Triste e chorosa, a viúva foi ao balcão de classificados do jornal providenciar o anúncio fúnebre. “Pequenininho e na página mais baratinha” – recomendou ela. “Meu marido era um homem simples.” Da parte dela, economizou nas palavras. Nome, só citou o do morto. “Sua esposa, filhos, parentes e amigos comunicam...” Como sobrou espaço, ela aproveitou: “Vendo Chevette 1970. Ótimo estado de conservação. Único dono. Preço de ocasião.”
Assim tô eu aqui, mano, aproveitando o espaço da crônica pra vender o meu apê. Excelente apartamento no Espinheiro (com vista, ainda que discreta e distante, para o oceano). Grande (pra mim, que moro sozinho, enorme). Varanda (de casa grande). Jardineira (na verdade, jardim). Quatro suítes (com armários e maleiros). Dois closets. Três salas (de uma pra outra, dá pra passear de patinete). Copa, cozinha e área de serviço formidáveis (formidável é adjetivo antigo; mas o fato é que não se constrói mais apartamentos como este). Duas dependências de empregada. Um por andar. Três vagas na garagem (mas, com jeitinho, cabem quatro carros). Preço de ocasião!
Se alguém aí, leitor, leitora, estava pensando em comprar o Chevette, saiba que o anúncio fúnebre funcionou. A viúva o vendeu no velório mesmo.
Pois é, meus caros, se a viúva vendeu o Chevette aproveitando um anúncio fúnebre, porque não haveria eu de vender o meu apê com esta crônica, publicada em página nobre, na maior e melhor revista impressa e eletrônica do Norte/Nordeste?
O corretor diz que é a crise. Que crise? Quem nunca ouviu falar que, em mandarim, o ideograma crise é representado por perigo + oportunidade? E a China taí, gente boa, a segunda maior economia do mundo, caminhando pra primeira. Ou seja, conjugando crise com oportunidade.
E que tal aproveitar a promoção, exclusiva para os leitores da Algomais?
Apartamento supimpa, com Corolla seminovo na garagem.