Paulo Dalla Nora Macêdo, conselheiro do Projeto 72horas e vice-presidente do Instituto Política Viva, fala sobre a compreensão errada do País no combate à corrupção e aponta alguns caminhos que devem ser traçados para minimizar esse problema que corrói a política nacional. Nesta entrevista concedida ao repórter Rafael Dantas, ele trata dos riscos de enfrentar os desvios de recursos públicos com “soluções mágicas”.
Qual o impacto do surgimento de novos casos de corrupção no comportamento dos eleitores?
Na avaliação do governo certamente esses casos causam um grande estrago. Em relação ao futuro, penso que os eleitores podem avaliar melhor o discurso que outsiders seriam mais confiáveis em relação à corrupção. Ou espero isso.
Nos diferentes momentos políticos que o País viveu, há episódios de corrupção em praticamente todos. Quais os caminhos para o sistema político superar essa “doença crônica” nas gestões públicas?
Pode parecer provocação, ou ser mal interpretado como um pedido para se “aceitar” corrupção, que não é o caso, mas o primeiro passo é entender que a corrupção vai sempre fazer parte de qualquer sistema político, no Brasil e no mundo. O que devemos buscar são mecanismos para minimizar e puni-la. Se a busca for superar, de vez, já começa com um objetivo impossível e que dá margem a posturas que podem ser ainda mais nefastas. O fascismo começou com o discurso de “faxina ética”. Até penso que uma parte do tamanho da indignação, especialmente da classe alta e média até com um recibo de tapioca, é um pedaço de indulgência plenária pelo nosso comportamento coletivo: os pedidos de dois recibos nas consultas médicas, o pedido de declaração de comorbidade para o médico, etc. Por isso toda uma indústria de comunicadores que se aproveitam para vender essa “indulgência”, com seus programas de TV, de Youtube, destilando indignação, o “prende e arrebenta a corrupção dos outros.” Temos que superar isso e ir para as soluções de minimização sem a falsa expectativa de “acabar”. E dar o peso certo as coisas: uma água com limão espremido na conta paga pela cota parlamentar não poder ser notícia em um site importante de política, como foi recentemente. É ridículo isso.
Temos alguma referência internacional de um País que conseguiu combater com resultados a corrupção? Caso, sim, qual foi o caminho trilhado?
Todos os países que tem alta educação cívica, como os escandinavos, conseguem excelentes resultados na minimização da corrupção. É todo um pacote: mais participação da sociedade, mais engajamento, mais transparência leva a menos corrupção. Mas para isso tem quer ter o envolvimento. Não vai ter combate efetivo à corrupção enquanto uma parcela importante da população, mesmo os instruídos, não lembrarem em que votaram para deputado nas últimas eleições. Quantas pessoas conhecemos que leu a prestação de contas do seu representante, que escreveu um email indagando e cobrando explicações, que se envolveu, foi a um debate?
Na sua avaliação, o tema da corrupção voltará a ser central nas eleições 2022 ou deve ser deixado de lado pelos principais candidatos?
Com a nossa maturidade política, vai sempre está no topo da pauta. Uma pena, porque desigualdade, estratégias de crescimento e educação deveriam ter muito mais espaço e acabam ofuscados pelo debate da corrupção. Isso acaba trazendo vantagens para candidatos sem nenhum programa que se escondem atrás desse mantra de “zero tolerância pela corrupção.” Se você assistir a um debate presidencial nos EUA a corrupção entra em alguns momentos mas nunca é o tema principal. Aqui, fica-se com a impressão, mas eleições de governador e presidente, que estamos elegendo alguém para a vaga de delegado da polícia federal para combater crimes contra o patrimônio público.