Economia – Página: 373 – Revista Algomais – a revista de Pernambuco

Economia

O mal-estar da mobilidade (Por Gustavo Costa)

A expectativa era de padrão Fifa. A execução das primeiras concessões de serviço de transporte de passageiros da Região Metropolitana do Recife foi iniciada durante a Copa. Os dois primeiros lotes de linhas (sete licitados), beneficiados por BRTs, passavam a integrar a operação transitória dos Corredores Norte- -Sul e Leste-Oeste. Após dois anos, e três das “Jornadas de Junho”, grassa o mesmo mal-estar coletivo com o padrão do serviço de mobilidade. Apesar dos vultosos investimentos públicos e privados, a operação segue transitória; da boa aceitação dos BRTs, a infraestrutura de vias e terminais segue inacabada, travada e insegura; dos ganhos de escala e velocidade em algumas linhas, caras estações depredadas e dezenas de BRTs depreciando em garagem são o pior retrato da ineficiência, do desperdício e improviso. Afinal, o que deu errado? Seguramente, o impacto da maior crise econômica da história brasileira explica muito. Não tudo. Outra parte da explicação está em velhos e conhecidos gargalos da gestão pública, cujas soluções demandam diagnóstico, esforço e prioridade na agenda política metropolitana e local. Em primeiro lugar, há a secular cultura da insegurança jurídica nos contratos públicos. Não é eficiente licitar às pressas para fazer bonito na Copa. São indispensáveis planejamento e regras que projetem estabilidade, equilíbrio entre direitos e obrigações, proteção contra casuísmos burocráticos, além da garantia de retorno do investimento a taxas de mercado. Em síntese, expressivos investimentos público-privados em infraestrutura de mobilidade reclamam marco legal e contratual estável, equilibrado desburocratizado e previsível. A falta de concorrentes na recente licitação internacional, as prenunciadas dificuldades nos contratos em execução e o atraso dos contratos pendentes sinalizam que o gargalo da insegurança jurídica não tem sido bem compreendido pela gestão pública. O segundo gargalo é a ineficiência da gestão e regulação. Quando de sua criação (2007), o Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano, sucessor da extinta EMTU, era uma inovadora ideia no papel: a primeira empresa pública multifederativa destinada à gestão do complexo sistema de transporte metropolitano, com estrutura societária, organizacional e financeira. Quase 10 anos depois, a ideia não pegou: os municípios consorciados não compraram o projeto, o governo estadual banca sozinho o “consórcio”, com escassos repasses, e o Grande Recife, apesar do esforço de alguns técnicos abnegados, segue desestruturado, sem equipe e receitas à altura da sua missão. É uma grande ideia fora do lugar, a reclamar urgente simplificação. Por fim, o mais importante: o atual modelo de financiamento da mobilidade está esgotado. As “Jornadas de Junho” de 2013 deixaram claro que a sociedade não suporta mais expansão de tarifas sem contrapartida eficiente. Por outro lado, o retorno da inflação a partir daí, potencializada pelo represamento artificial de preços administrados, confirma que a alternativa não é o “lanche grátis”. No mundo rico, a sociedade financia boa parte da conta com subsídio público. No Brasil, e em Pernambuco, o sistema é dependente de tarifa, paga pelos pobres e sem subsídio eficiente. A conta da mobilidade é injusta e não fecha. A solução do complexo problema do financiamento passa pelo fim da dependência tarifária, com a ampliação das fontes de receita, inclusive subsídios orçamentários. Alternativas existem, algumas delas impopulares para a classe média, a exigir muita prioridade política. E há também alternativas mais sofisticadas, como os fundos de infraestrutura, tal como previsto na recente MP 727/2016. Pernambuco já ensaiou um fundo garantidor de mobilidade, mas abortou a ideia. É hora de retomá-la, agora com impulso federal. A mobilidade entrou na agenda política pelo grito das ruas de 2013. A Copa e a crise político-econômica secundarizaram sua pauta, mas o mal- -estar coletivo e silencioso continua. O silêncio das ruas acabará cedo ou tarde. Já passou da hora de os atores políticos locais e metropolitanos formularem respostas para um problema que também é seu.

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50 cursos EAD para atualização na agropecuária

Horácio Juliatto vive em Brasília, Miriam Lemos em Campina Grande (PB), Claudionor Aranda em Bom Jesus (GO), Júlio Cézar Barreto em Dianópolis (TO) e Aline Zimmermann em Lages (SC). Apesar da distância geográfica entre eles, todos têm uma paixão em comum pelo campo e são frequentadores assíduos de um mesmo local, o portal de educação a distância do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR). Por razões diferentes já fizeram vários cursos oferecidos, mas repetem os mesmos motivos para a escolha do site: a qualidade do ensino e a praticidade de poder acessar as aulas em qualquer lugar. O portal http://ead.senar.org.br/ disponibiliza, atualmente, 50 cursos sobre conhecimentos e inovações nos processos produtivos em diversas áreas da agropecuária. São inteiramente gratuitos e a distância, com acesso disponível 24 horas por dia, a semana inteira e, ao final, depois de cumprir todos os requisitos, o participante recebe seu certificado digital de conclusão. Os cursos da EaD SENAR estão divididos em sete diferentes programas: Capacitações Tecnológicas, Agricultura de Precisão, Campo Sustentável, Empreendedorismo e Gestão de Negócios, Gestão de Riscos e Inclusão Digital. O mais extenso e o único que exige dos participantes formação técnica ou superior em áreas relacionadas às Ciências Agrárias é o Programa de Capacitações Tecnológicas. Nos demais, os cursos são livres. Para fazer basta ter mais de 14 anos. As matrículas são feitas no próprio site. 350 mil alunos Mais de 350 mil alunos já se matricularam na EaD SENAR em busca de novos conhecimentos ou formação continuada, ampliando suas chances em um mercado de trabalho que valoriza a mão de obra qualificada. Horácio Flaco Juliatto, técnico em agropecuária, é profissional com larga experiência, atuando no ramo da pesquisa agrícola. Ainda assim, fez vários cursos oferecidos no portal não só para se atualizar mas também para enriquecer o seu currículo. “Minha sede de saber é tão grande que fiz todos os cursos que estavam disponíveis até o ano passado, e agora vou fazer os novos. Esses cursos da EaD SENAR são de importância vital para o profissional do setor agropecuário, porque facilitam o acesso, e ele pode estudar no seu tempo. A qualidade é ótima, tanto dos instrutores como do conteúdo e metodologia. As aulas são fantásticas, superdidáticas e explicativas, não há quem não entenda”. Mirian Lemos, assistente social, já fez 11 cursos e avaliza a opinião do colega. “São de excelente qualidade, conteúdo atualizadíssimo, de fácil compreensão para o homem do campo. Além disso, tem a vantagem do participante poder estudar nas horas que lhe são convenientes. Eu costumo assistir as aulas em casa, geralmente à noite”. Em Dianópolis, no Tocantins, Júlio Cézar Barreto conta que costuma acessar as aulas em qualquer lugar onde esteja, em casa ou no trabalho. “Isso facilita a vida de muita gente e, certamente, é o estudo do futuro”. Graduado em Administração de Empresas, com MBA em Gestão de Pessoas e em Gestão Pública, além de técnico em Agropecuária, já fez 12 dos cursos disponíveis na EaD SENAR. “Adorei a metodologia. As aulas são interativas, intuitivas e a qualidade do material excelente. O site oferece ótimas opções de atualização nas áreas de administração rural. Esses cursos servem como suporte para todas as ações que desenvolvo. Atualmente, ministro a disciplina Agronegócio na Universidade do Tocantins e sempre utilizo parte do material da EaD SENAR e, inclusive, recomendo a meus alunos que façam os cursos”. Interação Veterinária e filha de produtores rurais, Aline Zimmermann também está sempre buscando o portal de educação a distância do SENAR para se atualizar. “O site oferece bastante opções e gera uma disponibilidade de horários. As aulas usam uma linguagem clara e têm uma didática diferenciada, com áudios e vídeos que atraem a atenção”. Claudionor Aranda, que trabalha com financiamentos e investimentos agropecuários, já fez os dois cursos disponíveis no Programa Empreendedorismo e Gestão de Negócios. “São conteúdos de grande valia para minha atividade e aplico diariamente o que aprendi”. Para ele, o fato das aulas estarem disponíveis pela internet é fundamental. “Cursos a distância permitem que você, com determinação e disciplina, tenha acesso a novos conhecimentos na sua área de interesse, ampliando seus horizontes sem que você tenha que se ausentar do trabalho. Você faz seu horário de estudo”. Horácio vê ainda um benefício adicional. “Além das aulas e atividades extras, você tem os fóruns e chats, onde você interage com outras pessoas e há muita troca de informações, porque quem busca esses cursos está realmente interessado em aprender mais”. Mais informações: 0800 642 7070, http://ead.senar.org.br/

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Convívio com as chuvas

Há alguns anos, fazendo matérias sobre seca, descobri o termo “convívio com o Semiárido”. As instituições que trabalhavam nas regiões afetadas por períodos sem chuvas compreenderam que não era possível combater o clima, mas aprender a lidar com ele, de forma a garantir qualidade de vida e produtividade. Pois é, o clima chuvoso do Recife e da região metropolitana nos parece merecer um tratamento semelhante. Os dias de chuvas intensas, onde caem nos céus 50%, 60% ou 70% do que era previsto para o mês não são mais exceção. Estamos na metade do ano e em pelo menos três ocasiões a concentração dos índices pluviométricos gerou prejuízos, caos urbano e até morte. Há uma constatação popular de que nos dias de chuvas intensas não se encontram os agentes de trânsito para auxiliar nos deslocamentos, muitas vezes interrompidos pelos pontos de alagamentos. Pontos, aliás, que se repetem. A população começa a se habituar a não trafegar por algumas regiões nesses dias. Pergunto: se informalmente os cidadãos já identificam essas áreas e criam suas alternativas, o poder público não poderia desenvolver um plano de “urgência” para essas ocasiões? Fechar algumas vias ao invés de deixar os motoristas se arriscarem nas enchentes. Não dá para mudar o ciclo das chuvas. Não é possível elevar o nível da cidade. Mas se tem algo que é possível fazer ao menos para minimizar os estragos desses dias mais tumultuados é o planejamento. Algo que nossos gestores públicos dizem por todo lado que sabem fazer. *Rafael Dantas é jornalista e especialista em gestão pública  

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O ciclo da economia de Pernambuco: 2005-2015

Ao longo dos dez anos de circulação da Revista Algomais, a economia de Pernambuco passou por mudanças na base produtiva e infraestrutura. Nos dois governos de Jarbas Vasconcelos (1999-2006) foram criadas as pré-condições políticas, os programas de desenvolvimento e as primeiras negociações que conduziram a um período de forte crescimento econômico durante o Governo Eduardo Campos (2007-2014) que ampliou e consolidou um ambiente de negócios que trouxe para Pernambuco um bloco de investimentos da ordem de R$ 105 bilhões, dois terços dos quais foram alocados ao setor industrial e endereçados, em grande parte, para Suape. Os governos do PSB ousaram politicamente para atrair esses investimentos, inovaram na gestão pública e assumiram para si e em parceria com o setor privado importantes investimentos em infraestrutura econômica, especialmente rodovias. Na segunda metade da década passada houve a feliz convergência de um bom desempenho das economias internacional e nacional, estabilidade macroeconômica e a chegada à maturidade dos investimentos realizados em Suape, fruto do esforço de sucessivos governos desde 1974. Durante o período 2005-2015, as taxas de crescimento anual do PIB de Pernambuco – à exceção do ano de 2007– situaram-se sempre acima das taxas brasileiras. Com isso o PIB por habitante cresceu 7,0%, em termos reais, entre 2010 e 2013. Mudanças na estrutura econômica do Estado ocorreram durante esse período. A construção civil avançou substancialmente pois a ela coube o papel de edificar e de instalar os novos equipamentos produtivos e de construir a nova infraestrutura. Assim, a participação da construção civil no PIB aumentou de 5,6%, em 2005, para 9,4%, em 2013, constituindo-se, nessa fase, no principal motor da economia pernambucana. Estavam sendo implantadas novas cadeias produtivas na economia do Estado e outras estavam se modernizando, gestando uma nova conformação do aparelho produtivo com a presença das indústrias naval, petróleo e gás, offshore e automotiva. As indústrias de alimentos e bebidas se modernizaram e se interiorizaram. Evidentemente que, concluídos esses investimentos e iniciadas as operações desses empreendimentos, estão sendo observadas mudanças graduais na estrutura econômica do Estado, fenômeno que foi desacelerado mais recentemente por causa da crise econômica. Esse dinamismo econômico se manifestou claramente nos indicadores do mercado de trabalho. A ocupação total, segundo a PNAD, cresceu 1,2% ao ano entre 2005 e 2014, liderado pelo pujante crescimento do emprego na construção civil que se expandiu no mesmo período à taxa de 7,1% anuais, seguido dos setores transporte, armazenagem e comunicação (6,1%) e de alojamento e alimentação (5,1%), que se beneficiaram da expansão dos investimentos puxada pela construção civil. Esses setores aumentaram sua importância relativa no conjunto da ocupação durante esse período: a construção civil elevou sua participação de 5,5%, em 2005, para 9,0% em 2014 enquanto os setores de transporte, armazenagem e comunicações e o de alojamento e alimentação subiram, respectivamente, de 4,3% para 6,4% e de 3,6% para 5,5%. Com a demanda por mão de obra em ascensão, especialmente nas ocupações de baixa e média qualificação da construção civil, o rendimento médio real de todos os trabalhos da população ocupada com 10 anos ou mais elevou-se ao ritmo de 5,4% ao ano, bem superior à apresentada para o País como um todo (4,1%), durante o período 2005-2014. Com isso taxa de desemprego caiu de 11,0%, em 2005, para 8,7% em 2014. O emprego formal também cresceu expressivamente durante esse período contribuindo para reduzir a taxa de informalidade no mercado de trabalho, uma característica estrutural da economia pernambucana. O estoque de emprego formal segundo a RAIS cresceu 4,4% ao ano entre 2005 e 2015, sendo que a construção civil se expandiu ao ritmo de 7,5% e os serviços e o comércio às taxas, respectivamente, de 6,3% e de 5,9% anuais. Esses crescimentos teriam sido bem mais expressivos durante o período não fosse o efeito da crise econômica que queimou 9,6 mil e 89,8 mil empregos com carteira, respectivamente, em 2014 e 2015. Isso significa que a crise extinguiu parte, mas ainda deixou intactos significativa parcela dos empregos gerados durante aquele período. Se houve um ciclo virtuoso de fatores que propiciaram um robusto crescimento da economia de Pernambuco no início do período que estamos analisando, ocorreu o inverso no seu final, ou seja, nos anos de 2014 e de 2015 quando a crise começou a manifestar seus primeiros impactos sobre o Estado. No rastro da economia mundial, ainda em recuperação da crise de 2008, a economia nacional, devido aos sucessivos equívocos e voluntarismo da política econômica do Governo Dilma, entrou em forte recessão. Pernambuco ficou exposto e absorveu os efeitos da retração no nível de atividade da economia brasileira. Além disso, a crise atingiu o Estado no momento em que o mercado de trabalho estava fragilizado pela grande desmobilização – previsível e inevitável – de mão de obra ocorrida em decorrência da conclusão da fase de implantação dos investimentos produtivos e em infraestrutura, especialmente em Suape. O mercado de trabalho foi pego, portanto, na fase de transição da implantação para a de funcionamento de vários empreendimentos produtivos e de infraestrutura. E finalmente, a economia estadual sofreu as consequências econômicas das investigações no âmbito da Operação Lava Jato. O envolvimento da Sete Brasil que, para produzir sondas que seriam alugadas a Petrobras, tinha feito várias encomendas ao Estaleiro Atlântico Sul, viu-se obrigada a cancelar contratos que desencadearam efeitos em cadeia que atingiram severamente a recém-instalada indústria naval e o setor metalmecânico da economia estadual. A Refinaria Abreu e Lima, por outro lado, ficou inconclusa. Os números são inequívocos: a economia estadual retrocedeu 2,2% entre janeiro e setembro de 2015 comparada com o mesmo período de 2014, o Estado perdeu quase 90 mil empregos em 2015, a taxa de desemprego voltou aos 11% no final de ano passado e o rendimento médio real do trabalho caiu quase 1% em termos reais, corroendo parte dos ganhos observados nos anos anteriores. Todavia, quando forem restabelecidas as condições políticas e econômicas para a retomada do crescimento, Pernambuco poderá se recuperar com mais rapidez devido ao grande bloco de investimentos feitos anteriormente, embora continuem a pairar incertezas

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