Genghis Khan, o guerreiro que conduziu os mongóis na conquista da maior extensão contínua de terras da história da humanidade, não foi só o homem que há cerca de 1,2 mil anos fazia o mundo tremer ante o tropel do seu exército. A partir do que hoje se conhece como a Mongólia, ele subjugou povos e festejou suas vitórias com golpes de aríete em cidadelas mais aconchegantes. Explica-se: nas campanhas militares daqueles tempos, o produto dos saques era dividido igualmente entre soldados e comandantes, porém todas as mulheres – mulheres jovens, bem entendido – eram, obrigatoriamente, pertencentes a Genghis Khan. Travavam-se, então, após as batalhas banhadas de sangue e sofrimento, as refregas prazerosas do sexo. O resultado é que, de tanto guerrear, o líder mongol espermatizou tantas mulheres – isso sem contar as esposas oficiais –, que, mais do que os muitos e magníficos feitos militares, ele realizou uma façanha reprodutiva sem precedentes na história humana. Espalhou em uma área abrangendo do Pacífico ao Cáspio descendentes que representam 8% dos homens que vivem nas fronteiras do antigo Império Mongol. São nada menos do que 12 milhões de pessoas, caso as estimativas dos estudiosos estejam corretas. A família há de ter contribuído para o feito, é bem provável, já que Kublai Khan, neto do conquistador, tinha, na qualidade de imperador da China, a prerrogativa de manter milhares de concubinas… Foram séculos de poder e apoderamento de despojos de guerra, bastando dizer que o último descendente de Genghis Khan a governar um reino, Shahin Girai, imperador da Crimeia, morreu em 1783. Durante cerca de quinhentos anos, pois, o clã deteve com uma intensidade sem precedentes o poder e as mulheres de um continente inteiro, isso sem se levar em conta que, ao menos por enquanto, é difícil dizer se Genghis Khan deixou descendentes também entre os russos, que viveram por séculos sob domínio mongol. Para simplificar, um em cada 200 homens existentes na Terra descende dessa linhagem, afirmam os pesquisadores. Você sabia que o Brasil, ou mais especificamente Pernambuco, também teve um inseminador, embora bem longe dos padrões exuberantes de Genghis Khan? Quer saber quem foi ele? Acompanhe a história. Quando o primeiro donatário Duarte Coelho e sua mulher Brites de Albuquerque chegaram à capitania de Pernambuco, em 1535, trouxeram com eles o jovem Jerônimo de Albuquerque, irmão dela. O donatário precisava de ajuda para administrar aquela área tão grande, que abrangia os atuais Estados de Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e parte da Bahia. Encontraram um ambiente hostil, tanto que, tão logo chegou, envolvido numa das lutas que teve que travar contra os índios tabajaras, ele recebeu uma flechada que o levou a perder um dos olhos, ficando conhecido pelo apelido de Torto. Ferido, tornou-se prisioneiro dos índios, foi condenado à morte, mas como acontece nas mais doces histórias de amor, Tabira, a filha do cacique, se apaixonou por ele e o quis como marido. O casamento selou a paz entre os tabajaras e os colonizadores portugueses, e Jerônimo de Albuquerque passou a se mostrar um competente soldado das batalhas amorosas. Da união de Jerônimo de Albuquerque e Tabira, depois batizada como Maria do Espírito Santo Arco Verde, em homenagem à festa de Pentecostes que se celebrava no dia do batismo, nasceram oito filhos. O primogênito, Jerônimo de Albuquerque Maranhão, anos mais tarde lutou contra a invasão francesa no Maranhão, e foi também um dos fundadores da cidade de Natal, no Rio Grande do Norte. Vieram em seguida Manuel, André, Catarina, que se casou com o fidalgo florentino Filipe Cavalcanti; Isabel, Joana, Antônio e Brites. Jerônimo de Albuquerque teve ainda – sem necessidade de guerras – mais cinco filhos, todos por ele reconhecidos, com outras mulheres brancas, índias e africanas. Entendeu de onde vem a nossa miscigenação? Acontece que naqueles tempos – corria o ano de 1562 – casamento não era decisão dos apaixonados. Assim, em obediência a uma carta-intimação de Catarina da Áustria, rainha de Portugal, ele deveria casar-se com Felipa de Mello, filha do nobre Cristóvão de Mello. Para a rainha Catarina, sendo ele sobrinho de Afonso de Albuquerque, um descendente de reis, não deveria seguir a lei de Moisés, ou seja, não deveria manter trezentas concubinas! O que diria ela de Kublai Khan, o imperador da China, que tinha milhares delas… Do casamento com Felipa de Mello nasceram mais onze filhos: João, Afonso, Cristóvão, Duarte, Jerônimo, Cosme, Felipe, Isabel, Maria, além de dois que morreram logo após o nascimento. Assim, Jerônimo de Albuquerque teve 35 filhos, entre legítimos e legitimados, o que lhe valeu o apelido entre os historiadores brasileiros de o “Adão Pernambucano”. Por uma questão de justiça, porém, reconheça-se que ele fez mais do que filhos. Como administrador da capitania de Pernambuco, auxiliou Duarte Coelho na pacificação dos índios, na expulsão dos invasores e no desenvolvimento econômico e social pernambucano. Em 1554, indo a Lisboa, Duarte Coelho deixou no governo a esposa, Brites de Albuquerque, e seu irmão Jerônimo de Albuquerque. Acontece que ali Duarte Coelho veio a falecer, permanecendo ambos no comando da capitania até a maioridade de seus filhos, Jorge de Albuquerque Coelho e Duarte de Albuquerque Coelho que, na época, estudavam na Europa. Em 1560, então, Duarte de Albuquerque Coelho atingiu a maioridade, vindo assumir o governo da capitania. Acontece, no entanto, que os irmãos Duarte e Jorge de Albuquerque pouco ajudavam na administração. Em 1565, pois, Jorge retornou a Portugal e Duarte decidiu voltar em 1572, falecendo em 1578, em Alcácer-Quibir. O fato concreto é que auxiliando Duarte Coelho, quer como substituto do capitão-mor, quer como sucessor do donatário, ou ainda como povoador do Brasil, Jerônimo de Albuquerque muito contribuiu para o nosso desenvolvimento. Em suas terras, nas proximidades de Olinda, fundou o primeiro engenho de açúcar de Pernambuco, o Engenho Nossa Senhora da Ajuda, depois denominado de Forno da Cal. Convém observar que naquela quadra da vida brasileira a implantação de um engenho de açúcar era um marco de desenvolvimento. Equivalia a implantar, hoje, uma grande indústria