Há alguns anos, fazendo matérias sobre seca, descobri o termo “convívio com o Semiárido”. As instituições que trabalhavam nas regiões afetadas por períodos sem chuvas compreenderam que não era possível combater o clima, mas aprender a lidar com ele, de forma a garantir qualidade de vida e produtividade. Pois é, o clima chuvoso do Recife e da região metropolitana nos parece merecer um tratamento semelhante. Os dias de chuvas intensas, onde caem nos céus 50%, 60% ou 70% do que era previsto para o mês não são mais exceção. Estamos na metade do ano e em pelo menos três ocasiões a concentração dos índices pluviométricos gerou prejuízos, caos urbano e até morte.
Há uma constatação popular de que nos dias de chuvas intensas não se encontram os agentes de trânsito para auxiliar nos deslocamentos, muitas vezes interrompidos pelos pontos de alagamentos. Pontos, aliás, que se repetem. A população começa a se habituar a não trafegar por algumas regiões nesses dias. Pergunto: se informalmente os cidadãos já identificam essas áreas e criam suas alternativas, o poder público não poderia desenvolver um plano de “urgência” para essas ocasiões? Fechar algumas vias ao invés de deixar os motoristas se arriscarem nas enchentes.
Não dá para mudar o ciclo das chuvas. Não é possível elevar o nível da cidade. Mas se tem algo que é possível fazer ao menos para minimizar os estragos desses dias mais tumultuados é o planejamento. Algo que nossos gestores públicos dizem por todo lado que sabem fazer.
*Rafael Dantas é jornalista e especialista em gestão pública