Arquivos Artigos - Página 6 de 18 - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

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O arcabouço fiscal e as expectativas do mercado e da sociedade

*Por Luiz José de França A suspensão da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e comitiva à China, em função da inesperada pneumonia do inquilino do Palácio do Planalto, acelerou, como esperado, a divulgação da proposta do novo “arcabouço fiscal” para a economia do País. Deixando de viajar, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, acertou em definitivo o teor da proposta com o presidente Lula e acelerou seu programa de visita aos chefes dos poderes legislativos e demais autoridades, que deveriam ter acesso ao seu conteúdo antes que a sociedade viesse a tomar conhecimento do seu teor – o que ocorreu , em entrevista coletiva, na última quinta-feira pela manhã. Na verdade, foram divulgadas as linhas gerais e intenções da proposta, pois o conjunto ainda precisará ser detalhado, transcrito no linguajar legal para ser enviado ao Congresso neste mês de abril, onde será debatido, analisado e aprovado em partes ou não. Em linhas gerais, a proposta aponta para: Meta geral Zerar o déficit público da União no próximo ano; superávit de 0,5% do PIB em 2025; superávit de 1% do PIB em 2026. Objetivos importantes Preservar gastos considerados prioritários em saúde, educação e segurança; Aumentar investimentos públicos e impulsionar o crescimento econômico; Controle da dívida pública e da inflação. Pontos diversos 1. Investimentos: Haverá um piso para os aportes em investimentos. Será de R$ 75 bilhões mais a inflação do ano. 2. Trava para gastos: As despesas do governo deverão crescer abaixo da expansão das receitas. Os gastos só poderão subir o equivalente a até 70% da variação da receita. A receita será apurada entre junho e primeiro de julho, já que o Orçamento é enviado em agosto. Em 2024, por exemplo, a receita considerada será entre julho de 2022 e junho de 2023. 3. Gastos: Haverá uma banda para o crescimento real das despesas, independente do comportamento da arrecadação. As despesas sempre crescerão entre 0,6% a 2,5% ao ano acima da inflação. O objetivo é criar um mecanismo anticíclico. Ou seja, em momentos de economia mais fraca, o gasto seria maior. E em momentos de alta, isso não vira gasto. 4. Educação e saúde: Investimentos em educação, especificamente no Fundeb, ficarão de fora do limite para gastos, porque já preveem vinculação constitucional. Os gastos com o novo piso de enfermagem também serão excluídos da trava nos gastos. 5. Resultado primário: As contas públicas terão a meta de voltarem ao azul em 2025. A previsão, para este ano, 2023, é de um déficit primário (receitas menos despesas, descontando o pagamento de juros da dívida púbica) de 0,5% do PIB. Em 2024, este déficit ficaria zerado. E, em 2025, haveria um superávit de 0,5% do PIB. 6. Bandas: Essas metas de resultado primário seriam cumpridas dentro de bandas, com um intervalo de 0,25% para mais e para menos. Para este ano, a margem é de um déficit entre 0,25% do PIB e 0,75% do PIB. 7. Margem para investir: Se as contas públicas tiverem um resultado superior ao previsto na meta, este excedente será direcionado a investimentos. 8. Trava: Se, por outro lado, o resultado primário das contas públicas ficar abaixo da meta, o governo é obrigado a reduzir as despesas para no máximo 50% da expansão da receita no ano seguinte. As reações à proposta do arcabouço, exibidas pela imprensa, foram variadas, desde as que a consideram válida e factível até as que a rotulam como não crível. Ao fim e ao cabo, a simpatia pela proposta foi maior do que a crítica. Até o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que insiste em manter a atual taxa de juros nos elevados 13,75%, que são um entrave ao projeto econômico de crescimento atual do governo, destacou, diplomaticamente, o que chamou de “esforços do ministro Fernando Haddad”. A questão central já posta por diversos economistas e estudiosos do fenômeno fiscal está na qualidade do gasto e na forma como se darão os cumprimentos da meta estabelecida no superávit. E, como no médio prazo, estes novos fundamentos serão encarados. Como uma regra de ouro ou como uma política cíclica que poderá ser modificada? Isso porque o gasto público é volátil e constante e - por opção do legislador constituinte de 1988 vinculados a receitas da União, dos Estados e dos Municípios. E, portanto, as suas premissas (do gasto vinculado a receita) devem ser perenes. E aí entra em discussão a falta de projeto que norteia as ações imediatas deste governo e de todos os outros que o antecederam desde Fernando Henrique Cardoso. A Sociedade brasileira neste tema e em outros não menos urgentes aguarda definições. Não há mais tempo a perder. *Luiz José de França é advogado

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Tubarão ataca de novo. E o poder público?

*Antonio Ribeiro Júnior Estamos acompanhado, nos últimos dias, uma sequência de ataques de tubarões em praias do litoral pernambucano. Principalmente, em pontos já conhecidos e que são identificados como impróprios para o uso de banhistas, em razão do risco de ataques, com base em estatísticas e casos anteriores. Como medida educativa, o poder público inseriu sinalização, orientando e recomendando à população a não entrar nessas faixas de mar, sob o risco de ataques. Entretanto, o que se observa é a total desconsideração dos alertas e uso frequente dos espaços, apesar de todos os esforços dos profissionais salva-vidas. O cenário atual não é novidade no Estado. Em anos anteriores, também por causa de ataques de tubarões, trechos de praias foram interditados para uso da população e realização de estudos sobre os motivos e possíveis soluções. Interdição? Agora, mais uma vez, a situação se mostra necessária. A interdição de acesso da população ao mar, em determinados locais, é solução adequada e necessária para evitar a nova reincidência de uma estatística que tem o seu tempo de vacância, regredindo a cada novo ataque. Se, antes, entre um ataque e outro, passavam-se 15 ou 30 dias, hoje, acontecem com 24 horas. Do coronavírus ao tubarão A pandemia do coronavírus veio para mostrar que nem sempre as medidas de Estado para o bem da população são as mais populares. Porém, mesmo assim, devem ser tomadas. Inclusive, a omissão do poder público em agir pode resultar em processos judiciais e sanções. Dever de resguardar a vida A ausência de posição do poder público, neste momento, não é só uma omissão grave contra o impacto do desenvolvimento econômico no ecossistema marítimo. Mas, sobretudo, no papel de guardião da integridade física e o dever de resguardar a vida do cidadão. *Antonio Ribeiro Júnior é consultor jurídico, advogado na área de Direito Público, especialista em direito eleitoral, além de professor, autor de artigos jurídicos, sócio do escritório Herculano & Ribeiro Advocacia e membro da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (ABRADEP).

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SBPC-PE celebra o Dia Internacional da Mulher com fatos e fotos

*Por Maria do Rosário de Fátima Andrade Leitão (Secretária Regional SBPC-PE) e Maria do Carmo Figueredo Soares (Sócia da SBPC Regional-PE) Março 2023, iniciamos visibilizando as mulheres eleitas para a Secretária Regional de Pernambuco (SBPC-PE). Foram 4 mulheres em um universo de 21 cientistas que se comprometeram a apoiar e estimular a ciência, defender a liberdade de pensamento e obter recursos para a realização de pesquisas científicas, de eventos e de atividades fomentando o compromisso ético na divulgação científica. Tratam-se de pessoas que têm contribuído, desde 1951 quando da fundação da nossa regional, ou seja, ao longo de 72 anos, no processo de diálogo entre a ciência e a sociedade. Quatro mulheres que romperam o “teto de vidro” e o “labirinto de cristal”, ao superarem obstáculos e contribuírem para modificar a inclusão subalterna das mulheres nas ciências e sub-representação feminina nas posições de prestígio no campo científico (Lima, 2013)1. Estas cientistas foram: Naíde Regueira Teodósio (Gestão 1971-1973), Rejane Jurema Mansur Custódio Nogueira (Gestão 2011-2015), Maria do Carmo Figueredo Soares (Gestão 2019-2021) e Maria do Rosário de Fátima Andrade Leitão (Gestão atual, a partir de 2021). São 10 anos da liderança feminina para 62 anos de liderança masculina, esta diferença deve-se à socialização e a naturalização da identidade das meninas e mulheres fundamentadas na predominância do espaço privado, em detrimento do público e da divisão desigual do trabalho doméstico, além dos preconceitos existentes em uma sociedade patriarcal. As conferências das mulheres e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, especificamente o ODS, no 5 referem-se a igualdade de gênero, que consiste em empoderar todas as mulheres e meninas, eliminar todas as formas de discriminação e violência as quais estão historicamente submetidas, seja nas esferas públicas e privadas e possibilitar a participação plena e efetiva das mulheres, a partir da igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública. Precisamos celebrar as conquistas, mas termos consciência do caminho e da necessidade de novas conquistas solidárias. É importante também explicitar as ações afirmativas desenvolvidas no Brasil, para visibilizar as mulheres na ciência, entre elas: 1) O Programa Mulher e Ciência, uma política pública criada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico -CNPq para “estimular a produção científica e a reflexão acerca das relações de gênero, mulheres e feminismos no País; promover a participação das mulheres no campo das ciências e carreiras acadêmicas” e, 2) O Prêmio Carolina Bori Ciência e Mulher, criado em 2015, pela SBPC, com os objetivos de fomentar a inclusão das mulheres na ciência e contribuir no aumento da participação das novas gerações de cientistas, 3) o Progama Futuras Cientístas cujo objetivo consiste em ampliar o acesso de meninas e mulheres às áreas de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática, incentivando-as a buscarem carreiras nessas áreas. Entre os módulos do programa estão: imersão científica, banca de estudos, mentoria e estágios; 4) o movimento Parent in Science criando guia com ações que podem ser adotadas em instituições de ensino e pesquisa visando auxiliar o processo de mudança sóciocultural. Disponível em: https://bit.ly/guia_pis_apoio_mulheres_ciencia . O guia chama a atenção à necessidade de “um compromisso contínuo e real para proporcionar igualdade de oportunidades para as mulheres na ciência, para que elas possam alcançar seu potencial e contribuir plenamente para a sociedade e a ciência”.

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Ana das Carrancas: a imortalidade e a grandeza da Dama do Barro

*Por Antonio Coelho, Deputado estadual O dia de 18 de fevereiro é comumente mais um entre os 365 pertencentes ao nosso calendário anual. Contudo, o deste ano, 2023, tem um significado especial, particularmente para nós, sertanejos, e para todos os pernambucanos. É uma data que nos remete ao centenário do nascimento da artesã e ceramista Ana das Carrancas (Ana Leopoldina dos Santos). É com o coração saudoso e inspirado pela imortalidade e grandeza da sua arte que registro em palavras a minha homenagem aos cem anos de uma artista que deu vez, voz e visibilidade ao nosso sertão, deixando um importante legado para as culturas pernambucana e nordestina, que vai além da sua vida e do seu talento. A Dama do Barro, como também ficou carinhosamente conhecida no Brasil e no mundo, carrega na alma a honradez do caráter do povo sertanejo que, diante das mais adversas condições, reinventa-se, torna-se único e grande tal qual sua fé, tal qual seu rio, o nosso São Francisco. A carranca com os olhos furados, em homenagem ao marido deficiente visual, é a marca principal dessa brilhante artesã, que é natural da cidade de Ouricuri (PE), mas foi abraçada e acolhida como filha pela nossa querida Petrolina, cidade onde produziu sua primeira carranca às margens do Velho Chico. Desde então, dedicou-se à sua arte por cerca de 40 anos, garantindo-lhe o sustento e o da sua família. O reconhecimento a essa mulher batalhadora e à frente do seu tempo não demorou a chegar e se espalhou pelo país e mundo afora. Da nossa parte, o sentimento também é de dever cumprido no sentido de valorizar essa personalidade artística, cuja obra lhe rendeu grande relevância no cenário cultural brasileiro. É de nossa autoria a Lei 17.082/2020 que reconhece, oficialmente, Ana das Carrancas como Patrona da Arte Ceramista de Pernambuco. O patrono representa um reconhecimento àquele que luta, cria e defende uma causa, uma ideia; atua para proteger o seu legado de influências externas que não reflitam e/ou não tenham interface sobre as ações criadas. Dessa forma, o patrono trabalha em prol da perpetuação da arte, do seu legado, antes e após a morte. Mais um merecido título aprovado para essa grande pernambucana, grande petrolinense, que se somou a outras duas honrarias anteriormente recebidas: a Ordem do Mérito Cultural (2005) e o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco (2006). A mestre ceramista nos deixou em 2008, todavia, felicita-nos acompanhar que sua obra segue perpetuada por suas filhas Ângela e Pepê, as quais seguem ensinando o ofício da mãe a outras gerações através do Centro de Arte e Cultura Ana das Carrancas, cujo objetivo é incentivar e difundir a preservação, o resgate e o intercâmbio da arte e da cultura. A instituição, fundada em 1995, tem sido uma referência regional no artesanato de barro. Cidade que a acolheu, abraçou e a tem como verdadeira filha, Petrolina e o sertão seguirão festejando o ano inteiro, reverenciado e preservando a obra e as trajetórias pessoal e artística dessa ilustre artesã, ceramista e louceira que a tantos inspirou e ainda inspira com seu exemplo de determinação, força e fé.

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Crítica: Maquiavel, a democracia e o Brasil

*Por Rafael Dantas O mais recente livro de Renato Janine Ribeiro, Maquiavel, a democracia e o Brasil (pela Edições Sesc São Paulo e pela Editora Estação Liberdade), faz um mergulho nos conceitos do clássico O Príncipe e apresenta uma série de reflexões sobre a democracia brasileira atual. As rupturas e continuidades entre o contexto das monarquias e da idade média e o atual momento político ganham dimensões bem diferentes, respondendo a percepções sociais quase que opostas sobre a legitimidade e perspectiva de poder dos seus governantes. A análise de fatos passados nos principados italianos e em algumas monarquias e a comparação com as práticas de poder político no Brasil desde a redemocratização até o governo Bolsonaro são observados pelo autor sobre as lentes da fortuna e de virtù, ambas tratadas por Maquiavel. Destaque para o debate sobre o papel e a atuação das instituições que atuam na democracia e limitam o poder do governante. Afinal, qual o papel delas na transição para mudanças esperadas na sociedade ou para a continuidade do contexto social presente? O autor compreende que as instituições assumem uma relevância diferente quando se trata de países mais desenvolvidos e quando em questão está um Estado com intensas desigualdades socioeconômicas estruturais, como é o caso brasileiro. Em ambos os contextos e nos diferentes períodos em que os conceitos de Maquiavel podem ser estudados, Janine considera que uma questão transversal é a da legitimidade. Eis uma temática extremamente atual no Brasil e em outros países mesmo com longas experiências democráticas. A crise da legitimidade, que ganhou volume com a disseminação das novas tecnologias digitais, é um dos desafios intensos do panorama político nacional e internacional há alguns anos. Janine faz uma leitura histórica dos presidentes brasileiros, traduzindo suas trajetórias de acesso ao poder e de governabilidade por esses dois conceitos: a fortuna e a virtú. Como se mantiveram na gestão até o final de seus mandatos e como conseguiram vencer as eleições. Alguns chegando ao poder pela fortuna e governando com a vírtu , por exemplo. Outras experiências ascendendo e governando através da virtú. O autor não se esquiva de classificar os nossos presidentes. Trata-se de um breve passeio pela nossa lista de ex-presidentes, mas com a lente dessa percepção de Maquiavel. QUEM É RENATO JANINE RIBEIRO? Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo (USP), na qual se doutorou após defender mestrado na Universidade de Paris I (Pantheon-Sorbonne), França. Tem-se dedicado à análise de temas como o caráter teatral da representação política, a ideia de revolução, a democracia, a república e a cultura política brasileira. Foi ministro da Educação no governo Dilma Rousseff e, em 2021, eleito presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Entre suas obras destacam-se A sociedade contra o social: o alto custo da vida pública no Brasil (2000, Prêmio Jabuti de 2001) e A boa política: ensaios sobre a democracia na era da internet (2017), ambas pela Companhia das Letras, além de A pátria educadora em colapso (Três Estrelas, 2018). Pela Estação Liberdade, no fim de 2021, publicou Duas ideias filosóficas e a pandemia. ONDE ADQUIRIR O LIVRO? O livro pode ser adquirido pelo site da editora Sesc São Paulo *Rafael Dantas é repórter da Revista Algomais e assina as colunas Gente & Negócios e Pernambuco Antigamente. Com especialização em Gestão Pública, ele é mestre em Extensão Rural e Desenvolvimento Local (rafael@algomais.com)

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O nosso 8 de janeiro

*Por Antônio Henrique Lucena Os eventos do domingo 8 de janeiro, em que o Congresso Nacional, Supremo Tribunal Federal e o Palácio do Planalto, sede do executivo, foram invadidos por uma turba, causou perplexidade dentro e fora das fronteiras nacionais. Aproximadamente há dois anos, no dia 6 de janeiro, o mesmo movimento pôde ser visto nos Estados Unidos, com a invasão do Capitólio onde o vice-presidente Mike Pence iria confirmar a vitória eleitoral de Joe Biden, do partido Democrata, contra o republicano Donald Trump. O rito, apenas processual, de confirmação do resultado das urnas, era contestado pelo então presidente Trump com alegações falsas de fraude. A mesma dinâmica passou a ser emulada pelo presidente Jair Bolsonaro em defesa do "voto impresso" em claro ataque às urnas eletrônicas. As semelhanças dos eventos são inevitáveis: nos EUA, o então mandatário americano incentivou as pessoas a irem ao Capitólio protestar e evitar a confirmação do nome de Biden; no Brasil, Bolsonaro passou meses colocando em dúvida o mesmo processo eleitoral que o elegeu no passado e, na eleição de 2022, formou a maior bancada de direita desde 1985. O que há de comunidade entre os dois eventos? Ambos os casos foram incentivados por líderes populistas. Timothy Snyder, autor do livro Na contramão da liberdade: a guinada autoritária nas democracias contemporâneas, nos ajuda a entender o fenômeno do fortalecimento do autoritarismo. O autor americano identifica que o ano de 2011 é o início do processo de corrosão das democracias com a volta do pensamento totalitário. No ano seguinte, ocorreu o colapso da política democrática na Rússia, com a consolidação do poder de Vladimir Putin. Snyder mostra como Putin recuperou as ideias do pensador fascista Ivan Ilin (1883-1954) para dar legitimidade teórica a sua defesa nacionalista de uma grande Rússia. As redes sociais também tiveram uma grande importância na eleição de Trump, em 2016, sendo facilitada por uma estratégia de desinformação massiva (chamadas de fake news), com apoio do Kremlin, por meio de robôs no Twitter e Facebook, e onde a democracia corre o seu maior risco. Um dos estrategistas da campanha de Trump, Steve Bannon, foi um dos "oráculos" que defendia uma campanha divisionista. Bannon passou a assessorar a família Bolsonaro em algo que foi aplicado nos Estados Unidos: o uso de "verdades alternativas", como as notícias falsas, e teorias conspiratórias. O antigo planejador da campanha MAGA (Make America Great Again), promove uma visão extremista do mundo. Bannon se consolidou como um ideólogo da direita radical populista. Os movimentos de enfraquecimento da democracia podem ser à esquerda (Venezuela) ou à direita (Hungria), como ressaltado por Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, que estudam o problema da atual radicalização da polarização. Em Como as democracias morrem, os autores enfatizam que o método de destruição da democracia é o mesmo para populistas de um lado ou de outro. Uma norma democrática fundamental é a tolerância mútua e a reserva institucional: os concorrentes políticos são rivais legítimos e o comedimento é necessário. Ao levar o combate institucional a seus limites, como fazem os líderes populistas, eles buscam estabelecer uma derrota permanente dos seus rivais partidários, o que leva a uma polarização sectária extrema que vai muito além das diferenças políticas. Líderes autoritários, quando não são contidos, buscam alterar o sistema para ganhar mais poder, como ocorreu na Hungria, com Viktor Órban e na Turquia, com Recep Tayyip Erdogan. As lições do Século 20 é que as instituições precisam ser defendidas para que se evite guinadas autoritárias, tiranos não podem ser apaziguados; por isso a derrota de Putin na Ucrânia é fundamental, e que golpes antidemocráticos não podem ser tolerados. Nos Estados Unidos, o ataque ao Capitólio gerou a maior investigação da história do Departamento de Justiça: 950 pessoas foram indiciadas e detidas. Que o mesmo ocorra com aos atos de terrorismo doméstico do nosso 8 de janeiro. *Antônio Henrique Lucena Silva é Doutor em ciência política, professor e da Unicap e da Faculdade Damas

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Os novos desafios da advocacia

*Por Jorge Rocha Júnior Com tantas mudanças em nosso cotidiano, sejam nas relações pessoais ou profissionais, surgiram novos desafios à advocacia. As transformações, nomeadas de "advogado 4.0”, #advocaciadigital, entre inúmeros títulos, trazem o questionamento se o profissional da área realmente deve atuar de maneira distinta de como fazia há 6, 8, 10 anos atrás. Princípios da advocacia como probidade, independência, decoro, ou seja, o que é essencial e faz parte da maneira com que se atua, são imutáveis, pois pela sua própria natureza superam a ordem do tempo. Porém, o novo advogado também deve compreender as relações que se tornam cada vez mais intangíveis, como também entender sua atuação. Os generalistas, que sempre foram criticados por se acharem “experts” em todas as relações jurídicas e expressarem sua compreensão em quase todos os assuntos, foram deixados para trás pela força do tempo. Num passado não muito distante, os especialistas em determinadas searas do direito também foram criticados por uma visão limítrofe, rotulada por lhes faltar a compreensão do todo. Por isso, ser um especialista com uma boa bagagem do cenário do direito, da economia, das relações interpessoais e principalmente da sua área de atuação, é um dos principais requisitos necessários para exercer a profissão com excelência. A LGPD, o Compliance e as mudanças das relações virtuais vieram para demonstrar que tais avanços trazem a necessidade de uma visão mais ampla da sociedade para o novo profissional. Além disso, a grande velocidade da informação impõe transformações que podem fazer com que um novo cliente se torne o novo unicórnio do momento, enquanto, em paralelo, outro cliente com maior experiência de mercado necessita fechar as portas porque não se adequou ao novo. Assim, é necessário que o novo profissional entenda em que cenário da história está posicionado e qual a melhor forma de enfrentar os novos desafios da advocacia, sem esquecer de manter o foco nos sonhos que tanto almejou quando conseguiu sua habilitação na OAB. *Jorge Rocha Júnior é gestor jurídico de organização social na área da saúde e especialista em sistema de integridade

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Desafios do Desenvolvimento para o Agronegócio no agreste pernambucano

*Por Prof. PhD Saulo Gusmão da Silva de Tarso. Pode-se discutir muito sobre o mercado da bacia leiteira e setor avícula no estado, como quais os fatores poderiam interferir na precificação do leite cru, do queijo de coalho, ou dos grãos usados na dieta das aves. Muito embora estes sejam elementos relevantes ao mercado, refletindo na capacidade de desenvolvimento do segmento, pode-se considerar que a visão de precificação do mercado esteja diretamente relacionada com questões de nível ambiental e do comportamento de consumo da população. Em Pernambuco e essencialmente no Nordeste, as propriedades rurais caracterizam-se em uma estrutura minifundiária, com vasta predominância de micro e pequenas propriedades. Isso determina a forma com que a produção se efetiva em termos de uso da terra disponível. No geral, propriedades pequenas têm sido cada vez mais expostas a ações de desmatamento, sobreuso e compactação do solo por máquinas pesadas, por conta da maior facilidade de acesso a estes implementos agrícolas. É importante perceber que o termo desmatamento tem sido implicado somente ao derrubamento de florestas em biomas como a Mata Atlântica e Amazônia, de tal maneira que a destruição de áreas de cobertura vegetal, incluindo a derrubada de árvores, não parece ser levada a sério como um crime ambiental em biomas como a caatinga e nas transições deste, tipicamente encontradas em regiões de Agreste. O impacto destas ações de desmatamento, cada vez mais frequentes em zonas rurais onde encontram-se pequenos produtores de característica familiar, tem causado um efeito de “pano de retalhos” sobre as paisagens rurais, especialmente no Agreste. Imagens de satélite dessa região mostram que o Agreste por possuir historicamente o somatório de fatores como; propriedades de tamanho menor, clima ameno com maiores precipitações chuvosas quando comparado ao sertão, o que favorece à produção de lavouras como o milho e feijão, fazem com que a terra sofra com sobreuso de maquinários agricolas pesados em áreas de extensões reduzidas. De tal maneira que, é fácil calcular o que uma hora de trator que custa hoje em tono de R$150 a 200, pode causar em uma micro propriedade, tanto em termos de compactação do solo, como em destruição e desmatamento de cobertura vegetal para expansão da produção em novas áreas. Por tudo isso, a produção agrícola e pecuária em regiões de semiárido, têm sido influenciadas pelas pressões por eficiência produtiva e por modelos impostos por centros localizados no sudeste e centro-oeste do país. Persuadidos pela falsa propaganda de que “O Agro é Pop”, ainda quando o agronegócio praticado nessas outras regiões do país é baseado na exportação de comodites e na produção latifundiária, nada tendo relação com produção rural popular. Sendo esta produção amplamente conhecida por produzir alimentos à custa de desmatamento, queimadas, altas taxas de emissão de carbono e crimes ambientais. Estes elementos nos levam a elencar a questão ambiental como principal desafio para o desenvolvimento dessas cadeias, por influenciar negativamente o consumo de uma população que tem acesso à informação e que deseja acesso a produtos ecologicamente corretos, levando assim a níveis cada vez maiores de comportamentos como vegetarianismo e veganismo. Isso implica ao produtor nordestino, a responsabilidade de uma destruição ambiental, quando na verdade, nossa região deve, ou deveria manter suas essências minifundiárias. Portanto, além do prejuízo ambiental que o centro-oeste e sudeste causam, existe a influência que estas ações geram no comportamento alimentar da população. O caminho que o nordeste tem percorrido é para um nível de destruição ambiental que além de se equiparar ao que se pratica em outros biomas, pode ter um resultado mais grave, pois a capacidade que as terras de clima semiárido têm de se recuperar de desmatamentos é infinitamente menor, comparadas com regiões de maior precipitação chuvosa, solos mais profundos e férteis. *Saulo de Tarso integra o Núcleo de Inovações Agrárias para o Nordeste e é docente do Programa de Pós-Graduação em Sanidade e Reprodução de Animais de Produção, na Universidade Federal do Agreste de Pernambuco, Garanhuns, PE, Brasil. E-mail: saulo.detarso@ufape.edu.br

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Eleições 2022: Federalismo, paradiplomacia e desafios em Pernambuco e no Brasil

*Por Tiago Lima Carvalho da Silva O avanço internacional dos entes federados brasileiros evidencia a necessidade de uma melhor compreensão desse fenômeno. Embora nas décadas de 1990 e 2000 a internacionalização das cidades tenha se consolidado e se tornado uma prática mais comum, os estados federados também têm recebido atenção por suas incursões no mundo exterior. Nesse sentido, a literatura vem desenvolvendo métodos para entender em que medida tais atividades afetam os processos decisórios, inclusive a própria política externa brasileira. A política externa pode ser entendida como uma série de ações e decisões tomadas por um determinado ator (não necessariamente um estado) em relação com outros estados ou atores externos influenciados por influências domésticas e/ou internacionais. Tradicionalmente, tem sido entendido como uma "política nacional" atuar em áreas sensíveis como a integridade territorial e a soberania nacional. No entanto, a política externa de um país deve representar uma síntese de interesses diferentes e muitas vezes conflitantes. Esse caráter constitutivo da política externa a torna propensa a mudar de acordo com o governo da época e a estar vinculada a outras esferas de governo e até mesmo à sociedade. No Brasil, o Itamaraty considera que a política externa tem uma tradição histórica relativamente contínua, que remonta à época do Barão Rio Branco. No entanto, a presidência de Jair Bolsonaro abandonou essa tradição. Em 2019, várias declarações polêmicas do governo federal foram alarmantes e responsáveis pela erosão da imagem internacional do Brasil. As ações diplomáticas realizadas por Ernesto Araújo parecem seguir o que Lima e Albuquerque (2019) chamam de “estratégia do caos”. O objetivo das atividades de política externa é manter a lealdade e a agitação do eleitorado do atual presidente. No entanto, em um contexto de questionamento da validade da agenda de política externa proposta pelo governo Bolsonaro, as ações e atividades internacionais de entes federativos sugerem caminhos para atingir determinados objetivos. Destaca-se, assim, um possível ponto de virada na paradiplomacia do Brasil, que em particular tem se mostrado complementar à política externa do país, pelo menos desde a redemocratização. Partimos da hipótese de que um tom menos conciliador e progressivamente radical adicionado à agenda utilizada na chamada “nova política externa brasileira” entre janeiro de 2019 e março de 2021 exacerbaria os desequilíbrios federais e prejudicaria os governos locais, portanto, as eleições de 2022 são de fundamental importância para a futura formulação da política externa do país. 2. A PARADIPLOMACIA NO BRASIL A paradiplomacia, também conhecida como diplomacia paralela, é um termo que teve sua origem e desenvolvimento através do acadêmico Panayotis Soldatos (1990) para designar a relação de entes subnacionais – no caso brasileiro, estados e municípios – no ambiente internacional, visando a promoção de seus interesses. Originalmente, a paradiplomacia foi estudada em países norte-americanos e europeus, a partir de uma perspectiva fenomenológica (KUZNETSOV, 2015). Os estudos nos países norte-americanos estavam fortemente influenciados pelo “neofederalismo”, que marcou o processo de internacionalização dos Estados canadenses e norte-americanos, consequentemente, isso levou a maiores aprofundamentos sobre a organização federal e, bem como, aos mecanismos institucionais desenvolvidos para lidar com a nova complexidade das relações internacionais. De forma semelhante, o processo de integração europeia produziu um maior protagonismo nas regiões e cidades, que passaram a procurar por representações a partir de uma estrutura supranacional, ou seja, sem a ação direta de um primeiro-ministro. No Brasil, tal proposta de uma política externa descentralizada apenas surgiu na década de 1990, com a Análise da Política Externa do Brasil (APE). Nesse sentido, em meio ao debate sobre a descentralização da política externa, o modelo de segregação democrática passou a ser questionado, tal modelo havia, em outros momentos, caracterizado o processo decisório das relações exteriores do Brasil. Cabe destacar o importante papel de autores como Mónica Salomón (2011), Tullo Vigevani (2006) e Manoela Miklos (2010), dentre outros, nos estudos de APE, que contribuíram para a definição dos campos de atuação dos estados e municípios, na política externa do país. Ao nos aprofundar na temática da paradiplomacia é importante perceber o debate central que emerge da literatura, tanto brasileira, quanto estrangeira, em torno da dualidade risco-oportunidade na política externa de uma nação. De acordo com Duchacek (1990) e Soldatos (1990), um dos maiores riscos desse processo está na fragmentação da voz externa de uma nação e, consequentemente, os danos que isso pode trazer às ações estratégicas. Esse fenômeno marcaria o debate em torno do fenômeno da paradiplomacia e caracterizaria a tensão permanente na relação entre os governos centrais e os governos locais nas relações exteriores. Para Álvaro Branco (2011), o Brasil tem observado a paradiplomacia nas questões estruturais do próprio sistema federativo, visto que, a concentração de recursos federais tem levado a “guerras fiscais” de estados e municípios em busca de receitas. Por sua vez, o que Ironildes Bueno (2010) chamou de “ativismo internacional dos governadores” tornou-se uma prática institucionalizada no Brasil a partir da década de 1980, primeiro no Rio de Janeiro (1983) e no Rio Grande do Sul (1987) e, posteriormente, estendida a outros estados. Em seu início a paradiplomacia foi vista como um desafio ao então vigente modelo de segregação burocrática que deu os fundamentos da política externa, especialmente no âmbito federal, pois era responsabilidade da União realizar todas as atividades diplomáticas. Isso se refletiu na criação da Secretaria Especial de Assuntos Internacionais do Estado do Rio Grande do Sul (1987), que trouxe um forte foco institucional ao Ministério das Relações Exteriores e marcou a agenda internacional (NUNES, 2005). Nesse cenário, a apreensão do Itamaraty marcou os primeiros anos da paradiplomacia no Brasil, em decorrência dos riscos de contradições nas relações internacionais do país. A partir da criação da Assessoria de Relações Federais (1997) a postura de apreensão deu lugar a valorização e aceitação das ações internacionais perpetradas pelos estados e municípios, o que ampliou a legitimidade política das práticas locais. Desde então, foi desenvolvida uma política nacional de acompanhamento e incentivo à diplomacia nos níveis estadual e municipal dentro da linha geral da política externa nacional. No governo de Fernando Henrique Cardoso a premissa foi

Eleições 2022: Federalismo, paradiplomacia e desafios em Pernambuco e no Brasil Read More »