Viva Tereza Costa Rêgo: uma exposição necessária

Uma parcela significativa da obra de Tereza Costa Rêgo (1929-2020) está reunida no Museu do Estado de Pernambuco até o dia 27 de março. Considerada pela crítica como a principal expoente feminina do modernismo pernambucano, seus quadros são impactantes e provocam muitas reflexões sobre o lugar da mulher na sociedade, entre tantos outros temas que emergem em sua produção. Imensos, vermelhos, contando eventos históricos e com uma forte marca da presença feminina e do Recife, eles trazem o ponto de vista de uma artista que ousou na sua vida e na sua arte. A curadoria da mostra Viva Tereza, Tereza Viva é de Marcus Lontra e Bruno Albertim.

Os principais quadros que compõem o acervo da pintora estão em exposição, como Pátria Nua ou Ceia Larga Brasileira (1999), que expõe em primeiro plano uma mulher na mesa diante de representações de lideranças de diferentes momentos políticos do País, e o gigantesco Apocalipse de Tereza, com 12 metros de largura, que misturam a ilustração bíblica, com textos do livro sagrado em segundo plano e uma série de pequenas representações dentro e fora da serpente.

A sequência de quadros históricos da pintora merecem um olhar cuidadoso e atento aos pequenos detalhes marcados quase que escondidos nos cantos e segundos planos das pinturas. Zumbi dos Palmares ou Herdeiros da Noite e Batalha dos Guararapes ou árvore da liberdade e Mulheres de Tejucupapo são alguns dos destaques. A representação feminina, da mulher nua, os gatos e serpentes são quase que onipresentes em suas telas.

Ela explicou para a Algomais, em 2015, como a história e a política aparecem em sua obra. “Minha pintura é política, mas não panfletária. Conheço as obras das repúblicas soviéticas, de Cuba, da China. E acho um horror. Os homens com as mãos levantadas é muito óbvio. Pinto com muita sutileza os fatos políticos. Faço um fundo histórico nos quadros”.

Uma marca importante da exposição foi ter conseguido reunir diferentes momentos da arte de Tereza e de forma didática introduzir os visitantes ao seu universo a partir dos textos que dialogam com os quadros. Há obras assinadas ainda com um nome falso, dos dias em que ela viveu na clandestinidade, por exemplo. No quadro A partida (abaixo), Tereza chora a morte do segundo marido, em 1981, o dirigente do partido comunista Diógenes de Arruda Sampaio. Em uma entrevista que ela concedeu a mim e a jornalista Camila Moura, ela contou como esse momento foi marcante para os próximos passos da sua obra.

“Quando voltei do exílio Diógenes morreu. Já tinha sido a irmã dos meus irmãos, a filha do meu pai, a mulher do juiz, a mulher de Arruda, agora era eu sozinha. Quando ele morreu decidi ser eu mesma, não ser mais a mulher de ninguém. Nesse período vim para essa casa, que tem um símbolo muito grande. É o meu útero essa casa. Aqui comecei a pintar profissionalmente. Já fui Teresinha quando era rica. Fui Joana, quando era militante e comunista. E agora sou Teresa Costa Rego. Tenho assinatura de três qualidades na minha pintura. Picasso dizia que pintar é libertar-se. Quando vi que não tinha nenhuma amarra, ninguém mandava em mim, eu comecei a me soltar como pessoa e como artista”.

A homenagem à artista que faleceu em 2020 é absolutamente merecida e necessária para reafirmar a grandeza dessa artista que pintou o mundo a partir do seu ponto de vista libertário e ousado e ele começava em Pernambuco. Uma exposição que merecia ganhar o País. Há 7 anos, quando ela conversou com nossa equipe, Tereza revelou um plano que tinha, que envolvia o “pintar até morrer” e de levar sua obra nacionalmente. “Tenho um projeto de uma grande exposição missão, que seria com todos os meus quadros políticos, que passaria por Brasília, São Paulo e Recife. Mas o projeto para o futuro é pintar até morrer, se tiver força. Admiro muito pessoas como Portinari, Burle Marx, tem uma dignidade de não mudar de profissão. A curva da existência vai indo para baixo, na finitude, mas você continua com a cabeça erguida até a vida lhe dar um baque”.

Neste mês foi lançado também pela Cepe o livro “A liberdade em vermelho”, produzido pela jornalista e escritora Joana Rozowykwiat, que é neta da artista.

Serviço: A Exposição sobre Tereza Costa Rêgo fica em cartaz até 27 de março no Museu do Estado de Pernambuco (Mepe) – Av. Rui Barbosa, 960, Graças

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