Tejucupapo é distrito do município pernambucano de Goiana, mas não se limita a isso. Tejucupapo é muito mais, protagonista que é de uma página inesquecível não apenas da história pernambucana, mas da história do Brasil. Aceite este convite para revisitarmos juntos a memória das heroínas de Tejucupapo.
Foi assim que aconteceu.
Quando se deu o episódio de Tejucupapo, os holandeses estavam enfraquecidos, tanto que já haviam perdido quase todo o domínio de terras pernambucanas, além do que estavam sitiados e sem comida. A solução, concluíram, seria ocupar Tejucupapo, uma área tradicional de plantio da nutritiva mandioca. A farinha de mandioca, que desde os tempos de Maurício de Nassau se tornava escassa, era naqueles dias algo pelo que valia a pena arriscar-se em combates.
Mas como tomar a cidade? Era uma tarefa relativamente fácil, avaliaram. Determinaram, então, justamente um domingo para a investida, já que naquele dia os homens do vilarejo iam ao Recife para vender os produtos da pesca, crustáceos e moluscos nas feiras da capital. Obviamente o distrito estaria desguarnecido, facilitando a invasão, equivocavam-se os batavos.
Tinham certa dose de razão, é verdade, mas não contavam que, sabedoras da aproximação dos invasores, quatro mulheres Maria Camarão, Maria Quitéria, Maria Clara e Joaquina conclamaram a população ao enfrentamento.
Quer dizer que aquelas mulheres eram politizadas e, como tal, defendiam a presença portuguesa no Brasil? Absolutamente não é a resposta. A Maria Camarão, Maria Quitéria, Maria Clara e Joaquina não importava se a remanescência era de um colonizador holandês ou português. O que elas queriam, isto sim, era um governo, permita-se a brincadeira, “pernambuquês”.
Os homens, por seu turno, não destoavam delas. Os poucos que ficaram em Tejucupapo foram receber os invasores a bala, enquanto as mulheres, em uma culinária de extrema esquisitice, despejavam sobre eles água fervente misturada com pimenta.
O elemento surpresa era de grande efetividade. Escondidas em trincheiras, as mulheres atiravam a mistura diretamente nos olhos dos inimigos inutilizando-os para o combate.
O resultado é que cessada a luta, mais de 300 cadáveres, a maioria de flamengos, jaziam espalhados pelo vilarejo, dando um testemunho convincente da bravura deste povo.
Naquele dia foi escrita uma memorável página da história brasileira, mas, lembra o historiador Leonardo Dantas, a rendição dos holandeses em Pernambuco só aconteceu em 26 de janeiro de 1654. Tejucupapo, diz mais, foi um episódio, não um marco definitivo na derrota dos holandeses no Nordeste brasileiro, a exemplo de Tabocas, Nazaré do Cabo e das duas batalhas dos Montes Guararapes (1648 e 1649).
Foi assim que as mulheres guerreiras de Tejucupapo escreveram com sangue uma página ardente do livro que nos libertou da dominação holandesa do Brasil.
*Por Marcelo Alcoforado