Se Pernambuco é conhecido pelo senso de grandiosidade, esse espírito tomou um dos seus principais líderes nos dias da Revolução: o Cruz Cabugá. O slogan usado pela Rádio Jornal que destaca “Pernambuco falando para o mundo” bem que poderia ser aplicado também nos tempos em que o Estado foi uma república independente do País. As notícias do movimento que eclodira na cidade do Recife logo se espalham pela Europa e América do Norte. E o Cabugá tem uma parcela importante nisso.
Nos primeiros dias da revolução, Cabugá é designado para os Estados Unidos, em busca de reconhecimento dos norteamericanos e de armamento para enfrentar a Coroa Portuguesa. “Curioso dessa Revolução de 1817 é que ela se espalhou pelo mundo de uma forma quase que inacreditável”, afirma Leonardo Dantas. Apesar de pouco tempo de duração, a notícia dos acontecimentos em solo pernambucano tiveram registros nas embaixadas de Lisboa, Londres, Paris, Viena, São Petersburgo e Washington. “A notícia teve presença nas páginas dos jornais londrinos. No The Times foram dedicados 21 editoriais à Revolução de 1817, que foram transcritos nas 58 edições do jornal”.
O historiador conta que Cabugá desembarcou em solo americano com objetivo de atrair apoio dos maçons na Filadélfia. “Mas ele não é muito feliz nos seus contatos”. Apesar disso, ele conseguira do governo norteamericano firmar acordos bilaterais que permitiram que os navios mercantes de Pernambuco pudessem entrar nos portos dos Estados Unidos, além da autorização para compra de armas e munições.
A viagem do revolucionário, porém, não foi em vão. O historiador conta que nesse percurso Cabugá faz amizade com os bonapartistas, que eram os seguidores de Napoleão Bonaparte que estavam asilados nos Estados Unidos. Desse relacionamento amistoso, o recifense vende a ideia de montar uma esquadra para libertar o líder francês da Ilha de Santa Helena e trazê-lo para Pernambuco.
A proposta ousada, que mexia com a política internacional, é frustrada com o fim do governo revolucionário de 1817, embora parte do plano tenha sido iniciado. “Cabugá chegou a arrecadar US$ 12 milhões (valores calculados em 2007) para formar a esquadra, que se reuniria em Fernando de Noronha. Mas quando mandou os primeiros barcos para o Brasil, revolução já havia sido derrotada. Eles vieram e foram presos”.
Mesmo com a queda do regime, o recifense permanece nos Estados Unidos. O mesmo Recife, que hoje conta com mais de xx representações diplomáticas, forma dos dias da revolução o primeiro cônsul-geral do Brasil nos Estados Unidos, anos após a queda da nossa república. “Por estar tão ambientado aos EUA, Cabugá é escolhido como o primeiro representante do novo império brasileiro, em 1822. E morre como diplomata”, afirma Leonardo.
No artigo “Independências: os Estados Unidos e a República de Pernambuco de 1817”, o historiador Flávio José Gomes Cabral registra que, nos Estados Unidos, Cabugá teve encontros com Caesar Augustus Rodney, que era membro da comissão para os assuntos sul-americanos, com Willian Jones, presidente do Banco Central, e com o secretário interino de Estado Richard Rush. “ A audiência com Rush é vista (...) como o “primeiro encontro de um diplomata brasileiro com um ministro das Relações Exteriores estrangeiro. Foi a primeira gestão diplomática do Brasil”.