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SBPC e sua capilarização: Regional de Pernambuco rumo aos 70 anos

*Maria do Carmo F. Soares e Maria do Rosário Andrade Leitão (Secretária Regional e Secretária adjunta da SBPC-PE) A SBPC fundada em 8/7/1948 tem berço paulista, quando o seu estatuto e a eleição de sua primeira diretoria aconteceram na associação Paulista de Medicina, mas logo capilarizou-se para os demais estados do país para cumprir o que se encontrava preconizado em seus princípios descritos na ata de sua fundação. Entre seus objetivos encontra-se “apoiar e estimular o trabalho científico”, e, este objetivo não encontra barreiras sejam regionais, nacionais ou internacionais. Neste contexto no ano seguinte,1949, foi criada em Curitiba sua primeira representação regional, seguida neste mesmo ano, da representação do Rio de Janeiro. Em 1950, surgia a terceira representação em Belo Horizonte. E no ano de 1951 surgiram, concomitantemente as representações regionais de Recife e de Salvador, conforme consta na ata de reunião do Conselho e da Diretoria de 10/07/1951. Para organizá-las o próprio secretário geral, da primeira diretoria da SBPC, prof. Paulo Sawaya, viajou às duas capitais. No Recife instalou a comissão de organização, composta por: Newton da Silva Maia (professor da Escola de Engenharia); Nelson Ferreira de Castro Chaves (professor da Faculdade de Medicina); Luiz Siqueira Netto (professor da Escola de Engenharia), Aluízio Bezerra Coutinho (professor da Faculdade de Medicina), Luiz Siqueira Carneiro (professor da Escola de Veterinária) e Bento Magalhães Neto (assistente da Faculdade de Medicina e professor do Ginásio do Estado, conforme consta na Ciência e Cultura, v.3, n. 2, 1951. Foi eleito seu primeiro secretário, em 1951, o Prof. Newton da Silva Maia. Neste sentido, as regionais da SBPC dos estados de Pernambuco e da Bahia completarão neste ano de 2021, uma trajetória de 70 anos, desde a sua fundação. Portanto, desde seu início a SBPC proporcionou a abrangência de sua representatividade e o seu caráter nacional que se fortaleceu ao longo do tempo. Hoje a entidade se faz presente com 20 secretarias regionais em diversos estados brasileiros, além de uma representação oficial na Paraíba. Já chegou a possuir mais de 37 representações regionais espalhadas pelo Brasil. Uma nova forma de representatividade surgida na trajetória da entidade foi também, a afiliação das entidades científicas, atualmente somando 144 sociedades e ao todo uma média de 5 mil sócios ativos. As reuniões anuais da SBPC se constituem noutro mecanismo previsto no seu estatuto inicial, que vem ao longo do tempo acontecendo nas diversas capitais brasileiras. Não se encontrou bem delimitado o tempo que o primeiro secretário da Divisão Regional do Recife, Prof. Newton da Silva Maia, permaneceu a frente da secretaria, entretanto, quando da realização da VII Reunião Anual da SBPC, no ano de 1955, em Recife, o Prof. Nelson Chaves, encontrava-se como Conselheiro da SBPC. As reuniões anuais da SBPC, desde o início, vêm ocorrendo de forma descentralizada, em várias partes do Brasil. Com uma estruturação composta originalmente de conferências, simpósios, mesas redondas e apresentação de trabalhos. Mas, a cada reunião que foi acontecendo, de forma multidisciplinar, novas atividades surgiram e foram incorporadas na sua grande estrutura, o que tornou essa reunião no maior evento científico do país. Com o apoio da regional de Pernambuco já aconteceram 5 (cinco) reuniões anuais da SBPC na capital recifense, que foram sempre muito prestigiadas e marcadas pela receptividade e criatividade de sua gente. Desde o primeiro e bem sucedido convite, feito pelo Prof. Nelson Chaves, para que a 7ª reunião anual da SBPC acontecesse no Recife em 1955, na então Universidade do Recife, sendo a primeira do Norte/Nordeste. Foi nessa reunião onde se definiu o mês de julho para a sua realização, enquanto uma homenagem ao mês da criação da SBPC e passou a ser padrão para as demais nos anos seguintes, pois também, se aproveitava o período de férias nas universidades tornando-se mais fácil de se estruturar as reuniões dentro dos campi universitários. Essa reunião mereceu uma nota de destaque na prestigiada revista britânica Nature, mencionando a presença de cientistas britânicos no evento e a mensagem de saudações fraternais enviada pela Associação Britânica para o Progresso da Ciência, uma congênere da nossa SBPC; a presença nas principais sessões de Gilberto Freyre, conhecido sociólogo das américas e a conferência proferida pelo físico pernambucano, Mário Schenberg, em memória a Albert Einstein, falecido em abril daquele ano (Nature, n.4481, p.545-6, 17 set 1955). Assim, uma das marcas registradas das reuniões realizadas nesta capital foi a busca para incorporar algumas novidades/inovações, fomentando diálogos e incluindo o contexto da internacionalização. A segunda vez, que o Recife sediou a realização, na 26ª reunião anual, a iniciativa partiu do reitor na época, o Prof. Marcionilo de Barros Lins. Naquela ocasião, uma das novidades anunciadas foi a introdução de seminários e mesas redondas de caráter interdisciplinar. Uma chamada de capa da edição de 10/07/1974, do Jornal do Commercio anunciava a magnitude do evento: “Cientistas apresentam no Recife 1.800 trabalhos”. O programa oficial desta reunião foi publicado na íntegra na contracapa desta edição, ocupando toda a página com a chamada “Conclave da SBPC tem início a partir de hoje”. Um outro destaque desta reunião em 1974, cujo tema foi: A situação das ciências no Brasil e trouxe, como convidado, o economista Celso Furtado que se encontrava no exilio e voltava ao país, pela primeira vez, para proferir a conferência sobre o desenvolvimento brasileiro. Ele atraiu a participação e atenção dos mais jovens e da imprensa, sendo ovacionado de pé numa plateia lotada. Mais uma vez, a SBPC se posiciona como um grande palco de debates e na vanguarda do momento político. A 45ª RA no Recife em 1993 foi a terceira realizada na cidade. Foi a maior reunião, em termos de número de participantes, até então organizada pela sociedade. O Jornal do Commercio (11/07/1993) trouxe em sua matéria de capa, a imagem do campus da UFPE, anunciando que 12 mil pessoas participavam da reunião da SBPC, e se discutiria ciência e qualidade de vida. Os eventos paralelos, como a SBPC Jovem e a Expociência (mais tarde denominada, a partir da 58ª RA, com o novo nome ExpoT&C)

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“Natal: o impossível se tornou possível”. Uma reflexão na pandemia

“A virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e lhe chamarão Emanuel" que significa "Deus conosco”. Mateus 1:23 (Bíblia Versão Almeida sec. 21) Chegamos em Dezembro, em um ano marcante, cujas experiências também ficarão nos anais de história mundial, narrativas banhadas em muitos desafios e vitórias, mas, também, em muito sofrimento, especialmente pela morte de mais de 1.717.124 pessoas pela Covid-19. Nesta época todos os anos celebramos o Natal, cujo sentido na tradição Cristã é a Celebração do Nascimento de Jesus Cristo, o Filho de Deus, nascido como criança, se torna o Salvador da Humanidade. Esta mensagem de esperança que renasce com a vinda do Cristo entre nós, então anunciado há quase 700 anos antes, pelo Profeta Isaías (no capítulo 7.14): “Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel.” O Natal de Cristo se realiza inicialmente em meio a historia do povo de Israel, que é apresentada ao longo da narrativa bíblica como um povo comum que Deus deseja usar para servir aos outros povos, na demonstração do amor, cuja fonte primária é o exemplo divino, e que resgate do projeto de sociedade (Reino) diferente do tipo de sociedade que construímos ao longo dos séculos, que vê o outro apenas como objeto de uso e descarte. Apesar de todo o desvio deste objetivo do povo, afastando dessa ética pautada no amor profundo, o Natal de Cristo nos lembra que Deus é Emanuel, ou seja, ele se fez presente junto à nós. Sim, o absurdo se fez Real! Deus resolve enviar seu Filho para exemplificar esse modelo de conduta que havia se perdido, afim de que aqueles que nEle creem, encontrem a Vida que dura eternamente (aqui e para o além-tumulo). Essa mensagem até hoje, mais de 2000 anos da vinda de Cristo, continua impactando a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo. Assim como agora, o Natal de Cristo, foi uma história da vida que vence a morte, uma vez que seus pais enfrentaram o parto no meio de uma viagem, sem sequer poderem ficar hospedados em local que lhes oferecesse estrutura para recuperarem suas forças e seguirem adiante em sua jornada. Também foi um contexto de vida que vence a morte, porque eles eram inimigos do Estado, que ao invés de proteger a vida de todos, especialmente dos vulneráveis, insistiu em assassinar as crianças em busca do extermínio do novo Rei que haveria de vir. Essa mensagem de Natal, continua atual, porque reflete que Deus age na Historia humana, com intuito de resgatar nossa mente e coração o projeto de sociedade (Reino) que ele havia planejado, onde reinam a Paz, Justiça e Alegria advinda do Espirito Santo (no livro de Romanos 14.7). O impossível volta a acontecer! Deus se torna parte concreta da história humana, porque ele mesmo está para além de nossa historia, ele estava antes, durante e estará depois da história humana, e fez isso por amor que ele tem a nós. Deus age demonstrando que não há nada impossível para sua atuação (no Evangelho de Lucas 1.37), há muitos impossíveis na história de Cristo, ele foi um Rei que nasce na pobreza porque assim quis, em um contexto de morte infantil, perseguição do Estado, e falta de moradia e condições dignas de existência. O impossível se torna possível quando em uma vida de amor, o Cristo vence os impossíveis da história para que nós pudéssemos ter a Esperança de que tudo pode ser diferente, até o nascimento de Jesus (de uma virgem) demonstra que não há impossíveis para Deus. Há muitos impossíveis em nosso tempo atual, que também precisam ser vencidos para uma sociedade efetivamente mais humana, Michel Foucalt (Filósofo e Teorico Existencialista) afirma que o ser humano pós-moderno vive e é atravessado pelos mecanismos específicos da racionalidade competitiva e individualista. Não é à toa, que em tempos de pandemia, testemunhamos a efervescência do descaso com auto-cuidado, e principalmente com a saúde da coletividade, inclusive dentre os religiosos de diversas matizes de crença. Neste sentido Jesus triunfou sobre outro impossível, o de viver uma vida cuja ética se fundamenta no amor, expresso também pelo cuidado. Cristo disse que venceu o mundo (no Evangelho de João 16.33), e o fez vivendo o amor profundo que transforma a maneira de vermos o outro ser humano. Por amor, ele deu voz a quem não tinha voz (mulheres, leprosos, viúvas e órfãos), e neste mesmo amor trouxe à vida aqueles que apenas sobreviviam. Assim o Evangelho de Cristo muda a ética como nós que o seguimos interagimos com o nosso próximo e com a coletividade. O Natal de Cristo, nos lembra para sempre que Deus realiza impossíveis, agindo em nossa história, trazendo vida, paz e esperança para todos que nele creem. Feliz Natal de Cristo. *Por Jades da Cunha e Silva Junior, pastor da Igreja Batista Imperial, teológo e psicólogo clínico

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Fragmentos da eleição proporcional no Recife

*Por Maurício Costa Romão Pandemia e quociente eleitoral Com o uso da urna eletrônica no Brasil, a partir do ano 2000, a evolução do quociente eleitoral (QE) tornou-se mais estável, no geral. Nas últimas três eleições do Recife, por exemplo, o QE teve variações apenas marginais: 22.756; 22.531 e 22.063, em 2008, 2012 e 2016, respectivamente. Neste ano, principalmente devido à abstenção ao redor de 20%, os votos válidos diminuíram e o QE teve oscilação mais abrupta, baixando para 20.826 votos. Sobras de voto A democratização das sobras de voto determinada pela legislação eleitoral de 2017, segundo a qual todos os partidos podem participar da distribuição de sobras mesmo que não tenham atingido o QE não beneficiou nenhuma sigla em 2020 no Recife. De fato, para usufruir da abertura propiciada pela legislação, os partidos teriam que ter votação: (a) relativamente elevada, mais próxima possível do QE (condição necessária) e (b) entre as maiores médias nas rodadas de distribuição de sobras (condição suficiente). Dentre os partidos que não alcançaram o QE o PDT teve razoáveis 14.108 votos, mas que não foram suficientes para figura entre as maiores médias (vide Tabelas do Apêndice). QE continua imperando Com o advento da democratização das sobras de voto qualquer partido pode ascender ao Legislativo sem atingir o QE (satisfeitas as condições necessária e suficiente). Então o QE deixou de ser uma barreira à entrada no Parlamento para se tornar um parâmetro de referência. Mas, se não houver votações expressivas no pelotão de baixo do QE como, por exemplo, no caso deste ano no Recife, o parâmetro se transforma numa barreira à entrada. Partidos e fim das coligações Estimativas preliminares de antes das eleições proporcionais de 2020 apontavam a possibilidade de 50% dos partidos que concorressem a Câmara Municipal do Recife não fizessem nenhum vereador, reproduzindo o resultado de 2016. O percentual foi bem menor, cerca de 38%. Foram 10 partidos que ficaram de fora, em 26 que concorreram (contra 34 em 2016). O grande teste do fim das coligações, todavia, dar-se-á em 2022. Para deputado federal e estadual em Pernambuco, por exemplo, os partidos individualmente têm que cabalar votos na faixa de 173 mil votos para eleger um parlamentar federal e 92 mil votos para fazer um estadual. Abaixo dessas votações, correm o sério risco de ficar de fora do Legislativo. Cláusula de desempenho individual De acordo com a Lei 13.165/15, só ascendem ao Legislativo candidatos com votação igual ou superior a 10% do QE. Embora o sarrafo seja baixo (apenas 10% do QE), a eleição de 2018 para deputado federal em São Paulo chamou à atenção da classe política. Na ocasião, o PSL, na esteira da candidatura Bolsonaro, saiu em vôo solo e fez 17 deputados, mas só 10 assumiram o mandato, já que o restante não alcançou individualmente a cláusula de desempenho. No pleito de 2020 no Recife nenhum candidato eleito foi preterido pela aplicação da lei. O menos votado foi o candidato Doduel Varela do PSL, eleito com 2.302 votos (o sarrafo foi 2082 votos, uma diferença de 220 votos). Regra da quota A literatura especializada assevera que um método justo de repartição proporcional, conhecido como regra da quota, é o que consegue distribuir cadeiras legislativas entre partidos em quantidades iguais ao quociente partidário (QP) mínimo ou máximo. O método D’Hondt, ou das maiores médias, viola a regra da quota, não obedecendo esse critério e favorecendo as grandes votações. Vê-se na primeira Tabela do Apêndice que o PSB teve a expressiva votação de 202.018 votos, o que gerou um QP de 9,7003. Pela regra da quota o PSB deveria ter elegido no mínimo 9 ou no máximo 10 vereadores. Elegeu 12, graças à sua boa votação e à benevolência do método D’Hondt. (Nem pensar em trocar o método D’Hondt por outro qualquer! Existe uma maldição nos métodos de divisão proporcional. Não há nenhum perfeito, justo, ideal, conforme demonstrado por dois matemáticos americanos, M. Balinsky e H. Young, o que ficou conhecido como “Teorema da Impossibilidade de Balinsky e Young”). PSB e os vereadores com mandato O PSB elegeu 8 vereadores em 2016 mas, devido à sua força político- centrífuga, logo incorporou mais 10 (4 antes da janela partidária e 6 durante). Tinha então o desafio de eleger 18 vereadores de mandato em 2020. Para isso, e contando com o beneplácito do método D’Hondt, o partido teria que ter o mínimo de 312 mil votos, caso em que elegeria 15 pelo QP e eventualmente 3 por sobras. Não deu. Teve uma votação alta, de 202 mil votos, mas apenas o suficiente para eleger 12 dos 18. Poucos votos importam O PCdoB, com 32.008 votos, o Republicanos, com 31.604 votos, e o Democratas, com 31.464 votos, tiveram votações muito próximas umas das outras, com diferenças de 404 votos do segundo para o primeiro, de 544 votos do terceiro para o primeiro. Quando se observam os QP dessas siglas os resultados são praticamente iguais, diferindo em centésimos e milésimos (vide Tabela). Além de ser meio que intuitivo inferir, pode-se, também, demonstrar matematicamente que se dois ou mais partidos tiverem a mesma parte inteira do QP, aquele que apresentar a maior parte fracionária obterá a maior média na distribuição das sobras. De fato, nas rodadas de distribuição das sobras, o PCdoB ficou com a maior média (a última de todos os cálculos, vide Tabela): 16.004 votos, maior do que a do Republicanos (15.802 votos) e do que a do Democratas (15.732 votos). Assim, o PCdoB ganhou uma cadeira adicional àquela conquistada pelo QP. Renovação coincidente Na eleição de 2016 para a edilidade recifense, 17 novos vereadores foram eleitos, resultando numa taxa de renovação de 43,5%. Neste pleito agora de 2020, a taxa foi a mesma. Votações campeãs Entre as mulheres, a vereadora Michele Collins (PP), com 15.357 votos, em 2016, segue sendo a mais votada desde a redemocratização, na história da Câmara Municipal do Recife, tanto em termos absolutos, quanto em relativos (1,78% dos votos válidos). Irmã Aimeé (PSB), também em 2016, com 14.338 votos,

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Eleição no Recife: estrutura, pesquisas e volatilidade

A candidatura vitoriosa de João Campos a prefeito pelo PSB no Recife foi embalada por uma mega estrutura de apoiamento, que consistiu de 12 partidos coligados, 40% do tempo de rádio e TV, uma base de 33 dos 39 vereadores da Câmara Municipal, de 15 deputados federais em uma bancada de 25, de 29 deputados estaduais, dos 49 da Assembléia Legislativa, de volumosos recursos financeiros do fundo eleitoral e de duas máquinas de governo comandadas pelo seu partido, a estadual e a municipal. O aparato da coligação fez lembrar de 2018, na corrida presidencial, quando boa parte dos analistas políticos prescrevia a reedição da antiga polarização PT versus PSDB pela sétima vez consecutiva, em face das estruturas que catapultavam as candidaturas destas duas agremiações. A aliança do PSDB, por exemplo, com mais oito partidos, gerou uma super engrenagem de captar votos, espraiada pelo País afora: 30% dos governadores, 54% dos prefeitos, 52% dos deputados federais, 41% dos deputados estaduais, 49% dos vereadores, 40% dos senadores, 48% do fundo eleitoral e 44% do tempo de rádio e TV. Na ocasião, como se sabe, esse “voto de estrutura”, não funcionou, o que não aconteceu agora no Recife. Aí se configurou uma importante vitória do candidato pessebista, mantendo a hegemonia do partido no estado e no município, bem como reforçando o domínio político da família Campos, além de pavimentar caminhos para o governo estadual em 2022. Apesar da estrutura e de seus méritos pessoais, o percurso de campanha do prefeito eleito não foi de todo tranqüilo, o que serve de alerta para o futuro, já que a população lhe emprestou confiança, mas de forma numericamente crítica. De fato, ainda que João tenha sempre liderado as pesquisas no primeiro turno, recebeu nas urnas uma votação aquém da esperada e registrou apenas 1,2% de diferença de votos válidos para a segunda colocada, sua concorrente de segundo turno, Marília Arraes (PT), e de somente 4,1% para o terceiro colocado, Mendonça Filho, do DEM. O segundo turno se iniciou com as seis primeiras pesquisas [Ibope (2), Datafolha (2), Ipespe e Big Data] mostrando a permanência de dificuldades no mencionado percurso e exibindo Marília à frente nas intenções de voto, exceto em um dos levantamentos do Ibope. Na reta final, no entanto, os dois postulantes se emparelharam em intenções de voto, e as quatro últimas pesquisas, realizadas entre sexta e sábado, vésperas do pleito, desfilaram algo inusitado em eleições: cravaram rigoroso empate numérico entre eles, 50% a 50% (Ipespe, Big Data, Ibope e Datafolha). O desfecho se afigurava imprevisível, projetando-se que a contenda seria decidida no photochart. Os resultados das urnas, todavia, foram bem diferentes dos levantamentos de véspera: João Campos teve 56,3% dos votos válidos e Marília Arraes ficou com 43,7%, números bem fora das margens de erro. Os candidatos restaram separados por nada menos que 12,5 pontos de percentagem. Há dois possíveis fatores explicativos para essa discrepância não captada pelos institutos. O primeiro é a elevada alienação eleitoral (abstenção + votos brancos e nulos), de cerca de 34%, com destaque para a abstenção no entorno de 21% (20% no primeiro turno). Nas pesquisas, uma proxy para esta variável é a quantidade de indecisos que, na média dos quatros levantamentos mencionados, registrou apenas 3%. O segundo é volatilidade do voto: os eleitores estão deixando para decidir em quem votar nos momentos finais do pleito, muitas vezes no próprio dia da votação. Isso se tem repetido eleição após eleição e, naturalmente, impõe dificuldades aos institutos, já que as pesquisas imediatamente anteriores ao dia do pleito têm dificuldade de apreender esse fenômeno. De fato, na primeira pesquisa do segundo turno no Recife o Datafolha detectou que 9% dos eleitores decidiram seu voto na véspera da eleição e 15% o fizeram no próprio dia (19% entre os eleitores de baixa renda). Uma parte dessa volatilidade deve-se à mudança de preferência do eleitor: dias antes na entrevista ele declina intenção de voto em determinado candidato e na hora da votação decide por outro. O grande desafio das pesquisas, então, é empreender esforços técnicos no sentido de aprimorar a coleta e o tratamento de informações, mediante refinamento de perguntas específicas nos questionários, cruzamentos, levantamentos qualitativos, etc., de sorte a captar alguns sinais do pensamento do eleitor que se mantém reticente em decidir seu voto antecedentemente ao dia do pleito. Enfim, o mais jovem prefeito do Brasil, de consagradora vitória, tem no desafio de administrar uma cidade complexa como a do Recife, com suas carências de infraestrutura e suas enormes desigualdades sócio-econômicas, a oportunidade de validar a confiança que lhe concedeu o eleitor.

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O ano letivo de 2020 pode ser um ano considerado perdido?

O ano de 2020 não começou bem para a humanidade. A Austrália enfrentou a pior temporada de incêndios de sua história, a escalada de tensão entre os EUA e o Irã, e no Brasil, destacamos o baixo crescimento do PIB do país, as enchentes no Sudeste e o Estado do Paraná enfrentando a pior estiagem de sua história. Mas sem dúvida alguma, dentre alguns dos principais fatos que marcaram o corrente ano até agora, a chegada da covid-19 trouxe inúmeros desafios em todas as áreas, pois mudamos drasticamente nosso estilo de vida e rotina em pouquíssimo tempo. Absolutamente tudo mudou, a nossa forma de realizar compras, trabalhar, encontrar com amigos e familiares e com os estudos não seria diferente. Praticamente do dia para a noite, várias instituições precisaram fechar para respeitarmos o isolamento social recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e profissionais da saúde. A escola foi uma dessas instituições que precisou ser fechada, pais, alunos e professores passaram a vivenciar um cenário completamente desconhecido. De um lado temos famílias trabalhando em home office com seus filhos em tempo integral em casa, precisando auxiliá-los em todas as atividades, inclusive nas tarefas escolares, sendo estas muitas vezes desconhecidas pelos pais. As crianças também foram muito afetadas, uma vez que perderam sua rotina escolar, sem saber expressar essa necessidade de rotina (horários adequados para acordar, comer, brincar, estudar, dormir, entre outros) aumentam seu nível de irritabilidade e stress, ficando mais chorosas. Do outro lado temos os professores, que foram desafiados a se reinventar, criar uma nova metodologia para alcançar seus alunos e transmitir o conhecimento. Uma das soluções encontradas para a educação foi o ensino a distância, popularmente conhecido como EaD, porém para este tipo de ensino é necessário obter conexão com internet. Por outro lado, o especialista em tecnologia na educação Nelson Pretto afirma que “a pandemia pode ser uma oportunidade para repensar estratégias para a educação a partir de agora”. Secretários de Educação de várias regiões traçaram inúmeras estratégias para levar educação até seus estudantes, lançando atividades pela internet, aulas pela TV aberta e distribuição de atividades impressas para aqueles que não tem acesso a internet. Sem dúvida, a pandemia trouxe vários desafios, porém o que podemos concluir é que tivemos inúmeros aprendizados em diversas áreas, e estamos conseguindo superá-los no dia a dia. Encontramos novas soluções e descobrimos novas ferramentas educacionais que antes não eram exploradas. Outra evidência a ser ressaltada é que o número grandioso de “lives” de diversas áreas do conhecimento vêm contribuindo para a formação de muitos profissionais, pois as barreiras físicas estão sendo diluídas neste novo formato que a sociedade encontrou como “solução” temporária. Desta forma é possível concluir que o ano de 2020 está longe de ser considerado um ano perdido. *Por Camila Andretta Martins é mestre em Educação e professora da Área de Educação do Centro Universitário Internacional Uninter.

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6 em cada 10 clientes vão se presentear nessa Black Friday

Em um ano não convencional, a Black Friday que ocorrerá em 27 de novembro parece ser o momento certo para as pessoas se presentearem por estarem passando e sobrevivendo a pandemia. É o que aponta a pesquisa de Inteligência de Mercado da Globo, que mostra que 65% dos consumidores pretendem aproveitar a oportunidade para se presentear. A data vem se consolidando no Brasil, principalmente no meio digital, que em 2019 teve faturamento na casa dos R$3,2 bilhões. Para 2020, a pesquisa apontou que 29% dos entrevistados farão compras só pela internet, 55% em meios físicos e digitais, e 14% comprarão em loja física. Com a alta do varejo digital, a sensação de retomada da economia e a proximidade das festividades do final de ano perfaz uma fórmula de aumento nas expectativas do consumo. Se presentear é uma forma de se recompensar por todas as frustações passadas, e uma forma de premiar nossos atos de resiliência em um ano tão confuso e incerto. Nada melhor do que nos agraciarmos por nossa bravura em enfrentar a crise. A pesquisa em questão ainda aponta que as categorias que se destacarão são as de acessórios, com 31%, eletrônicos e smartphones com 30%, seguidos por calçados, 26%, eletrodomésticos com 23% e cosmético com 21%. Vale lembrar que, geralmente, as pessoas começam bem antes a pesquisar os preços dos produtos, para adquiri-los na Black Friday, por isso, oito em cada dez vão considerar se a oferta é realmente uma promoção antes de consumir. Na forma de pagamento, o estudo mostra que ocorrerá das mais diversas formas, sendo que 67% utilizará os cartões de crédito pela facilidade do parcelamento, bem como a segurança. Adicionamos aqui a estreia do PIX, que já está agilizando ainda mais as operações. Com isso, os lojistas devem se preparar para essa data, que nesse ano terá um ar de redenção, uma forma de nos presentearmos por continuarmos firmes, em meio a essa situação atípica. Por Elizeu Barroso Alves, coordenador do Curso de Gestão Comercial e Varejo Digital do Centro Universitário Internacional Uninter.

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O efeito Biden no esfriamento político e climático

Por Tiago Andrade Lima Estamos vivendo um cenário de reta final de mais um processo eleitoral no Brasil. E essa foi a pauta dos noticiários e das últimas semanas, no entanto, de outro país, os Estados Unidos. As críticas direcionadas a quem alimentou essa pauta, como se tivéssemos que ficar alheios à movimentação política no país que tem a principal economia do mundo, são mais infundadas do que parece. Para além de uma eleição, existiram, nesse processo, alguns elementos de interesse mundial que merecem maior análise. Uma delas, de caráter político, foi a do combate ao extremismo. Sem qualquer juízo de valor sobre o governo Trump, a postura de uma pessoa pública jamais pode ser a do enfrentamento, de maneira extrema, da ciência. Negar o aquecimento global e os seus efeitos é uma postura ignorante, na mais pura etimologia dessa palavra. Segundo os dados divulgados no Relatório do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) em 2019, este fenômeno é o responsável direto por vários impactos causados sobre a Terra, incluindo incêndios florestais, mudanças na precipitação e ondas de calor. No mesmo sentido, um estudo apoiado pelas Organizações das Nações Unidas – ONU, e publicado no mês de setembro de 2020, aponta que a mudança climática pode levar mundo a um dos quinquênios (2016 – 2020) mais quentes da história. É sabido que o Acordo de Paris, o compromisso mundial vigente que trata das alterações climáticas e prevê metas para a redução da emissão de gases do efeito estufa, foi subscrito pela grande maioria dos países do mundo. No entanto, os Estados Unidos, maior emissor desses gases no mundo, não assinou esse Acordo por decisão do seu atual presidente, meramente pautada em critérios políticos e sem qualquer embasamento técnico. Para além dos efeitos negativos na pauta de redução dos riscos climáticos, ficou evidente caráter desestimulador do esforço mundial realizado por cada um dos países aderentes ao Acordo, por meio das suas metas nacionais e pôs dúvida sobre a ciência. Como acreditar em um acordo que demanda esforços financeiros dos setores públicos e privados de cada um dos países, se a principal economia do mundo dá as costas ao pacto? Isso tudo em um momento em que o mercado econômico mundial vem alinhando, de forma crescente, os objetivos financeiros do investidor com suas preocupações e valores acerca do meio ambiente, da sociedade e de questões de governança (Environmental, Social and Governance – ESG). Isso é claramente demonstrado em um estudo da BM&FBOVESPA sobre a quantidade de ativos e números de fundos que incorporaram critérios de ESG. Entre 2010 e 2012, esses ativos aumentaram 78%, passando de US$ 569 bilhões para US$ 1,01 trilhões em 720 fundos ESG diferentes. A postura de um líder político teria que necessariamente levar em consideração os critérios técnicos para a tomada de decisão. E assim, recentemente, o futuro presidente eleito, o democrata Joe Biden, anunciou que os Estados Unidos retornarão ao Acordo de Paris, demonstrando o seu esforço para fins de contenção do aquecimento global. E foi além: anunciou, como uma de suas propostas, o plano de investir US$ 1,7 trilhão para que os Estados Unidos alcancem uma marca de zero emissão de carbono em 2050. Infelizmente, por se tratar de uma proposta realizada no âmbito de um processo eleitoral tão acirrado como foi o que ocorreu no EUA, não se pode emprestar irrestrita credibilidade ao anúncio. No entanto, em momentos de radicalismo, a simples perspectiva de um cenário mais favorável ao combate das mudanças climáticas já serve de alento. Levantar a bandeira do clima, em um momento de extremismo exacerbado, tem o quádruplo efeito de mostrar a importância da ciência na tomada de decisão em um governo, de mostrar ao mundo que o combate ao aquecimento global deve ser uma pauta obrigatória de todos os países, de fomentar a adoção de critérios ESG nos investimentos pelo mundo e, por fim, de mostrar ao mundo que o radicalismo, independente de qual opinião seja defendida, é irracional e não atingirá o propagado desenvolvimento econômico com sustentabilidade. Na semana do nosso processo eleitoral, que os efeitos do ocorrido nos EUA sirvam de lição para os nossos políticos e, principalmente, para os nossos eleitores, para que às suas escolhas levem em consideração, para além das propostas e dos ideais políticos do candidato, o seu perfil de respeito (ou não) à ciência e às opiniões contrárias. Tiago Andrade Lima é sócio-titular da área de Direito Ambiental do Queiroz Cavalcanti Advocacia

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Aos senhores Vereadores do Recife

Eu me chamo Maria Bacallá, tenho 16 anos e curso o 3° ano do Ensino Médio no Colégio Equipe (rede particular). Apresento-me para deixar claro o meu lugar de fala e venho, através deste documento, exercer a cidadania, levantando questionamentos e fomentando o debate. Como é de conhecimento geral, as eleições municipais se aproximam e esse momento traz as perguntas: “O que os jovens esperam para o Recife? Os jovens se mostram engajados? Ou apenas passam a votar quando atingem a maioridade, devido ao caráter obrigatório desse ato?”. Os dados divulgados pelo TSE apontam que o eleitorado situado na faixa etária 16-17 anos corresponde apenas a 0,7% do total dos votantes brasileiros, valor muito inferior quando comparado ao 1,61%, registrado em 2016. Poderia-se argumentar que tal redução se deve à pandemia do Novo Coronavírus. Apesar do provável impacto, esse decrescimento é uma tendência a qual é ilustrada pela imagem abaixo: Esse infográfico é o reflexo do distanciamento dos adolescentes em relação à política. Muitos sentem que Política é um conceito abstrato, não conhecem os vereadores da própria cidade e, até mesmo, ignoram a sua função. Esse fenômeno conduz à falta de engajamento e à alienação e, por conseguinte, à descrença e à inércia (isso pode ser comprovado pela queda de 44%, no período 2010-2018, no número de filiados a partidos políticos, na faixa de 16 a 24 anos, segundo o TSE). Sem participação ativa nos rumos da própria cidade, o afastamento da esfera macro (estado e União) também é agravado. Em relação à minha experiência, nesses três anos de Ensino Médio, não me recordo de ter discutido, em sala de aula ou com um colega, qualquer Projeto de Lei em pauta na Câmara dos Vereadores. Essa é a realidade de adolescentes que têm acesso a um ensino de altíssimo nível e que possuem as ferramentas para dispor de informações. Agora, mudemos o foco para alunos do Ensino Público, os quais costumam frequentar colégios de qualidade deficitária, nas periferias, e apresentam condições adversas de várias ordens. Poucos terão os instrumentos para compreender o significado do jogo político e a função que cada um desempenha nele. Assim, constata-se que a educação de qualidade (desde os anos iniciais) é fundamental, mas não é suficiente. Logo, aprendizagem precisa ser acompanhada pelo desenvolvimento do espírito crítico. Dessa forma, é essencial que o vínculo entre os vereadores e os jovens seja estreitado. Visitas escolares (das redes particular e pública) à Câmara Municipal deveriam ser mais frequentes. O Projeto “Visite a Câmara” (criado em 2009, pela Resolução 241), implantado na cidade de São Carlos, deu oportunidade a alunos de aprenderem o papel do Poder Legislativo na própria instituição citadina. Além disso, a mobilização de vereadores em visitar escolas (não só em momentos de campanha eleitoral), de forma a promover debates os quais contemplem suas propostas efetivas, reforça a conexão com o jovem, desperta o seu sentimento de agente ativo na vida política e auxilia na compreensão sobre as competências do vereador. Ademais, o interesse de jovens pelos rumos políticos da cidade passa pela ocupação dos espaços públicos. A conversa de vereadores com os recifenses, nas ruas, fica muito restrita ao período eleitoral. Inúmeras praças do Recife também permanecem continuamente desocupadas, sem a presença de atividades que desenvolvam a criticidade dos jovens. Projetos como o “História ao Ar Livre”, desenvolvido pelos professores Rodrigo Bione, Luiz Paulo Ferraz e Júlia Ribeiro, caminham na contramão dessa tendência ao promover encontros gratuitos em diferentes pontos da cidade. Sem auxílio econômico do Poder Público, tais reuniões já debateram tópicos a exemplo da “Revolução Pernambucana de 1817” e “Violência contra a mulher”. Além de ampliar o leque de conhecimentos históricos, o ouvinte se torna consciente de seus próprios direitos e nota que o seu voto e suas ações produzem impacto. Desse modo, é evidente a aproximação do cidadão da vida política, posto que ele percebe a necessidade de mobilização. O movimento de aproximação juvenil da conjuntura pública leva a outros benefícios: líderes comunitários surgem, elencando reivindicações de seu grupo e encaminhando a vereadores. Esses recebem mais cobranças, os serviços melhoram e os níveis de corrupção caem, devido à fiscalização direta da sociedade civil. Diante de tudo o que foi explanado, eu volto à pergunta “O que os jovens esperam para o Recife?”. Certamente, uma cidade mais inclusiva, com espaços públicos valorizados e educação pública de qualidade. Mas é, principalmente, o Recife que, na verdade, espera uma maior atuação dos jovens e isso não vai acontecer se ficarmos de braços cruzados. Espero que essa curta reflexão sirva para que os senhores também pensem em alternativas cujo objetivo seja estimular o engajamento político. *Maria Bacallá é estudante do 3º ano do Ensino Médio do Colégio Equipe

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A importância da consciência cidadã para os eleitores

*Por Luisa Albuquerque As eleições municipais de Recife, nesse ano de 2020, ocorrerão no próximo dia 15 de novembro e, nesse período pré-eleitoral, diversos cidadãos começam a refletir sobre o que eles desejam para as próximas gestões da sua cidade. É possível, em uma análise inicial, inferir que um desejo em comum de toda a população da metrópole pernambucana é a implementação de políticas que melhorem a qualidade de vida dos cidadãos recifenses. Isso é melhor elucidado ao se perceber que problemas como a falta de mobilidade urbana, a precariedade da saúde pública e a degradação do meio ambiente não são temas contemporâneos, isto é, são problemas arcaicos que reverberam até os dias atuais. Entretanto, as pessoas não podem perder a esperança de equacioná-los. Em uma visão secundária, é cabível mencionar que também se espera para o Recife a resolução de problemas como a mendicância, que assola a metrópole há muito tempo. Podemos citar como exemplo dessa questão preocupante as palafitas próximas à Via Mangue, localizada na Zona Sul de Recife. Esse fato não é algo recente na história da cidade, uma vez que João Cabral de Melo Neto, poeta recifense, escreveu, em 1955, o livro "Morte e Vida Severina", obra que retrata as condições miseráveis de um retirante nordestino que, em certa parte do livro, acaba tendo que morar em palafitas as quais, infelizmente, permanecem na paisagem da cidade até a contemporaneidade. Além disso, é imprescindível ressaltar que um dos principais desejos dos cidadãos para as próximas gestões da cidade do Recife é a melhoria dos problemas de violência urbana. Segundo a ONG mexicana Segurança, Justiça e Paz, Recife ocupa a 22ª posição no ranking de cidades mais violentas do mundo, dado esse que contrasta com o pensamento do sociólogo Zygmunt Bauman quando, em seu livro “Confiança e Medo”, disse que as cidades surgiram, muitas vezes, como local de segurança e proteção. Entretanto, na conjuntura atual, é muito comum o sentimento de medo nas cidades, por conta da falta de segurança pública. É inconcebível falar dos planos dos recifenses sem citar a melhoria do sistema educacional na metrópole pernambucana. A educação exerce um papel de extrema importância na sociedade, inclusive, o de prevenir diversos problemas citados acima, como a degradação do meio ambiente ou o problema de segurança pública, uma vez que a falta de instrução deixa o indivíduo em situação de vulnerabilidade social, por isso se pode falar do poder transformador da educação. É possível, a partir de diálogos multidisciplinares, principalmente nas instituições de ensino, debater sobre o absurdo que é a violência no cotidiano urbano. Além disso, almeja-se, para a cidade do Recife, que tanto os administrados como os poderes constituídos, incluindo o Legislativo e o Executivo, reconheçam a importância das instituições escolares, na medida em que formam alunos cientes do seu papel na sociedade, desejando instituições de ensino que discutam assuntos que vão além dos muros da escola e que, como consequência disso, promovam vínculos da educação com a cidadania e a democracia. Chegou a hora de os cidadãos recifenses exercerem o direito democrático que lhes foi garantido na Constituição de 1988, contribuindo, com o voto consciente, para mudar o cenário atual de violação cotidiana dos direitos e garantias individuais e coletivos. Eis o caminho para que se tenha, de fato, a concretização da sociedade idealizada pela Constituição. *Luisa Albuquerque é estudante do 3º Ano do Ensino Médio do Colégio Equipe

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O que esperamos para a cidade do Recife

*Por Débora Reis Violência. Poluição. Desigualdade social. Esses são aspectos que circundam a vida na capital pernambucana, que, apesar de toda sua beleza, história e rica cultura, parece ter sido abandonada pelas autoridades locais, já que segue por anos sem melhorias significativas. Sob essa perspectiva deficitária, a melhoria dos três aspectos citados inicialmente é o que se espera para um Recife melhor. Em primeira análise, é preciso atentar para a violência que deixa o cidadão recifense inseguro para sair nas ruas. De acordo com John Locke, todo homem possui direitos naturais, como o direito à vida, e é dever do Estado garanti-los. Contudo, no cenário atual da capital pernambucana, considerada a sétima capital mais violenta do país, segundo o IPEA, o direito à vida é ameaçado quando não é oferecida a devida segurança ao cidadão, que vive em uma cidade sem perspectiva de mudança, já descrente nas autoridades. O Recife precisa ser uma cidade que atenda e proteja os seus habitantes, oferecendo uma melhor qualidade de vida à medida que garante seus direitos e dá esperança de um bom futuro para o recifense. Ademais, poluição no Recife não é um problema atual. Já na década de 50 o poeta João Cabral de Melo Neto escreve “O cão sem plumas”, um poema que revela uma preocupação com o rio Capibaribe, um dos maiores símbolos da capital pernambucana, e o seu descuido. Trazendo para o cenário atual, a realidade se agrava ainda mais, com o rio completamente poluído, assim como as ruas da grande Recife. A poluição nas ruas da cidade degrada a imagem da capital e se apresenta como oportunidade para o desenvolvimento de focos de doenças, prejudicando, além de tudo, a saúde pública. No entanto, apenas o recolhimento mais assíduo desse lixo, junto com a reciclagem, não será suficiente para mudar essa imagem, de forma que é necessário que haja campanhas para um consumo consciente por parte dos cidadãos. Não adianta apenas querer remediar a situação, é preciso que as raízes do problema sejam o foco para combate. Convém, também, ressaltar que a desigualdade social é um dos maiores problemas que persistem na cidade do Recife. Segundo dados do IBGE, dos 1,6 milhão de habitantes que vivem na capital, 600 mil vivem abaixo da linha de pobreza, número gritante que resulta numa reação em cadeia para os mais diversos problemas enfrentados pelo Estado. É difícil esperar que uma população que vive com o mínimo para sobreviver consiga adotar medidas básicas de higiene para ajudar na luta contra o novo coronavírus, por exemplo, o que se transforma em um problema também de saúde pública. Nesse contexto, também é improvável que um aluno que viva nessa realidade consiga se adequar ao estudo online ou sequer ter material para estudar em casa, gerando mais uma barreira para o desenvolvimento da capital pernambucana. De acordo com Rousseau, a escola tem o poder de transformar um indivíduo em cidadão, mas a desigualdade social ocasiona uma precariedade no ensino público, fazendo com que menos cidadãos sejam formados e, assim, a esperança por um Recife melhor. As eleições de 2020 vêm para trazer esperança para os recifenses de que há, sim, a preocupação com o futuro da cidade e daqueles que ali habitam, de forma que a vida passe a ser prioridade e o bem-estar da população seja garantido, como é dever do governo. Além disso, o estímulo ao consumo consciente por parte da população através de campanhas do governo municipal pode ser um bom aliado no combate à poluição, sem deixar de lado uma limpeza mais eficaz e regular das ruas com a implantação de coletas seletivas e campanhas de reciclagem. Programas sociais que visem diminuir a desigualdade social também devem fazer parte da nova realidade da capital pernambucana, sem esquecer de investir mais nas escolas municipais, para garantir uma boa educação ao jovem recifense. Sendo a educação a base de tudo, sua priorização tende a melhorar os diversos problemas enfrentados na realidade do Recife. Débora Reis é aluna do 3º ano do Ensino Médio do Colégio Equipe

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