O maestro Wendell Kettle foi responsável por orquestrar a obra “A Princesa do Catete”, que integra o acervo da biblioteca do Instituto Ricardo Brennand.
O Festival de Ópera de Pernambuco (FOPE), que teve início na última sexta-feira (23), no Teatro de Santa Isabel, chega à sua quinta edição trazendo uma homenagem aos 170 anos de nascimento do compositor Euclides Fonseca (1854-1929), o primeiro compositor de óperas nascido em Pernambuco. O evento, que segue até o dia 08 de setembro, é uma realização da Academia de Ópera e Repertório e da Sinfonieta da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), sob direção artística do maestro Wendell Kettle, com incentivo do Funcultura para duas óperas.
Nesta edição, entre os trabalhos que serão apresentados, o maestro Wendell Kettle resgata a obra “A Princesa do Catete”, ópera composta por Euclides Fonseca em 1883 e que integra o acervo da Biblioteca José Antônio Gonsalves de Mello, do Instituto Ricardo Brennand. A obra foi composta a partir do libreto escrito pelo também pernambucano Carneiro Vilela (1846-1913), escritor conhecido e um dos fundadores da Academia Pernambucana de Letras.
A parceria entre o compositor e o escritor resultou em uma comédia única, com valor imensurável para a cultura de Pernambuco e do Brasil. A montagem desta ópera é mais do que uma celebração da história musical do estado, ela se revela, acima de tudo, como um convite para que o público conheça e valorize essa herança. “Essa dobradinha entre Euclides Fonseca e Carneiro Vilela é de um valor cultural muito importante. Então queremos que todos possam vir, assistir e prestigiar, para conhecer e para valorizar a ópera produzida aqui no nosso Estado”, destaca o maestro Wendell Kettle.
O trabalho exigiu a orquestração de “A Princesa do Catete”, que é a definição de quais instrumentos tocam em cada parte da música, as melodias, as harmonias e os ritmos. “É sempre um desafio você traduzir na composição textural de uma orquestra a linguagem que o compositor expressou no piano. Então eu procuro sempre ter um estudo do ritmo dramático da obra para saber como orquestrar determinado momento”, explica o maestro e idealizador do festival Wendell Kettle.
Essa não é a primeira vez que Wendell Kettle faz o trabalho de orquestração de óperas de Euclides Fonseca. O mesmo trabalho precisou ser feito com as óperas “Leonor” e “Il Maledetto”, apresentadas em edições anteriores do FOPE. “A primeira ópera de Euclides Fonseca, “Leonor”, tem duas versões. Uma versão de 1883, que ele mesmo orquestrou, e depois ele fez uma versão com piano, em 1915. Nós juntamos essas duas versões para que a gente pudesse ter uma ópera de uma duração maior”, explica o maestro.
A restauração das obras de Euclides Fonseca é um trabalho meticuloso, que envolve não apenas a modernização da orquestração, mas também a preservação da essência original das composições. O processo de orquestração é crucial, ainda, para a valorização e modernização do repertório operístico local, possibilitando que essas obras sejam mais acessíveis e atraentes para novos públicos.
“Também restauramos a obra “Il Maledetto”, um drama bíblico em um ato, baseado na história de Caim e Abel. Do “Il Maledetto”, a gente tem uma abertura orquestrada, mas com uma orquestração não convencional para os dias de hoje. Então nós modernizamos a orquestração da abertura, colocamos o violoncelo e complementamos com alguns outros instrumentos”, complementa Wendell Kettle.
A Academia de Ópera e Repertório da UFPE tem desempenhado um papel crucial nesse processo de restauração e divulgação das obras de Fonseca. A expectativa é que o projeto se complete no próximo ano, com a montagem de “As Donzelas d’Honor”. Além disso, há planos para uma parceria com a Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), coordenada pela professora Melina Peixoto, que estudou “A Princesa do Catete” em seu doutorado, visando ampliar a visibilidade das obras de Fonseca.
Sobre Euclides Fonseca
Euclides de Aquino Fonseca é uma figura histórica de grande importância para a música pernambucana. Natural do Recife, ele foi pioneiro na composição de óperas no estado. No festival deste ano, a escolha de “A Princesa do Catete” reflete a vontade de resgatar e celebrar o legado cultural deixado por Fonseca.
Abolicionista, compôs em 1888 um Te Deum para comemorar a abolição dos escravos. O compositor atuou também como crítico musical, professor, pianista e maestro, com atuação de destaque no Club Carlos Gomes, sociedade artística amadora atuante no século XIX em Pernambuco. É patrono da cadeira de no 26 da Academia Brasileira de Música e membro da Academia Pernambucana de Música. Em 1925, escreveu e publicou, pela editora do Diario de Pernambuco, o livro “Um século de vida musical em Pernambuco”.
Euclides Fonseca chegou a ser convidado a continuar os estudos de piano na Alemanha, mas recusou o convite com receio da distância da família, bem como de tornar-se ingrato ao seu país. Por razões semelhantes, recusou convites feitos por Carlos Gomes, o compositor de ópera mais importante do país, para trabalhar em Belém, no Pará, e também a proposta feita pelo regente Alberto Nepomuceno, para seguir para o Rio de Janeiro.
Sobre o V Festival de Ópera de Pernambuco
O Festival de Ópera de Pernambuco começou na última sexta-feira (23) e segue até 08 de setembro, no Teatro de Santa Isabel. A realização é da Academia de Ópera e Repertório e da Sinfonieta UFPE, sob direção artística do maestro Wendell Kettle.
No primeiro fim de semana, o público conferiu a obra “O Menino Maluquinho”, ópera composta pelo maestro Wendell Kettle em homenagem ao icônico personagem do escritor Ziraldo. O elenco do espetáculo infanto-juvenil era composto apenas por crianças. No último fim de semana do evento, a ópera apresentada será “O Elixir do Amor”, trabalho do italiano Gaetano Donizetti.
Os ingressos custam a partir de R$ 30 (meia-entrada) e podem ser adquiridos apenas presencialmente na bilheteria do Teatro de Santa Isabel.
Programação
“A Princesa do Catete”, de Euclides Fonseca; dias 29/08, 30/08 e 31/08 (20h) e 01/09 (19h) | | Ingressos: R$ 30 (meia-entrada) e R$ 60 (inteira)
“O Elixir do Amor”, de Gaetano Donizetti; dias 05/09, 06/09 e 07/09 (19h) e 08/09 (18h) | | Ingressos: R$ 50 (meia-entrada) e R$ 100 (inteira)
Serviço
V Festival de Ópera de Pernambuco
De 23 de agosto a 08 de setembro – Teatro de Santa Isabel
Ingressos a partir de R$ 30 na bilheteria do Teatro de Santa Isabel ou no site https://www.guicheweb.com.br/pesquisa/festivaloperape