Manufacture versus mindfacture – Revista Algomais – a revista de Pernambuco
OBSERVATÓRIO DO FUTURO

OBSERVATÓRIO DO FUTURO

Bruno Queiroz Ferreira

Manufacture versus mindfacture

Durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, o ministro da economia, Paulo Guedes, citou o termo mindfacture, um trocadilho com a palavra manufacture, como sendo o futuro do Brasil. Essa é a primeira vez que o tema é abordado publicamente por um integrante do governo brasileiro.

Mas o que significa mindfacture e por que devemos nos preocupar daqui pra frente com essa afirmação?
Traduzindo em bom português, podemos entender manufacture como trabalho manual e mindfacture como trabalho da mente. O trabalho baseado nas habilidades manuais, como já abordamos aqui na coluna, será em sua grande maioria substituído por robôs e algoritmos, que farão as atividades pesadas e repetitivas. O trabalho da mente, por outro lado, será centrado nas habilidades socioemocionais, tais como criatividade, estratégia, planejamento, empatia, resiliência, autodidatismo, proatividade, entre outros.

O ministro defendeu também a necessidade de qualificar os trabalhadores para esse novo mercado de trabalho da mente e que o papel do governo não é inovar e sim criar as condições para a inovação e um ambiente de negócios menos hostil. O pensamento está na direção correta, mas a questão não é mais “o que fazer”, isso já é óbvio há pelo menos cinco anos, e sim “como fazer” essa transição. É preciso mais do que intenção. É preciso agir imediatamente.

Nos últimos 40 anos, o Brasil chegou muito atrasado nas principais ondas de inovação tecnológica que ocorreram no mundo: computador, internet, telefonia móvel, biomedicina, robotização, inteligência artificial. A próxima onda, que se forma em função da soma de todas as anteriores, é a do mercado de trabalho. E será, sem dúvida, a mais impactante de todas elas, pois atinge profundamente a empregabilidade e a fonte de renda das pessoas despreparadas para o mindfacture.

Para o Brasil não perder mais uma onda, não apenas o governo como também a sociedade, em especial os empresários, precisam agir em dois eixos principais ao mesmo tempo: educação e leis trabalhistas.

No eixo da educação, priorizar a melhoria da qualidade do ensino de matemática, lógica, linguagens (português e inglês) e o desenvolvimento de habilidades socioemocionais. Se o futuro é o mindfacture, precisamos desenvolver cada vez mais nos humanos as habilidades que somente nós possuímos para não sermos substituídos por robôs e algoritmos no mercado de trabalho.

No eixo das leis trabalhistas, deve ser priorizada a segurança jurídica das novas formas de trabalho – tais como home office, trabalho remoto, terceirização, contratação por hora, pagamento por resultados – mas sem a perda da segurança social, é claro. Ainda é essencial flexibilizar a livre negociação entre as partes, equilibrando a relação paternalista da legislação atual.

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