Endocrinologista Ney Cavalcanti analisa o sexo na terceira idade, tema ainda considerado tabu pela sociedade. Ele rebate a ideia de que mudanças hormonais ocorridas com a idade mais avançada fazem desaparecer a necessidade e o desejo da atividade sexual.
Os idosos sofrem discriminação por parcela importante da população. Afinal eles se apresentam de maneira oposta dos atuais ícones da sociedade, que são juventude e beleza. Alguns jovens, inclusive, tratam os idosos como se pertencessem a uma espécie diferente da sua. Não se lembram, que é preciso ter sorte e saúde bastante, para viver o suficiente até se alcançar a condição de idoso.
No aspecto de vida sexual, o julgamento é rigoroso. Sexo é só para os jovens e os de meia idade. Essa forma de pensar é dominante entre os leigos e também, infelizmente, entre muitos médicos. O raciocínio em que se baseiam seria que, ao atingir a terceira idade, as modificações que ocorrem, inclusive as hormonais, fariam desaparecer a necessidade e o desejo da atividade sexual. Esse pensamento é absolutamente falso.
Nos casos dos hormônios no homem, não existe, na maioria dos casos, diminuição significativa dos níveis de testosterona com a idade. Existem octogenários com níveis desse hormônio semelhantes a de indivíduos muito mais jovens. Nas mulheres, com a menopausa existe uma redução abrupta dos hormônios femininos, os estrógenos. Porém, muito mais importantes como estímulo para a atividade sexual são os hormônios masculinos, os andrógenos, que a mulher também os produz. Esses são secretados principalmente pelas glândulas adrenais que não se alteram com a menopausa . O resultado, é nessa fase da vida das mulheres, existe mais hormônios masculinos do que femininos. Por conta disso, algumas mulheres tem até exacerbação da libido. O aumento da longevidade, as melhores condições de saúde e o surgimento de drogas que favorecem a realização do ato sexual fazem com que cada vez mais idosos o pratiquem.
Os números impressionam. Estudo recente realizado nos Estados Unidos demonstrou que 73% do grupo entre 56 e 74 anos de idade tem vida sexual. O percentual é menor entre nos que têm 75 e 74 ( 43%,), mas ainda persiste depois dos 75 (26%). Isso tem trazido alguns problemas. O principal é o grande aumento das doenças sexualmente transmitidas nesse grupo etário. Aumento inclusive proporcionalmente maior do que entre os jovens. Mais do que dobrou na última década.
Um estudo realizado no Reino Unido demonstrou que 17% dos casos de Aids e 27 % dos novos casos da doença são diagnosticados em pessoas com mais de 45 anos de idade. Isto ocorre por dois motivos. Não existe temor da gravidez e a falta de informação de como se prevenir das doenças sexualmente transmitidas nesse grupo etário.
O governo de vários países estão fazendo campanhas de esclarecimento para os idosos. É de muito sabido que os benefícios da atividade sexual não se resumem ao prazer que o orgasmo proporciona. O idoso que tem vida sexual é menos ansioso, mais sociável, adoece menos é mais otimista etc.
Pesquisas demonstraram que pelo menos parte desses benefícios decorre do aumento da produção, por parte de hipófise, de um hormônio, a ocitocina. Há muito se achava que suas ações se resumiam em promover a contração uterina durante o parto, e estimular a saída do leite na amamentação. Porém se demonstrou ter ele uma outra e muito importante função . Hoje é considerado o hormônio do bem-estar.
A sua secreção é aumentada por vários e diferentes estímulos. Contato com amigo, com uma pessoa que nos agrada, e principalmente pelo contato físico e atividade sexual. Os idosos que praticam o sexo têm níveis muito mais elevados dos que os que não o fazem. Foi também constatado que a adoção por parte de um idoso de um animal de estimação promove o aumento da secreção ocitocina.
E você jovem, se tiver a sorte de se tornar um idoso no futuro, prefere continuar ter vida sexual ou tomar conta de um cachorrinho?