As nossas bebidas artesanais integradas ao ideário latino americano estão, na sua grande maioria, nas receitas elaboradas a base de milho.
Sem dúvida, esse magnífico cereal nativo remete ao imaginário do sol, e é tão presente na nossa mesa cotidiana quanto na nossa mesa de festa. Pois, a partir das memórias milenares, comer o milho é o mesmo que comer o sol. Assim, muitos pratos de milho possibilitam esse sentimento de pertença e de identidade.
Certamente ao milho se une a mandioca, outro marcante símbolo e base alimentar das Américas. Há ainda a exuberância das batatas, milhares de tipos.
A esses produtos que chamamos como “da terra” incluem-se muitos outros que trazem a Europa e o Oriente. E nessa mundialização de sabores e de imaginários estão as muitas e diferentes especiarias que marcam o intenso comércio entre o Ocidente e o Oriente.
Novos sabores, novos usos culinários, novas representações do poder à mesa. As especiarias determinaram estilos das cozinhas do mundo a partir da Idade Média na Europa. Em destaque, a chegada triunfal do açúcar, do cravo, da canela, das pimentas, que juntos orientam a formação dos gostos e intercâmbios de paladares.
Nesse tão diverso cenário, os produtos nativos como o milho, a mandioca, o caju, a goiaba, entre tantos outros símbolos tropicais,são combinados, interpretados, apropriados nas receitas, na geração de novos sabores, nos novos e dinâmicos saberes sobre a comida
E assim são permanentemente experimentados os sentimentos históricos das cozinhas e dos sistemas alimentares. Pois, o conceito de memória é um conceito de processos dinâmicos e simbólicos.
Como se sabe, a mesa brasileira além de ser globalizada e multicultural a partir das grandes navegações, e é profundamente africana. Africana do norte do continente – Magreb –; africana de muitos povos da costa ocidental, da costa centro-atlântica, e da costa oriental. Tudo isso se une as experiências das Américas, nas maneiras de juntar e criar comidas e bebidas, bebidas artesanais.
Nesse cenário as manifestações religiosas de matriz africana explodem em identidades, patrimônios culturais e história. Para trazer esses encontros de povos e de culturas; um bom exemplo é o que está no Xangô pernambucano, confirmando que as religiões tradicionais que preservaram cozinhas com receitas especiais. São estilos de se fazer comida e bebida para usos litúrgicos e sociais. Assim, destaca-se o ‘xequetê’, uma bebida artesanal de festa, e própria do Xangô pernambucano. É uma bebida a base das especiarias do Oriente. Contudo, afirmando-se como uma bebida de matriz africana.
O xequetê é preparado artesanalmente com cravo, canela, erva-doce, amendoim e castanha de caju; e, a esse conjunto de ingredientes é acrescida a cachaça com açúcar, limão e pitanga; na forma tradicional de se fazer o “bate-bate”. Todos esses ingredientes ficam em processo de maturação por um período de 03 dias, para apurar o gosto. Aí, está pronta a bebida de festa que é servida em pequenas doses, pois, tem a fama de ser uma bebida “forte” e “quente”, e justamente por isso é também chamada com o nome sugestivo de “levanta a saia”.
Essa bebida conforme a maturação vai ficando mais gostosa, diga-se mais forte, mais concentrada. É, sem dúvida, uma bebida de celebração, para fortalecer os laços sociais, e para fazer viver os rituais de comensalidade. É consumida como se faz com a cachaça, com o rum, com o conhaque, entre tantas outras bebidas categorizadas como bebidas “espirituosas”. É uma bebida dita masculina e feminina, sendo também um tipo de “abrideira” para as refeições.
Já provei! E, gostei do xequetê..