O estresse é um componente da vida moderna que está cada vez mais presente na rotina daqueles que vivem em grandes centros urbanos, onde ocorre a maior incidência de transtornos mentais. Classificado como epidemia global pela Organização Mundial de Saúde (OMS), essas doenças atingem mais de 90% da população de todo o mundo. Em muitos dos casos, o problema pode estar atrelado à superação de desafios, mas cronicamente pode causar sérios danos para a saúde.
Poluição urbana, ilhas de calor, barulhos excessivos, trânsito, transporte público de baixa qualidade, insegurança, desgaste físico e emocional. Em sua palestra realizada no CAM Bem-Estar, Francisco da Costa, mestre em psicologia das organizações pela Universidade de Barcelona, afirma que para o nosso cérebro, essa grande quantidade de problemas acontecendo ao mesmo tempo representa muitos estímulos considerados agressivos. “Em consequência, corpo e mente vão acionar um conjunto de respostas ansiosas”.
“Quando acionamos esses mecanismos constantemente, entramos no processo de estresse”, advertiu o especialista. A reação instintiva pode desencadear transtornos mentais, especialmente depressão e ansiedade. O estresse é um conceito emprestado da física para a psicologia, que se refere à exaustão ou perda de elasticidade do material. E na saúde não é diferente. Podemos fazer uma analogia, como se corpo e mente fossem um elástico que, com o excesso de estímulos ao qual todos somos submetidos constantemente, ele precisasse ser estendido. A repetição desse processo acaba provocando a perda da flexibilidade. “Quando soltamos o elástico percebemos a dificuldade dele se recompor e um dos momentos em que sentimos isso é durante a noite, pois temos muita dificuldade em voltar para o estado de calma, que é o pré-requisito do sono”, afirmou Francisco.
Na contemporaneidade também vivemos em um mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo. “Obviamente que esse quadro gera muitos casos de transtorno de ansiedade. Sabemos que isso é o grande problema da sociedade hoje em dia e arriscaria dizer que, talvez, seja o maior problema para o sono”, considerou o médico especialista nas áreas de nutrologia e prática ortomolecular, Sávio Cardoso, durante sua palestra no CAM Bem-Estar.
O grande problema disso tudo é que quando o sono não vem, as pessoas recorrem a uma solução imediata. “Para dar conta das responsabilidades do dia seguinte, muitos acabam tomando os famosos remédio para dormir”, condenou o especialista. Segundo o levantamento realizado pela IQVIA, empresa norte-americana de auditoria e pesquisa de mercado farmacêutico, entre julho de 2013 e junho de 2014, o número de vendas desses medicamentos era de aproximadamente 47 milhões de comprimidos. Já entre julho de 2017 e junho de 2018, o volume foi quase de 71 milhões.
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O fato é que as medicações, em muitos dos casos, não resolvem o problema. “O ideal é que a gente trate a causa e não os sintomas. Quando a gente toma esses remédios, muitas vezes eles não favorecem o aprofundamento do sono”, disse Sávio. Em outras palavras, eles colocam as pessoas para dormir, mas não fazem com que elas realmente descansem. Este tipo de medicamento pode ainda afetar a memória, diminuir a libido e alterar a cognição.
Umas das receitas de Francisco da Costa para viver bem em meio a toda essa confusão é o Shinrin-Yoku, ou o “Banho de Floresta” – prática adotada por médicos japoneses. De acordo com o psicólogo, o contato direto com a natureza promove a sensação de relaxamento, algo que pode ser obtido até numa praia urbana. “O som das ondas informa para o nosso cérebro que aquele local é um ambiente tranquilo e que pode baixar a guarda. Estar exposto ao vento ou ao sol ajuda o nosso corpo a se equilibrar novamente”.
Uma importante dica para aqueles que desejam ter uma melhor qualidade do sono é ficar distante dos aparelhos digitais próximo à hora de dormir. A luz violeta produzida por tais dispositivos interfere diretamente na qualidade do sono, sobretudo na produção da melatonina, hormônio que nos induz a dormir. “Hoje todos nós somos reféns dos dispositivos eletrônicos. Nós brasileiros ficamos em média quatro horas expostos a essa tela”, afirmou Sávio.
É fundamental que as quatro fases do sono sejam respeitadas para o bem-estar do corpo. A primeira delas é a do descanso, quando começamos a relaxar na cama e ocorre a liberação da melatonina. Já na segunda, ocorre a redução da frequência cardíaca e o relaxamento da musculatura. A fase três consiste no aprofundamento do sono e a quarta é o sono profundo, onde existe o pico do relaxamento muscular e são liberados diversos hormônios.
“É importante que a gente entenda essa necessidade de respeitar essas fases do sono. Quando nós estamos dormindo, por exemplo, e acordamos de madrugada para ir ao banheiro, ao retornarmos para a cama e voltarmos a dormir, não retornamos para a fase quatro e sim para o início delas, afetando a qualidade do sono”, completa o médico.
*Por Marcelo Bandeira