Lançamento de catálogo e vídeo narram processo de permuta entre Recife e Havana – Revista Algomais – a revista de Pernambuco

Lançamento de catálogo e vídeo narram processo de permuta entre Recife e Havana

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Na próxima sexta-feira (26), o Museu do Estado receberá a etapa final de um processo de residência artística que buscou unir as similitudes entre o Recife e a cidade de Havana, em Cuba. Na ocasião serão lançados um catálogo, que será distribuído gratuitamente, e um vídeo-registro. A publicação e o vídeo narram os processos, trocas e vivências experienciadas no projeto Se Permuta, que reuniu três ações realizadas por artistas pernambucanos em solo cubano: um procedimento de deriva, um mural e um site especific. O evento também contará com um bate-papo entre os envolvidos para relatarem suas experiências, com intérprete de libras.

O termo, “Permuta”, carrega um significado peculiar no contexto histórico cubano: a expressão foi utilizada para designar, num longo período da revolução, as trocas informais entre as casas, pois não era possível às pessoas vender ou comprar imóveis. Assim, as mudanças de endereço eram viabilizadas através das “permutas” entre famílias que trocavam suas moradias, muitas vezes as negociando em ambientes públicos, como nas tradicionais feiras de troca que ocorrem até hoje aqui no Recife.

Idealizado a partir desses paralelos evidentes em elementos da paisagem e também nas cargas simbólicas entre as duas cidades, o projeto materializou as percepções da coordenadora geral do projeto, Maria Eduarda Belém, e do cubano radicado no Recife, David Alfonso Suárez, coordenador artístico. O Se Permuta contou com a participação dos artistas plásticos Alexandre Ponz, Heitor Pontes e Luciano Matos, do Coletivo Vacilante, além da designer Sofia Lobo. Esse grupo desembarcou em Cuba no mês de setembro de 2018 para explorar as sensações de familiaridade e de déjà vu entre as duas cidades.

Em solo cubano, o Se Permuta teve contou com a parceria da Fábrica de Arte Cubano (F.A.C), espaço cultural instalado numa edificação que já foi uma antiga fábrica de óleo de cozinha. Além de permitir, de forma inédita, a pintura de seus murais, a F.A.C também disponibilizou uma sala para a instalação do site specific Y se te lo imaginas” inaugurado no dia 04 de outubro, durante evento de reabertura semestral do equipamento.

As fotos e relatos do catálogo, assim como o vídeo foram pensados para transcender o caráter de relato: mais do que registros das atividades, esses produtos compõem a narrativa principal do projeto e evidenciam as experimentações de permuta realizadas entre os artistas pernambucanos e os cubanos.

“O lançamento da publicação e do vídeo-registro é uma maneira que encontramos de partilhar a nossa experiência com o público, de procurar mostrar as semelhanças culturais que temos, como latinos, bem como as afinidades que descobrimos e que nem pensávamos em ter. Cada uma das ações artísticas desenvolvidas teve ritmo e repertório próprios e possibilitou uma abordagem desse parentesco entre Havana e Recife sob diferentes perspectiva”, explica Maria Eduarda.

O Se Permuta foi financiado pelo Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura, o Funcultura, na linguagem Artes Plásticas, Artes Gráficas e Congêneres. O FabLab Recife também apoia o projeto. Participaram do Se Permuta, do lado cubano, os artistas Anabel Alfonso, Darién Sánchez, Edel Rodríguez (Mola), Gabriela Gutiérrez, Idania del Río, Nelson Ponce e Raúl Valdés (Raupa).

SERVIÇO:
Se Permuta: lançamento e distribuição de catálogo; vídeo-registro
26 de abril, às 18h
Museu do Estado
Evento com intérprete de libras

Sobre as ações artísticas:

Y se te lo Imaginas: Site especific
A instalação artística que ocupou uma das salas da F.A.C de 04 a 20 de outubro começou a ser construída desde Recife e foi, durante o processo, incorporando elementos trazidos das derivas e vivências cotidianas em Havana. A proposta da dupla de artistas foi montar um espaço de registro de impressões sobre esse sentimento de parentesco entre Havana e Recife, através do uso de elementos de cartografia cujas rotas imaginárias deram origem a um” espaço assemblage”, composto por traçados, tecidos, elementos encontrados ao acaso e um mar de letras que misturava a prosa poética do pernambucano Mário Sette e do cubano Sérgio Bianchi, que pareciam falar de uma mesma cidade, com seus recantos e personagens, dentre outras experimentações.

Y se te lo Imaginas: processo de deriva
Maria Eduarda e Sofia Lobo apropriaram-se de um objeto simples do cotidiano, o lençol, que foi ressignificado como veículo poético para um processo de deriva realizado pelas ruas de Havana. Presente na paisagem visual de Havana, tremulantes, secando ao mormaço caribenho, os lençóis cubanos já velhos, puídos e marcados pelo tempo, foram permutados por lençóis trazidos pelas artistas com uma estamparia que reuniu símbolos oriundos de fontes arquitetônicas diversas compartilhadas pelas duas cidades. Além de conhecerem personagens marcantes como Bianca, Verônica, Joaquim e Osvaldo, entre outros, as artistas também recolheram relatos por escritos ou em forma de desenho que estão gravados em um caderno disponível para apreciação no evento.

Pintura do Mural da F.A.C
Uma mescla de figuras icônicas como Luiz Gonzaga, personagens folclóricos com a La Ursa, dizeres populares, trechos de música, elementos da cultura habanera como os “almendrones” passaram a fazer parte da massa colorida que hoje cobre o quarteirão da F.A.C. Entre abstrações, figurativos, pixos e caligrafias, o mural é o resultado de um processo de 15 dias de trocas e experimentações provocados pelo Coletivo Vacilante, junto com David Alfonso Suárez e os cubanos Anabel Alfonso, Darién Sánchez, Edel Rodríguez (Mola), Gabriela Gutiérrez, Nelson Ponce e Raúl Valdés (Raupa). A ação realizada pelo grupo teve caráter inédito: foi primeira vez que a antiga fábrica de óleo de cozinha, que virou espaço cultural em 2014, teve seu mural totalmente ocupado por uma intervenção artística. A obra acabou por tornar-se o maior grafite de Havana.

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