Quando de sua chegada ao Recife, em 1637, um dos principais problemas enfrentados pelo Conde João Maurício de Nassau foi a falta de moradia. A carência de habitações fazia com que os aluguéis se tornassem seis vezes mais caros do que em Amsterdã; segundo aponta documento da época ao narrar que “as casas da Companhia são verdadeiras pocilgas […]; em um só quarto, ou melhor, na dita pocilga, caixeiros, assistentes e escriturários são alojados, em número de três, cinco, sete e oito como se fosse numa enfermaria…”. Para sanar tal problema, o Conde de Nassau deu celeridade à construção, na ilha de Antônio Vaz (hoje, Santo Antônio), do que veio a ser a Cidade Maurícia (Mauritzstaden). Iniciou a urbanização dessas área segundo um plano do arquiteto Pieter Post, que contemplava ruas, praças, mercados, canais, jardins, saneamento, pontes, devidamente demarcadas conforme se vislumbra em mapa da época publicado na obra de Gaspar van Baerle, ou Gaspar Barlaeus (Amsterdã, 1647). A nova urbe, segundo o traçado de Pieter Post (1608 – 1669), um dos principais representantes, ao lado de Jacob van Campen, do classicismo arquitetônico nos Países Baixos, trouxe um surto de progresso para a capital do Brasil Holandês.
Coube ao Conde de Nassau realizar no Recife uma verdadeira revolução no âmbito da paisagem urbana; com o surgimento de uma nova cidade. Na ocasião foram construídos o Palácio de Friburgo (Vrijburg), também conhecido como Palácio das Torres, e a Casa da Boa Vista (1643).
Foi João Maurício o responsável pela instalação do primeiro observatório astronômico das Américas, no qual Georg Marcgrav fez, dentre muitas outras, anotações acerca do eclipse solar de 13 de novembro de 1640 (Barlaeus). Ainda por essa época foi erguido o templo dos calvinistas franceses (1642), obedecendo ao traço do mesmo Pieter Post.
A nova cidade se estendia até as imediações do atual Forte das Cinco Pontas, ocupando todo bairro de São José. Nela, tratou-se também do calçamento de algumas ruas e do saneamento urbano, além da construção de três pontes; as pioneiras em grandes dimensões no Brasil. A primeira delas ligando o Recife à Cidade Maurícia (a nova cidade erguida na ilha de Antônio Vaz), inaugurada em 28 de fevereiro de 1644, uma segunda, ligando essa ilha ao continente, na altura da Casa da Boa Vista (imediações do Convento do Carmo) e uma terceira sobre o rio dos Afogados.
Sobre a construção dessas pontes, comenta o padre Antônio Vieira, no seu Sermão de São Gonçalo, a propósito da administração portuguesa no Brasil, assinalando ser “cousa digna de grande admiração e que mal se poderá crer no mundo, que havendo 190 anos que dominamos e povoamos esta terra e havendo nela tantos rios e passos de dificultosa passagem, nunca houvesse indústria para fazer uma ponte”.
Ao contrário do que afirmam alguns autores, o arquiteto Pieter Post, irmão mais velho do pintor Frans Post, também esteve no Recife, em 1639, observando de perto o projeto da nova cidade.
A informação vem a ser confirmada por José Antônio Gonsalves de Mello que, quando de suas pesquisas em arquivos dos Países Baixos (1957-1958), encontrou no Arquivo Geral do Reino (Algemeen Rijksarchief), em Haia, no Cartório da Companhia das Índias Ocidentais (Companhia Velha), maço n. 54, uma lista de compradores em um leilão de escravos realizado no Recife, datado de 5 de maio de 1639, na qual o “Senhor Pieter Janssen Post [adquire] dois escravos para seu serviço” (Heer Pieter Janssen Post tot sijn dienst).