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Nos tempos do inquisidor (parte 2)

Naqueles anos finais do século 16 a próspera Vila de Olinda, sede da capitania de Pernambuco, era habitada por uma sociedade onde havia uma grande ausência de mulheres brancas, pois os portugueses em sua grande maioria deixavam suas mulheres legítimas em Portugal continental, aventurando-se viajar sozinhos em busca da fortuna em terras do Novo Mundo. Aos olhos do visitador da Mesa da Inquisição de Lisboa, Heitor Furtado de Mendoça (sic), chegado a Pernambuco em setembro de 1593, vão sendo desnudados os pecados daquela população, sobretudo os cometidos na intimidade dos lares, na luz soturna das alcovas, que davam lugar ao cometimento usual do pecado da carne, representado pelas relações extraconjugais (responsáveis por uma população de filhos bastardos), pela prática da poligamia, da sodomia (então chamada de pecado do nefando) e do lesbianismo; além da feitiçaria e culto judaico. Com tamanha falta de mulheres brancas, as jovens casavam logo na entrada da puberdade (com 12, 13 e 14 anos), e logo se enchiam de filhos. Das oito filhas da judaizante Branca Dias e do seu marido Diogo Fernandes, por exemplo, somente uma, por não possuir o uso da razão (Beatriz Fernandes), permaneceu solteira. O mesmo acontece com as muitas filhas de Jerônimo de Albuquerque, cunhado do donatário Duarte Coelho, naturais e legítimas, que vieram a fazer grandes casamentos. Da lista de sua descendência aparecem genros da mais alta estirpe: dois fidalgos e quatro portugueses bem-nascidos. A educação dos rapazes ficava a cargo do Colégio dos Jesuítas e dos Beneditinos, enquanto as moças eram educadas por professores particulares como Branca Dias e Bento Teixeira; este último autor da Prosopopea, que veio a ser o primeiro poeta a ter seu nome impresso em letra de forma no Brasil (1601). Ao contrário dos séculos que se seguiram, as mulheres não viviam tão segregadas, algumas delas chegavam a passar “toda à tarde na sua janela e sem trabalhar, à vista dos que passavam”; como Inês Fernandes, denunciada em 22 de novembro de 1593. Havia outras que praticavam, com regularidade, o exercício da leitura, como Maria Álvares e Inês Fernandes, “que costumavam estar aos sábados deitadas numa rede lendo por livros sem fazer nenhum serviço”. Naquele mundo povoado de magias, era comum a existência de feiticeiras, como Ana Jácome, denunciada em 29 de outubro de 1593, por ser dado a feitiçarias “capazes de matar as criancinhas recém-nascidas”. Lianor Martins, a Salteadeira, é denunciada, em 22 de novembro do mesmo ano, por trazer consigo “um buço de lobo e uma carta de Santo Erasmo, juntamente com uma semente que ela com outras suas amigas fora colher numa noite de São João, com um clérigo revestido, as quais coisas dizia fazer querem bem os homens às mulheres”. Da imensa lista, não poderiam faltar as chamadas mulheres do mundo (prostitutas), que praticavam a mais antiga das profissões, como Lianor Fernandes e Maria Almeida, a Flamenga, não faltando as que regularmente eram flagradas em adultério, como Isabel Bezerra e Clara Fernandes, que, na ausência dos maridos, “dormiam com quem lho pediam”. Nada escapava aos ouvidos do inquisidor que, como seu poder supremo, ia devassando os mais recônditos comportamentos mediante uma cadeia interminável de confissões e denunciações dos residentes na localidade intimados a comparecer à Mesa Inquisitorial mediante ameaças dos mais terríveis castigos. Assim surgiam casos de prática de lesbianismo, como as de Clara Fernandes com a sua escrava (4.11.1593), assim como Maria Lucena, mulher de Antônio da Costa (6.11.1593) ou Maria Rodrigues, que é flagrada por um vizinho em colóquio com a adolescente Ana “fazendo uma com a outra como se fora homem com mulher” (10.11.1593). O sapateiro Lessa, “homem alto de corpo e de uns bigodes grandes” que morava numa casa térrea próxima ao Recolhimento da Conceição, era dado à prática da pedofilia, sendo por isso denunciado por um rapaz de 15 anos, de nome João Batista, originário da Ilha da Madeira, que em certa tarde fora à sua oficina buscar um par de chinelas, ocasião em que foi atacado pelo sapateiro que, à força, tirou-lhe o calção e tentou possuí-lo (27 de maio de 1594). Baltazar Lomba foi acusado por Francisco Barbosa de cometer pecado de sodomia com outros índios e com um negro de nome Acahuy. O denunciado é descrito como “um homem solteiro, já velho de alguns 50 anos que costuma coser, fiar e amassar como mulher” (12 de janeiro de 1595). Os casos do cometimento do coito anal (pecado nefando) torna-se frequente entre pessoas do sexo masculino, não faltando, porém, a prática da sodomia entre casais, como a que releva, em 9 de dezembro de 1594, Manuel Franco, 43 anos, com sua mulher Ana de Seixas: “Está casado com a dita mulher e que haverá ora 12 anos e meio, pouco mais ou menos, que, uma noite, estando ele farto de ceia e vinho, cometeu a dita sua mulher por detrás com o seu membro viril, entrou e penetrou dentro no vaso traseiro dela..” Eram comuns os casos de bigamia, alguns deles chegando a notoriedade, como o de Antônio do Valle que, sendo casado em Estremoz (Portugal), voltou a contrair núpcias no Brasil com a filha de Jerônimo Leitão, capitão e governador da capitania de São Vicente (São Paulo). Outro bastante citado nos autos da Inquisição em Pernambuco é a figura do rico mercador João Nunes Correia, “uma das maiores fortunas existentes em Pernambuco nos últimos anos do século 16”; segundo José Antônio Gonsalves de Mello, fora ele por duas dezenas de vezes denunciado à mesa do Santo Ofício. Cristão-novo, nascido em Castro Daire, dizia modestamente “não ter ofício e viver nesta terra por sua fazenda limpamente com quatro cavalos na estrebaria”. Dentre as muitas denúncias que o imputaram uma veio escandalizar os inquisidores, segundo o escrivão do Santo Ofício, correu o mundo “pela boca de todos, altos e baixos, honrados e plebeus, religiosos, nobres e melhores da terra e toda a mais gente e o povo”, Em resumo o capitalista João Nunes vem a ser denunciado por um pedreiro, que estando a retelhar

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Pensar magro em 2016

Quando me perguntam sobre as perspectivas econômicas para o País, digo que, se fosse parlamentar, proporia uma emenda para incluir na Constituição a obrigatoriedade de ocorrência de uma crise intensa, no máximo, a cada 10 anos. Faço essa brincadeira porque, na prática, desde o Plano Real, em 1994, há mais de 20 anos, portanto, que não vivemos uma crise tão extensa e profunda, nem tão exigente para as empresas e famílias, como a atual. E, por conta disso mesmo, ocorreu uma espécie de “surfe na bonança”. As pessoas, de um modo geral, se acostumaram a gerir os ambientes familiares e empresariais com o “vento a favor”, sem grandes restrições externas. E isso, de certa forma, nos desacostumou da austeridade. O resultado foi, com certeza, no âmbito empresarial, um certo acúmulo de “gordura” que agora, na época das “vacas magras”, precisará ser revisto e reorientado. Esse é, certamente, se é que se pode dizer assim, o lado bom da crise: a necessidade de fazer mais com menos. De ser mais consequente, econômico e produtivo, seja do ponto de vista familiar seja, sobretudo, do ponto de vista empresarial. Essa é a própria essência da produtividade: utilizar da melhor maneira possível os recursos disponíveis (financeiros, humanos, materiais etc.), sem desperdício, procurando tirar-lhes o proveito máximo. Se conseguirmos fazer isso, a crise exercitará o seu papel pedagógico e quando ela passar, todos estaremos mais enxutos, mais eficientes, menos perdulários, em suma, mais competitivos. Tanto individualmente quanto coletivamente já que o País também estará mais eficiente e com os pés mais assentados no chão. Com certeza, nada disso é fácil de executar e requer pelo menos determinação, confiança e foco. Determinação para fazer o que precisa ser feito, por mais exigente que seja; confiança na recuperação quando a crise passar, por mais distante que pareça em determinados momentos; e foco naquilo que é essencial à sobrevivência, por mais difícil que seja fazer as escolhas certas. É verdade que se trata de um esforço mais de natureza mental do que de qualquer outro tipo já que para fazer diferente é preciso pensar diferente. No caso, “pensar magro”. Em muitas situações, reaprender a “pensar magro”. É isso aí! Saúde, sucesso e boas decisões “magras” em 2016!

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João Alberto

Brilho Feminino Lana Bandeira é um exemplo de sucesso, brilha em todos os setores em que atua. Sua carreira empresarial começou na Josefinna, junto com Guilhermina Coutinho, uma loja que é referência no setor de calçados femininos. Depois, resolveu usar seus dotes na arte de fazer chocolates e doces. Criou uma empresa que hoje é marca registrada no setor, inclusive assinando as mesas das iguarias em grandes eventos sociais da cidade. Além disso, é uma figura bonita, simpática e que esbanja elegância em todas as reuniões a que comparece. A cultura do novo ministro Marcelo Navarro, que deixa a presidência do Tribunal Regional Federal da 5ª Região para assumir o cargo de ministro do Superior Tribunal de Justiça, é conhecido entre os colegas pelo seu grande conhecimento jurídico. E até é chamado por alguns de Enciclopédia. Sua nomeação foi um ato da maior justiça. Um blog de muito sucesso Rebeka Guerra é uma figura de muito destaque no nosso mundo feminino. Ele resolveu contar suas experiências e criou um blog em que aborda moda, beleza e estilo de vida. Transformou-se num enorme sucesso, com muitas seguidoras e que já lhe proporcionou vários convites para participar de eventos em outros estados e até no exterior. Vandalismo A Emlurb gasta algo em torno de R$ 2 milhões por ano para recuperar estruturas e repor equipamentos públicos vítimas de depredação por vândalos. Pernambucano O restaurante Mocotó, do chef pernambucano Rodrigo Oliveira, continua fazendo o maior sucesso em São Paulo. Agora ele abriu nova casa, a Esquina Mocotó, também sempre com enormes filas nas mesas. Bem que Jane Suassuna poderia repensar seu projeto de abrir um Mocotó no Recife. Sem chance Humberto Costa revela que não existe a menor possibilidade dele disputar a Prefeitura do Recife em 2016. Sua meta é a reeleição para o Senado em 2018. Hospital Depois dos 20 milhões liberados pelo governo federal, o Hospital da Mulher do Recife deve ser inaugurado em dezembro. Obras físicas já estão 80% concluídas, agora é a instalação dos equipamentos. Boa ideia Existe um a lei que obriga que todo edifício construído no Recife tenha uma obra de arte. Em alguns deles, a manutenção das peças é literalmente esquecida. Assim, é digna de elogios a iniciativa do condomínio do edifício Luiz Numeriano, na Praça de Casa Forte, que encomendou a Paulo Costa a recuperação da escultura que fica na entrada do prédio. Fim de linha Uma das boates mais famosas de Las Vegas, a Studio 54, que ficava logo na entrada do MGM, fechou as portas depois de 14 anos. A desativação da discoteca faz parte do plano de renovação do hotel, que é o maior da cidade, com 5,1 mil quartos, que ainda inclui reforma nos quartos, cassino e restaurantes. MPB em alta A MPB parece estar voltando à moda. Baladas alternativas regadas a hits nacionais vêm fazendo cada vez mais sucesso entre o público jovem. Remixagem de clássicos se unem ao samba e à bossa nova, além dos ritmos latinos que esquentam as pistas. O que se comenta… ● QUE não existe o menor entusiasmo entre os lojistas com relação às vendas de final de ano. ● QUE a Prefeitura do Recife deveria seguir a decisão da Prefeitura de São Paulo, que está normatizando o funcionamento dos food trucks, veículos que servem comida nas ruas. ● QUE a Avenida Beira-Mar em Piedade, foi rebatizada com o nome de Senador Sérgio Guerra. ● QUE a decisão de Antônio Campos de disputar a Prefeitura de Olinda foi muito bem estudada e que dificilmente ele desistirá. ● QUE apesar de ser muito cara, não existe pipoca melhor que a servida nos cinemas.  

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Baião de Tudo

MEMÓRIAS DE UM GARANHÃO Um viva para Carlos Mossy, ícone dos filmes de sacanagem na década de 70. Ele foi o principal comedor em mais de 30 comédias eróticas, entre elas Lua de Mel; Oh, que delícia de patrão e Como é boa a nossa empregada. Chegando agora aos 70 anos ele comemora as “lapadas” que deu diante das câmeras com Vera Fischer, Marta Moyano e Adele Fátima. Destaca que elas eram belas e tinham peitos lindos ainda sem plástica. Mas revela que aprimorou o jeito de fazer sexo, caprichando e tendo calma nas preliminares, com Odete Lara no filme Copacabana me engana. Fechou a conversa dizendo: “Minha energia sexual baixou um pouco, talvez por preguiça”. Hoje casado com Isis, 30 anos mais nova do que ele, alega que usa Viagra, para reforçar a sofisticação erétil. SEXO E PACIÊNCIA Duas sem tirar de dentro é conversa de adolescente mentiroso. Para a grande maioria dos homens, o período de latência, como é chamado o intervalo entre uma cacetada e outra, pode levar de minutos a dias. Só 20% dos homens conseguem ter outra ereção poucos minutos depois de ejacular. E tem tudo a ver com a idade: até 30 anos, de 15 a 30 minutos; 40 anos, até 4 horas; 50 anos, até 12 horas; 60 anos, 1 dia; 70 anos, mais de 1 dia. Se o seu velho comedor extrapola essas regras vá em frente. Como disse a doutora Marta: “Relaxe e goze!” O CANTADOR Severino Ferreira, de luto pela morte do sogro, cantando em Fortaleza, respondeu a provocação de um companheiro, que disse estar ele numa boa e mamando na herança do sogro. Severino retrucou: “A minha herança foi só / Um balaio de cebola / Um cabide enferrujado / Pra pendurar a ceroula / E um papagaio safado / Que me chama de baitola.” MEDINDO O PÊNIS Respondendo a uma pesquisa nacional, 85% das mulheres se declaram satisfeitas com o tamanho do pênis do parceiro. Mas só 55% dos homens estão satisfeitos com o tamanho do próprio pênis. Conclusão: num grande percentual quem gosta mesmo de pau grande é homem. O LUCRO DOS COMPOSITORES Na relação do Ecad, os cinco compositores que mais tocam nas rádios do Brasil: Roberto Carlos, Victor Chaves, Sorocaba, Paula Fernandes e Thiaguinho. As cinco músicas mais tocadas no Carnaval do Brasil em 2015: Mamãe eu quero, Cabeleira do Zezé, Me dá um dinheiro aí, Marcha do remador e Jardineira. MEDO Os cientistas estão apavorados com a possibilidade de uma corrida armamentista no campo artificial. Num encontro em Buenos Aires, reuniram 18 mil assinaturas pedindo o banimento das “armas ofensivas autônomas”, nome técnico dos populares robôs assassinos. CORRIDA DE GALA Num homem jovem o sêmen sai do pênis a uma velocidade de 5 metros por segundo e pode ser arremessado a uma distância de até 60 centímetros.

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Corporações

Na crise e fora dela toda sociedade tem conflitos de interesse. Faz parte do  jogo democrático mediá-los e conciliá-los com o interesse público. Quando a economia entra em recessão e o sistema político se fragiliza os conflitos se agravam. Em meio ao tumulto político e econômico que se estabeleceu no país, temos observado um conjunto expressivo de manifestações corporativas que colocam seus interesses acima dos da nação. Brasileiro parece só se unir e ser patriota quando torce pela seleção nacional em competições oficiais. Nos executivos, federal e estadual, eclodem greves com demandas inviáveis no curto prazo. Funcionários do INSS, professores, médicos, etc., exigem maiores salários que desconsideram a situação das finanças públicas. No judiciário federal, funcionários pressionam o Congresso para aprovar reajustes salariais nos próximos anos que comprometem a saúde fiscal do país, mas não estão nem se importando com as consequências. Por sua vez, a magistratura beneficia-se e luta para manter, entre outras benesses, o auxílio-moradia, uma aberração que agride todos os brasileiros.  Na Petrobrás, que está completamente debilitada pelos erros de gestão, pelo baixo preço do petróleo e pelos impactos da operação Lava Jato, os funcionários demandam aumentos salariais e fazem paralisações de alerta, sabendo que o valor do programa de investimentos da empresa é constantemente redefinido para baixo. No legislativo, eivado de gastos excessivos, o Congresso aprova irresponsavelmente as pauta-bomba que inviabilizam o equilíbrio fiscal. Falta solidariedade entre os poderes, desconhecendo-se que a fonte do dinheiro é única: o dinheiro de todos nós. Este aguçamento dos conflitos de interesse durante a crise, todavia, repousa em uma antiga e enraizada cultura corporativista que impregna o setor público brasileiro e que se agravou nos governos petistas que transformou o país em arquétipo de república sindicalista. Todavia, há uma característica estrutural na formação desses mercados de trabalho que constituem o caldo de cultura corporativista. O acesso às carreiras de estado em todos os níveis de governo bem como a entrada nas estatais é disciplinada por concursos públicos. Isso é muito bom para o país, deve ser louvado e precisa ser mantido. Todavia, aí está a gênesis do corporativismo. Os mercados de trabalho assim formados são segmentados entre si, ou seja, uma pessoa não pode se deslocar de um para outro- e cada um deles tem uma única porta de entrada. Assim eles se fecham, desenvolvendo uma cultura corporativista para atender aos seus interesses, custe a quem custar. Esses mercados de trabalho fechados com única porta de entrada são chamados de mercados primários, sendo uma das causas mais importantes junto com as diferenças educacionais para a ainda elevada desigualdade de renda que caracteriza o nosso país. Uma vez dentro, os funcionários exigem maiores benefícios diretos e indiretos que drenam os recursos dos tesouros, federal e estadual, e os caixas das estatais. E aumentam as diferenças com quem está de fora. Corporações, dessa forma, contribuem para as desigualdades de renda. Todos se espelham uns nos outros. Uma sala de espelhos que leva a um ciclo vicioso para equiparar salários e benefícios. Ademais, corporações em meio à crise desenvolvem um instinto animal de defesa. E na falta de lideranças que definam um rumo e que filtre interesses levando-os a uma solução negociada, ela tende a crescer. Líderes mediam conflitos e concilia-os com os interesses da sociedade. Estão faltando muitos.

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Um Jardim Botânico na cidade

Plantas conhecidas da população, como coqueiro e bananeira, vieram do exterior e foram transplantas em terras olindenses Em Olinda, desde os primeiros anos da colonização, os jardins das ordens religiosas serviram para aclimatação de vegetais exóticos, transplantados para o Brasil, do Oriente, da África e da própria Europa. Depois de devidamente adaptados, esses vegetais exóticos, cultivados inicialmente pelos padres jesuítas e frades franciscanos, vieram a dar um novo colorido à paisagem brasileira, a exemplo do coqueiro, da bananeira, da cana-de-açúcar e de tantas outras espécies, que passaram a confundir-se com a própria flora nativa. Mangueiras, coqueiros,/cajueiros em flor,/cajueiros com frutos/já bons de chupar …/Mangabas maduras,/mamões amarelos,/mamões amarelos/que amostram, molengos,/as mamas macias/pra gente mamar… É o colorido da flora pernambucana, nos versos do poeta Ascenso Ferreira, in Trem de Alagoas, onde se misturam vegetais nativos (mangabas e cajus) com o exotismo das espécies aqui aclimatadas (mangas e mamões). O coqueiro (Cocos nucifera), incluído pelo poeta Oscar Brandão no Hino de Pernambuco – “Salve ó terra dos altos coqueiros!” –, é originário do Sudeste Asiático ou das ilhas polinésias. A sua cultura já se encontrava bastante desenvolvida em Pernambuco, no século 16, segundo demonstram as cartas jesuíticas de José de Anchieta e Simão de Vasconcelos ao descreverem os “formosos coqueirais de Olinda” como possuidores de uma amenidade singular. Na primeira metade do século 17 essa monocotiledônea já se encontrava tão disseminada que o conde João Maurício de Nassau, quando da construção de sua Mauritiopolis, chegou a transplantar 700 coqueiros adultos para seu jardim. Segundo depoimentos do Frei Manuel Calado e de George Marcgrave, bem como do relato de Gaspar van Baerle (1584-1648), algumas dessas árvores possuíam caules que alcançavam 50 pés (15,24 metros), sendo transportadas de uma “distância de três ou quatro milhas, em carros de quatro rodas… Já eram septuagenárias e octogenárias e por isso diminuíram a fé do antigo provérbio: árvores velhas não são de mudar”. A partir da segunda metade do século 17, começaram a ser introduzidos em larga escala no Brasil alguns vegetais exóticos transplantados do Oriente. É conhecida a ordem Régia de 1677 determinando ao Vice-Rei da Índia a remessa para o Brasil de plantas, estacas e sementes, de canela, cravo, pimenta, noz-moscada e gengibre dados ao conhecimento ao governador de Pernambuco, Aires de Souza Castro, em 1678. Com esses vegetais vieram mangueiras e jaqueiras, em 1682, seguindo-se de outras plantas hoje integradas à nossa paisagem. Em 1797 e 1798, o Conde de Linhares, D. Rodrigo de Souza Coutinho, ministro português, se empenhava na introdução de novos vegetais, que contribuíssem para o desenvolvimento da agricultura, recomendando estabelecer, com a menor despesa possível, um Jardim Botânico em Olinda, onde se cultivassem plantas “assim indígenas como exóticas”, segundo informação de José Antônio Gonsalves de Mello. Entretanto, somente em 1811 viria esse Jardim Botânico a ser estabelecido em Olinda, no antigo Jardim dos Padres da Companhia de Jesus (século 16). Naquele ano foram para aqui transplantadas uma grande quantidade de vegetais recolhidos da Guiana Francesa, quando da ocupação pelo governo português em represália à invasão de Portugal pelas tropas de Napoleão. Do jardim daquela possessão, chamada de “La Gabrielle”, veio para Pernambuco e foram plantadas no Horto Del Rei, hoje conhecido como Sítio do Manguinho, variedades de plantas, algumas já aqui existentes, como a caneleira, a pimenteira, o girofleiro, e outras desconhecidas, como a fruta-pão, a caramboleira, o sapotizeiro, a pinheira, a groselheira da Índia, a nogueira de Bancour, a cássia amarga, a jalapa. O Jardim Botânico de Olinda teve importante papel na divulgação desses vegetais e de outros que nele foram sendo introduzidos desde 1811, quando de sua fundação. Em 1817, o viajante francês Louis François de Tollenare viu ali muitas mudas de cacau e cana-de-açúcar de Caiena (ou caiana, como veio a ser conhecida). Sem referência específica de quando foram plantados no Jardim, consta, contudo em 1839 e 1840 que já ali eram distribuídas mudas de palmeira-real, cipreste, Chá-da-índia, fruta-pão, de massa e de caroço (este último difícil hoje de se encontrar), e outras. Dessa distribuição beneficiaram-se muitos sítios recifenses e propriedades rurais diversas de Pernambuco (…) – além das mudas remetidas para outras províncias brasileiras e para fora do Brasil. Nesse Jardim funcionou um curso de Botânica e de Agricultura (1829), do qual era professor o cirurgião pernambucano Joaquim Jerônimo Serpa, no qual se inscreveriam muitos estudantes do Curso Jurídico de Olinda. Em 1845 foi o Jardim Botânico de Olinda extinto, sendo o seu terreno a princípio alugado e mais tarde vendido, pertencendo até recentemente à família Manguinho; daí a denominação popular de Sítio do Manguinho ou o Horto Del Rei. A importância do Jardim Botânico de Olinda foi depois ressaltada por Filipe Mena Calado da Fonseca que, em carta ao Diario de Pernambuco, publicada na edição de 7 de novembro de 1854, chama a atenção para a divulgação entre nós da grama de Angola, popularmente conhecida como capim de planta, que fora transportada das margens do Rio Bango (Angola) para o Brasil em 1811. Além desta, outras espécies foram vulgarizadas entre nós, como a pimenta da Índia, o fruta-pão, a tamareira, o bilimbi, a carambola, o sagu, o sapoti, dentre outras. Ainda sobre a importância dos jardins de aclimatação de Olinda, vale lembrar a publicação do naturalista Manuel Arruda da Câmara (c 1752-1811), Discurso sobre a utilidade de jardins nas principais Províncias do Brasil (Rio de Janeiro: Impressão Régia, 1810). Na qual apresenta uma “lista das plantas que merecem ser transplantadas e cultivadas”. Da Ásia: árvore do pão, salepo, sagu, chá, sene, ruibarbo, escamônea, batatas do Japão, gota gama, loureiro, cássia, verniz da China, verniz do Japão, Khola buu, peônia, évano, bambu, árvore das camisas, sangue de dragão, santalino, árvore do sebo, laca. Da África: baobá, tamareira, matiboeira, pau escarlate, tacula, canume-nume, imbondeiro, agraiá, grama de Guiné [destinada à alimentação do gado na zona do semiárido]. Da Europa: oliveira, castanheiro, nogueira, pinheiro, pinheiro manso, morangos, ameixeiras, damasqueiro ou abricó, cerejeira, ruiva dos tintureiros, rapa língua, fiadeira, malva, verbasco. Da América Setentrional: falva cássia, magnólia maior,

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Lebret e o Recife

O padre dominicano Louis Joseph Lebret realizou um Estudo sobre Desenvolvimento e Implantação de Indústrias Interessando a Pernambuco e ao Nordeste, que foi publicado sobre a forma de livro, em 1955, pela então Comissão de Desenvolvimento de Pernambuco (Codepe). Um dos líderes do movimento Economia e Humanismo, Lebret lançava um olhar humano e cristão sobre o debate político-ideológico entre os adeptos do capitalismo e os do socialismo, muito presente na década dos 50 como reflexo da Guerra Fria e dos rumos do desenvolvimento econômico no mundo que emergiu após o final da Segunda Guerra Mundial. A concepção de Lebret repousava na noção de organização do espaço ou de gestão do território dentro da tradição francesa de Aménagement Territoire. A sugestão de Lebret era fortalecer uma rede de cidades tanto no entorno mais próximo quanto longínquo do Recife para filtrar ou mitigar as migrações para a capital de forma a evitar que a cidade atingisse a “monstruosidade de um milhão de habitantes” (p.94). Para o Recife em si Lebret tinha propostas para a economia e para a organização urbana e colocava o porto como estratégico para o desenvolvimento da cidade. Lebret argumentava que o Porto do Recife teria que se expandir para o sul, limitado que estava a leste pela cidade e ao norte pela Marinha de Guerra (Escola de Aprendizes Marinheiros). O porto seria de cabotagem, pois não teria condições de receber grandes navios e deveria se expandir ao sul, na direção da bacia do Pina, onde proximamente existia um terreno favorável para acolher um estaleiro naval, tanques de combustíveis e possivelmente uma refinaria. Essa área identificada por Lebret no mapa que acompanha o estudo se situaria hoje por trás do Cais José Estelita, incluindo o Cabanga, território objeto de conflitos de interesse e de polêmicas urbanísticas que tem envolvido amplos setores da opinião pública recifense. Lebret concebia Recife então como uma cidade que deveria se industrializar, inclusive acolhendo empreendimentos pesados como uma refinaria. Essa concepção, por certo, seria hoje objeto de grande questionamento e de severas críticas por planejadores urbanos. Lebret também tinha uma preocupação com a mobilidade pois queria evitar que os trabalhadores se deslocassem grandes distâncias para chegarem ao local de trabalho e, por isso, recomendava que as áreas industriais deveriam ser construídas próximas das residenciais, constatando que no Recife “a descontinuidade é muito grande entre os locais de habitação e de trabalho da população operária” (p.95). A questão da mobilidade já era, portanto, abordada por ele. Sugere assim construir grandes anéis circulares estendendo-os até Olinda até encontrar “a grande estrada” que vai para o norte e que se conecta com a que “vai para o sul”, via de grande densidade de tráfego pela qual rodariam rápidos “trolley-bus” em faixas de 40 metros de largura. Essa era a antevisão de uma Agamenon Magalhães. Assim, Lebret argumenta que a cidade seria descongestionada “porque, de outro modo, se chegaria a uma circulação impossível com tais engarrafamentos por toda parte, que qualquer movimento seria inviável” (p.97). Se Lebret voltasse ao Recife 60 anos depois descobriria que a cidade se tornou monstruosa com 1,6 milhão de habitantes, que se desindustrializou, que sua sugestão para o Cais José Estelita e entorno seria muito polêmica, se não recusada, e que a mobilidade da cidade piorou muito apesar de terem surgido avenidas tipo Agamenon Magalhães. Descobriria também que a refinaria e o estaleiro estariam em Suape onde, de forma visionária, apontou que na “altura do Cabo existe um grande terreno para ser integrado ao Grande Recife” (p. 89). Isso se tornou realidade!

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Por que mudar os nomes das ruas?

Como eram lindos os nomes das ruas da minha infância”…, confidenciava o poeta Manuel Bandeira, enquanto o poeta e compositor Antônio Maria, numa de suas crises de banzo da terra pernambucana, cantava: “Rua antiga da Harmonia, da Amizade, da Saudade, da União… são lembranças noite e dia…”. Os nomes das ruas e demais logradouros de uma cidade por vezes se perpetuam através dos séculos, como acontece com cidades portuguesas, de Lisboa, Porto ou Évora… Mas entre nós, só para atender a modismos e aos políticos de plantão, estão sempre a mudar designações tradicionais: Cais do Apolo, para Avenida Martin Luther King; Estrada da Imbiribeira, para General Mascarenhas de Morais; Estrada do Brejo, para Vereador Otacílio Azevedo; Travessa do Gasômetro, para Rua Lambari; Rua Formosa, para Conde da Boa Vista; Rua dos Sete Pecados Mortais, para Tobias Barreto; Rua do Crespo, para Primeiro de Março; Rua Lírica, para Visconde de Uruguai; Travessa João Francisco, para Cassimiro de Abreu; Beco do Quiabo, para Eurico Chaves; Beco da Facada, para Guimarães Peixoto, numa sucessão de contínuas mudanças. Nesta cidade de Santo Antônio do Recife – “Ingrata para os da terra, boa para os que não são”–, ainda conserva algumas ruas que, como nos engenhos de Ascenso Ferreira, só os nomes nos fazem sonhar: da Concórdia, da União, da Saudade, do Sossego, da Amizade, Nova, da Hora, do Progresso, Imperial, Real da Torre, Real do Poço, Flor de Santana, Direita, Velha, da Glória, da Alegria, dos Prazeres, dos Aflitos, das Graças, das Flores, da Praia, das Calçadas, do Padre Muniz, do Dique, do Porão, dos Pescadores, da Carioca, do Marroquim, do Rangel, do Observatório, do Arsenal de Guerra, da Praia, da Congregação, da Matriz, do Hospício, do Aragão, do Veras, Estreita e Larga do Rosário, do Livramento, do Fogo, das Águas Verdes, do Chora Menino, da Aurora, do Sol, da Fundição, do Futuro, das Ninfas, do Veiga, da Matriz, dos Artistas, do Lima, do Pombal, do Padre Inglês, do Cupim, do Encanamento, das Ubaias, numa sequência de nomes que a voragem do “progresso” ainda não corrompeu. Nos dias atuais, eis que um forte movimento se faz presente em favor de acrescer nomes de certas figuras às tradicionais denominações de nossas ruas e avenidas. Neste sentido, a Lei Orgânica do Município, que em seu artigo 164, estabelece que seja obrigatoriamente ouvido o Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano quando da mudança de qualquer nome de rua, praça ou avenida da cidade do Recife, vem sendo atropelada pelos “Senhores Vereadores”. Fazendo ista grossa para tal dispositivo, contrariando formalmente o que determina a Lei Orgânica do Município do Recife, os chamados “representantes do povo” ensaiam agora o expediente de acrescer aos nomes tradicionais, novas denominações que nada têm a ver com a consagrada toponímia da cidade do Recife. Tal expediente teve início com a mudança da denominação do Aeroporto dos Guararapes, que, como num passe de mágica, recebeu o adendo de Gilberto Freyre, seguindo-se da Avenida Norte, hoje acrescida com o nome do Governador Miguel Arraes, e, mais recentemente, a antiga Estrada de Beberibe que veio a ser Avenida Beberibe Santa Cruz Futebol Clube! E o expediente não parou por aí… Já se encontra em pauta a mudança da Praça do Arsenal da Marinha agora acrescentada com o nome do passista amazonense Nascimento do Passo; a mudança do tradicional Largo dos Coelhos, com o nome acrescido do cantor Reginaldo Rossi… De quebra, teremos a Estrada Velha do Bongi que já tem o seu nome encomendado (!) Com tais mudanças propostas pelos nossos vereadores, logo mais teremos dezenas de tradicionais nomes de ruas e avenidas do nosso Recife, consagrados por séculos pela toponímia popular, mudados para “doutor ou vereador fulano de tal”… Tudo como previra o poeta Manuel Bandeira em 1925! Pelo andar da carruagem, a canção de Alceu Valença e Vicente Barreto, não mais contará em seus versos com o tempo presente, mas no tempo passado, por obra e graça daqueles que hoje se intitulam “fiéis representantes do Povo do Recife”. Na Madalena revi teu nome/Na Boa Vista quis te encontrar/Rua do Sol, da Boa Hora/Rua da Aurora, vou caminhar /Rua das Ninfas, Matriz, Saudade/Na Soledade de quem passou/Rua Benfica, Boa Viagem/Na Piedade, tanta dor/Pelas ruas que andei, procurei/Procurei, procurei… te encontrar/Pelas ruas que andei, procurei/Procurei, procurei te encontrar.

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CADÊ OS OVOS DO BRIGADEIRO?

O brigadeiro Eduardo Gomes foi um brilhante cidadão brasileiro. Entrou na Segunda Guerra Mundial, saiu herói e depois foi por duas vezes candidato a presidente do Brasil. Perdeu primeiro para Eurico Gaspar Dutra e depois para Getúlio Vargas. Mesmo sendo reconhecido por todos como do bem, de grande espírito público, combatente das mazelas sociais e amante da liberdade, não fez sucesso na política. Bem diferente da carreira militar, onde está inclusive carimbado como Patrono da Aeronáutica. Viveu tomando conta da mãe viúva e morreu aos 84 anos. Um metro e 75 de altura, pesando menos de 70 quilos, musculoso, nariz afilado, boca pequena, cabelo arrumado, ele era daquele tipo que nos anos 70 as moças chamavam de “pão”. Muito criticado como orador, mas tão festejado pela beleza, que a mulherada cantava: “Vote no brigadeiro. Ele é bonito e solteiro.” E cadê os ovos? Ou colhões, como dizem os desbocados? Ninguém nunca abriu as pernas dele para confirmar, mas o Brasil inteiro dizia que não tinha: havia perdido na explosão de uma granada. Restou ao nosso herói a homenagem feita com o famoso doce “brigadeiro”. O doce ganhou esse nome porque, como o brigadeiro Eduardo Gomes, não contém ovos. LIGADO EM PERNAMBUCO Quando o estudante de direito Demócrito de Souza Filho foi assassinado por motivação política, na Praça do Diário, a família dele recebeu um telegrama do brigadeiro Eduardo Gomes com a frase de Victor Hugo: “Quem morre pela liberdade renasce para a eternidade.” O BOI VIRA BIFE Ele está pronto para o abate quando pesa 450 quilos. Para não morrer estressado, o bicho é levado por um caminho arborizado num pasto de vacas lésbicas. O boi come e bebe água até ficar bem relaxado. Depois leva choques elétricos e um disparo na nuca. É morte de gado! FELICIDADE APRENDIDA A pesquisa durou 15 anos. Depois de 1.600 estudos, uma universidade francesa está soltando o resultado: você pensa na felicidade, afugenta tudo que de ruim vier pra sua cabeça e pode partir para o abraço. Felicidade é uma questão de prática: exercite e seja feliz.

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Minhas fotos do Recife e a esperança

Sempre gostei de tirar fotos. No início, usava uma máquina não sofisticada em viagens. Já na era digital, troquei por uma pequena sem filme mas me via invariavelmente entediado e, não raro, exasperado, às voltas com negativos, revelações e álbuns, e, depois, com os terríveis arquivos digitais, sempre desaparecidos em disquetes, HDs, CDs, pen drives e nuvens ermas… Até que, às vésperas de uma viagem ao oriente, recebi um iPhone 4 e viajei com ele e minha câmera digital. A partir dessa viagem, a câmera convencional foi definitivamente aposentada. Mais ou menos na mesma época, o amigo Bruno Queiroz, praticamente me forçou a entrar nas redes sociais alegando, diante da minha desconfiança, que eu tinha muito o que dizer nelas… Primeiro o Twitter, depois o Facebook e, por fim, o Instagram. Isso, aliado ao meu gosto pelas caminhadas na cidade, terminou produzindo o composto que levaria a uma inusitada ousadia: iPhone, fotos de locais e coisas do Recife visto a pé, filtros e publicação no Instagram e no Facebook e amigos virtuais elogiando as fotos postadas e pedindo uma exposição… Até que o amigo de infância, companheiro das Caminhadas Domingueiras e dos livros sobre o Recife, doutor em Física e artista plástico, Plinio Santos Filho, me convida a fazer uma exposição no seu Espaço Vitruvio no Poço da Panela. Com ele como curador e outro amigo de infância, Paulo Gustavo, poeta, mestre em Literatura e recém acadêmico pernambucano de letras, como apresentador, e vou eu fazer uma exposição fotográfica patrocinada pela TGI Consultoria em comemoração aos seus 25 anos de vida. Um alinhamento improvável de eventos e lá está um não fotógrafo (para me autorizar a sê-lo, seriam necessárias dedicação e aplicação que nem de longe tenho), fazendo uma exposição fotográfica… Penso que a principal contribuição da exposição é trazer à luz (não por acaso o título dela é “O Recife Tomado à Luz – Fotografias de um Caminhante”) um Recife habitualmente não visto e concordo plenamente com as palavras de Paulo Gustavo: “O resultado é um diálogo com a poesia silenciosa da cidade. Uma agenda de esperança”. Sim, esperança de uma cidade melhor, cuidada por pessoas que gostem dela, estimuladas por uma beleza incomum que ousei tentar revelar com um iPhone 5S pelas redes sociais. Reconheço que meu mérito é esse: continuar tentando.

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