A Inteligência Artificial mudou a Política?

*Por Rafael Toscano

Em um passado não tão distante, os candidatos tinham ferramentas limitadas para avaliar os sentimentos e opiniões do seu eleitorado, sobretudo em tempo real. Na maioria das vezes, tinham que confiar na experiência e instinto, o famoso faro/tato político.

Com o advento do big data e sua aplicação em campanhas eleitorais, tudo mudou. Um caso emblemático foi a eleição presidencial de 2008 nos Estados Unidos, que primeiro contou com a análise em larga escala de dados de mídia social, que foi usada para melhorar os esforços de arrecadação de fundos e coordenar ações de voluntários. No presente, o próximo nível dessa transformação digital envolve a integração de sistemas de inteligência artificial (IA) em campanhas eleitorais, juntamente com quase todos os outros aspectos da vida política.

Assim, as soluções de inteligência das máquinas estão sendo cuidadosamente implantadas em campanhas eleitorais para envolver os eleitores e ajudá-los a se informarem melhor sobre as principais questões políticas.

Entretanto, à medida em que nos aproximamos de um clima eleitoral em que tudo, desde as opiniões, segmentação do eleitor e o engajamento de conversas, pode ser automatizado, precisamos nos perguntar: estamos colocando nossa democracia em risco ao confiar demais nos sistemas de IA? Até onde devemos ir na integração das máquinas ao lado humano da democracia?

Essas questões éticas são especialmente pertinentes, dada a recente exposição do lado sombrio das tecnologias de campanha no referendo do Brexit e nas eleições presidenciais de 2016 nos EUA. Em particular, há evidências que sugerem que as tecnologias alimentadas por IA têm sido sistematicamente e intencionalmente mal utilizadas para manipular os cidadãos. Esta é uma tendência inquietante e assustadora.

A guerra informacional obviamente não é um fenômeno novo. Mas, a natureza e a escala da propaganda computacional são simplesmente sem precedentes. De fato, a aplicação nefasta da IA ​​no campo eleitoral levanta questões muito maiores sobre a instabilidade do sistema político em que vivemos.

Uma democracia representativa depende de eleições livres e justas nas quais os cidadãos possam votar com consciência, livres de intimidação ou manipulação.

De outro lado, há de se convir que a tecnologia em si não é a raiz do mal, não sendo inerentemente prejudicial em si mesma. As mesmas ferramentas algorítmicas usadas para enganar, desinformar e confundir podem ser aproveitadas para apoiar a democracia e aumentar o engajamento cívico. Afinal, a IA centrada no ser humano na política precisa trabalhar para as pessoas com soluções que sirvam ao bem coletivo.

Um cenário alternativo para restringir a propaganda computacional é por meio de maior regulamentação. Regras mais rígidas sobre proteção de dados e responsabilidade algorítmica também podem reduzir a extensão em que o aprendizado de máquina pode ser abusado/subvertido em contextos políticos.

Entretanto, a regulação sempre se move mais devagar que a tecnologia. Quando os reguladores finalmente começarem a discutir as bases legais para a IA na política, vamos esperar (esperançosamente) que ainda restem alguns líderes democraticamente eleitos.

Rafael Toscano é gestor financeiro, Engenheiro da Computação e Especialista em Direito Tributário, Gestão de Negócios. Gestor de Projetos Certificado, é Mestre em Engenharia da Computação e Doutorando em Engenharia com foco em Inteligência Artificial aplicada.

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