A dificuldade em romper laços em meio à exposição pública e pressões sociais. Jullyanna Cardoso de explica síndrome que afeta Ana Hickmann e Naiara Azevedo
Dentro do contexto dos relacionamentos abusivos, emerge a notável presença da Síndrome da Gaiola de Ouro, uma intricada realidade analisada pela psicóloga Jullyanna Cardoso. Esta condição denota a desafiadora situação vivenciada por mulheres que são vítimas de violência doméstica, nas quais seus parceiros exercem controle sobre diversos aspectos de suas vidas. A psicóloga adverte que a Síndrome da Gaiola de Ouro manifesta-se de maneira acentuada quando o relacionamento abusivo está entrelaçado a questões de status, profissão e famílias reconhecidas. “Em muitos casos, as mulheres se tornam prisioneiras da relação, especialmente se possuem um considerável patrimônio e desfrutam de um alto padrão de vida”.
O ponto inicial para que as vítimas possam compreender e denunciar a violência psicológica reside na identificação desse tipo de abuso. Conforme destacado por Jullyana Cardoso, essa identificação pode ocorrer por meio do reconhecimento do desrespeito, evidenciado em verbalizações inadequadas, discursos que envolvem humilhações, ofensas, intimidações e até mesmo ameaças de morte. A psicóloga observa que essa forma de manipulação está intrinsecamente ligada a diversas dinâmicas de poder.
Recentemente, figuras públicas como Ana Hickmann e Naiara Azevedo exemplificaram esse processo ao denunciarem agressões físicas e psicológicas por parte de seus parceiros. A apresentadora acusa seu marido, Alexandre Correa, de violência doméstica, enquanto a cantora relata ter sido ameaçada e prejudicada devido à metade dos direitos de sua carreira pertencerem ao ex-companheiro, Rafael Cabral. Esses casos destacam a importância de expor e confrontar situações de violência psicológica, contribuindo para a conscientização e combate a esse tipo de abuso.
“A Síndrome da Gaiola de Ouro é um fenômeno que transcende a violência física. Ela se manifesta de forma intensa em relações onde fatores como status, profissão e reputação familiar são elementos de controle. A exposição pública e o julgamento social tornam-se grilhões psicológicos, dificultando a busca por ajuda e a tomada de decisões libertadoras”, disse a especialista em saúde mental, Jullyanna Cardoso.
A complexidade do cenário se intensifica ainda mais quando a exposição pública e o receio do julgamento por parte de familiares e amigos entram em cena. Nesse contexto, a capacidade de reação dessas mulheres é severamente restringida, o que as leva, em muitos casos, a permanecer em relacionamentos aparentemente normais, mas que, na realidade, são fachadas para ocultar a violência e o abuso que enfrentam. Esse receio do estigma social e a pressão para manter uma imagem de normalidade podem ser fatores determinantes que contribuem para a perpetuação dessas relações prejudiciais. “O motivo é muitas vezes o desejo de atender às expectativas sociais e manter a ilusão da ‘família perfeita’, frequentemente retratada em redes sociais e eventos públicos”.
A psicóloga destaca que a violência psicológica, denominada como a “Gaiola de Ouro”, ultrapassa as fronteiras das classes sociais. “A expressão “Ruim com ele, pior sem ele?” ganha proeminência ao explorarmos relações conjugais abusivas. Nesse contexto, observa-se uma dependência relacional em que o indivíduo abusado reconhece os prejuízos da relação, contudo, teme a perda do parceiro e o consequente abandono. A carga afetiva nestes casos é significativa, levando o parceiro a acreditar que, sem o outro, sua vida seria insuficiente”.