Pernambuco tem mais de 40 mil casos de suspeita de chikungunya, segundo informações da Secretaria Estadual de Saúde. O incômodo com as dores intensas e constantes é a principal queixa dessa parcela de vítimas da doença causada pelo mosquito. O tratamento desses sintomas foi tema da nossa última edição da Revista Algomais Saúde. A matéria despertou grande interesse dos leitores a ponto de obter mais de três mil compartilhamentos nas redes sociais, além de mais de mil comentários, muitos deles referentes a dúvidas sobre a infecção. Voltamos a abordar o tratamento da chikungunya respondendo alguns dos questionamentos.
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A relação entre a diabetes e a chikungunya foi a maior indagação dos leitores. Afinal, os pacientes de diabetes sofrem mais com a febre? A resposta do endocrinologista Luiz Griz é que não. Porém, se o quadro de dor é indiferente à diabetes, o tratamento da chikungunya demanda cuidados redobrados para esses pacientes, devido ao uso das medicações com corticoides.
“ O protocolo indica apenas o uso de alguns analgésicos na primeira semana, mas caso não melhore o quadro de dor, os pacientes podem entrar em tratamentos com corticoides, que aumentam os níveis de glicose”, alerta Luiz Griz, que é professor de endocrinologia da UPE e médico preceptor da Unidade de Endocrinologia e Diabetes do Hospital Agamenon Magalhães. Ele sugere que esses pacientes tenham um cuidado redobrado em monitorar a glicemia com o glicosímetro. “É importante fazer a medição pelo menos três vezes por dia, antes das refeições”, afirma.
Sem uma boa orientação de um especialista, esse paciente poderá ter um quadro de descompensação do diabetes. E para evitar isso, o médico indica que seja realizado um planejamento de uso de insulinas de forma preventiva.
Outra dúvida levantada pelos leitores foi referente aos hipertensos. A situação é semelhante. De acordo com o cardiologista Wilson Oliveira Júnior, o uso dos medicamentos anti-inflamatórios e corticosteroides podem dificultar o controle da pressão arterial. “Algumas das saídas encontradas para o tratamento da dor da chikungunya são de drogas que podem descontrolar a pressão. Não há uma contraindicação absoluta desses tratamentos aos pacientes hipertensos, até porque a dor intensa precisa tratar mesmo. Mas é preciso ficar mais atento para não haver um descontrole do quadro”, adverte.
O médico indica algumas precauções que poderão ser tomadas por esses pacientes. “No caso da necessidade de usar medicamentos corticoides, a recomendação é basicamente usar o menor tempo possível. E em situações de descontrole da pressão, será necessário aumentar a medicação anti-hipertensiva”, afirma. Por isso, o hipertenso que sofre de chicungunya deve consultar também o seu cardiologista para orientá-lo sobre as doses dos seus remédios.
Sobre a suspensão das medicações, no entanto, surge outra reclamação. Muitos pacientes têm relatado que as dores reaparecem com ainda mais força após a retirada dos remédios. A reumatologista do Real Instituto de Oncologia do Hospital Português e do Imip, Renata Menezes, faz uma recomendação para evitar esse efeito colateral. “Após a resolução do quadro articular e a suspensão dos medicamentos, pode haver recidiva dos sintomas musculoesqueléticos em alguns pacientes. Recomenda-se que a dose do corticoide seja reduzida lenta e gradualmente para evitar o retorno das dores e inchaços”.
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A prática da hidroginástica no tratamento e a possibilidade de seguir fazendo musculação, mesmo com a doença, são alguns dos questionamentos. Segundo a professora do departamento de fisioterapia da UFPE, Maria das Graças Araújo, ambas as atividades podem ser feitas, mas com algumas precauções. “É importante que se faça atividade e a água facilita os movimentos, porém o uso de resistência (pesos) deve ser evitado ainda nessa fase, porque as condições físicas e reações variam de indivíduo para indivíduo ”, orienta a especialista.
Sobre a musculação, Maria das Graças sugere que a atividade deva ser direcionada por algum especialista, porque a Chikungunya acomete as pequenas e grandes articulações desenvolvendo quadro inflamatório, por isso deve-se ter muita atenção na frequência dos exercícios e sua intensidade.
DORMÊNCIAS. Uma reclamação que tem sido recorrente entre os pacientes com chikungunya é o surgimento de dormências nas articulações. Para esses pacientes Maria das Graças faz algumas sugestões: “Pode-se fazer atividades de massageamento com materiais diversos nas articulações, do tipo: flanela, algodão, esponjas, ou seja com texturas diversas”.
Segundo a reumatologista Renata Menezes, do Real Hospital Português, as dormências têm sido queixas frequentes dos pacientes após infecção por chikungunya. Ela considera que esse sintoma pode ocorrer devido ao comprometimentos do sistema nervoso.
(Por Rafael Dantas – repórter da Revista Algomais)