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Pé de serra resiste

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O mês de junho é especial para os amantes do forró. Afinal, é na época dos festejos juninos que o ritmo é mais tocado e traz consigo as tradições do interior do nordeste brasileiro. No início, o forró retratava o universo rural do sertanejo, e teve em Luiz Gonzaga como principal nome e representante Brasil afora. A evolução, entretanto, fez o ritmo ser transformado. Além das zabumbas e triângulos, instrumentos característicos do forró tradicional, foram incorporados elementos da música pop, o que se deu o nome de forró estilizado.

Apesar do crescimento notório desse novo gênero, o forró tradicional ainda se mantém firme no cenário musical. Segundo Anselmo Alves, pesquisador da área, ainda há poucos espaços para apresentações da tradição em Pernambuco, diferente de outros Estados do Nordeste. “Fui há pouco tempo no Rio Grande do Norte e lá há um evento feito na rua mesmo. Eram trios com sanfona, triângulo e zabumba. O local estava cheio. Algo magistral. Então, há possibilidades, sim, de se fazer um circuito de qualidade”, diz.

Para recuperar o espaço perdido, o ritmo deve se reinventar. Para Anselmo, as letras devem ser escritas sobre temas atuais. “O forró mais tradicional precisa de um rumo. Tem que romper com o olhar caricato e se profissionalizar. Parar de falar do cheio do cangote, do arrastar da chinela. Dá pra fazer músicas com temas mais contemporâneos”, sugere. A opinião é compartilhada por José Luiz de Lima, o Luizinho de Serra, de apenas 29 anos, um dos sanfoneiros mais promissores da nova geração. “A gente não precisa mais fazer um retrato copiado do Sertão e só falar de seca, fome e da tristeza do sertanejo. Podemos utilizar uma linguagem mais moderna, mas sem vulgarizar nas letras. O importante é ter conteúdo”, afirma.

Para Luizinho, o crescimento e o surgimento de bandas de forró estilizado não atrapalha o desenvolvimento de artistas que seguem a linha tradicional. “Eu acho que tem espaço para todo mundo. Eles fazem do jeito deles e nós fazemos o nosso. Graças a Deus, estão surgindo novos nomes para fugirmos da mesmice. Acho que o cenário está bom, mas pode melhorar muito ainda”, afirma. Segundo o músico, a união entre artistas que defendem e fazem o ritmo de raiz é fundamental. “Temos de nos unir em prol da bandeira da nossa cultura. Defender o que Luiz Gonzaga criou. Tenho certeza que nos próximos anos vamos fazer com que nossa cultura chegue no mais alto pedestal, porque ela merece”, completa.

Luizinho, aliás, destaca os novos artistas que tem a oportunidade de levar o forró tradicional de volta aos holofotes. “Existe o Fulô de Mandacaru, que participou do programa Superstar, que é algo super importante, temos também Lucy Alves, que está em Velho Chico, da Rede Globo. Essa nossa geração, tenho certeza, que vai chegar na grande massa. Sempre respeitando os grandes nomes da história, sem denegrir a imagem da música. Vamos manter um padrão com qualidade”, projeta.

Marcelo Alves da Silva, mais conhecido no meio musical como Marcelo de Feira Nova, há 34 anos está envolvido com o forró. Para ele, o ritmo é de extrema importância em sua vida. “Pra mim é tudo. Peguei na minha primeira sanfona aos 13 anos de idade. Aos 16, já estava tocando nas rádios. É muito importante para todos nós que tocamos. Toco e vivo dele até hoje”, conta.

Diferente de Luizinho de Serra, o sanfoneiro entende que o forró pop é um obstáculo para o desenvolvimento do tradicional. “O que vejo é uma desvalorização do forró criado por Gonzaga. Estamos passando por um momento estranho. O pessoal que faz algo mais estilizado consegue entrar na mídia e ganha muito dinheiro. O forró vem da sanfona”, defende. Entretanto, apesar das dificuldades, Marcelo já possui shows agendados em cidades como Limoeiro, Feira Nova – sua terra natal – e Recife.

(Por Yago Gouveia)

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