto que as restrições foram flexibilizadas e permitiram que em horário reduzido os estabelecimentos não essenciais voltassem a funcionar. Por fim, vale destacar que apesar da queda elevada em março de 2021, a expectativa ainda é que o resultado deste ano para o Varejo seja superior ao de 2020, o que possibilitará ao menos recuperação de parte dos investimentos e empregos perdidos no primeiro ano de pandemia.