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A caminho da geração de energia limpa

Revista algomais

A maior parte da produção de energia no Nordeste provém dos ventos. O recente crescimento da fonte eólica (responsável por 37,2% da geração em 2016, segundo estudo do Banco do Nordeste), associada à redução do desempenho das hidroelétricas (que respondeu por 31,5%), modificou a matriz energética que move a região. Um cenário que tende a se diversificar ainda mais com os recentes anúncios de investimentos em parques solares e os incentivos públicos para a microgeração distribuída, quando o consumidor residencial, comercial ou industrial passa a ser também produtor. Somam ainda nessa composição de alternativas a geração a partir do lixo – com o aproveitamento de resíduos sólidos urbanos – e da biomassa, conectada ao tradicional setor sucroenergético pernambucano.

ALGOMAIS N136-19

De acordo com o vice-presidente da Associação Mundial de Energia Eólica, Everaldo Feitosa, nos últimos quatro anos o Brasil passou a ser um dos países do mundo que mais investiu na matriz dos ventos e o Nordeste joga como protagonista desse novo momento. “Em alguns meses do ano, a produção eólica já corresponde a 50% de todo o consumo da região. O Brasil ainda não sabe disso. Passar desses 50% para 100% é um processo que pode acontecer rapidamente. Em 5 ou 10 anos, teremos capacidade de gerar toda energia a partir do vento e do sol”, prospecta o empresário, que é presidente da Eólica Tecnologia.

De acordo com números da Associação Brasileira de Energia Eólica, Pernambuco é o sexto Estado do País com maior capacidade instalada de geração. Segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), há 31 parques eólicos em operação no Estado, gerando mais de 670 mil kW. Outros quatro estão em construção e há três novos previstos, que deverão adicionar 190 mil kW à geração total.

Se alguém tem dúvida de que o papel da matriz eólica veio para ser protagonista, as cifras de alguns dos novos investimentos convencem qualquer incrédulo. No mês passado, a empresa Casa dos Ventos inaugurou na Chapada do Araripe, entre Pernambuco e o Piauí, um dos maiores complexos eólicos da América Latina. “Trata-se de um investimento de R$ 1,8 bilhão em 14 parques, capaz de abastecer 400 mil casas. A capacidade instalada deste complexo (359 MW), chamado Ventos do Araripe III, é maior do que a de todos os parques eólicos instalados em países como África do Sul, Grã-Bretanha e México”, afirma o secretário-executivo de Energias Renováveis de Pernambuco, Luiz Cardoso Ayres Filho. Esse empreendimento fecha o ciclo de investimentos da Casa dos Ventos programado para Pernambuco. De 2015 para cá, a empresa havia inaugurado outros dois complexos (Ventos de São Clemente e Eólico Caetés) no Agreste do Estado, onde investiram mais de R$ 2 bilhões.

No ranking dos cinco Estados mais produtivos estão quatro nordestinos. O Rio Grande do Norte lidera, seguido pela Bahia e Ceará. O Rio Grande do Sul é o único sulista bem classificado, em quarto lugar. “Tratando-se da produção de energia propriamente dita, os principais polos são Nordeste e Sul, sendo o Nordeste responsável por mais de 70% da energia gerada por essa fonte. Importante entender que a cadeia de energia, ou seja, a produção industrial de máquinas e equipamentos, abrange de Nordeste a Sul do País”, afirma a presidente da Abeólica, Élbia Gannoum.

Se Pernambuco não ocupa um lugar de liderança na geração das energias renováveis na região, o Estado possui um papel relevante na produção de equipamentos para essa cadeia produtiva. Além de ter diversas experiências pioneiras. De acordo com Ayres, o cluster industrial de Suape dispõe de quatro empreendimentos: LM Wind Power (pás para turbinas eólicas), Gestamp (torres eólicas), Iraeta/GRI (flanges) e S4 Solar (painéis solares), caçula no polo, tendo sido anunciada em setembro do ano passado. “Mesmo em um cenário de retração de investimentos, Pernambuco se mantém atrativo e competitivo. A produção de equipamentos faz parte de uma cadeia que consideramos fechada, no sentido de que temos praticamente todas as fases sendo realizadas no Estado: política energética, produção, geração e comercialização”, diz o secretário.

“A presença de fábricas perto dos polos produtores é importante, no sentido logístico, inclusive, além de propiciar desenvolvimento tecnológico para a região, uma consequência muito positiva do desenvolvimento da energia eólica”, ressalta Élbia. Uma novidade na experiência pernambucana de diversificação da matriz energética é a construção do parque híbrido de Tacaratu, que abriga equipamentos para produção solar e eólica. O parque foi o grande fruto do leilão pioneiro promovido pelo Governo do Estado há dois anos. O empreendimento Fontes Solar I e II, da Enel Green Power, possui uma potência instalada de 10 MW. O parque, destinado à geração fotovoltaica, está ligado a uma planta eólica de 80 MW. A planta é capaz de gerar 340 GWh por ano, volume suficiente para abastecer 250 mil residências, reduzindo também em grande número a quantidade de emissão de gás carbônico. Além dos empreendimentos solares de Tacaratu, estão previstos mais 6 parques, com 150 mil Kw.

Os especialistas ressaltam que há um potencial de desenvolvimento desses parques (eólicos, solares ou híbridos) justamente em regiões com características mais desérticas de Pernambuco, que sofreram nos últimos anos com poucas alternativas para se desenvolver. “A implantação dessas centrais em regiões sem perspectiva de desenvolvimento resulta na chegada de uma grande quantidade de empresas, além dos investimentos em infraestrutura no momento da construção. Posteriormente esses empreendimentos geram empregos de alto nível, para engenheiros e técnicos de manutenção dos sistemas. Isso garante uma mudança no perfil socioeconômico desses locais”, avalia Methodio Varejão, doutor em eficiência energética e coordenador do curso de engenharia elétrica da Devry/FBV.

POTENCIAL
No segmento solar não são apenas esses empreendimentos que estão despontando. Apesar de ter uma participação ainda muito reduzida na região, todos os especialistas apontam que a energia produzida a partir da luz do sol é uma das que têm maior potencial e viabilidade para o Nordeste. “A geração solar começa a despontar. Não só com projetos de médio e grande porte, mas também num formato que vem revolucionando, que é a microgeração distribuída (energia gerada pelo consumidor). Isso não é mais um futuro, é realidade no Brasil”, afirma Varejão.

Pernambuco tem entre 300 e 400 residências ou empresas com painéis fotovoltaicos. O líder nesse segmento é Minas Gerais, com cerca de 1,3 mil instalações. Varejão acredita que falta mais conhecimento da população para começar a enxergar as vantagens desse investimento. “Falta maior divulgação disso no Nordeste, onde praticamente todos os Estados têm um nível de insolação muito alta e já começam a dispor de linhas de financiamento para implantação desses sistemas”.

O empresarial Rio Ave Corporate Center, localizado na Ilha do Leite, no Recife, enxergou a oportunidade de reduzir seus custos com o pagamento de energia elétrica e investiu em placas fotovoltaicas nas suas duas torres. No Edifício Isaac Newton, já foi possível reduzir em 8,9% a despesa com energia elétrica graças à instalação, em julho de 2015, de 84 módulos fotovoltaicos (placas) no teto do empresarial. Só nessa planta, a geração permitiria fornecer energia a mais de 500 casas populares em um mês.

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Valdeir Bezerra é administrador do complexo que investiu em placas solares fotovoltaicas. Foto: Tom Cabral

Há poucos meses o empresarial Albert Einstein também recebeu uma planta de geração fotovoltaica com 120 placas solares, ocupando uma área de 240 m² na cobertura. O novo sistema deve diminuir em torno de 18% o valor da fatura mensal de energia elétrica desse condomínio. “Nossa intenção é abastecer e iluminar algumas áreas comuns do empreendimento como hall dos andares, recepção e pavimentos do edifício garagem. Devemos ter o retorno de todo o investimento que fizemos em quatro anos e meio ou cinco anos”, afirma o administrador do complexo, Valdeir Bezerra.

Há uma procura grande dos consumidores residenciais e corporativos pelas instalações de sistemas de geração solar, mas a maior dificuldade são as poucas opções de linhas de financiamento. “O interesse é grande por fatores como ficar livre da conta de energia, estar prevenido de apagão, além das questões ambientais”, afirma o diretor da Engesol, Luiz Cláudio Correia. A empresa pernambucana está no mercado há três anos com atuação regional.

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*Por Rafael Dantas, repórter da Revista Algomais (rafael@revistaalgomais.com.br)

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