O crescimento das corridas de rua é outro fenômeno que tem encorajado os recifenses a se exercitarem pelas ruas da cidade. O personal trainer Diogo Andrade dirige dois grupos que treinam diariamente na praia Boa Viagem, parte deles são frequentadores de competições e planejam correr a Meia Maratona do Rio de Janeiro neste ano. “O contato com a natureza é o que as pessoas destacam como benefício de se exercitar ao ar livre. Há vantagens de trabalhar na areia também. É recomendado para quem está saindo de uma lesão, além ajudar a trabalhar o equilíbrio, a força, resistência e mobilidade”, recomenda Diogo.
Gerente do grupo Accel, que foi um dos pioneiros em treinamentos funcionais no Recife, Lucemberg Vasconcelos explica porque essas práticas têm apresentado um desempenho satisfatório aos alunos e ganhado cada vez mais adeptos. “O movimento do corpo humano em espaços públicos é um remédio que tem reabilitado muita gente. Esses treinos ao ar livre têm bons resultados porque exigem muita concentração, equilíbrio e potência. São mais estimulantes, prazerosos e proporcionam às pessoas estabelecer uma conexão entre o corpo e a mente”. Com três unidades no Recife, a Accel – que tem um trabalho integrado de atividades indoor com aulões ao ar livre e participação de corridas – vem registrando um crescimento em torno de 20% ao ano.
Essa integração, que envolve aspectos físicos, mentais e espirituais, típica de algumas artes marciais orientais, levou o professor de tai chi chuan André Silva a dividir as suas aulas entre o espaço da sua associação e o parque Dona Lindu, em Boa Viagem. “Para o tai chi chuan o homem precisa manter a harmonia com o meio em que vive. A natureza faz parte do plano horizontal da convivência, quando o homem não a respeita, adoece”, afirma, baseando-se na filosofia taoista. A técnica milenar traz benefícios como a pacificação dos pensamentos, melhora na condição cardiorrespiratória e fortalecimento nas articulações.
Embora a atividade ao ar livre atrapalhe a concentração necessária para os praticantes do tai chi chuan (devido a quantidade de pessoas que transitam próximo aos seus praticantes), o professor aponta alguns diferenciais significativos. “Uma das vantagens é que é benéfica para as pessoas que estão se recuperando de depressão ou que têm dificuldade e socializar-se. O ambiente externo vai desinibindo os praticantes e melhorando sua sociabilidade. Eles se relacionam com públicos diferentes que estão interagindo no espaço”, explica. Citando a filosofia de Confúcio, André acredita que as pessoas que passam pela praça e veem o grupo se exercitar sintam-se estimuladas a também cuidarem da saúde e a se integrarem com a natureza.
FORÇA GOVERNAMENTAL
Um espaço que virou xodó dos recifenses foram as Academias da Cidade, que completam 15 anos de funcionamento, contando com 42 unidades. Elas recebem por mês cerca de 40 mil pessoas. “Podemos dizer que está bombando. Temos um público que veio de academia com essa perspectiva de modelar o corpo, mas muita gente veio por causa da saúde”, conta o coordenador geral da academia, que é ligada à Secretaria de Saúde do Recife, Ricardo Menezes. Essas unidades oferecem aulas em horários alternativos pela manhã e à tarde, com 156 profissionais fazendo o acompanhamento e orientação aos alunos. Com menos tempo de operação, as Academias Recife contam com equipamentos de musculação em aço e também vão ganhando adeptos.
Além de manter os investimentos e ampliar as unidades, outra ação da Prefeitura do Recife que impulsionou a população a aproveitar as ruas em atividades físicas foi o incentivo à prática do ciclismo, com as ciclofaixas móveis aos domingos. O uso do BikePE – sistema de aluguel de bicicletas públicas, nascido de um projeto do Governo do Estado – aumentou 17%, em 2016, em comparação com 2015. A informação é do Banco Itaú, que patrocina a iniciativa. Só nos dias úteis o crescimento foi de 30%.
Desse empurrãozinho do poder público, o universitário Daniel Praxedes, 21, decidiu voltar a cuidar do corpo e da saúde. Com uns quilinhos a mais, ele voltou à academia, mas não perde a oportunidade de pedalar pelas ruas da cidade, aproveitando principalmente as ciclofaixas dos finais de semana. “Eu precisava sair do sedentarismo. Faço academia para perder o peso e a opção por também andar de bike foi porque gosto mesmo. É um exercício que me satisfaz, me sinto livre”, diz.
Outra coisa que o motiva é pedalar com amigos dos tempos de escola ou da igreja. Em apenas poucos meses na ativa, ele já se sente mais disposto e mais feliz por fazer atividade com pessoas com quem tem afinidade.
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