Arquivos Cultura e história - Página 355 de 355 - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

Cultura e história

Uma princesa negra

Nestes dias em que o preconceito racial insiste em contrariar a razão, convêm alguns esclarecimentos. Para começar, diga-se que as etnias – ou raças, se você preferir – possuem características que as diferem graças a fatores como a adaptação aos diversos ambientes onde os agrupamentos humanos viviam. Já que os negros são os mais atingidos pela discriminação, pergunta-se: você sabia que a etimologia da palavra África significa algo como ensolarado...? É na luz solar que se pode entender o porquê da pele escura. A pele branca é característica dos que vivem em ambientes onde o sol é menos intenso, não significando, pois, que ser branco implique alguma vantagem. Acontece que a pele clara faculta sintetizar a vitamina D com menos claridade, enquanto as pessoas de pele escura precisam de mais sol para sintetizar a mesma quantidade da vitamina. Se fosse possível transpor todos os brancos para a África e todos os africanos para a Europa, os primeiros sofreriam o efeito decorrente da insolação, enquanto os africanos passariam a ter avitaminose D e suas consequências. Basicamente, então, está explanada a única função da pele clara. É apenas uma adaptação evolutiva, não havendo nenhum motivo para alguém se sentir superior pelo simples fato de ser alvo e ter os olhos azuis. Ademais, como é sabido, viemos de homens primitivos, negros, que migraram da África para a Ásia e a Europa. Então, a conclusão é lógica, praticamente não existe a decantada raça pura. Aliás, a ideia do arianismo, glorificada por um maníaco racista, resultou na Segunda Guerra Mundial com seus 85 milhões de mortos. Por que, então, o racismo? – você, com razão, há de perguntar. Desde a Antiguidade, os povos guerreavam e os perdedores, não importava a cor da pele, se tornavam cativos do vencedor. O preconceito era chauvinista e não racial, independentemente da cor dos indivíduos. Ocorre que o desenvolvimento europeu trouxe conquistas territoriais e culturais. Os louros de olhos azuis impunham aos vencidos cultura, religião e tudo o mais, restando para os que não se submetiam a morte que, por sua vez, realimentava o racismo nos vencedores e nos submetidos. Com o Renascimento ocorreu o domínio europeu em todo o mundo, alegando ser uma raça superior, destinada por Deus e pela história a comandar o mundo e dominar as raças que não eram europeias, portanto inferiores. Assim, quando os conquistadores portugueses chegaram à África, cristalizou-se a ideia da superioridade racial. Logo se intensificou o comércio de escravos que, naquela época, era aceito como uma forma de aumentar o número de trabalhadores numa sociedade. Daí resultaram fatos de que nem Deus duvida. Um deles foi a tese de que, assim como os índios, escravos não eram seres humanos, e que, como animais, não tinham alma, sendo justificada por Deus, pois, a sua exploração para o trabalho e os suplícios a que se submetiam. Daí ao entendimento de que os negros eram uma raça inferior, não houve demora. A discriminação passava a ter base racial. Em sua ignorância, os conquistadores não sabiam que brancos, amarelos, índios, negros, tinham todos os mesmos ancestrais. Foi nesse cenário de obtusidade que se destacou uma admirável mulher negra que viria a ser mãe de Ganga Zumba e avó materna de Zumbi dos Palmares. Seu nome, Aqualtune Ezgondidu Mahamud, uma princesa do Congo, que liderara, em 1665, dez mil homens na Batalha de Mbwila, havida entre o Congo e Portugal. Derrotada, ela foi escravizada e trazida para o Brasil. Muito bonita, tão logo chegou ao porto do Recife Aqualtune foi vendida como escrava reprodutora a um fazendeiro especializado em gado que, ao saber da sua origem nobre, a entregou à escória dos homens da fazenda. Engravidada, ela foi revendida para o engenho de Porto Calvo, onde ouviu falar de um tal Reino dos Palmares, criado por negros que, desde o primeiro momento da escravidão no Brasil, haviam fugido para o interior e criado centros de resistência. Em torno de 1606, um grupo de escravos conseguira se estabelecer nas montanhas de Pernambuco, e ali, na região conhecida como Palmares, formara um mocambo. O ideal de liberdade logo tomou forma. Surgiu na princesa negra a vontade de fugir e se juntar ao povo de Palmares. Assim fez. Com um grupo de escravos, destruiu a casa--grande e, em seguida, realizou uma bem-sucedida fuga para Palmares. Ao longo do caminho, mais escravos foram se somando ao grupo, registrando-se que com ela chegaram ao destino cerca de 200 escravos. Logo sua origem real teria sido reconhecida, e ela passou a liderar o reino. Foi ali que ela fundou o Quilombo dos Palmares, e deu à luz a dois filhos, ambos viriam a ser valorosos guerreiros, que também entraram para a história: Ganga Zumba e Ganga Zona, conhecidos pela sua coragem e liderança. Aqualtune também teve uma filha, Sabina, que mais tarde teve um menino chamado Zumbi, que anos depois ficaria famoso como Zumbi dos Palmares, reconhecido como um dos maiores líderes negros da história. Ganga Zumba e Ganga Zona se tornaram chefes de dois dos mais importantes mocambos de Palmares, um dos principais quilombos do período escravocrata, enquanto ela passou a governar um território quilombola onde as tradições africanas eram mantidas e cada mocambo organizava-se de acordo com suas próprias regras. Ali, os ex-escravos organizavam um Estado Negro abrangendo povoados distintos confederados sob a direção suprema de um chefe, mas em 1677 a aldeia de Aqualtune, que já era idosa, foi queimada pelas expedições coloniais. Não se sabe a data de morte da princesa negra, mas os quilombolas permaneceram lutando até serem finalmente derrotados, em novembro de 1695, pelo bandeirante Domingos Jorge Velho. De qualquer forma, seu final da vida é controverso. Uns registram que ela teria morrido queimada na vila onde vivia com outros idosos da comunidade, enquanto outros asseveram que, como ocorrera em Porto Calvo, ela teria conseguido fugir. Houve também quem afirmasse que ela simplesmente morrera de doenças da velhice. Há uma lenda segundo a qual os deuses da África teriam tornado a guerreira imortal, um espírito ancestral

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Combogó é nova agência de comunicação de PE

Liderada pela jornalista e especialista em Comunicação Empresarial e em Gestão da Inovação, Kássia Alcântara, parte da equipe que era da Signo Comunicação passa atuar, a partir deste mês, como a Combogó Comunicação e Estratégia. Um dos pontos de destaque da Combogó é que, mesmo sendo nova, a agência já nasce com um notável portfólio de trabalhos e de clientes, além de todo o know-how na área da comunicação corporativa conquistado ao longo dos mais dez anos de atuação dos seus integrantes no mercado. Os "combos", como estão se apelidando os integrantes da equipe - por somarem experiência com conhecimento multisciplinar e fazerem parte do dia a dia do cliente - atuarão junto aos clientes de forma estratégica, integrada e inovadora, promovendo resultados sólidos e de acordo com as necessidades de cada empresa. O desenvolvimento de ações e a produção de conteúdos estarão relacionados diretamente à estratégia do negócio do cliente. Entre as soluções oferecidas estão diagnóstico e planejamento em comunicação, produção editorial, comunicação interna/endomarketing, campanhas institucionais, design promocional, relação com a mídia, gestão da presença nas mídias digitais, entre outras. A empresa foi buscar inspiração para o nome e sua forma de atuação no mercado na forma popular de pronunciar a palavra cobogó, elemento construtivo estruturante e inovador da arquitetura moderna brasileira criado na capital pernambucana na década de 1920. "A imagem do combogó associa a tradição, experiência e solidez à inovação de sua origem, a comunicação entre o interno e o externo, entre as pessoas e o mundo. Seus elementos refletem a nova forma de gerir e de atuar das empresas de forma colaborativa, em rede, inovadora, que incentiva a troca e o aprendizado, e que estimula a criatividade. Um ambiente onde as barreiras são quebradas, a interação é maior e é comum um ganho de produtividade", explica Kássia. A empresária conta, ainda, que a escolha do nome também reflete os elementos que formam a palavra Combogó: "Com", de comunicação; bogo, do inglês Buy One, Get One (compre um, leve um) uma estratégia de marketing de origem americana; e de bogar, que em espanhol quer dizer remar para fazer avançar uma embarcação. Assim como nos projetos de sucesso desenvolvidos no antigo empreendimento que dirigia, Kássia vai poder contar com a experiência da jornalista Bruna Cruz, como coordenadora de atendimento, e do designer João Paulo Angelim, como diretor de arte, para continuar atendendo clientes como a Solar Coca-Cola, a Rota do Mar e a TOTAL Combustíveis. Entre as outras empresas e instituições que atendiam e que continuaram apostando na expertise e resultados alcançados estão o Moda Center Santa Cruz, o Urbano Vitalino Advogados, a Imobi, a Eletronord, a Procenge, a Agência Recife para Inovação e Estratégia (ARIES)/Projeto Recife 500 Anos, o Gabinete Português de Leitura, a SMF/TGI Editora, a Ara Empreendimentos, a Duarte Construções e o Grupo de Ajuda à Criança Carente com Câncer - Pernambuco (GAC-PE). Outras informações: www.combogocomunicacao.com.br [1], FB/combogocomunicacao, contato@combogocomunicacao.com.br ou pelo telefone (81)3227.5513. .

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Livros usados num click

Em tempos tecnológicos, comprar pela internet se transformou em uma ótima opção para quem busca comodidade e economia. Dentro da "lista online" dos consumidores, os livros também estão presentes. Se antes os sebos eram o destino certo para os que desejavam procurar obras literárias mais baratas e raras, nos últimos anos, os "endereços eletrônicos" especializados na venda de títulos vêm ampliando essas possibilidades. Com sites que congregam livrarias de todo o País, o leitor tem a apenas um click milhares de exemplares disponíveis. Mais facilidade, então, para achar aquela publicação esgotada e gastar menos. Uma economia que pode chegar a 84%, segundo o principal site do setor no Brasil, o Estante Virtual (EV). Com aproximadamente 1.350 sebos e mais de um milhão de títulos disponíveis em sua página, o maior acervo do mundo em língua portuguesa, revela o poder que o e-commerce de livros vem ganhado. No último trimestre, foi registrado um aumento de 19% nas vendas e, em janeiro, 13.544 obras foram vendidas em apenas 24 horas. Com números como esses, ficou difícil até mesmo para os livreiros mais tradicionais dizerem não à internet. "Primeiro, entraram os sebos mais tecnológicos, que há muito tempo estavam querendo um site como o nosso. Aos poucos, foram entrando os outros e, por último, até os mais desconfiados aderiram a essa forma de venda", conta o fundador do Estante Virtual, André Garcia. Formado em administração, André resolveu abandonar o emprego e seguir carreira acadêmica. Foi esse o "start" para criar a E.V ."Eu lia cerca de cem livros por ano e tinha muita dificuldade em encontrar alguns deles, pois apenas seis sebos estavam com seu acervo disponível na internet", lembra O EV começou a funcionar em 2005 e o livreiro Amauri Mapa foi o responsável pela primeira venda do site. Paulista, ele havia acabado de transferir o sebo da agitada Vila Mariana, em São Paulo, para o bairro da Torre, no Recife, e viu na plataforma uma maneira de conseguir clientes mesmo estando longe do centro da cidade. "Desde que eu decidi sair de São Paulo, eu tinha a intenção de desenvolver um site para poder fazer as vendas, mas era algo complexo. Foi quando o Estante Virtual surgiu", diz. Hoje, a página é responsável por 50% das vendas do empresário e Amauri comemora sua ida diária aos Correios para enviar os livros aos mais variados destinos do Brasil. Antes mesmo do "boom" dos sites de livros, um dos sebos mais tradicionais da capital pernambucana, a Livraria Brandão, já apostava na venda à distância. Se antes os catálogos foram responsáveis por tornar o estabelecimento conhecido nacionalmente, hoje portais ajudam no faturamento das lojas da marca. "Por causa da falta de tempo e dificuldade de estacionamento, muitas pessoas preferem comprar online. Às vezes, tem gente que paga frete para mandar livro aqui mesmo para a Boa Vista (bairro onde a loja fica localizada)", conta Martha Brandão. Para quem pesquisa pelas "prateleiras onlines", comprar pela internet pode sair uma verdadeira "pechincha". "Tem livro que você encontra por R$3", afirma a dona de brechó Ana Lúcia Cavalcanti, 68 anos. Ela é o que se pode chamar de uma devoradora de livros. São pelo menos 6 por mês. "O que mais gosto de fazer é comprar livros. Eu não sei viver sem ler." As páginas de venda de obras literárias foram, então, uma descoberta valiosa para Dona Ana. Depois de procurar nos sebos físicos e não encontrar, recebeu, então, a dica de pesquisar na web. Menos de dois anos se passaram e mais de 100 títulos já chegaram à correspondência da casa dela. Se os ambientes virtuais que reúnem sebos geralmente são associados à venda de livros usados, isso não significa que não se possa encontrar exemplares novos. Depois de passar por uma reformulação em 2014, o Estante Virtual oficializou a entrada no mercado de livros novos. "Há muitos anos, as livrarias convencionais estão se concentrando nos títulos mais vendidos. Isso cria uma demanda não atendida dos livros de catálogo", coloca André. Cliente antigo dos endereços eletrônicos de exemplares usados, o fotógrafo Eduardo Queiroga, agora também aproveita a web para encontrar obras recentes. "Mesmo que eu veja uma obra na livraria, eu prefiro comprar em sites especializados, porque eu acredito que eles ajudam a evitar o desaparecimento e até colaboram com o surgimento de outros sebos", reflete. MAIS OPÇÕES. Se o Estante Virtual foi pioneiro, já não está mais sozinho nesse nicho do mercado. O Livronauta é um dos mais antigos concorrentes e, ao longo dos anos, as opções para os consumires vem crescendo. Motivado tanto pelos índices positivos do segmento como pela insatisfação de clientes e vendedores com os sites até então existentes, o ex-livreiro do Estante, Julio Daio Borges, resolveu colocar no ar o Portal dos Livreiros. Com apenas 6 meses de funcionamento, a página já apresenta números expressivos. São cerca de 7 mil exemplares disponíveis e só no mês de setembro, foram mais de 200 mil acessos. O portal ainda não cobra mensalidade, apenas um percentual de 10% sobre a venda (incluindo a taxa da forma de pagamento). Enquanto, segundo ele, no Estante, os livreiros chegam a pagar 20% sobre o que vendem. "Os livros tendem, então, a ficar mais baratos, no Portal dos Livreiros, para o consumidor final." No endereço online, o leitor ainda pode vender ou trocar os livros que têm em casa e não usa mais. "Nós estamos abertos a esse tipo de vendedor, bem como a autores, pequenos editores e até pequenas livrarias", completa Julio. Outra alternativa para os amantes da literatura é o Sebos Online. Ativada desde 2007, a página foi formulada pelo analista de sistemas Alcir Teodoro apenas como um complemento de um software para livrarias desenvolvido por sua empresa. Nele, os livreiros expõem gratuitamente suas obras. "O site foi pensado como algo a mais para os nossos clientes, porque queríamos auxiliar nas vendas", explica Alcir. Se comparado a concorrentes como o Estante Virtual, o Sebos Online possui uma estrutura mais defasada, o que não deve continuar

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O pai de todos. Ou quase

Genghis Khan, o guerreiro que conduziu os mongóis na conquista da maior extensão contínua de terras da história da humanidade, não foi só o homem que há cerca de 1,2 mil anos fazia o mundo tremer ante o tropel do seu exército. A partir do que hoje se conhece como a Mongólia, ele subjugou povos e festejou suas vitórias com golpes de aríete em cidadelas mais aconchegantes. Explica-se: nas campanhas militares daqueles tempos, o produto dos saques era dividido igualmente entre soldados e comandantes, porém todas as mulheres – mulheres jovens, bem entendido – eram, obrigatoriamente, pertencentes a Genghis Khan. Travavam-se, então, após as batalhas banhadas de sangue e sofrimento, as refregas prazerosas do sexo. O resultado é que, de tanto guerrear, o líder mongol espermatizou tantas mulheres – isso sem contar as esposas oficiais –, que, mais do que os muitos e magníficos feitos militares, ele realizou uma façanha reprodutiva sem precedentes na história humana. Espalhou em uma área abrangendo do Pacífico ao Cáspio descendentes que representam 8% dos homens que vivem nas fronteiras do antigo Império Mongol. São nada menos do que 12 milhões de pessoas, caso as estimativas dos estudiosos estejam corretas. A família há de ter contribuído para o feito, é bem provável, já que Kublai Khan, neto do conquistador, tinha, na qualidade de imperador da China, a prerrogativa de manter milhares de concubinas... Foram séculos de poder e apoderamento de despojos de guerra, bastando dizer que o último descendente de Genghis Khan a governar um reino, Shahin Girai, imperador da Crimeia, morreu em 1783. Durante cerca de quinhentos anos, pois, o clã deteve com uma intensidade sem precedentes o poder e as mulheres de um continente inteiro, isso sem se levar em conta que, ao menos por enquanto, é difícil dizer se Genghis Khan deixou descendentes também entre os russos, que viveram por séculos sob domínio mongol. Para simplificar, um em cada 200 homens existentes na Terra descende dessa linhagem, afirmam os pesquisadores. Você sabia que o Brasil, ou mais especificamente Pernambuco, também teve um inseminador, embora bem longe dos padrões exuberantes de Genghis Khan? Quer saber quem foi ele? Acompanhe a história. Quando o primeiro donatário Duarte Coelho e sua mulher Brites de Albuquerque chegaram à capitania de Pernambuco, em 1535, trouxeram com eles o jovem Jerônimo de Albuquerque, irmão dela. O donatário precisava de ajuda para administrar aquela área tão grande, que abrangia os atuais Estados de Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e parte da Bahia. Encontraram um ambiente hostil, tanto que, tão logo chegou, envolvido numa das lutas que teve que travar contra os índios tabajaras, ele recebeu uma flechada que o levou a perder um dos olhos, ficando conhecido pelo apelido de Torto. Ferido, tornou-se prisioneiro dos índios, foi condenado à morte, mas como acontece nas mais doces histórias de amor, Tabira, a filha do cacique, se apaixonou por ele e o quis como marido. O casamento selou a paz entre os tabajaras e os colonizadores portugueses, e Jerônimo de Albuquerque passou a se mostrar um competente soldado das batalhas amorosas. Da união de Jerônimo de Albuquerque e Tabira, depois batizada como Maria do Espírito Santo Arco Verde, em homenagem à festa de Pentecostes que se celebrava no dia do batismo, nasceram oito filhos. O primogênito, Jerônimo de Albuquerque Maranhão, anos mais tarde lutou contra a invasão francesa no Maranhão, e foi também um dos fundadores da cidade de Natal, no Rio Grande do Norte. Vieram em seguida Manuel, André, Catarina, que se casou com o fidalgo florentino Filipe Cavalcanti; Isabel, Joana, Antônio e Brites. Jerônimo de Albuquerque teve ainda – sem necessidade de guerras – mais cinco filhos, todos por ele reconhecidos, com outras mulheres brancas, índias e africanas. Entendeu de onde vem a nossa miscigenação? Acontece que naqueles tempos – corria o ano de 1562 – casamento não era decisão dos apaixonados. Assim, em obediência a uma carta-intimação de Catarina da Áustria, rainha de Portugal, ele deveria casar-se com Felipa de Mello, filha do nobre Cristóvão de Mello. Para a rainha Catarina, sendo ele sobrinho de Afonso de Albuquerque, um descendente de reis, não deveria seguir a lei de Moisés, ou seja, não deveria manter trezentas concubinas! O que diria ela de Kublai Khan, o imperador da China, que tinha milhares delas... Do casamento com Felipa de Mello nasceram mais onze filhos: João, Afonso, Cristóvão, Duarte, Jerônimo, Cosme, Felipe, Isabel, Maria, além de dois que morreram logo após o nascimento. Assim, Jerônimo de Albuquerque teve 35 filhos, entre legítimos e legitimados, o que lhe valeu o apelido entre os historiadores brasileiros de o "Adão Pernambucano". Por uma questão de justiça, porém, reconheça-se que ele fez mais do que filhos. Como administrador da capitania de Pernambuco, auxiliou Duarte Coelho na pacificação dos índios, na expulsão dos invasores e no desenvolvimento econômico e social pernambucano. Em 1554, indo a Lisboa, Duarte Coelho deixou no governo a esposa, Brites de Albuquerque, e seu irmão Jerônimo de Albuquerque. Acontece que ali Duarte Coelho veio a falecer, permanecendo ambos no comando da capitania até a maioridade de seus filhos, Jorge de Albuquerque Coelho e Duarte de Albuquerque Coelho que, na época, estudavam na Europa. Em 1560, então, Duarte de Albuquerque Coelho atingiu a maioridade, vindo assumir o governo da capitania. Acontece, no entanto, que os irmãos Duarte e Jorge de Albuquerque pouco ajudavam na administração. Em 1565, pois, Jorge retornou a Portugal e Duarte decidiu voltar em 1572, falecendo em 1578, em Alcácer-Quibir. O fato concreto é que auxiliando Duarte Coelho, quer como substituto do capitão-mor, quer como sucessor do donatário, ou ainda como povoador do Brasil, Jerônimo de Albuquerque muito contribuiu para o nosso desenvolvimento. Em suas terras, nas proximidades de Olinda, fundou o primeiro engenho de açúcar de Pernambuco, o Engenho Nossa Senhora da Ajuda, depois denominado de Forno da Cal. Convém observar que naquela quadra da vida brasileira a implantação de um engenho de açúcar era um marco de desenvolvimento. Equivalia a implantar, hoje, uma grande indústria

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João Pernambucano: O que há em um nome?

Não está muito longe o tempo em que os apaixonados faziam serenatas para a mulher amada, que pelas frestas das venezianas faziam escapar suspiros de amor. Lá fora, sob o brilho da lua-cheia, o cantor, com seu fiel companheiro – o violão – colado ao peito, transformando, por essas artes que só o amor explica, batimentos cardíacos em compassos musicais. Violão, esse companheiro fiel, tem uma longa história a contar. Não indiscrições, mas o relato de uma longa caminhada na estrada do tempo. O começo teria sido há quase dois mil anos antes de Cristo, na antiga Babilônia, onde já se usavam instrumentos parecidos com o violão. No Egito e em Jerusalém, o povo usava um instrumento de cinco cordas também assemelhado ao violão, ao passo que em Roma, eram corriqueiras as serenatas ao som de um instrumento de bojo e cordas também parecido com o violão. O fato é que por volta do ano 300, o instrumento já se difundira pela França e Alemanha e, mais tarde, na Idade Média, o instrumento chegara à Espanha, onde sempre foi muito executado pelos virtuoses da época e onde também ganhou a sexta corda. Em seguida, já com as características atuais, foi levado para Lisboa. Para uns, o violão descende do alaúde árabe, chegado à península Ibérica com os mouros, enquanto para outros, ele é filho da cítara romana, cujo uso se expandiu com a expansão de Roma. No Brasil, no entanto, registra-se que tudo começou com a introdução da viola, trazida pelos portugueses quando da época colonial. Não se confunda, no entanto, viola com violão. A utilização deste é das mais diversificadas, tanto na música instrumental, quanto no acompanhamento da voz. A propósito, diga-se, só como curiosidade, que durante muito tempo o violão foi tido como instrumento dos boêmios e seresteiros. Instrumento de capadócios, como dizia o seresteiro Sílvio Caldas. Por aqui, um dos pioneiros do instrumento foi João Pernambuco, um pernambucano, como se pode imaginar pelo nome. Nascido em Jatobá – atual Petrolândia – em 2 de novembro de 1883, em verdade seu nome de batismo era João Teixeira Guimarães. Ainda na infância, ele começou a tocar viola, influenciado por cantadores e violeiros locais como Bem-te-vi, Mandapolão, Manuel Cabeceira, o cego Sinfrônio, Fabião das Queimadas e Cirino Guajurema. Aos 12 anos de idade, ele já tocava em festas. E assim se fez músico, violonista e compositor que criou mais de 100 choros, e também jongos, valsas, toadas, maxixes, emboladas, cocos, canções, prelúdios e estudos. Após o falecimento do seu pai, ele se mudou para o Recife, onde trabalhou como ferreiro e em outros postos de menor importância e salário. Então, buscando dias melhores, em 1902 ele se mudou para o Rio de Janeiro, onde passou a trabalhar como operário. Não deixou, contudo, de tocar e compor. Ali travou contato com violonistas populares, ao mesmo tempo em que varava jornadas de até 16 horas diárias. Para os seus amigos e admiradores, em número sempre crescente, diga-se, sempre encontrava tempo para contar e cantar coisas de sua terra, daí o apelido de João Pernambuco. Passados seis anos, transcorria 1908, ele era considerado um dos expoentes do choro, ombreado com Quincas Laranjeiras, Ernani Figueiredo, Zé Cavaquinho e Sátiro Bilhar, os maiorais da época. Pode ser que você não saiba ou não se lembre de quem foi João Pernambuco, mas vai lembrar, sem esforço, de uma das músicas que ele compôs. O nome original era Engenho de Humaitá, mas depois de celebrada uma parceria com Catulo da Paixão Cearense, a música passou a se chamar Luar do Sertão. Ainda não lembra? Então eis os primeiros versos: Não há, ó gente, ó não | luar como este do sertão... É quase um hino à beleza sertaneja, mas sobre essa música há um fato não tão belo a ser comentado. Como João Pernambuco era analfabeto, costumava dar suas composições para que outros pudessem escrevê-las e, por conta disso, Luar do Sertão terminou sendo registrada exclusivamente em nome de Catulo da Paixão Cearense, o mesmo ocorrendo com outra criação, a toada Caboca di Caxangá, memorável sucesso do carnaval de 1913. Posteriormente, porém, a coautoria de João Pernambuco foi reconhecida. Sabendo dos problemas do compositor pernambucano com o apoderamento de suas canções, Heitor Villa-Lobos se propôs, de boa-fé, a registrar e transcrever várias de suas canções, o que fez sem nenhum problema. Considere-se, no entanto, que a associação com Catulo da Paixão Cearense também trouxe benefícios para João Pernambuco, como o acesso à alta burguesia e à intelectualidade, em cujas tocatas ele exibia o seu talento para figuras de proa daquela época, como Afonso Arinos e Rui Barbosa. De 1928 até 1935 João Pernambuco morou em um casarão onde funcionava uma república que abrigava, em sua maioria, músicos e jogadores de futebol. Ali ele organizava animadas e concorridas rodas de choro que contavam com a participação de Donga, Pixinguinha, Patrício Teixeira, Rogério Guimarães e, ocasionalmente, Villa-Lobos. Foi lá que ele conheceu, por intermédio do amigo Levino Albano da Conceição, um jovem violonista chamado Dilermando Reis. Mente criativa, João Pernambuco formou o Grupo de Caxangá, um estrondoso sucesso com a participação de Pixinguinha e Donga, e introduziu a percussão nordestina no Sudeste. Fez mais: participou, também com Pixinguinha, dos grupos Os Oito Batutas e Os Turunas Pernambucanos. E ainda com Donga e Pixinguinha, ele percorreu o Brasil coletando música folclórica brasileira, por encomenda de Arnaldo Guinle. Como violonista, gravou pela primeira gravadora brasileira estabelecida, Casa Edison, e também para os selos Columbia e Phoenix. A santíssima trindade dos precursores do violão brasileiro foi constituída por Quincas Laranjeiras, João Pernambuco e Levino Albano da Conceição, mas a obra violonística de João Pernambuco era de tal densidade e profundidade que, a respeito dela, disse Villa-Lobos: Bach não se envergonharia em assinar os estudos de João Pernambuco como sendo seus. Mozart de Araújo, renomado musicólogo, não poupou elogios: João Pernambuco está para o violão assim como Ernesto Nazareth está para o piano. Já o violonista Maurício Carrilho certa vez escreveu sobre

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Gabinete Português de Leitura recebe mostra fotográfica sobre Macau

A mostra fotográfica “Macau, Uma História de Sucesso" aporta no Gabinete Português de Leitura (GPL), como parte de sua programação de 165 anos. A exposição, organizada pelo Instituto Internacional de Macau (IIM), comemora o 15º aniversário da antiga antiga colônia portuguesa. As 52 fotos revelam a riqueza cultural da cidade que se modernizou e hoje figura entre as mais ricas do mundo. Em 1999, Macau deixou de ser um território sob administração portuguesa e foi entregue à China, tornando-se uma das duas regiões administrativas especiais do país (a outra é HONG KONG). Em 2002, o governo central quebrou o monopólio do jogo. Assim, a cidade passou a receber investimentos bilionários. Só em 2013, o jogo trouxe US$ 44 bilhões em receita para Macau, sete vezes mais do que Las Vegas (EUA) A exposição fica durante o mês de novembro no GPL depois de passar por Lisboa (Portugal), Toronto (Canadá), São Francisco (EUA), e nas cidades de Santos (SP) e Rio de Janeiro (RJ), no Brasil. Completam a exposição três vídeos e as publicações "Macau - Festas e Festividades" e "Macau-Recife - Duas Cidades, Dois Mundos, Duas Histórias, Relações e Contrastes", de José Manuel Fernandes. O horário de visitação é de segunda a sexta, das 9h às 12h e das 14h às 17h.

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Caixa Cultura recebe músico angolano que cria instrumentos

Recife recebe pela primeira o artista angolano-portugês Victor Gama. O compositor e designer se apresenta pelo projeto Solo Música na Caixa Cultural no dia 27 de outubro. Com o show “Sol(o)”, ele exibe instrumentos musicais que construiu a partir de uma variedade de materiais. Entre os instrumentos peculiares criados por ele estão Acrux, Dino e Toha. O concerto às 20h e os ingressos custam R$ 10 e R$ 5 (meia), com venda a partir das 10h do dia do espetáculo. Victor, que ainda é engenheiro eletrônico, criou uma organização sem fins lucrativos para desenvolver pesquisa em música. O projeto é inovador estuda um sistema de escrita no qual introduz uma componente tridimensional, que permite a exploração da conexão entre o som virtual e o físico, o digital e o analógico. Victor Gama cria novas músicas para o século 21, misturando tecnologias atuais de fabricação digital com ideias, materiais e tradições inspiradas pelo mundo natural. “Ele possui um belo e importante trabalho de criação e construção de instrumentos, que traz uma semelhança com Walter Smetak e UAKTI, artistas que o influenciaram. Mas as composições de Gama traduzem suas origens na África, com uma mescla do eletrônico”, diz Alvaro Collaço, produtor e curador da Série Solo Música. Serviço: Solo Música - Victor Gama Data: 27/10 - 20h. Local: CAIXA Cultural Recife, Avenida Alfredo Lisboa, 505 – Praça do Marco Zero – Bairro do Recife Antigo. – 3425-1900/1915 Classificação indicativa: 10 anos.

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Uma voz cristalina

Cantor de entonação refinada, Paulo Molin interpretou varios sucessos, mas ficou esquecido pelos conterrâneos Américas, Europa, Ásia, África, Oceania... Nos cinco continentes, quase todos os países comemoram o Dia da Criança. Em muitos, no mês de outubro, como no Brasil. Entre nós, a data foi criada em 1924, mas só em 1960, quando a Estrela e a Johnson & Johnson lançaram a Semana do bebê robusto, começou a ser comemorada. Desde então, é de grande importância no calendário promocional das empresas. Nesta página, no entanto, não se busca falar do calendário promocional. Neste momento, o Dia da Criança é um motivo para falar de uma criança pernambucana, um menino-prodígio. Seu nome, Paulo Fernando Monteiro Molin, que ganhou fama como o pequeno grande cantor Paulo Molin, um descendente de franceses nascido no Recife em 2 de janeiro de 1938. Aos 8 anos de idade ele começou a cantar, e com apenas 12 anos gravou, em 1950, seu primeiro disco, um 78rpm, contendo as músicas Olinda, cidade eterna e Recife, cidade lendária, ambas de Capiba. Ainda tão jovem, Paulo Molin já era um cantor profissional, contratado da Rádio Tamandaré (Recife), tinha suas músicas tocadas nas emissoras de rádio de todo o Nordeste, e seus discos eram disputados. Recife começava a ficar pequena para o seu talento, levando-o a migrar para o Sudeste. Primeiro para o Rio de Janeiro e em seguida para São Paulo. Ali ele experimentou uma fase de intenso trabalho. Foi contratado pela Rádio Nacional, gravou Igarassu, cidade do passado, de Capiba, e a canção A chama, de Capiba e Ascenço Ferreira. Gravou o bolero Bem sabes, o samba-canção Por quê?, com acompanhamento de Lírio Panicalli e sua orquestra; gravou também o fox-canção Daqui para a eternidade, uma versão de Lourival Faissal; e o samba-canção Se você vai embora, de Luiz Fernando e Nelson Bastos. Naquele mesmo ano, gravou ainda o samba Não tenho lar, e participou da coletânea Carnaval 1955, da gravadora Sinter, com a marcha Não aguento este calor. Em 1955, ano que marcou o auge do seu sucesso, Paulo Molin foi tema de reportagem da então famosa Revista do Rádio, e participou do LP Feira de Ritmos, da gravadora Sinter, interpretando o fox-canção Daqui para a eternidade. Chegou 1956, e ele lançou, pela Mocambo, a saudosa gravadora pernambucana, o tango Caminho errado e o samba Desligue este rádio. No ano seguinte, gravou as baladas-rock Sereno, que veio a fazer parte da trilha sonora da novela Estúpido cupido, da Rede Globo; Como antes (Come prima), sucesso da música italiana; o samba Quem sabe; os boleros Sinto que a vida se vai e Prece do perdão; além da guarânia Serenata suburbana, de Capiba. Entrava ano saía ano, a agenda de Paulo Molin era repleta de compromissos. Em 1958, ele gravou os rocks-balada Minha janela, de Fernando César e Ted Moreno, e Se aquela noite não tivesse fim, de Nelson Ferreira e Ziul Matos. Mais um ano de trabalho intenso se passou, e chegado 1959, gravou as marchas A vida é boa e Bebo sem parar. Em 1960, ele gravou o samba Estamos quites, o bolero Fui eu, e lançou, pela Mocambo, o LP Surpresa com diferentes músicas gravadas em 78 rpm, além da balada És a luz do meu olhar, de sua autoria. Passou a integrar o elenco da gravadora Copacabana e participou da coletânea Tudo é carnaval - Nº 1 interpretando a marcha Eu não sou doutor, de G. Nunes, B. Lobo e F. Favero. Em 1961, gravou Olhando estrelas, um fox de M. Anthony e Paulo Rogério, e a guarânia A deusa da montanha, de Hilton Acioli e Marconi da Silva. Em 1962, participou da coletânea Tudo é carnaval - Nº 2, com a marcha Viva a cegonha, de Silvio Arduino e Ercilio Consoni. No mesmo ano, de volta à gravadora Continental, gravou a balada Chorando por você, de Roy Orbison e Noe Nelson, em versão de Romeu Nunes; e o samba É tua vez de sorrir, de Fernando César e Luiz Antônio. Ainda em 1962, ingressou na gravadora Philips e gravou, com acompanhamento de Portinho e sua orquestra, o bolero-mambo Teimosia e a Balada do desespero, ambas de Francisco de Pietro. No mesmo ano, gravou pela Mocambo o samba-canção Inconstante, de Aloísio T. de Carvalho, e o samba Rosa do mato, de Sérgio Ricardo e Geraldo Serafim. Em 1963, lançou, pela gravadora Philips, o LP Meu bom amigo Capiba, interpretando as belas Olinda cidade eterna, Recife cidade lendária, Praia da Boa Viagem, Maria Betânia, Cais do porto, Igaraçu cidade do passado e Que foi que eu fiz, todas composições solo de Capiba, e mais Depois, de Capiba e Talma de Oliveira; e A mesma rosa amarela, Claro amor e Não quero amizade com você, de Capiba em parceria com poeta Carlos Penna Filho. Ainda naquele ano, participou da coletânea Carnaval bossa nova, da gravadora Fermata, com a marcha Quem tem mulata, parceria dele com Vicente Longo e Waldemar Camargo. Em 1964, gravou duas marchas para a coletânea Carnaval - Vol. 1, da Philips, Balzac disse, de Denis Brean e Osvaldo Guilherme, e Me leva, de Waldemar Camargo e Vicente Longo. Assim, ao longo da carreira Paulo Molin gravou 15 discos em 78 rpm e três LPs pelas gravadoras Continental, Mocambo, Copacabana, Philips e Fermata. Foram seus anos de ouro, em que ele chegou a atuar também no cinema, fazendo parte do elenco do filme Zé do periquito, produzido e estrelado por Mazzaropi. O tempo, contudo, indiferente ao que as pessoas almejam, passara. Novos valores eram surgidos, mudavam as predileções musicais. Paulo Molin, então, resolveu fixar-se em Guaxupé, interior de Minas Gerais, onde, lado a lado com a atividade jornalística exercida na Folha do Povo, um jornal local, prosseguiu em sua carreira de cantor, embora àquela altura da vida a voz estivesse muito distante daqueles tempos do Recife. Em Guaxupé ele construiu amizades, conquistou a admiração de todos, criou fama, marcou positivamente a cidade. Tanto, aliás, que recebeu o título honorífico de cidadão guaxupeano. Paulo Molin

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Exposição mostra o olhar de Francisco Cunha sobre o Recife

Feitas de celular, 40 imagens do consultor estão até o dia 31 de outubro no Espaço Vitrúvio Para os amantes das paisagens recifenses, uma dica para o mês de outubro é visitar a exposição “O Recife Tomado à Luz - Fotografias de um Caminhante”. Reunindo 40 fotografias do consultor Francisco Cunha, sócio da TGI, a mostra é um pequeno recorte dos seus quilômetros de caminhada pela capital pernambucana. Todas as imagens foram feitar a partir do seu celular, em suas andanças pelas ruas da cidade.  As fotografias que ganharam as paredes do  Espaço Vitrúvio partiram de uma seleção de 13 mil imagens registradas pelo consultor. Dessas, a equipe responsável pela curadoria da mostra fez uma seleção de 200 imagens para um livro, que está sendo editado, com previsão de lançamento para 2016. A mostra apresenta um Recife das águas, dos monumentos e de prédios históricos. A decisão de organizar a exposição veio de muitos pedidos dos amigos, após visualizar as fotos nas redes sociais. Desde que começou a fotografar, Francisco Cunha compartilha as imagens que capta pelo celular pelo seu perfil do Facebook e Instagram, trazendo lugares poucos conhecidos da cidade ou um novo olhar, de um andarilho, de espaços que a maioria dos recifenses transita diariamente. Serviço O Recife Tomado à Luz - Fotografias de um Caminhante Visitação: de sexta (9) a 31 de outubro, quartas e domingos, das 16h às 21h Espaço Vitrúvio - Rua Antônio Vitruvio, 71, Poço da Panela Entrada gratuita

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A batalha que se fez barro

Nem o progresso com sua pressa irrefreável, seu desapreço pela contemplação, seu trânsito nervoso e seus edifícios que, a cada dia mais altos, parecem querer arranhar os céus, conseguem obscurecer a tradição de Casa Forte. Ali, por onde quer que se ande, as marcas do tempo estarão impressas nas ruas e nos antigos casarões que parecem falar. A Avenida 17 de Agosto, por exemplo, é homenagem a uma das datas mais importantes da nossa história. A Praça de Casa Forte, por seu turno, é um capítulo especial da história a ser contada. É obra paisagística de Burle Marx, um paulistano que amou Pernambuco e espalhou o seu talento por todo o Recife. As belezas daquela praça, contudo, não significam que a história do bairro é alcatifada de flores. Há também espinhos. Falar de Casa Forte também impõe falar de Anna Paes, filha de Jerônimo Paes de Azevedo e Izabel Gonsalves Paes, proprietários de um dos mais importantes engenhos pernambucanos. Foi nele que, no dia 17 de agosto de 1645, aconteceu a Batalha de Casa Forte, um cruento embate em que pernambucanos e holandeses escreveram com sangue uma das páginas mais marcantes da vida de Pernambuco. Foi, de fato, uma das mais notáveis vitórias na luta contra o domínio holandês. Aconteceu assim: derrotado na Batalha das Tabocas, em Vitória de Santo Antão, no dia 3 de agosto de 1645, quando regressava ao Recife, o exército holandês acampou no Engenho Casa Forte, pertencente a Anna Paes. Porque a situação se agravava a cada momento, no dia 16 de agosto o comandante holandês, coronel Henrique van Haus, mandou o major Carlos Blaer revistar as casas do povoado da Várzea, onde residiam as famílias de chefes revolucionários pernambucanos. O objetivo era prender suas mulheres. A missão foi prontamente cumprida, tanto que, no mesmo dia, voltou com muitas prisioneiras, inclusive Isabel de Góis, mulher de Antônio Bezerra; Ana Bezerra, sogra de João Fernandes Vieira, e Maria Luísa de Oliveira, mulher de Amaro Lopes. Foram todas encarceradas na casa-grande do engenho, levando João Fernandes Vieira, André Vidal de Negreiros, Henrique Dias e Felipe Camarão, chefes do exército pernambucano, a reunir as tropas e resgatá-las. Desafiaram a chuva, a lama, a inviabilidade dos caminhos, mas, finalmente, no amanhecer do dia 17 de agosto cercaram o engenho de Anna Paes. Atônitos ante a fúria dos pernambucanos, os holandeses se refugiaram na casa-grande e logo colocaram as mulheres prisioneiras nas janelas, para que fossem vistas pelos combatentes. Interpretando o ato como uma rendição, os líderes das tropas pernambucanas suspenderam o fogo e enviaram um oficial para negociar os termos da rendição. Para surpresa de todos, no entanto, o emissário foi assassinado, o que despertou enorme indignação. Tanta que, esquecidos de que entre os inimigos estavam as mulheres, os pernambucanos atacaram com ferocidade e sedentos de vingança atearam fogo à casa. Vendo-se cercado e sufocado pela fumaça, o coronel Henrique van Hous, empunhou uma bandeira branca e o cabo de uma pistola, desta feita um claro sinal, e capitulou. Foram 37 holandeses mortos, muitos feridos e mais de 300 prisioneiros, incluindo expoentes da oficialidade neerlandesa, além da grande apreensão de armas, cavalos e víveres. A partir daquele dia, os invasores ficaram tão atemorizados que, a pretexto de garantir a segurança do Recife, mandaram vir reforços dos fortes Sergipe, São Francisco e Porto Calvo. Em vez de garantir a segurança, no entanto, aumentaram a insegurança, arrasando, em atos de demonstração de força, as casas do Recife e as árvores do Parque de Maurício de Nassau. Para encurtar a história, os prisioneiros holandeses foram transferidos para a Bahia, inclusive o coronel Henrique van Hous, que de lá foi mandado para Portugal e encarcerado no castelo de São João, na Ilha Terceira, até a ida para Lisboa. Ali, tendo se recusado a servir a Portugal, foi enviado para a Holanda, e tempos depois voltou a Pernambuco, morrendo na primeira Batalha dos Guararapes, ocorrida em abril de 1648. Foi esse o cenário para os momentos mais marcantes da acidentada existência de Anna Paes. Como dote matrimonial ela herdara o Engenho Casa Forte, mas com a morte do seu pai, e com seu irmão morando na Bahia, ela, por força das circunstâncias, foi compelida a administrar o engenho, fazendo-o com muita energia e determinação. Competiu com os homens que administravam outros engenhos, e conseguiu manter o Casa Forte entre os dez melhores do Estado. Aos 18 anos, ficou viúva do capitão Pedro Correia da Silva, que enfrentando os holandeses tomou parte na defesa do forte São Jorge e morreu em virtude de ferimentos recebidos durante os combates. Quando enviuvou, entretanto, não emigrou para a Bahia como fizeram algumas famílias pernambucanas por conta da invasão holandesa. Optou por ficar no seu engenho e a ele se dedicou. Educada sob os princípios, métodos e costumes portugueses, vivia com a mãe, dividindo-se entre o engenho e a casa da Rua do Bom Jesus. Além do português, falava e escrevia em latim e alemão, e possuía extrema beleza. Em 1637 rendeu-se ao amor e, ousada como era, casou-se com Carlos de Tourlon, capitão do exército holandês, com quem teve uma filha, Isabel de Tourlon, que também viria a casar-se com um holandês, Virgilio Gaspar de Kroyestein, oficial da infantaria. Não se sabe o motivo, mas, por determinação de Maurício de Nassau, Carlos de Tourlon foi mandado de volta para a Holanda. Mais uma vez Anna ficou só e, anos depois, com a confirmação oficial da morte do marido, casou-se, novamente com um holandês, Gilberto de With, conselheiro de justiça do governo daquele país, nascendo da união Kornelius e Elizabeth, que, como Isabel, foram batizados na religião calvinista. Os holandeses estavam derrotados e Anna Paes, por ser casada com um deles, foi considerada igualmente holandesa, pelo que teve todos os seus bens imóveis confiscados, deixando, então, o Brasil. Resultante da sua conduta avançada para a época, das suas atitudes em relação aos holandeses e da sua conversão ao calvinismo, Anna Paes passou a ser execrada, mas há que se considerar

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