"A CasaCor Tem O Intuito De Se Agregar às Ações De Revitalização Do Centro Histórico Do Recife" - Revista Algomais - A Revista De Pernambuco
"A CasaCor tem o intuito de se agregar às ações de revitalização do Centro Histórico do Recife"

Revista Algomais

Até o próximo dia 30 de novembro, os visitantes da CasaCor Pernambuco vão conhecer não apenas a beleza dos ambientes planejados por arquitetos, designers e paisagistas, mas também mais um imponente prédio do Bairro do Recife que foi revitalizado pelo evento.  Depois do Chanteclair e do Palazzo Itália, a mostra acontece este ano no Complexo Niágara, edificação em estilo eclético, formada pelos edifícios Niágara e Aliança. Juntos somam 3 mil metros quadrados, com pé direito de sete metros, grandes janelas, uma suntuosa escadaria que instigaram os profissionais a soltarem a criatividade na ambientação dos aposentos.

A sintonia da CasaCor com as premissas para revitalização do Centro recifense se estendeu também à ampliação de espaços abertos ao público. Na edição passada eram 7 e agora são 12.  A iniciativa segue preceitos arquitetônicos da chamada fachada ativa em que a parte térrea dos prédios é ocupada por lojas, serviços ou comércios, promovendo uma maior interação entre o edifício e a rua. Assim, sem necessidade de ingresso, é possível frequentar bar, café, restaurante, lojas e livraria no andar térreo do Complexo Niágara. 

Outro destaque é a revitalização da Rua Itaiópolis, na lateral da mostra, que estava interditada e que, numa parceria com o Recentro, foi transformada em área de convivência para a população, permanecendo para o usufruto dos frequentadores do Bairro do Recife após o término do evento.

Nesta entrevista a Cláudia Santos, Gabriela Coutinho, uma das diretoras da CasaCor Pernambuco, fala sobre as novidades desta edição que conta com 36 ambientes cujos criadores foram estimulados a planejar espaços sustentáveis, coletivos e integrados à natureza. Gabriela também comenta a relação do evento com a recuperação do Centro do Recife a partir de novos usos das construções na região. “Eu queria muito que houvesse, de fato, uma ocupação longeva e massiva”, almeja.

COMPLEXO NIAGARA CARLOS FORTES FOTO WALTER DIAS
COMPLEXO NIÁGARA CARLOS FORTES Foto: Walter Dias

O tema da CasaCor deste ano é Semear Sonhos. O evento convida arquitetos e visitantes a repensar o futuro das cidades e o modo de morar nas áreas urbanas, estimulando reflexões sobre espaços mais sustentáveis, coletivos e integrados à natureza. Como essa proposta se concretiza nesta edição?

Este é um tema nacional e é um grande desafio. Primeiro, promovemos uma palestra para todos os profissionais do nosso casting, ministrada por Pedro Ariel Santana, diretor de relacionamento e conteúdo, e um dos responsáveis por definir esse tema. O intuito da palestra foi esmiuçar o assunto para que os arquitetos se inspirem. Isso é muito importante para que tenhamos espaços o mais condizente possível com essa realidade, com esse conceito. Eles utilizam muitas técnicas de sustentabilidade na sua materialidade, como uso de paisagismo, entrando também na questão do imaginário, do sonho.  É preciso aguçar para que os profissionais consigam materializar isso. 

A CasaCor acontece num momento de grande movimentação, tanto do poder público, quanto da sociedade civil para revitalizar o Centro do Recife, especialmente os imóveis com incentivos para retrofits, por exemplo. Como você analisa o evento nesse contexto, considerando que a mostra revitalizou o Edifício Chanteclair e o Complexo Niágara?

Estamos há quatro anos no Bairro do Recife e passamos dois anos fazendo benfeitorias gradativas no Chanteclair, que é um prédio gigante, com o qual tivemos uma grande demanda, estrutural, de fachada, incluindo iluminação, entre outras coisas que ficam para o imóvel. Vale destacar que nossa parceria não é com o poder público. Todos os prédios que revitalizamos são privados. Fechamos parcerias para potencializar os imóveis, aumentando as chances para que tenham uso futuro.

Palazzo Italia
PALAZZO ITÁLIA

Ano passado, utilizamos o Palazzo Itália na mesma vibe que temos feito nos últimos anos, que é revitalizar a fachada, colocar iluminação definitiva de qualidade, feita por um luminotécnico, que é Carlos Fortes. Ele faz muitas obras, como o Museu da Língua Portuguesa e todos os Hotéis Fasano. Seu trabalho é específico em valorização do patrimônio. Ano passado, além do Palazzo Itália, revitalizamos o edifício ao lado. Então, conseguimos renovar quatro prédios. 

O proprietário do Complexo Niágara já havia iniciado a restauração. Passamos a contribuir com o que já vinha sendo feito e entramos para fazer nossas benfeitorias, trabalhando mais independente. Temos um histórico de imóveis de preservação, de patrimônio. Acreditamos muito nisso. Nossa primeira casa foi na Av. Rui Barbosa, onde passamos dois anos. Na pandemia, atuamos de maneira híbrida, depois pensamos: “Por que não no Bairro do Recife?” Havia certa insegurança, porque sabemos das dificuldades e desafios do Centro da cidade, onde muitos prédios, como esse, já foram prostíbulos, escritórios ou ficaram fechados por muitos anos. 

Chanteclair
CHANTECLAIR

O Chanteclair, por exemplo, era um prédio meio invisível, com tapumes. Nosso primeiro ano no Bairro do Recife foi um grande teste, mas nos surpreendemos positivamente. Isso vai em alinhamento com nosso propósito. Seria mais fácil ir para um local pronto que tivesse toda infraestrutura, como um shopping, por exemplo. Contudo, a CasaCor tem o intuito de se agregar às ações de revitalização do Centro Histórico. São prédios lindíssimos que não encontramos em lugar nenhum.  Nossa mostra agrega demais. 

Os arquitetos ficam muito instigados com edifícios dessa magnitude, com um pé direito surreal de sete metros, janelas incríveis, esquadrias maravilhosas. Depois do primeiro ano de Chanteclair, decidimos que não queríamos mais sair do Centro da cidade. Nosso desafio é sempre encontrar o próximo, revitalizar cada vez mais, ocupando de alguma forma, mesmo que temporariamente. Com o evento, não conseguimos fazer com que haja atividade o ano todo, mas fazemos nossa parte para deixar o prédio bonito, pronto para que o proprietário possa fazer suas negociações e alugar. 

O que acontece com esses edifícios depois que vocês revitalizam? O da Av. Rui Barbosa, por exemplo, virou um restaurante.

No imóvel da Avenida 17 de Agosto (na foto abaixo, casarão que pertenceu à família do empresário João Santos, no bairro de Casa Forte), há trâmite familiar que talvez demore ainda um pouco a sair, porque envolve espólio, mas existe uma ideia de fazer uma edificação, preservando o patrimônio que é tombado pelo município. Estamos na expectativa para que isso se concretize, porque, quando saímos de lá, em 2018, deixamos um brinco. 

Casa 17 de agosto E

No caso do Edifício Chanteclair, fizemos todas as melhorias de estrutura, fachada e iluminação, mas ainda está desativado. Sabemos que há alguns projetos em andamento, tudo que é feito de forma definitiva depende dos órgãos públicos, mas a parte “mais dolorosa” já foi executada. Também esperamos que o Chanteclair tenha um rumo. Esse é um dos nossos grandes desejos. Soubemos que será ocupado em breve. 

O daqui (Complexo Niágara) também vai ter uso em breve. O proprietário já está bem engajado, e estamos fazendo o link com as nossas operações, até porque a parte do térreo é toda aberta ao público. A Av. Rio Branco é indiscutivelmente o local mais cobiçado pelo grande volume de restaurantes, cafés, bares e lojas, e isso facilita uma ocupação futura. Eu chutaria, conscientemente, que ele terá uso híbrido, uma coisa mista com térreo ativo. 

Este é um comportamento de mercado que se vê muito hoje: o térreo ativo, alugado para várias operações com o intuito de conseguir operacionalizar o prédio financeiramente e dar mais movimento. Nesse sentido, foi realizado aqui, o Atende Recentro, uma ação para incentivar a regularização dos imóveis do Centro do Recife por parte dos proprietários. Foi superbacana. O evento reúne todas as entidades necessárias para aprovação integral de um imóvel, como Iphan, bombeiros, polícia, entre outras. É uma forma de incentivo para agregar essas pessoas e todos que têm imóvel aqui no bairro. Desde o ano passado, o evento foi na CasaCor. É um incentivo para o crescimento do Bairro do Recife e está em sintonia conosco. 

Já que estamos falando em semear sonhos, qual é o sonho que você semeia para o Bairro do Recife?

Veja, eu queria muito que houvesse, de fato, uma ocupação longeva e massiva. Isso porque as edificações que a gente tem aqui são absolutamente surreais. Muitas vezes, nós não valorizamos o que temos.  Em diversas ocasiões, recebemos pessoas de outros lugares que dizem: “Meu Deus do céu, isso aqui parece que eu estou na Europa!”. Porque, com a iluminação da fachada e ao dar vida ao prédio, é possível trazer uma valorização enorme para o imóvel. 

Dessa forma, nós conseguimos fazer com que aquele imóvel materialize muito além do que simplesmente proporcionar uma ocupação pontual. Com isso, mostramos que é possível atingir questões como a insegurança, por exemplo. Mostramos que existem algumas técnicas. Isso é algo que falamos muito na arquitetura, a questão da segurança social: quando promovemos a ocupação, não é necessário colocar tapumes e barreiras nos imóveis para que as pessoas não invadam, não existe isso. Basta você ativar e colocar pessoas dentro, utilizando esses imóveis que, naturalmente, haverá mais segurança nos locais. Estratégias como essas são melhores do que contratar qualquer equipe de segurança.  

Especialmente quando estamos falando de imóveis que têm essa relação com a rua.

Exatamente! A CasaCor, na verdade, começou com essa questão da parte pública no Chanteclair. Mas a gente tinha três espaços abertos ao público. No ano seguinte, a gente aumentou para cinco espaços, depois a gente aumentou para sete espaços abertos ao público. Hoje em dia, a gente tem 12. Então, além de café, restaurante, bar, eventos, existem lojas: loja de velas, uma loja de paisagismo, a loja de Brennand, a gente tem loja de artesanato, a gente tem a bilheteria da Peugeot, que tem um carro superbacana. O pessoal, mesmo não pagando, pode usufruir do térreo.

É muito legal. A CasaCor transformou a Rua Itaiópolis, que também estava fechada há muitos anos com grades, numa interligação entre a Rua da Guia até a Rua do Apolo. Então, é muito bacana. A rua está revitalizada, ela foi reestruturada. A Prefeitura do Recife, especificamente, revitalizou a parte de infraestrutura, e a CasaCor colocou a parte de paisagismo e de iluminação. Nós estamos entrando com o mobiliário urbano, mas ele só vai chegar para ficar para sempre quando a CasaCor acabar. Dessa forma, a rua não vai ficar morta, vai ficar uma rua bonita.

O que o público vai encontrar na CasaCor este ano? 

Eu acho que a CasaCor, este ano, está muito diversa, impressionante como você consegue identificar a identidade dos profissionais. Percebemos que eles estão se soltando mais. Isso porque, no começo, sentíamos que eles ficavam numa linha muito próxima uma da outra, em relação aos tons utilizados, por exemplo. Atualmente, a gente vem sentindo que eles estão ousando muito mais, que eles dão muito mais personalidade, que eles usam e abusam do paisagismo, que apesar de ser um nicho antigo, é valorizado por muita gente, principalmente por quem gosta de plantas, como eu. 

As plantas promovem uma proximidade gigante com o visitante, e é uma coisa totalmente possível. Isso porque, as possibilidades com as plantas são muitas. Há diversos tipos com diversos preços. Dessa forma, você pode conseguir fazer um excelente paisagismo na sua casa com ideias e soluções baratas. Eu acho que a CasaCor está muito diversa, ela traz muita utilização de arte, muita arte popular, muita arte contemporânea, arte moderna.

Recentemente recebemos aqui o Maurício Arruda, foi muito massa, porque ele é uma grande inspiração, no Brasil todo, por valorizar a arte, por valorizar a arte popular, que ele sempre reverencia nesses espaços. Quando esteve aqui, fez uma postagem específica falando do uso de arte, como vem se intensificando e que todos os espaços têm esse uso muito bem definido e muito claro. Então, nós ficamos muito felizes porque é um trabalho de formiguinha. 

Mauricio Arruda
MAURÍCIO ARRUDA

No começo, eu acho que as pessoas tinham um pouco do estereótipo, que a arte popular era só para casas de praia, enquanto, no Sudeste, há mais valorização da arte popular, o pessoal paga qualquer preço, embora ainda valorizando a escala muito menor do que deveria. Então, acho que a arte popular começou a ter uma visualização e é muito justo que nós, que somos do Nordeste, o berço de muita arte popular de qualidade, passemos a valorizá-la mais. 

Temos muita arte popular aqui. Quando a gente coloca isso dentro de um projeto de qualidade, ou quando colocamos dentro dos projetos, em volume, acredito que acaba transformando-se em inspiração para todos. Esse é um trabalho que, na minha opinião, não vem sendo feito só pela CasaCor. É um trabalho conjunto. 

Nós promovemos muitas palestras, promovemos incentivos, trazemos muitos artistas. A Adepe, o Centro de Artesanato, estão presentes com a gente. Fazemos um trabalho hoje em que são disponibilizadas peças consignadas para estarem expostas. Essas peças, muitas vezes, são comercializadas na loja durante ou depois do evento, porque as pessoas dizem: “Ah, eu vi na CasaCor, eu quero”. 

De certa forma, estamos falando de um evento de decoração, de paisagismo, de arquitetura e que serve como inspiração. Não é à toa que as pessoas utilizam sempre os lançamentos de revestimentos do piso na CasaCor, faz parte, é o nosso negócio. É uma mostra de decoração que também deve proporcionar uma reciprocidade relevante para os nossos patrocinadores. Então, é isso que a gente vem buscando também. 

Como é a relação da CasaCor com o Rec’n’Play? O festival acaba atraindo o público para a mostra?

Sim. O público vem. Podemos observar que a Av. Rio Branco fica cheia de gente. Temos uma ótima relação com o Rec’n’Play. O Porto Digital é nosso parceiro, inclusive por meio de patrocínio oficial. A CasaCor disponibiliza seu espaço de eventos para a realização de palestras e bate-papos do Rec’n’Play. Eles fizeram mais de 10 ativações aqui dentro. A gente é superparceiro. 

Como o Rec’n’Play  está no Bairro do Recife, facilita essa parceria. No primeiro ano de Chanteclair, nós fizemos alguns poucos eventos, depois a gente começou a amadurecer e, no segundo ano, já fizemos mais. No ano passado, houve uma diferença de datas, então a CasaCor não pôde estar presente no Rec’n’Play. Lamentamos, porque é uma ótima parceria. Este ano, voltamos com ativações em todos os dias do festival. Isso nos deixa muito animados porque permite que todo o térreo do imóvel onde acontece a CasaCor fique ativo e aberto ao público. Isso faz com que todo mundo desfrute também da CasaCor. 

Em São Paulo, não havia essa prática. Nós começamos a testar aqui e hoje em dia eles também fazem lá. Pernambucanos, sendo sempre inovadores. A CasaCor também foi pioneira em investir um restaurante com acesso livre para o público, tanto para as pessoas que pagaram ingresso, quanto para as que vêm da rua. Então, a CasaCor respalda essas qualidades de pioneirismo e inovação dos pernambucanos. 

A edição deste ano conta com alguma programação cultural?  

Sim, é bacana ressaltar que, todas as quintas-feiras, haverá shows gratuitos no espaço de eventos da Coral. Já tivemos a apresentação da Downtown Band e vamos ter  Sambarrasta, todas as quintas-feiras. É um programa bacana, que acontece a partir das 18h30. É ideal para quem estiver saindo do trabalho e queira passar na CasaCor para jantar, tomar um café e curtir bastante.

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