Entrevistas - Página: 11 - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

Entrevistas

"Queremos tornar o Bairro do Recife a Disneylândia da Assombração"

César William Costa, integrante do Recife Mal-Assombrado fala do projeto que divulga a história e a cultura da cidade por meio de divertidos passeios em que atores interpretam apavorantes lendas recifenses. Para manter o clima de mistério, ele não revela sua identidade e se mostra ao público como o personagem Mestre Devas. I magine caminhar pelas ruas escuras do Bairro do Recife e, de repente, se deparar com ninguém menos que o temível Papa-Figo? Essa é a proposta assustadoramente lúdica do Recife Mal-Assombrado. O projeto promove excursões pela cidade, nas quais atores, na figura de apavorantes lendas recifenses, surgem entre os caminhantes. Eles também podem se defrontar com um fantasma de algum personagem da história local, a exemplo de Maurício de Nassau ou Frei Caneca. Além de provocar sustos, o projeto, segundo um dos seus integrantes, César William Costa, visa a divulgar a história do Recife, seus locais históricos e sua arquitetura, de uma maneira muito divertida. Para não quebrar a magia apavorante da proposta, nenhum dos atores do Recife Mal-Assombrado mostra seu rosto. Por isso, César, concedeu esta entrevista a Cláudia Santos, com o figurino do personagem sacerdote Devas C. William Costa, mestre de uma ordem hermética. Com sua roupa negra e seu imenso capuz, “Mestre Devas” falou à Algomais no deslumbrante Palácio do Comércio, no Marco Zero, com sua bela escadaria, magníficos vitrais e cercado de símbolos da maçonaria. Um cenário que compôs um clima a mais de mistério. Segundo o “sacerdote” mais de 22 mil espectadores já se divertiram e se assustaram com o tour assombrado, cujo roteiro é inspirado nas obras de Gilberto Freyre, Roberto Beltrão, Carneiro Vilela e até em notícias de jornal. O que é o projeto Recife Mal-Assombrado? O Recife Mal-Assombrado já fez sete anos e tem inspiração em autores da literatura fantástica. Ele é um misto de espetáculo místico, turístico e cultural. Nós convidamos o turista e o público local a se encontrarem conosco em determinado local, geralmente na praça do Arsenal e, de lá, fazemos uma viagem ao passado, percorrendo os lugares reais das lendas antigas. E, no meio do passeio, eles se deparam com aquelas personalidades que, tempos atrás, assombraram os habitantes do Recife. Os mais variados espectros são encontrados no meio da rua. Mais do que somente um passeio de susto, o projeto traz a nossa cultura e traz também – até fisicamente – o que nossos antepassados viam e percebiam nas ruas do Recife naquele tempo. Dessa forma, consolida as lendas, os milagres, os fantasmas, as assombrações de outrora. Nesses sete anos, já tivemos uns 22 mil espectadores. Você poderia dar um exemplo de um desses roteiros? Temos dezenas deles, mas vamos falar dos principais: Fazemos a Caminhada Assombrada pelo Bairro do Recife, que geralmente sai às sextas-feiras, fazemos uma caminhada que dura uma hora e meia e durante o caminho, nas ruas mais vazias, mais soturnas, mais escuras, de repente, se materializa uma assombração. Pode ser o Seu Amorim, que é o Papa-Figo, pode ser uma Feiticeira, Antônia Maria ou Felícia Turim da nossa história, pode ser uma pisadeira, ou um cocheiro mencionado por Gilberto Freyre em seu livro. São mais de 120 personagens. O público nunca sabe quem aparece. Já o passeio de ônibus tem quatro horas de duração. Pegamos o nosso ônibus assombrado e visitamos, durante a noite, quatro a cinco locais assombrados, onde viviam as lendas. Temos um roteiro destinado só para os bairros mais antigos: Bairro do Recife, São José, Santo Antônio, Boa Vista, às vezes Santo Amaro, e outro que vai até a casa de Gilberto Freyre. Passa pelas Graças, Casa Forte, Parnamirim, Poço da Panela até Apipucos. A proposta é explorar mesmo. Pode ser um casarão, um museu, pode ser um teatro, um palácio. Podemos estar às 22h no Palácio do Governo, ou, nos casos mais extremos, como agora em outubro, quando há Halloween, podemos estar às 23h no Cemitério dos Ingleses. Nesses passeios não há luz, no máximo velas. Então, quando entramos no Forte de Cinco Pontas ou do Brum, por exemplo, só com as luzes de velas, pode surgir, de repente, um soldado que conta sua história, porque ele está ali sofrendo, preso naquele local. Fatalmente ele fala como era aquele lugar antigamente. O público começa a se surpreender: “puxa! Não havia prédios e o mar batia no muro do forte? Isso aqui foi aterrado?”. O passeio abrange muita coisa, de arquitetura à história e os ingressos podem ser adquiridos no site www.recifemalassombrado.com. Como são as reações do público? Ah, são as mais variadas. Imagine você ter crescido ouvindo as histórias do Papa Figo, da Loira do Banheiro, da Mulher do Algodão, da Comadre Fulozinha e, eles aparecem, de supetão, na sua frente? Aí, é um misto de alegria, de susto, de medo. Tem gente que corre, tem gente que cai na gargalhada nervosa, tem de tudo. Qual a importância de se resgatar e preservar essas assombrações do Recife? Raízes. Precisamos ter em mente quem somos, de onde viemos. Temos um problema no Brasil de ausência de laço ancestral, geralmente não sabemos nem o nome de nossos avós. Se tivéssemos uma ligação maior com essa ancestralidade, principalmente com a ancestralidade do Recife, teríamos mais amor à cidade. É isso que o Recife Mal-Assombrado propõe: que tenhamos mais amor pela cidade, que percebamos mais a sua cultura, seus aspectos arquitetônicos, históricos e culturais. Isso vai criando um link e sem perceber as pessoas vão tendo esse conhecimento, vão construindo esse amor e daqui a pouco estão envolvidas na preservação de um local histórico. Você precisa ver os olhos brilhando de quem faz o Recife Mal-Assombrado. Eles não se atentam somente para a assombração, mas ao contexto da assombração na sua época, na sua cidade. Essas assombrações podem ser históricas. De repente na caminhada pode aparecer o espectro de Domingo José Martins, Frei Caneca, Maurício de Nassau, e darem a versão deles sobre os fatos da época. Leia a entrevista completa na ediçãp 199.2 da Revista Algomais: assine.algomais.com

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"O exercício da política não é só na hora de votar"

Luciana Santana, cientista política e professora da Universidade Federal de Alagoas, analisa os resultados do primeiro turno das eleições, o conservadorismo do Brasil e como está representada a diversidade da população brasileira no Congresso Nacional. Também aborda a participação política do eleitor além do voto. Acabamos de participar de pleito em primeiro turno e a pergunta que se faz presente é: e agora, como podemos participar politicamente depois das eleições? Para a professora da Universidade Federal de Alagoas, Luciana Santana, que é doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais, a atuação dos cidadãos no campo político deve ser diário. “Isso pode ser realizado, fazendo a política no dia a dia, nas nossas associações, nos bairros, nos nossos sindicatos, nos nossos grupos de sociabilidade, porque eu acho que a política está em todos os espaços da nossa interação humana, nos temas que a gente discute na família, no grupo de amigos”. Luciana reconhece, no entanto, que apesar de a Constituição estabelecer canais de participação, nem sempre eles são ofertados nos governos. Outro problema é o desconhecimento do eleitor brasileiro sobre quais são as funções de um parlamentar. Nesta conversa com Cláudia Santos, a cientista política analisa as eleições, o conservadorismo no Brasil e as dificuldades para efetivar a representação da diversidade da população brasileira no Congresso. Como a senhora analisa os resultados dessas eleições no País no primeiro turno? Tivemos uma eleição muito intensa, muito acirrada e disputada nacionalmente, mas que teve um impacto também nas disputas no âmbito dos estados. Houve uma mobilização muito grande, tanto que o resultado mostra, claramente, uma divisão do País. Em alguns estados, alguns presidenciáveis que estavam à frente nas pesquisas – os dois principais – acabaram influenciando diretamente no resultado, seja na definição do primeiro turno da campanha para governo do estado, seja quanto à possibilidade de alguns candidatos irem para o segundo turno, o que às vezes, não era aventado. Houve várias dessas situações e que mostram o impacto que a eleição presidencial teve no âmbito local. O que se destacou neste pleito foi a discrepância entre os resultados dos votos dos candidatos e a estimativa mostrada pelas pesquisas. A senhora acredita que as pesquisas serão desacreditadas pelos eleitores? Não é a primeira vez que isso acontece. Em 2014 e 2018 também houve esses questionamentos em relação aos institutos. Agora aconteceram com mais intensidade porque há uma rede de desinformação que nega qualquer evidência, qualquer tipo de dado que explique esse processo. Temos que entender o que está acontecendo realmente e o que tem também influenciado esses erros, que não foram cometidos apenas por um instituto, mas por vários que trabalham de formas independentes. Temos, por exemplo, um censo defasado, que foi realizado pela última vez lá em 2010. Isso impacta na forma como as amostras são construídas e se elas efetivamente estão conseguindo ser representativas da opinião das pessoas que participam dessas entrevistas. Pode ainda ter tido mobilizações de eleitores buscando intensificar essa desinformação, ao responder de forma equivocada a uma pesquisa. Quando observamos a eleição presidencial, o resultado de Lula é basicamente o informado pelas pesquisas. A diferença está nos votos do Bolsonaro. Como as pesquisas mostravam o ex-presidente à frente, isso também pode ter gerado alguma onda nos dois últimos dias de antipetismo e pessoas que poderiam votar nulo, no Ciro, ou mesmo na Simone, resolveram votar em Bolsonaro. Então, são muitas variáveis difíceis de controlar. Não sou favorável a penalizar os institutos por isso. Eles forneceram informações importantes, mostraram o Lula na frente de Bolsonaro e isso se confirmou, talvez a distância não seja a esperada, mas é isso. E ocorreram erros tanto à direita e quanto à esquerda. Por exemplo, na Bahia, ninguém esperava que o Jerônimo fosse chegar tão longe, sendo que era um lugar onde havia a perspectiva de a eleição ser encerrada no primeiro turno com a vitória do ACM Neto, a mesma coisa no Piauí, todas as pesquisas indicavam, algumas semanas atrás, que o Silvio Mendes, do União Brasil, seria o vitorioso também em primeiro turno e a gente teve uma eleição em que o Rafael Fonteles, foi o candidato eleito. No Ceará, a mesma coisa. Não se pode criminalizar os institutos, como se tem visto, principalmente algumas pessoas de direita fazendo esse tipo de questionamento. Nós precisamos dessas informações e precisamos ter acesso a elas e ajudar, de alguma maneira, a melhorar o trabalho desses institutos. A partir dos resultados dessas eleições, pode-se afirmar que o Brasil está mais conservador? Acho que o Brasil sempre foi conservador. É só estudar um pouquinho de história para entender, desde o processo de colonização, como fundamos o nosso Estado nacional, como nos apropriamos desse Estado, e quais ideias políticas e valores que sempre tiveram predominância a ponto de, no Brasil, a população adquirir primeiro o direito político antes dos direitos sociais. Nunca conseguimos uma democracia plena e não existe democracia plena se há tanta exclusão social e tanta concentração de renda. Existe, sim, o conservadorismo em que as pessoas não querem mudar seus status sociais para beneficiar os menos favorecidos. O Brasil sempre foi conservador, em algum momento ele se abriu para um pacto, quando o ex-presidente Lula foi eleito, em 2002, e começou o mandato em 2003. Isso ocorreu porque se conseguiu fazer um pacto com a elite econômica do País ao trazer José Alencar como vice-presidente. Essa elite não gostou do que aconteceu em termos de mudanças sociais e hoje ela é resistente a qualquer tipo de mudança. Esse conservadorismo que eu vejo crescendo desde 2013, especialmente, é um aumento do conservadorismo reacionário e extremo. Acabou o centro democrático. Quando a gente olha para a votação, cadê o PSDB? O próprio MDB teve uma votação muito baixa. Cadê aqueles partidos que conseguiam minimamente um diálogo com a centro esquerda? Não existem mais. É muito preocupante essa situação. Leia a entrevista completa na edição 199.1 da Algomais: assine.algomais.com

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"É possível que até o final do ano o comércio local recupere parte das perdas acumuladas"

Bernardo Peixoto, presidente do Sistema Fecomércio/Sesc/Senac-PE analisa a retomada dos setores do comércio, de serviços e do turismo, após o impacto da pandemia. Também avalia a influência do cenário de inflação e juros altos e as perspectivas do setor hoteleiro em Serinhaém, onde o Sesc vai inaugurar um hotel ainda este ano. Durante a pandemia, grandes transformações foram observadas no varejo, nos serviços e no turismo. Alguma delas, como o crescimento das vendas pelo e-commerce, vieram para ficar, segundo análise de Bernardo Peixoto, presidente do Sistema Fecomércio/Sesc/ Senac-PE. Outras mudanças, antes percebidas como tendências, não permaneceram neste período em que a Covid-19 arrefeceu. É o caso da adesão dos consumidores ao chamado varejo de proximidade, também conhecido como comércio de bairro. “Com o aumento generalizado de preços, quem ganha mais força são os atacarejos e outlets”, afirma Bernardo Peixoto que, diante do cenário de desemprego, inflação e juros altos, acredita na recuperação parcial, ainda este ano, das perdas do comércio acumuladas em 2022. Nesta entrevista a Cláudia Santos, o presidente da Fecomércio também abordou a retomada dos serviços – especialmente em razão do retorno das atividades turísticas, educacionais e de shows e eventos. No turismo, inclusive, a expectativa é a inauguração, este ano, do Hotel do Sesc na praia de Gauadalupe, em Sirinhaém, empreendimento que, segundo Bernardo Peixoto, deverá atrair novos investimentos à região. O e-commerce cresceu muito na pandemia. Ele veio para ficar ou apresentou uma retração neste momento? A logística é um gargalo? O e-commerce, no Brasil, já apresentava uma tendência de expansão antes da pandemia mas em um ritmo que ainda era muito lento em relação aos padrões mundiais, sobretudo quando comparado a parceiros comerciais importantes do Brasil, como Estados Unidos e China. A paralisação das atividades presenciais, durante a crise sanitária, acabou contribuindo para que a presença dos consumidores na internet acelerasse para um padrão que se esperava apenas no final da década. Considerando esse avanço recente, é possível dizer que sim, o comércio eletrônico vai persistir após a pandemia. O Brasil é um mercado promissor para pequenos e grandes players do e-commerce. Em Pernambuco também temos essa visão e o Estado, por sua posição privilegiada, atrai operações de logística de grandes empresas do segmento. O segundo semestre costuma apresentar um aumento nas vendas no varejo. Isso vai se repetir este ano ou a inflação e a taxa de juros podem ser impeditivos para a retomada mais sustentável? Realmente, sempre há a expectativa de que o segundo semestre seja mais aquecido e que ajude a superar eventuais dificuldades, em termos de vendas, do início do ano. Mas, o que já se observa, desde 2018, é um resultado muito baixo das vendas do varejo no Estado, mesmo com o aquecimento das vendas no segundo semestre. O fato é que o desempenho do mercado de trabalho local já não contribuía e a conjuntura econômica nacional, com inflação, aceleração e aumento dos juros, coloca mais um peso sobre o poder de compra das famílias pernambucanas. O reflexo disso vê-se nas pesquisas sobre o varejo: segundo o IBGE, as vendas no Estado acumulam queda de 5,3% até julho, comparado ao ano anterior e, em julho de 2021, esse resultado era positivo em 10,2%. Ainda assim, é possível que até o final do ano o comércio local recupere parte das perdas acumuladas até então, uma vez que o mercado de trabalho formal vem com bom desempenho desde maio. Quais as perspectivas dos shoppings e do comércio de rua? Os shoppings centers têm ganhado cada vez mais adeptos no momento das compras, em diversas classes de renda. Isso porque o consumidor tem reconhecido a vantagem de poder realizar compras em ambiente controlado, com segurança, onde podem aproveitar o momento das compras para também acessar algum serviço. Esses fatores têm impulsionado o gasto nos shoppings depois da reabertura das atividades. Para se ter uma ideia, segundo a Associação Brasileira de Shopping Centers, as vendas nos shoppings cresceram 38%, no segundo trimestre, em relação ao mesmo período de 2021, e 4,3% em relação ao mesmo período de 2019. A possibilidade de pesquisar os preços com mais comodidade, sem grandes deslocamentos, é outro fator que pode influenciar no comportamento do consumidor. O comércio de rua ainda tem atratividade mas é fato que ele vai dividir cada vez mais espaço na preferência dos consumidores, nos próximos anos, com a concorrência dos shoppings centers e do e-commerce. A pandemia estimulou o consumidor a comprar no comércio de bairro, próximo à residência? Antes da pandemia, os estabelecimentos no comércio de bairro, o chamado varejo de proximidade, já era uma tendência crescente. A pandemia ajudou por um tempo a segurar a demanda para esse formato de negócios, sobretudo no segmento de gêneros alimentícios. Mas, atualmente, com o aumento generalizado de preços, quem ganha mais força são os atacarejos e outlets. Nesses espaços, o consumidor enxerga uma oportunidade de continuar consumindo alguns itens por um preço abaixo da média do mercado. Leia a entrevista completa na edição 198.5: assine.algomais.com

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"A saúde emocional dos profissionais é um ponto que deve ter muita atenção das empresas"

Carolina Holanda, psicóloga e sócia da TGI analisa as transformações provocadas pela pandemia no trabalho, afirma que ficou ainda mais evidente a importância das habilidades socioemocionais dos funcionários e alerta para a necessidade de os gestores se preocuparem com a saúde mental de sua equipe. A pandemia trouxe grandes mudanças para as empresas e os profissionais. Ambos tiveram que se adequar à realidade do home office e, agora, com a possibilidade do retorno ao trabalho presencial, o regime híbrido tem sido adotado em muitos ambientes corporativos. Mas como a Covid-19 abalou a condição psicológica de boa parte da população do planeta, essa consequência, inevitavelmente impactou o mundo laboral. A psicóloga Carolina Holanda, sócia da TGI, ressalta que todas essas repercussões levaram a uma necessidade ainda maior dos gestores de cuidarem e se preocuparem com seus funcionários. O momento também deixou ainda mais notória a importância da inteligência emocional como uma das habilidades necessárias aos trabalhadores contemporâneos. “Ficou evidente que profissionais que tinham desenvolvido mais competências socioemocionais souberam lidar melhor nas situações de crise”, constata a consultora da TGI. Nesta entrevista à Cláudia Santos, Carolina analisa esses impactos da pandemia, fala da importância da diversidade nas equipes e fornece algumas dicas para entrar no mercado de trabalho. Passada a fase mais crítica da pandemia, podemos dizer que o trabalho híbrido veio para ficar? Por quê? O modelo de trabalho híbrido é realmente uma tendência que deve ficar cada vez mais forte nas empresas daqui pra frente. Isso porque durante o período de isolamento e do trabalho remoto, provocados pela pandemia, em muitas empresas se observou um aumento de produtividade, redução dos custos empresariais, além de um maior sentimento de bem-estar nos profissionais. Eles puderam no período de home office ficar mais próximos da família, não enfrentar o estresse do trânsito, reduzir os gastos pessoais. Porém, ao mesmo tempo, enfrentaram desafios ao tentar conciliar a rotina de casa com a do trabalho e dar conta das inúmeras demandas com a família. Se por um lado, teve ganhos, por outro lado, sentiram também a perda da troca de experiência com os colegas ou com seu gestor, de ter uma melhor definição do horário de trabalho (em casa, boa parte, trabalhava mais horas do que no escritório) e de poder sair do mesmo ambiente. Do mesmo modo, muitas empresas também sentiram o peso de ter toda a equipe distante, com perda da integração e das possibilidades de construção conjunta e até uma menor agilidade na tomada de decisão. Também com a pandemia, veio a necessidade de as empresas prestarem mais atenção a um ponto que impacta diretamente o desempenho das pessoas: a saúde emocional. Então, oferecer um modelo de trabalho mais flexível, com possibilidade de os profissionais alternarem idas ao escritório com dias de home office tem sido uma boa alternativa para os dois lados. Empresas com profissionais mais satisfeitos e produtivos terão melhor resultado e um clima de trabalho mais saudável. Porém, é importante ressaltar que o modelo de trabalho hibrido nem sempre é adequado para todas as empresas e segmentos, seja porque a empresa ainda não se sente preparada para lidar com esse modelo ou pela demanda de ter profissionais presentes integralmente na estrutura física. Não existe um modelo único que cabe para todas as empresas. Quais são as condições necessárias para as pessoas serem produtivas em home office? Primeiro passo é definir em qual local da casa você vai trabalhar, que além de ter as condições mínimas como uma boa internet, deve ser um espaço reservado livre de interrupções constantes e barulho. Não podemos esquecer de definir um horário para começar e terminar o expediente, levando em conta sua jornada de trabalho habitual. A segunda dica é se organizar. Definir uma rotina que contemple todas as suas obrigações profissionais e pessoais, sem permitir que uma prejudique a outra. É fundamental definir seu plano de atividades a cumprir no dia, elencadas por prioridade, e ter clareza de quais entregas do trabalho precisa realizar. Sem esquecer, inclusive, das reuniões remotas que podem estar programadas. O fato de estar em casa, muitas vezes, leva a um certo desleixo com esses agendamentos. Devemos nos comportar como se estivéssemos na empresa e nos mantermos prontos para fazer uma chamada por vídeo com um cliente ou gestor de última hora. Não vale ficar de pijama ou desarrumado só porque está em casa. Sozinhos e em casa pode ser mais difícil evitar as distrações e ter a disciplina necessária para não cair em algumas armadilhas como: “vou deixar para amanhã, quando chegar no escritório”, fazer uso excessivo das redes sociais ou envolver-se nas demandas do lar fora do horário previsto, principalmente quando se tem criança em casa. Esse, de fato, é um grande desafio e pode não parecer fácil porque, para algumas crianças, os pais estarem em casa significa que estão disponíveis para brincar ou dar atenção. Minha sugestão é sempre conversar, explicando que agora o modelo de trabalho está diferente e combinar minimamente alguns acordos para evitar as interferências. E, claro, sempre após o expediente de trabalho, dedicar-se a fazer alguma atividade com os filhos. Como tem sido o retorno ao trabalho presencial, mesmo que seja híbrido? Tenho percebido que agora está mais tranquilo e com menor receio com a redução expressiva do risco de contaminação. Além disso, como falei no início, muitos profissionais estavam sentindo falta da dinâmica que há nas empresas, das trocas, da possibilidade de voltar a ter mais integração. Muitos estão precisando reorganizar suas rotinas considerando o tempo de deslocamento novamente, a logística familiar e a saudade da comodidade de estar em casa. Há, também, os que estão passando por problemas emocionais, como ansiedade, depressão ou doenças psicossomáticas e doenças físicas, ambos impulsionados por tudo que viveram durante a pandemia. Tudo isso acaba impactando na produtividade, engajamento e motivação dos profissionais e fica cada vez mais evidente que saúde emocional é, sim, um ponto que deve ter muita atenção das empresas. Os gestores precisam ter sensibilidade para identificar os sinais de que

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"Depois da pandemia, as crianças estão desmotivadas e com dificuldade de acompanhar a aula"

Ana Elizabeth Cavalcanti, psicanalista integrante do CPPL (Centro de Pesquisa em Psicanálise e Linguagem), avalia o impacto da pandemia no desenvolvimento e na saúde mental das crianças e adolescentes, o estresse sofrido pelos pais e analisa os problemas provocados pelo retorno às aulas presenciais nas escolas. Passado o período mais intenso de isolamento e das aulas 100% online (medidas adotadas no auge da pandemia) ob- serva-se nos estudantes a dificuldade do convívio social, um comprometimento do aprendizado e, sobretudo na população adolescente, um aumento nos índices de depressão. Para conversar sobre esse impacto da crise sanitária da Covid-19 nas vi- das dos alunos, Cláudia Santos conversou, por videoconferência, com a psicanalista Ana Elizabeth Cavalcanti, integrante do CPPL (Centro de Pesquisa em Psicanálise e Linguagem). Ela abordou a culpa dos pais por não corresponderem a um “ideal de família feliz” impossível de alcançar durante a situação de confinamento (como dar conta do trabalho remoto, da assistência ao ensino online dos filhos e do cuidado com a casa). A psicanalista tam- bém ressalta a dificuldade de crianças e adolescentes de se rea- daptarem às aulas presenciais e orienta como ajudá-los. Qual o impacto da pandemia no desenvolvimento da criança? O impacto é inquestionável e varia com a idade, a classe social, as condições que as crianças tiveram durante a pandemia. Uma pesquisa mundial da Unicef, na qual entrevistaram os pais, mostra que 63% deles tiveram perda financeira na pandemia e 6%, não tiveram o que comer. Aqui as pesquisas também apontam nessa direção. Isso gera insegurança, desespero, violência. Algo fundamental para ser levado em consideração é o confinamento, que implicava em você estar em casa com as crianças (aquelas que puderam ter essa condição). Algumas crianças ficavam em situações deploráveis, a violência doméstica explodia, em razão da convivência demasiada. Outro ponto crucial é a privação da escola. O Brasil foi o país que teve mais semanas sem aulas presenciais do mundo. Enquanto a média mundial foi de 20 semanas, nós chegamos a 70 semanas. Ficou muito visível o que representa a escola que, além da evidente função da educação formal, implica também, desde questões básicas de um espaço onde as crianças podem comer melhor, até a sua importância no desenvolvimento do contato social, da transmissão dos valores. De repente, elas se viram privadas de tudo isso. A escola é o espaço onde a criança vai aprender a lidar com as vicissitudes do seu desejo. Ela quer sempre fazer o que quer, objetalizar o outro. O que faz com que isso não se exacerbe é o exercício do convívio social. Somos todos agressivos? Sim. O que faz com que não nos matemos uns aos outros – até que se mata, mas não no nível de nos exterminarmos? É justamente esse exercício de relação entre as pessoas. Na escola acontece muito de um coleguinha morder o outro. O coleguinha chora, dizemos para a criança pedir desculpas. Depois, morde novamente e fazemos a mesma coisa. Esse é o exercício. A privação disso é expressa pela tendência ao isolamento. As depressões e as crises de ansiedade, sobretudo nos adolescentes, estouraram, assim como os índices de automutilação e suicídio. Para as crianças mais precoces, que estavam no infantil e na alfabetização, foi um desastre completo do ponto de vista afetivo emocional, porque sabemos a importância da escola nessa faixa etária. Existem crianças, por exemplo, que não falam e quando entram na escola começam a falar, em dois meses. Nas crianças com mais idade, vimos que todos esses componentes da sociabilidade da escola estavam lá presentes, mas houve também o comprometimento da educação formal. Os efeitos já são visíveis, mas serão ainda mais à proporção que o tempo passa. Do ponto de vista da saúde mental, pessoas de todas as idades foram atingidas. As mães que foram para a maternidade no auge da pandemia, não puderam ser visitadas, não contaram com o apoio dos familiares ou de outras pessoas, porque todos estavam confinados. Nas classes médias não tinha quem ajudasse na manutenção da casa. Tudo sobrou para os pais, que muitas vezes já tinham outra criança. Uma situação adversa para a chegada de um bebê. Os bebês que estavam confinados junto com os pais passaram a ver todas as outras pessoas que não estavam em casa – avós, tios, os primos, os amigos dos pais – mascarados. O rosto é uma referência importante porque é por ele que passam as mensagens afetivas. Esse foi um dos motivos que aumentou o número de diagnóstico equivocado de autismo. Se a criança está nesse contexto, privada de estimulação, sem conviver, sem ter acesso aos rostos humanos, é claro que farão uma sintomatologia como atraso de linguagem, irritabilidade, dificuldade de convivência, tendência a isolamento. Do meu ponto de vista fazer um diagnóstico de autismo nesse caso é um equívoco enorme. Outro componente fundamental é a presença das telas inclusive para bebês, numa situação muito especial porque os pais precisavam trabalhar, cuidar da casa, não havia maldade nisso. Qual o impacto da tela nas crianças? Sabemos que a exposição excessiva à tela coloca a pessoa numa situação de passividade. A criança desenvolve a linguagem e a capacidade de pensar na interação ativa, responsiva com outro. Na medida em que grande parte do seu tempo é ocupado pela tela, em que ela se coloca de forma passiva, com pouca capacidade de reagir a isso, é uma questão que preocupa. Outra consequência é a pouca aptidão para desenvolver relações na presença do outro, porque há uma tendência, não só nas crianças muito pequenas, mas também nas maiores e nos adolescentes, de ficarem naquele isolamento que a tela permite. No caso de crianças maiores, outra preocupação é a exposição a conteúdos que não são adequados. Temos visto muito na clínica o acesso a conteúdos difíceis, como pornografia e violência, que são acessados pela criança e absorvido por ela sem nenhuma mediação. A pandemia sobrecarregou os pais, que ficaram mais estressados, com home office, e por ajudar no ensino online dos filhos. Esse estado emocional dos

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"Todo mundo sente uma empatia quando olha as fotos de Wilson Carneiro da Cunha"

Bia Lima, arte-educadora e neta do célebre fotógrafo, autor de imagens icônicas do Recife, realiza pesquisa sobre o trabalho do avô para estudar sua estética, além de digitalizar e abrir o seu acervo ao público. Ela procura pessoas que tenham fotografias dele guardadas em casa. A queles que costumam se interessar por fotos antigas do Recife, certamente já se depararam com uma fotografia de Wilson Carneiro da Cunha. Algumas são icônicas como a que mostra a demolição da Igreja dos Martírios. Os que têm acima de 60 anos devem guardar na memória o Kiosque do Wilson, na Rua Nova, uma maneira criativa que ele – por sugestão da mulher Conceição – resolveu implantar para vender seus registros. A rua fervilhava no Recife dos anos dourados, quando o Centro da cidade vivia um glamour, com novas avenidas, luzes e letreiros. Era “Hollywood pura”, como o fotógrafo costumava dizer. Suas fotos são como crônicas imagéticas da capital pernambucana e mostraram ao longo dos anos as transformações urbanas, inclusive as que apagaram o brilho glamouroso do Centro. Agora, sua neta, Bia Lima, pesquisa o trabalho do avô fotógrafo e mostra um outro lado dos seus registros, a partir do acervo de fotos da família. Nesta conversa com Cláudia Santos, ela fala de hábitos inusitados de Wilson como estar sempre com a câmera fotográfica, até quando ia para a padaria. Sua paixão por preservar a memória do Centro nãos se resumia aos cliques: ele colecionava objetos das demolições do Centro, como placas de rua, altares de igreja e até postes. Formada em artes visuais e licenciatura em artes, Bia herdou do avô o gosto pela fotografia, é professora em escolas e está pedindo às pessoas que tenham fotos de Wilson para entrarem em contato com ela de modo a contribuir com a pesquisa. Quem foi Wilson Carneiro da Cunha e como ele virou fotógrafo? Ele foi fotógrafo a partir da década de 1940, mas só ficou conhecido e começou a ganhar dinheiro com o ofício na década de 1950, quando abriu o Kiosque do Wilson. Como ele viroufotógrafo? Essa pergunta também fiz para minha tia Olegária. Ela disse que ele conhecia um amigo que tinha uma câmera e foi quem apresentou a fotografia para ele. Meu avô começou a fotografar, mas de uma forma muito intuitiva. Ao longo do tempo, com a prática, foi pegando experiência. Logo ficou bem conhecido porque o Kiosque ficava na Rua Nova, um lugar muito frequentado. Ele era uma pessoa muito extrovertida, com um temperamento bem comunicador. Ele se casou com minha avó Conceição, logo tiveram minha tia Olegária e mais quatro filhos, muitos seguiram a carreira na área das artes, acho que por incentivo do pai. Ele também trabalhou para jornais. Ele era freelancer ou contratado? Eu sei que ele trabalhou para muitos jornais. Mas na época não se creditava as fotos, por isso muitas fotografias dele publicadas não tiveram crédito. Ele também era fotógrafo da polícia e tinha vários crachás que lhe davam acesso a eventos, como quando o presidente Juscelino Kubitschek esteve aqui. Como surgiu a ideia do Kiosque? Minha avó era fascinada pela cultura europeia e meu avô pela norte-americana. Eles eram colecionadores de muitos objetos e minha avó colecionava muitas revistas e, numa delas, viu uns quiosques de revistas que existiam na França. Então, sugeriu a meu avô instalar um quiosque desses no Recife, mas para exibir as fotos dele. Colocaram o nome com K porque é a forma como se escreve em francês. Ele também tinha um estúdio num prédio na rua Dias Cardoso, mas montou o Kiosque para que o público tivesse acesso ao seu trabalho de forma mais espontânea e também para tornar a fotografia mais acessível a um número mais ampliado de pessoas. Na época, nem todos tinham condições de tirar uma foto. Ele comentou que, antigamente, não era permitido às mulheres entrarem sozinhas em qualquer prédio. Mas, ao passar na rua, elas poderiam parar e olhar as fotos no Kiosque. Como você classificaria as fotos de Wilson? Ele fotografava temas muitos díspares: das ruas do Recife, passando por famosos, casamentos, a população miserável… Escrevi esse projeto porque tomei conhecimento do acervo dele que está na Fundação Joaquim Nabuco e que tem um recorte bem específico de fotos mais históricas, que falam muito sobre o urbanismo do Recife, as transformações da cidade, as pessoas em situação de rua. Como eu tinha também um acervo privado, observei que havia um outro recorte mais familiar de Wilson, que é o do pai, do marido, mas que também se caracterizava por um registro inusitado, dos flagrantes, do instantâneo como ele chamava. Ele fotogravava cenas cotidianas, o filho chegando da escola, por exemplo. Tinha um olhar muito curioso para essas coisas inusitadas do dia a dia, mas também tinha uma maneira de fotografar de forma ensaiada, ao colocar uma narrativa por trás da foto ou criar um cenário. Ou seja, ele tinha essa visão ensaística e também gostava do inusitado e do flagrante. Mas era realmente uma pessoa que gostava de registrar. Até quando ia para padaria, estava sempre com a câmera no pescoço, não a tirava por nada, era como se fosse o terceiro braço dele. Leia a entrevista completa na edição 198.2 da Revista Algomais: assine.algomais.com

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"Todo mundo quer entrar no Chanteclair e agora isso vai ser possível"

Gabriela Coutinho, organizadora da CASACOR-PE, conta como será a edição da mostra, que este ano será realizada no mítico edifício do Bairro do Recife e terá espaços de entrada gratuita para o público. Ela também detalha as obras de requalificação feitas no imóvel. Muitos boêmios que frequentavam o Recife Antigo, décadas atrás, têm na memória as alegres noitadas vividas no edifício Chanteclair, que já abrigou boates, um famoso bordel e o bar Gambrinus, que tinha clientes famosos, como o jornalista, cronista e compositor Antônio Maria. Mas há relatos de que o imponente imóvel, localizado às margens do Rio Capibaribe – ocupando todo um quarteirão da Av. Marquês de Olinda, Rua da Madre de Deus, Vigário Tenório e Cais da Alfândega – também chegou a ser usado como armazém de açúcar no térreo e como moradia nos andares superiores. O certo é que com o tempo e o esvaziamento do Bairro do Recife, o Chanteclair sofreu um processo de deterioração. Tombado pelo Iphan em 1998, e fechado para reforma anos depois, o prédio pertence a Santa Casa de Misericórdia, mas é cedido a Realesis Empreendimentos, gestora do Complexo Paço Alfândega. Sua fachada foi recuperada em 2012, mas seu interior continuava em estado precário, e nunca mais foi aberto. Desde então, o edifício permaneceu no imaginário do recifense que sonha com sua reabertura. Esse desejo se tornará realidade, ao menos de forma transitória, graças à decisão das organizadoras da CASACOR Pernambuco, Carla Cavalcanti, Gabriela e Isabela Coutinho, de realizar a edição deste ano da mostra no icônico edifício. Para contar como será esta CASACOR, a arquiteta Gabriela Coutinho conversou com Cláudia Santos, dentro do Chanteclair, em meio às obras que estão sendo feitas para acolher o evento. Entre as novidades, estão a praça modelo a ser instalada na lateral externa do prédio, na Rua Vigário Tenório, e uma área no térreo com restaurante, bar e galeria de arte popular que terão acesso gratuito ao público. Como surgiu a ideia de fazer a CASACOR no edifício Chanteclair? Na verdade, esse já era um sonho antigo. Eu, Isabela (Coutinho, que também é organizadora do evento) e meu pai fomos fazer um passeio pela cidade – como geralmente fazemos quando estamos procurando um imóvel para a CASACOR – e aí passamos aqui na frente do prédio e começamos a discutir: poxa, a gente quis o Chanteclair, será que agora que a pandemia arrefeceu, a gente não poderia retomar esse plano? Foi quando ligamos para Ana Paula (Vilaça, chefe do Recentro – Gabinete do Centro do Recife). Ela nos deu todo o apoio, fez a ponte com o proprietário e começamos as negociações. O Recentro está com uma série de ações para requalificar o Bairro do Recife e eles estão nos ajudando em tudo o que podem, porque entendem a importância do edifício e de requalificar um imóvel que está fechado há tanto tempo. Desde o começo do ano estamos nesse processo, vendo o que poderia fazer de entrega, gerando masterplan (planejamento do projeto do evento) contatando patrocinador. O Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) também nos deu todo o suporte e apoio, em tudo o que precisamos em termos de autorização. Eles têm sido superparceiros por entender a importância de reabrir um imóvel de relevância histórica para a cidade. O que se sabe sobre o prédio? Estamos pesquisando sobre o assunto, porque tem muita coisa que não está documentada no papel e estamos pesquisando histórias antigas, com a ajuda do Iphan e da nossa equipe, como os jornalistas envolvidos que estão ajudando a levantar informações do tipo: há quanto tempo o imóvel está fechado, as ocupações que já ocorreram etc. Então, estamos fazendo um levantamento bem legal, tanto para podermos divulgar, como para ter isso no nosso anuário e contar a história do Chanteclair. Muita gente tem muitos “achismos” e até memórias, mas para sabermos ao certo, temos que fazer uma série de apurações para entender o que de fato aconteceu aqui dentro, para poder documentar e divulgar isso para todo o público. O Chanteclair tem quase 100 anos e o que se sabe é que havia um bordel. Minha equipe foi conversar com Paulo Brusky (artista plástico), que era frequentador do imóvel e trouxe várias histórias. Ele já fez exposição de arte aqui, dentro do bordel, na época da ditadura e foi preso. São várias histórias que queremos resgatar. Havia também o Gambrinus, que era um restaurante. Era um prédio utilizado de modo múltiplo. O que está muito no imaginário do pernambucano é o bordel, porque o porto estava próximo, havia os marinheiros, toda essa história desse Recife que está no passado, mas que nem é tão velho, porque na década de 1970 ainda funcionava. Como será a CASACOR no Chanteclair? A CASACOR vai acontecer no térreo e mezanino do imóvel. A parte externa terá uma praça modelo de uso público, num trecho da Rua Vigário Tenório, (que fica numa das laterais do Chanteclair). Nesse trecho, não vai poder circular automóveis, terá acessibilidade, vegetação e todos os itens ideais da boa gentileza urbana. A praça modelo vai ser projetada pela Haut, que está assinando esse projeto. O acesso à praça será gratuito, não vai ser preciso ter ingresso para entrar nela. Essa praça será transitória ou permanente? Ela está numa passagem de carro e temos uma autorização temporária. Mas acreditamos que se for uma coisa muito positiva e que a prefeitura tenha interesse que fique, acho que tem tudo para dar certo. Acho que vai ficar bem legal, vai dar esse apoio para a rua Madre de Deus, que tem muito movimento. Vai ser bom pra todo mundo, vai tirar essa aridez de hoje que só tem carro. O acesso ao prédio será a porta central localizada na Vigário Tenório. No andar térreo, em frente à praça, ficarão os espaços operacionais, onde também não será preciso pagar ingresso. Nele estarão o Bistrô Recentro, que será comandado por Manu Tenório e funcionará durante toda a mostra. Nesta área operacional, também haverá um

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"Somos um plano de saúde e não um plano de doença"

Os constantes avanços da medicina (com a crescente incorporação de novas tecnologias e o surgimento de fármacos de última geração), o processo de oligopolização da área de saúde e o aumento do número de cirurgias eletivas que foram represadas no início da pandemia são alguns dos fatores que têm pressionado os custos dos planos de saúde. Nesta entrevista a Cláudia Santos, o médico clínico, especialista em medicina do trabalho e diretor-presidente do Fisco-Saúde, Pablo Cavalcanti de Andrade Lima Brito, analisa a conjuntura atual do setor de saúde suplementar. Brito, que também é auditor tributário, diretor operacional da Febrafite-Saúde (Federação Brasileira de Associações de Fiscais de Tributos Estaduais) e membro do Conselho Deliberativo da Unidas (União Nacional das Instituições de Autogestões em Saúde), avalia ainda os desafios do segmento de autogestão. Ele defende o incentivo à prevenção e à atenção primária à saúde como soluções para reduzir os custos da saúde suplementar e preservar a qualidade de vida dos seus beneficiários. Qual é a participação da saúde suplementar na assistência à saúde prestada aos brasileiros? No Brasil, hoje, 75% da população brasileira depende do SUS (Sistema Único de Saúde), 25% utiliza a saúde suplementar, que é de caráter privado, o que equivale a aproximadamente 50 milhões de brasileiros. É importante ressaltar que esses números variam de região para região. No Norte e Nordeste, esse número cai para 10% a 15%, já nas regiões Sul e Sudeste, equivale a subir até 30%. Então, além de ser uma parcela pequena da população brasileira que tem acesso aos planos de saúde, ainda enfrentamos, como em qualquer outro aspecto da realidade brasileira, essas diversidades regionais. A saúde suplementar é normatizada e fiscalizada pela ANS (Agência Nacional de Saúde) e há vários modelos de atuação. Existem as cooperativas médicas, as medicinas de grupo, os grupos de filantropia, as seguradoras de saúde e as autogestões. Eu, por exemplo, sou presidente de uma autogestão, o Fisco Saúde Pernambuco, que é a caixa de assistência dos auditores tributários do Estado. Essas autogestões representam hoje cerca de 10% desse contingente de vidas que têm acesso à saúde suplementar, ou seja, 5 milhões de pessoas fazem parte de planos de saúde de autogestão, que são característicos do Brasil. Temos em torno de 150 planos de saúde de autogestão no País. Foi no Brasil que surgiu essa modalidade? É um modelo brasileiro e há poucas experiências no mundo neste sentido, por isso não temos como fazer uma análise comparativa com outros países. Quais os problemas enfrentados pela saúde suplementar no Brasil? A saúde suplementar como um todo enfrenta alguns desafios consideráveis. Em primeiro lugar, a velocidade com que a tecnologia avança na medicina faz com que novos procedimentos e novos medicamentos de alto custo sejam incorporados ao rol de cobertura obrigatória determinada pela ANS. Essa é uma questão bem significativa porque aumenta o custo operacional de todos os planos de saúde. Outra questão que enfrentamos no Brasil, atualmente, é o processo de oligopolização da saúde suplementar. Cada vez mais, há uma concentração maior em poucas mãos dos hospitais e laboratórios. Isso diminui a margem de negociação para buscar o melhor custo para o beneficiário, cria dificuldade de relacionamento e é prejudicial à concorrência que é extremamente saudável para qualquer atividade econômica. Além disso, se já há na economia um processo inflacionário importante, na medicina isso é bastante notado, sobretudo porque dependemos, muitas vezes, de medicamentos importados, de tecnologia de alto custo, de uma medicina cada vez mais desenvolvida, mas também mais cara. Nesse contexto econômico, a inflação médica passou a ser um ponto muito relevante no desequilíbrio do custo dos planos de saúde. Outro problema que os planos de saúde de maneira geral enfrentam é a judicialização. As questões médicas são muito judicializadas. Sempre defendemos que houvesse varas de direito médicos nos tribunais de Justiça para que essas ações fossem direcionadas para esse juiz que poderia, com olhar mais profundo, mais especializado, julgar. O que acontece hoje é que as liminares são dadas com muita facilidade, sem exame maior e isso acaba gerando custo para os planos de saúde. Leia a entrevista completa na edição 197.1 da Revista Algomais: assine.algomais.com

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