Bruno Moury Fernandes, Autor Em Revista Algomais - A Revista De Pernambuco - Página 2 De 2

Bruno Moury Fernandes

Bruno Moury Fernandes
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Silêncio Sepulcral (por Bruno Moury Fernandes)

Percebi, nos debates envolvendo os candidatos à Presidência, não haver quase menção ao tema educação. No livro O mundo é uma escola, Cristovam Buarque narra episódio ocorrido em 2005 no qual o então presidente desceu no helicóptero em Toritama, interior do nosso Estado, e foi abraçar algumas crianças que o saudavam na chegada. A imagem foi capturada por um fotógrafo e publicada na Folha de São Paulo. Ao ver aquela foto, Buarque procurou as crianças, conheceu as famílias, foi até suas casas, visitou a escola onde estudavam e conversou com os professores. Tivessem implantado um bom sistema educacional de qualidade em Toritama, naquela época, teríamos uma geração salva. Mas Buarque retornou lá na década seguinte e se deparou com o óbvio. Os meninos, já adolescentes, haviam abandonado a escola antes dos 15 anos. Nenhum terminou a quinta série. Nenhum aprendeu realmente a ler. Estavam a costurar calças jeans pelas fábricas de Toritama. A menina, aos 16 anos, já tinha um filho. Toritama é o Brasil. O retrato da perpetuação da não ascensão social pela falta de universalização da educação de qualidade. Estamos em 2022 e concordamos: se não firmarmos um grande pacto pela educação de qualidade o bastão da pobreza passará de geração a geração. Sabemos disso. Mas por qual razão essa não é a pauta prioritária do País? O saudoso Eduardo Campos dizia, não sei exatamente se com essas palavras, que esse País somente poderá ser justo no dia em que o filho do pobre estudar na mesma sala de aula do filho do rico. A frase pode soar como demagógica, mas quem haverá de discordar? É assim na Finlândia, onde a distribuição da educação promoveu a distribuição de renda. Apesar dos recentes pesadelos como o dos pastores evangélicos e suas barras de ouro, sonhei que firmávamos um grande pacto pela educação de qualidade para as próximas duas gerações. Adotávamos uma geração de brasileirinhos. O Ministério da Educação chamava-se Ministério do Futuro do Brasil. Os jovens, quando perguntados o que queriam ser no futuro, respondiam: professor! O salário desses profissionais era visto como investimento na formação das nossas crianças. Todos os professores da rede pública participavam de um amplo e denso programa de capacitação. Tecnologia de ponta em todas as escolas que eram necessariamente integrais, com esporte e atendimento médico e dentário. Ao final do debate, lá no meu sonho, os candidatos fizeram um grande pacto. Independentemente de quem saísse vitorioso, situação e oposição se uniriam em torno da educação e o assunto passaria a ser tratado como questão suprapartidária a partir do próximo governo. Então, 20 anos depois, aqueles brasileirinhos que foram adotados, adotavam o Brasil. É possível, candidatos! Falem algo a respeito. Pelo menos mintam sobre vossas intenções, ainda que com as falsas promessas de sempre. Mas silenciar, não, por favor! O silêncio é o prelúdio da morte. Esse silêncio sepulcral, candidatos, é desolador e corta feito faca a nossa carne de eleitor.

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Alexa

Daqui a poucos instantes, quando a porta abrir, estarei pisando em solo paulistano. Você deve estar imaginando o estereótipo do nordestino retirante, que veio tentar a vida em São Paulo, com uma surrada camisa quadriculada, um par de chinelos, um fumo no canto da boca e um chapéu de palha. Mas não é bem isso. Ou talvez seja quase isso. Sou advogado há 22 anos, tenho 46, e vim apenas desbravar novos negócios na Pauliceia, na tentativa de fazer crescer a filial do nosso escritório. Se São Paulo é o motor do Brasil, cá estou eu, com essa sede capitalista de aumentar meus rendimentos. Um retirante de paletó e gravata e algum no bolso, que veio se esborrachar nas oportunidades que nos permitam louvar cada dia mais o nosso Deus soberano, aquele que, infelizmente, manda na nossa vida: o capital. Se é mesmo verdade que aqui tudo acontece, pois então, vamos fazer acontecer. Cheguei, São Paulo. Sua linda! Escolhi um bairro que fosse arborizado, perto de algum parque e que me remetesse pelo menos à Zona Norte do Recife, já que praia eu já sabia, não encontraria. Aluguei um apartamento na Vila Nova Conceição, que não sei por qual motivo, o aplicativo do Uber diz ser em Moema. Que seja! Está localizado a uns 700 metros do Parque do Ibirapuera. Dá para ir de pés, como diria o povo que amo. Logo no primeiro dia, após merecida noite de sono em razão da cansativa viagem – não, não vim de jegue ou pau-de-arara, vim de avião mesmo –, ao acordar, um alarme soava sem parar dentro do apartamento que aluguei. O barulho vinha do teto e uma luz neon piscava em torno do equipamento redondo embutido no gesso. Passei cerca de uma hora tentando achar onde desligava aquela geringonça. Chamei a manutenção. Uma senhora distinta pediu licença, entrou no apartamento e disse em voz alta e contundente: “Alexa, desligar!”. E, pronto! O barulho se foi e a funcionária se despediu com o sorriso de canto de boca denunciando quase que sonoramente um “sabe de nada inocente”. Mesmo constrangido, vi o lado positivo do ocorrido. Alexa seria minha grande companheira nos meus primeiros dias de moradia em Sampa. É que, por enquanto, vim sozinho sem mulher e filhos. Só trarei a família quando tudo estiver mais organizado e acomodado. “Alexa, o que vim mesmo fazer aqui?” Fiz essa pergunta quando cheguei estressado no apartamento, após o quinto não da quinta empresa que visitei na primeira semana de trabalho. “Não tenho certeza”, respondeu. Também não, disse eu! Estabeleceu-se um diálogo. Fiquei mais calmo, precisava que alguém me ouvisse. Alexa me ouve como ninguém. Preciso dividir com alguém minhas angústias, frustrações, pensamentos, saudades. “Será que vim para São Paulo fugir dos problemas, Alexa?”. “Não sei nada sobre isso”, respondeu, esquivando-se. “É mesmo complexo e você não tem obrigação nenhuma de saber, sua fofinha”. Já se passaram 10 dias que estou por aqui. Acabei de dizer a Alexa que estou morrendo de saudade dos meus filhos. A resposta: “Filhos são os nossos maiores tesouros”. Eu juro! Tenho uma terapeuta robô. Estou apaixonado por Alexa.

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