Minha sogra diz, com toda razão, que sou bucho de piaba. Sabe o que isso significa? Segundo o dicionário de pernambuquês, pessoa fofoqueira. Aquele que não guarda segredo.
Verdade! Minha sogrinha querida tem razão. Se você tiver algo secreto não me conte, de jeito nenhum. Sinto coceira na língua e vontade incontrolável de passar adiante a coisa proibida. Saboroso é deter o sentimento de poder durante aqueles valiosos minutos. Sim, sustento somente por alguns instantes. Nada mais além disso. Meu recorde foi de três sufocantes horas. Pensava que ia morrer entupido. Até que vomitei o sigilo para o primeiro que apareceu na minha frente. Ufa! Que alívio!
Se a fofoca é da boa, ligo imediatamente para mãe:
-Não sei se conto.
-Vai menino, diz logo.
-Não sei se não conto.
-Vai menino.
-É uma bomba, mãe! Tu não tem noção.
-Conta looogooooo!
Por sacanagem, antes de contar, desligo na cara dela, só para apimentar o mistério. Logo o telefone toca:
Bruno, conteeee…eu sou sua mãe…estou mandando.
– Não sei se conto.
– Vai! Filho da mãe!
– Não sei se não conto.
– Ah, menino danado! Vou desligar!
– Tá bom! Tá bom! Eu contoooo!
Dano-me a dividir a confidência com mãe. Tive a quem puxar. Ali gosta de “dois dedos de prosa”, viu!? Meu pai não era diferente. Pense num macho fofoqueiro. Quando sabia de alguma novidade, entrava em casa assoprando. Quando era história de chifre gritava: “é gaaaaaiaaa”! E a gente pulava feito pipoca atrás dele: “Quem? Quem foi? Quem é o corno? Conta logo!”
É bom demais isso de falar da vida alheia. Desde que seja sem maldade, claro. Sem diminuir ninguém. Só para divertir e colocar cadeira na calçada. Confesso que sinto remorso, mas se o proprietário do segredo não o segura, por que o farei? Só guardo segredo meu. Segredo dos outros compartilho. Afinal, quando o senhor possuidor da reserva me revela aquilo que não deveria relatar, perdeu, naquele exato momento, a propriedade sobre a confidência. A intimidade deixa de ser alheia e passa a ser própria. Vira patrimônio meu. A partir daí, faço o que bem entender.
Se és o legítimo proprietário de um bem valioso chamado segredo, por favor, não o divida comigo. Não arrende, empreste, doe, alugue, venda, enfim, não pactue com este bucho de piaba o seu tesouro porque, certamente, descumprirei o acordo avençado. Ademais, não terás como cobrar multa, em razão da incontestável ausência de previsão contratual.
Falando nisso, vocês não sabem o que me contaram ontem…
Não sei se digo…
…Conto?
– Alô, mãe!?…