*Paulo Caldas
A palavra de ordem dita pela recifense Laís Araruna de Aquino, neste “Juventude” (Editora Reformatório, 2018, projeto gráfico Negrito Produção Editorial, vencedor do prêmio Maraã de poesia 2017, chega na voz de um arauto chamado emoção.
Já nos primeiros proclamas é possível perceber que Laís tomou fôlego na reflexão ao conceber o poema “A um bruxo com amor”, recado revelador de sentimentos entre chuvas, sol e vento. Em mensagens outras, se veste de elogiável singeleza quando no texto em prosa poética “Meu Ofício”, como quem beija o sopro da brisa, escreve tal Pena Filho aos rios e matizes: “As águas e os céus se dividem em duas metades de esplêndido azul”.
Ainda neste universo tão seu, se atém às raízes quando cita dois meros vendedores de doce japonês mercadejando numa tarde maurícia. Ao lado do filão temático, ungido pela reflexão, não obstante idas e vindas por outros mundos, Laís se esquiva desse contexto, fecha as cortinas e põe os pés travessos nas ruas e casarios, becos e praças, pontes e rios que impõe um lugar único, só seu: o Recife.
Há instantes em que autora resgata a voz narrativa na segunda pessoa, prática de um certo antes, esquecida nos poetas do agora. “Não sabes o exato momento em que a tarde cede à escuridão”, no poema “Veloz”, ou “Tudo está bem, mesmo as coisas fora de lugar, és jovem, podes o recurso extremo…”, em “Juventude”, poema título do livro.
Os sentimentos propalados no texto de Laís, mesmo quando reflexivos e tangenciam vestígios do hermetismo, seguem numa perene simbiose, envolvidos pelo intimismo do cotidiano e o apego aos elementos da natureza. Assim emerge rumo a Manoel de Barros com quem, de mãos dadas, divide a pantaneira voz: “Poesia não é feita para entender mas para incorporar”.