Falta de entendimento entre ambientalistas e desenvolvimentistas compromete o futuro
Não é de hoje que as diferentes visões de mundo dos ambientalistas e dos desenvolvimentistas são um grande problema que precisa ser resolvido. Essa disputa, que vinha sendo liderada pelos desenvolvimentistas nas últimas décadas, está tomando novos contornos com a crise climática e os ambientalistas parecem estar virando o jogo daqui para frente. Mas há muitas consequências para o Brasil se esse embate for mantido e não houver uma visão negociada para o tema. Do ponto de vista dos desenvolvimentistas, somente o crescimento da economia pode gerar riquezas capazes de proteger o meio ambiente. A lógica é que o progresso econômico cria recursos que podem ser usados na pesquisa de novas formas de produção que reduzam o impacto ambiental. Dessa forma, o ritmo do desenvolvimento não precisa ser alterado, pois a eficiência produtiva é o caminho para diminuir o impacto ambiental. Por outro lado, a visão dos ambientalistas é de que o ritmo do desenvolvimento atual é o grande causador da crise climática que estamos presenciando com mais intensidade a cada dia. O conceito é exigir menos da natureza para podermos não só preservar os recursos que restam como começar a regenerar o que foi destruído. Para isso, de acordo com os ambientalistas, é preciso haver um freio no desenvolvimento econômico. Enquanto esse debate se intensifica e não há perspectiva de uma visão negociada para o desenvolvimento sustentável, algumas consequências já podem ser vistas. Por não termos uma política de estado nessa área, a insegurança toma conta e afeta decisões importantes na oferta de bens e serviços essenciais para o Brasil no futuro, como geração de energia, fabricação de combustíveis e produção de alimentos, por exemplo. Até porque investimentos como esses levam anos para serem construídos e começarem a operar. A exploração de petróleo na margem equatorial é um exemplo. Sem uma visão de futuro para a transição energética, pode faltar combustível, seja ele renovável ou fóssil. Sem um sinal claro de qual será o caminho, não há investimentos em ambos os lados e o Brasil pode passar de exportador para importador, afetando a oferta e, principalmente, o custo, com impacto direto na inflação. A falta de uma política de Estado nessa área tem proporcionado decisões esquizofrênicas. Na aprovação da reforma tributária na Câmara dos Deputados, o carro elétrico foi taxado, além do IVA, com o Imposto Seletivo. Esse tipo de tributação tem o objetivo de reduzir o consumo de produtos que fazem mal à saúde (álcool, açúcar, tabaco) e ao meio ambiente (extração de minérios, petróleo e gás). Foi usado, porém, como uma das formas de conter a invasão dos carros elétricos chineses no Brasil a preços mais competitivos do que os produtos nacionais. Um jabuti, como se diz no jargão político. Na prática, a medida correta deveria ser alfandegária. Com isso, os legisladores dão sinais contraditórios para o futuro. Que tipo de matriz energética queremos para o futuro? Em que a tecnologia a indústria deve investir para as próximas décadas? Some-se a essa disputa interna uma pressão externa. Países mais desenvolvidos economicamente, que consumiram grande parte dos seus recursos naturais nesse processo, querem influenciar decisões nacionais sobre seus próprios meios naturais. Isso nada mais é do que uma nova forma de colonialismo, disfarçada de barreiras econômicas e ambientais que só valem para os outros. Tudo isso tem a ver, no final das contas, com a soberania nacional brasileira. Só cabe a nós decidirmos sobre o que queremos para o futuro. Nessa questão ambiental, não há vencedores. Nem do lado dos desenvolvimentistas, nem dos ambientalistas. Até porque vivemos no mesmo território e as consequências de decisões erradas serão pagas por todos nós. A sustentabilidade é o caminho mais viável, mas é preciso haver também uma ampla discussão em torno da diversidade, da integração e, principalmente, de uma visão coletiva de futuro. Sem isso, o debate tende a se restringir apenas aos interesses de grupos. O interesse nacional fica em segundo plano, colocando-nos em posição vulnerável à insegurança econômica e aos interesses externos.
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