Arquivos Saúde - Página 5 de 36 - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

Saúde

Legado de Nise da Silveira é tema de evento digital da Fundaj

Eletrochoque, insulinoterapia e lobotomia, nada disso fazia sentido para a médica que revolucionou a forma de se fazer psiquiatria - ela foi além. Alagoana, Nise da Silveira nasceu em 1905, época em que os doentes mentais não eram tratados com humanidade. Seu cuidado para com o outro a fez uma das grandes profissionais do Brasil, deixando um legado imensurável, tema do terceiro encontro da série “Grandes Personalidades do Nordeste”. O evento, nesta quinta-feira (2), às 17h, será transmitido ao vivo pelo canal do Youtube da Fundação Joaquim Nabuco (https://bit.ly/382DXkS).  A cineasta e psicanalista Isabela Cribari falará sobre “Nise da Silveira: psicanálise, arte, cura e cultura”. Em seguida, haverá a palestra da médica Cristiana Tavares, sob o título de "Nise: a palavra que mais gosto é Liberdade". Um diálogo entre as palestrantes, que também responderão às perguntas do público que interagirá via chat, finalizará o evento.  “A vida e obra de Nise de Silveira são a vitória dos grandes valores humanos. Em tempos de tanta carência, depressão coletiva e individual, ansiedades de todos os tipos, Nise é um oásis onde se pode beber a água pura do Iluminismo, da sensibilidade triunfando sobre a violência e a incompreensão”, reflete Mario Helio, diretor da Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca). Homenageada do debate, Nise da Silveira começou vencendo pelas estatísticas ainda jovem: foi a única mulher de sua turma de faculdade. Formou-se em medicina aos 21 anos, na Bahia. Em seu inusitado trabalho de conclusão do curso, analisou o comportamento de infratoras em uma cadeia de Salvador, pesquisa que aguçava um olhar para a existência dos invisíveis sociais do século passado. “Nise era uma mulher livre de padrões desde a infância. Com mãe musicista, tio poeta e pai libertário, amante da música, seus sonhos não foram tolhidos. O apoio da família e o mundo da leitura a libertaram dos preconceitos vigentes no século passado, tornando-a uma das maiores humanistas na área das ciências”, compartilha Cristiana Tavares. Ao longo da carreira como psiquiatra, Nise de Silveira se negou a aplicar em seus pacientes os tratamentos tidos como “convencionais”, era um acordo que tinha com seu companheiro, o médico sanitarista Mário Magalhães. Em vez de impor aos doentes o desgaste pelo serviço braçal nos manicômios, oferecia-lhes o amor e arte, com tintas, pincéis e telas brancas. Fundou assim a “terapia ocupacional”, acreditando que a produção artística tinha o poder de curar. “Enquanto se achava que o esquizofrênico tinha os afetos embotados e não se comunicavam porque viviam num universo interior, Nise conseguiu acesso a este mundo a partir de uma outra linguagem: as imagens. Hoje todo o material que os pacientes produziram está exposto em um museu conhecido internacionalmente [Museu do Inconsciente, RJ]”, conta Isabela Cribari. Programada para sete encontros, a série “Grandes Personalidades do Nordeste” prossegue até o final de julho. Sempre às quintas-feiras, o evento convida especialistas para explanar sobre a vida e contribuições sociais de figuras de destaque. As palestras seguintes serão sobre Antônio Conselheiro (9/07), Padre Cícero (16/07), Delmiro Gouveia (23/07) e Zumbi dos Palmares (30/07). Sobre as palestrantes Cristiana Tavares é médica, especializada em Oncologia clínica, com pós-graduação em oncogenética pelo Hospital Israelita Albert Einstein e Mestrado em Perícia Forense pela UPE. Professora universitária da disciplina de Oncologia, também atua como perita forense em Oncologia no Conselho Nacional dos Peritos Judiciais do Brasil, além de ser vice-presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica. Isabela Cribari é cineasta e fotógrafa, além de psicanalista. Atua em consultório particular e na saúde pública, no Hospital Agamenon Magalhães, no Recife, onde coordena o Cinema no Hospital - projeto de arte, cultura e psicanálise. Serviço: Grandes Personalidades do Nordeste: Nise Silveira Palestras: "Nise da Silveira: psicanálise, arte, cura e cultura", com Isabela Cribari; e “Nise: ‘a palavra que mais gosto é Liberdade’", com Cristiana Tavares. Dia: 2/7/2020 Horário: a partir das 17h Transmissão no canal da Fundação Joaquim Nabuco do YouTube (https://bit.ly/382DXkS)

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UFPE desenvolve teste rápido da Covid-19 com alto nível de acerto

O Grupo de Pesquisas em Computação Biomédica, do Departamento de Engenharia Biomédica (DEBM) da UFPE, com colaboração de estudantes de graduação, de pós-graduação e egressos de Engenharia Biomédica, desenvolveu modelo de teste rápido da Covid-19 usando exames de sangue e Inteligência Artificial. O invento, batizado de Heg.IA por conta da deusa grega da saúde, Hégia (ou Hígia) e a Inteligência Artificial (IA), possibilita os resultados em uma ou duas horas e confere alta taxa de acerto, com acurácia de 96,89%, especificidade de 0,9214, e sensibilidade de 0,9365. Assista ao vídeo ilustrativo no YouTube. Sob a coordenação dos professores Wellington Pinheiro e Ricardo Emmanuel de Souza, ambos do DEBM, o teste, ainda em fase experimental, foi desenvolvido levando em conta as normas para software de diagnóstico médico dos principais países. “No Brasil, a Anvisa ainda não regulamenta software para diagnóstico médico, mas, estamos buscando seguir as normas para regulamentação de equipamentos médicos que possam se aplicar a softwares de diagnóstico”, afirma Pinheiro. Dada a lacuna na legislação, o professor alerta que “os pacientes assinarão termos de consentimento livre e esclarecido (TCLEs), tendo ciência de que o método é experimental”. SIMPLES – Segundo seus idealizadores, o funcionamento é bastante simples. A ideia é que o paciente com sintomas característicos da Covid-19 se dirija a instituições de saúde e seja avaliado pela equipe médica, que irá solicitar alguns exames de sangue, recomendados pelo Ministério da Saúde. Após acessar os resultados, o profissional de saúde poderá, então, acessar o sistema Heg.IA onde deverá anexar ou digitar os resultados dos exames de sangue. Então, o sistema irá gerar imediatamente um laudo médico, com diagnóstico positivo ou negativo para a Covid-19 e um direcionamento de internamento. Com esse laudo, a equipe médica poderá decidir a melhor conduta clínica para o paciente. Segundo adianta o professor Pinheiro, mediante convênio já firmado com a UFPE, o Heg.IA será disponibilizado à população do município de Paudalho, que foi escolhido por estar numa situação bem difícil quanto à disseminação da doença, devido a dificuldades para aplicar medidas de isolamento social. “Além disso, existem poucos testes rápidos e testes RT-PCR para o diagnóstico da Covid-19 e a população só conta com o diagnóstico clínico, daí nossa solução vem auxiliar nesse cenário, dando mais elementos para que os médicos possam tomar decisões mais confiáveis”, afirma o professor, para quem “somente testando amplamente é possível se tomar medidas realmente efetivas de transição, para reabertura do comércio e controle de áreas onde a contaminação esteja fora de controle, por exemplo”. O projeto contou com o apoio financeiro da Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa da UFPE, por meio do auxílio a projetos emergenciais contra a Covid-19, da Google, que doou por três meses seu espaço em nuvem para hospedar a ferramenta, da Facepe, CNPq, Capes, além da colaboração da Prefeitura de Paudalho, e Freepik, que cedeu imagens utilizadas no Sistema. O superintendente do HC-UFPE, professor Luiz Alberto Mattos, também participou da iniciativa.

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Descoberta de mecanismo imune envolvido na Covid-19 abre caminho para tratamento

Pacientes com a forma grave da COVID-19 desenvolvem uma resposta inflamatória descontrolada e lesiva ao organismo muito similar à observada em casos de sepse. Experimentos conduzidos no Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (CRID) da Universidade de São Paulo (USP) comprovam que, nessas duas enfermidades, o mesmo mecanismo imunológico está envolvido. Detalhada em artigo divulgado na plataforma medRxiv, ainda sem revisão por pares, a descoberta abre caminho para novas abordagens terapêuticas, entre elas o reposicionamento de um fármaco hoje usado contra fibrose cística – cujo princípio ativo é uma enzima chamada DNase – para o tratamento da infecção pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2). “Nos testes in vitro, feitos com o plasma sanguíneo de pacientes internados com COVID-19 grave, a DNase se mostrou capaz de desativar esse mecanismo imunológico que pode causar lesões em órgãos vitais. Agora estamos avaliando com o laboratório farmacêutico que produz o medicamento a viabilidade de iniciar um ensaio clínico”, conta Fernando de Queiroz Cunha, coordenador do CRID – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) financiado pela FAPESP na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP). Embora seja conhecida como infecção generalizada, a sepse é, na verdade, uma inflamação sistêmica geralmente desencadeada por uma infecção bacteriana localizada que saiu de controle. Na tentativa de combater os patógenos, o sistema imune acaba prejudicando o próprio organismo. Nas formas mais graves, os pacientes desenvolvem lesões que comprometem o funcionamento de órgãos vitais. “Por ser uma infecção viral, o processo inicial da COVID-19 é diferente. Mas, a partir de certo momento, o quadro se torna muito semelhante ao da sepse. Os mediadores inflamatórios são os mesmos e observamos que, nos dois casos, há participação das NETs [armadilhas extracelulares neutrofílicas, na sigla em inglês]”, diz Cunha. Como o próprio nome sugere, a NET é uma estratégia de defesa usada principalmente pelo neutrófilo, um tipo de leucócito capaz de fagocitar bactérias, fungos e vírus e que compõe a linha de frente do sistema imune. Em algumas situações, por motivos ainda não compreendidos, ocorre a ativação de uma enzima conhecida como PAD-4, que migra para o núcleo do neutrófilo e induz um aumento da permeabilidade da membrana nuclear. Esta enzima é fundamental para que o material genético contido no núcleo se descondense e forme redes, que são lançadas pela célula para o meio extracelular com o objetivo de prender e matar potenciais invasores. Esse mecanismo imunológico já foi observado em pacientes com doenças autoimunes e nos infectados pelo vírus da febre chikungunya – uma arbovirose que também produz lesões em tecidos. “O grande problema é que a NET é tóxica para os patógenos e também para as células humanas. A boa notícia é que nossos estudos mostram que a enzima DNase é capaz de picotar essa rede lançada pelo neutrófilo, evitando danos aos tecidos”, afirma Cunha. Ensaios pré-clínicos Estudos recentes mostraram que a infecção pelo SARS-CoV-2 pode causar lesões nos pulmões, coração, rins, nervos e até na pele. Para confirmar a suspeita de que as NETs estariam envolvidas na agressão aos tecidos, os pesquisadores do CRID analisaram amostras do plasma sanguíneo de 32 pacientes internados por COVID-19 e compararam com o plasma de indivíduos saudáveis. No caso dos 17 participantes do estudo que estavam internados em unidades de terapia intensiva (UTIs) e conectados a respiradores artificiais, foi possível coletar também amostras da secreção que é expelida pelos pulmões e fica armazenada no aparelho. O trabalho contou com a colaboração de professores da FMRP-USP da área básica e também da clínica. O grupo clínico é liderado pelo professor Paulo Louzada Junior. Participaram ainda diversos doutorandos e pós-doutorandos, entre eles Flavio Protássio Veras, primeiro autor do trabalho. “Vimos que o plasma sanguíneo das pessoas internadas por COVID-19 está repleto de NETs e que a quantidade dessas armadilhas neutrofílicas na secreção pulmonar é ainda 10 vezes maior. Isso sugere que neutrófilos estão produzindo NETs por todo o organismo, mas a produção é concentrada nos pulmões”, conta Cunha à Agência FAPESP. O achado foi confirmado nas análises feitas com amostras de tecido pulmonar de pessoas que morreram em decorrência da COVID-19, graças a uma parceria com o grupo liderado pelo professor Paulo Saldiva na Faculdade de Medicina da USP em São Paulo. Por um método conhecido como imunofluorescência, o grupo do CRID mostrou que as NETs estão presentes em grandes quantidades nos focos de inflamação existentes no órgão. “Em um dos experimentos, isolamos neutrófilos do sangue de indivíduos saudáveis e incubamos com o SARS-CoV-2. Foi possível observar que, assim que foram infectadas, as células de defesa começaram a produzir NETs”, diz Cunha. Em seguida, esses neutrófilos infectados foram colocados em culturas de células epiteliais originárias de tecido pulmonar humano, que morreram após algumas horas de interação. O mesmo efeito letal ocorreu quando os neutrófilos isolados de pacientes internados por COVID-19 foram colocados na cultura de células epiteliais pulmonares. “No entanto, foi possível evitar a morte das células epiteliais quando tratamos os neutrófilos infectados com a enzima DNase antes de colocá-los no meio de cultura”, conta o pesquisador. Além da DNase, que atua para desestruturar a armadilha neutrofílica depois que ela é lançada pela célula de defesa, os pesquisadores também testaram um composto capaz de inibir a ação da enzima PAD-4 e, portanto, capaz de evitar a formação da NET. Também nesse caso o tratamento preveniu a morte das células derivadas do epitélio pulmonar, mas a substância testada ainda não foi aprovada para uso em humanos. “Esse trabalho apresenta evidências de que a DNase hoje indicada para tratar fibrose cística pode ser testada no combate à forma grave da COVID-19. Mas o fato de o fármaco ser administrado por via inalatória dificulta o tratamento de pessoas intubadas. Talvez o ideal seja tratar o paciente em uma fase mais precoce, quando começar a baixar o nível de oxigenação no sangue”, avalia Cunha. O pesquisador ressalta, porém, que ainda será necessário fazer um ensaio clínico para testar a dose ideal e o momento certo de começar a terapia. Em parceria com pesquisadores do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio)

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Empresa desenvolve tecido capaz de eliminar coronavírus por contato

Pesquisadores da empresa paulista Nanox, apoiada pelo Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), desenvolveram um tecido com micropartículas de prata na superfície que demonstrou ser capaz de inativar o coronavírus SARS-CoV-2. Em testes de laboratório, o material foi capaz de eliminar 99,9% da quantidade do vírus após dois minutos de contato. O desenvolvimento do material teve a colaboração de pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), da Universitat Jaume I, da Espanha, e do Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF) – um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) apoiados pela FAPESP. “Já entramos com o pedido de depósito de patente da tecnologia e temos parcerias com duas tecelagens no Brasil que irão utilizá-la para a fabricação de máscaras de proteção e roupas hospitalares”, diz à Agência FAPESP Luiz Gustavo Pagotto Simões, diretor da Nanox. O tecido é composto por uma mistura de poliéster e de algodão (polycotton) e contém dois tipos de micropartículas de prata impregnadas na superfície por meio de um processo de imersão, seguido de secagem e fixação, chamado pad-dry-cure. A Nanox já fornecia para indústrias têxteis e de diversos outros segmentos essas micropartículas, que apresentam atividade antibacteriana e fungicida, e em tecidos evitam a proliferação de fungos e bactérias causadoras de maus odores (leia mais em agencia.fapesp.br/30037/). Com o surgimento do novo coronavírus e a chegada da pandemia no Brasil, os pesquisadores da empresa tiveram a ideia de avaliar se esses materiais também eram capazes de inativar o SARS-CoV-2, uma vez que já havia sido demonstrado em trabalhos científicos a ação contra alguns tipos de vírus.Para  realizar os ensaios, a empresa se associou a pesquisadores do ICB-USP, que conseguiram logo no início da epidemia no Brasil isolar e cultivar em laboratório o SARS-CoV-2 obtido dos dois primeiros pacientes brasileiros diagnosticados com a doença no Hospital Israelita Albert Einstein (leia mais em agencia.fapesp.br/32692/). Amostras de tecido com e sem micropartículas de prata incorporadas na superfície foram caracterizadas por pesquisadores da Universitat Jaume I e do CDMF por espectroscopia e colocadas em tubos contendo uma solução com grandes quantidades de SARS-CoV-2, crescidos em células. As amostras foram mantidas em contato direto com os vírus em intervalos de tempo diferentes, de dois e cinco minutos, para avaliar a atividade antiviral. Os experimentos foram feitos duas vezes, em dois dias diferentes e por dois grupos diferentes de pesquisadores, de modo que a análise dos resultados fosse feita de forma cega. Os resultados das análises por quantificação do material genético viral por PCR indicaram que as amostras de tecido com diferentes micropartículas de prata incorporadas na superfície inativaram 99,9% das cópias do novo coronavírus presentes nas células após dois e cinco minutos de contato. “A quantidade de vírus que colocamos nos tubos em contato com o tecido é muito superior à que uma máscara de proteção é exposta e, mesmo assim, o material foi capaz de eliminar o vírus com essa eficácia”, diz Lucio Freitas Junior, pesquisador do laboratório de biossegurança de nível 3 (NB3) do ICB-USP. “É como se uma máscara de proteção feita com o tecido recebesse um balde de partículas contendo o vírus e ficasse encharcada”, comparou o pesquisador. Além de testes para avaliação da atividade antiviral, antimicrobiana e fungicida, o material também passou por ensaios para avaliação do potencial alérgico, fotoirritante e fotossensível, para eliminar o risco de causar problemas dermatológicos. Aplicação em outros materiais A empresa pretende avaliar agora a duração do efeito antiviral das micropartículas no tecido. Em testes relacionados à propriedade bactericida, os materiais foram capazes de controlar fungos e bactérias em tecidos mesmo após 30 lavagens, afirma Simões. “Como o material apresenta essa propriedade bactericida mesmo após 30 lavagens, provavelmente mantém a atividade antiviral por esse mesmo tempo”, estima. De acordo com o pesquisador, as micropartículas podem ser aplicadas em qualquer tecido composto por uma mistura de fibras naturais e sintéticas. Além de tecidos, a empresa está testando agora a capacidade de inativação do novo coronavírus pelas micropartículas de prata incorporadas à superfície de outros materiais, como filmes plásticos e um polímero flexível, semelhante a uma borracha, que utilizou para desenvolver uma máscara de proteção contra o novo coronavírus em parceria com a fabricante de brinquedos Elka (leia mais em agencia.fapesp.br/32982/). “O tecido foi o primeiro resultado da aplicação das micropartículas de prata para inativar o novo coronavírus. Mas, em breve, devemos ter vários outros”, afirma Simões. Elton Alisson | Agência FAPESP  

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Depressão pós-parto na pandemia exige cuidados redobrados

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão pós-parto atinge de 12 a 20% das mulheres. No Brasil, segundo estudo da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, da Fiocruz, o transtorno acomete mais de 25% das mães. Segundo a Dra. Karina Tafner, ginecologista e obstetra, especialista em endocrinologia ginecológica e reprodução humana pela Santa Casa, e especialista em reprodução assistida pela FEBRASGO; trata-se de um grave problema que costuma se manifestar nas primeiras 4 a 6 semanas após o nascimento do bebê. O quadro mais leve e transitório de depressão, conhecido como “blues puerperal”, chega a acometer cerca de 50% a 80% das mulheres no pós-parto. Os sintomas, como tristeza, choro fácil e alteração de humor, têm início nos primeiros dias após o parto, com duração que pode variar de 7 a 15 dias, desaparecendo espontaneamente. “Já a depressão é mais grave, e pode surgir antes mesmo do parto, no final da gestação. Os sintomas são similares aos da depressão comum, como tristeza, apatia, ideias de culpa, insônia e até desinteresse pelo bebê. Uma das principais causas é o desequilíbrio hormonal em decorrência do término da gravidez, mas o mecanismo fisiopatológico desta condição ainda não é totalmente esclarecido”, explica Karina. No cenário da pandemia Some este quadro de depressão ao momento atual. Se estas mães já estão sofrendo do transtorno, imagine em meio a uma pandemia, um cenário ainda cheio de incertezas e muito medo? “A tendência à depressão pós-parto depende da interação de vários aspectos, incluindo genética e alterações hormonais que ocorrem durante a gravidez e no pós-parto. Mas fatores externos também contribuem muito para motivar o transtorno. A situação atual de apreensão extrema, seja pela saúde como pela economia, torna mais agravante o estresse natural da maternidade”, afirma Karina Tafner. Psicose pós-parto Um dos riscos, segundo a especialista, é a evolução para um quadro pior, especialmente se a mulher já tiver pré-disposição para transtornos mentais. “A psicose pós-parto é um exemplo. Trata-se de uma condição grave que afeta principalmente as mulheres com distúrbio bipolar ou histórico de psicose pós-parto anterior”. Segundo Karina, os sintomas, que começam geralmente durante as primeiras três semanas após o parto, são: - Alterações do sono - Pensamento confuso e desorganizado - Vontade extrema de prejudicar/fazer mal ao bebê, a si mesma ou a qualquer pessoa - Mudanças bruscas de humor e comportamento - Alucinações, que podem ser visuais, auditivas ou olfativas - Pensamentos delirantes e irreais Como ajudar O isolamento familiar e social é um dos fatores que pode provocar a piora da depressão. “Como estamos dentro desta realidade, é preciso redobrar a atenção e focar em aspectos que podem amenizar os sintomas, como evitar a privação do sono, seguir uma dieta saudável e sentir o apoio da família, mesmo de longe. A ajuda constante do parceiro é fundamental, tanto para a mulher como para o recém-nascido, cujos cuidados ficarão prejudicados por parte da mãe”. De qualquer forma, Karina Tafner afirma que, na suspeita do quadro de depressão, a puérpera deve ser encaminhada ao psiquiatra imediatamente. “Uma abordagem individualizada deve ser realizada, levando em conta fatores psicossociais, desejos e expectativas da mulher”. O tratamento da depressão pós-parto é feito com medicamentos antidepressivos combinados com psicoterapia. As medicações são eficazes na redução dos sintomas a curto prazo. “A sertralina é a primeira escolha em mulheres que estão amamentando, por ser o antidepressivo com menos efeitos adversos”, diz a ginecologista. No caso de psicose pós-parto, pode ser preciso internação hospitalar. Durante o tratamento, é indicado afastar a mãe do bebê por certo tempo, para segurança de ambos. “Reconhecer que a depressão é uma doença como outra qualquer, e incentivar o tratamento, é a melhor maneira de ajudar o reestabelecimento da mãe. Se ela tiver todo o suporte necessário, nem a pandemia será capaz de prejudicar o deleite da maternidade”, finaliza Karina Tafner.

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Fique em casa, mas não fique parado

Entre os efeitos colaterais das medidas de isolamento social adotadas para conter a COVID-19 está o aumento do sedentarismo, que pode contribuir para a deterioração da saúde cardiovascular mesmo em curtos períodos de tempo. Idosos e portadores de doenças crônicas tendem a ser os mais afetados. O alerta foi feito por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) em artigo de revisão publicado no American Journal of Physiology. Segundo os autores, o apelo feito por governantes e profissionais da saúde para que as pessoas “fiquem em casa” é válido na atual conjuntura, sem dúvida. Mas deve vir acrescido de uma segunda recomendação: “não fiquem parados”. “Uma pessoa precisa fazer ao menos 150 minutos de atividade física moderada a intensa por semana para ser considerada ativa, de acordo com as diretrizes da Organização Mundial da Saúde [OMS] e das sociedades médicas. O uso de academias e centros esportivos ficará limitado nos próximos meses, mesmo após o fim da quarentena. A atividade física realizada no ambiente domiciliar surge como uma alternativa interessante”, afirma Tiago Peçanha, bolsista da FAPESP de pós-doutorado e primeiro autor do artigo, que apresenta uma série de evidências científicas relacionadas ao impacto de curtos períodos de inatividade física sobre o sistema cardiovascular. Alguns dos estudos avaliados mostraram, por exemplo, que manter uma pessoa acamada durante 24 horas pode induzir atrofia cardíaca e redução significativa no calibre dos vasos sanguíneos em um período que variou entre uma e quatro semanas. Peçanha ressalta se tratar de um modelo agressivo, que não representa o que ocorre durante a quarentena. “Mas há outros experimentos relatados no artigo que são bastante representativos”, diz o pesquisador. Em um deles, voluntários foram induzidos a reduzir de 10 mil para menos de 5 mil o número de passos diários durante uma semana. Ao final, notou-se redução no diâmetro da artéria braquial (principal vaso do braço), perda da elasticidade dos vasos sanguíneos e danos ao endotélio (camada de células epiteliais que recobre o interior das veias e artérias). Há ainda experimentos em que os voluntários foram mantidos sentados continuamente durante períodos que variavam entre três e seis horas. O tempo de inatividade foi suficiente para promover alterações vasculares, aumento nos marcadores de inflamação e no índice glicêmico pós-alimentação. “Essas primeiras alterações observadas nos estudos são funcionais, ou seja, o coração e os vasos sanguíneos dos voluntários saudáveis passaram a funcionar de forma diferente em resposta à inatividade física. Caso a situação se prolongue, porém, a tendência é que se transformem em alterações estruturais, mais difíceis de reverter”, explica o pesquisador. Se indivíduos saudáveis podem correr atrás do prejuízo – literalmente –, o impacto do sedentarismo prolongado tende a ser nefasto para pessoas com doenças cardiovasculares e outras condições crônicas de saúde, como diabetes, hipertensão, obesidade e câncer. No caso dos idosos pode também agravar a perda generalizada de massa muscular – quadro conhecido como sarcopenia – e aumentar o risco de quedas, fraturas e outros traumas físicos. O grupo da FM-USP publicou artigo a respeito no Journal of the American Geriatrics Society. “Essas populações mais vulneráveis aos efeitos do sedentarismo também integram o grupo de risco da COVID-19 e, portanto, precisarão se resguardar em casa durante os próximos meses. O ideal é que encontrem estratégias para se manterem ativas, seja realizando tarefas domésticas, caminhando até o jardim, subindo escadas, brincando com os filhos ou dançando na sala. As evidências científicas indicam que a prática de exercícios no ambiente domiciliar é segura e eficaz para controlar a pressão, melhorar as taxas lipídicas, a composição corporal, a qualidade de vida e de sono”, afirma Peçanha. Para os pacientes de maior risco, principalmente aqueles não habituados à prática de exercícios, o pesquisador recomenda supervisão por profissionais de saúde, ainda que a distância, por meio de câmeras, aplicativos de celular e outros dispositivos eletrônicos. “Estudos mostram que as pessoas tendem a aderir melhor à atividade física quando se cria um ambiente on-line que favoreça o suporte social e a interação entre os praticantes.” Novas evidências Dados divulgados nos últimos meses por empresas que comercializam relógios inteligentes e aplicativos para monitoramento de atividade física indicam queda no número de passos diários de seus usuários desde o início do confinamento. “A norte-americana Fitbit, por exemplo, apresentou em seu blog, em 22 de março, dados de 30 milhões de usuários que mostraram uma redução entre 7% e 33% no número de passos dados por dia. No Brasil, há um levantamento feito pelo pesquisador Raphael Ritti-Dias pela internet com mais de 2 mil voluntários. Mais de 60% afirmam ter reduzido seu nível de atividade física após o início da quarentena”, conta Peçanha. “Essas ainda são evidências preliminares, mas há estudos em andamento que visam medir o efeito para a saúde da inatividade física durante a quarentena.” Uma dessas iniciativas está sendo conduzida na FM-USP, pelo grupo vinculado ao Projeto Temático “Reduzindo tempo sedentário em populações clínicas: o estudo take a stand for health”, coordenado pelo professor Bruno Gualano, coautor do artigo publicado no American Journal of Physiology. “Acompanhamos alguns grupos clínicos no âmbito do Temático, como mulheres com artrite reumatoide, pacientes submetidos a cirurgia bariátrica e idosos com comprometimento cognitivo leve. O objetivo é induzir o aumento da atividade física nessas populações por meio de ações do cotidiano, como passear com o cachorro ou descer dois pontos antes ao andar de ônibus, e avaliar os efeitos na saúde”, conta Peçanha. Agora, durante a quarentena, os pesquisadores têm monitorado mais assiduamente o grupo das mulheres com artrite reumatoide para medir o nível de atividade física e comparar com o do período anterior ao confinamento. “As pacientes estão usando acelerômetros [dispositivo que permite medir a atividade física e distância percorrida pelo indivíduo durante um período de tempo] em casa e ligamos com frequência para saber como está a qualidade de vida e a nutrição. Um grupo de pesquisadores vai até a residência para fazer medidas de peso, composição corporal, pressão e coleta de sangue”, explica. Metade das voluntárias será submetida a uma intervenção

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No mundo todo, 153 fármacos são testados em pacientes com COVID-19

Levantamento feito nas principais bases de dados sobre ensaios clínicos do mundo revela que 153 fármacos estão sendo testados em 1.765 estudos com pacientes que contraíram COVID-19. O número revela a dimensão do esforço científico global em curso para combater a doença, que conta ainda com outras frentes, como a compreensão dos mecanismos moleculares da infecção, o desenvolvimento de vacinas e a geração de dados epidemiológicos sobre a pandemia, por exemplo. Pesquisas relacionadas à busca de medicamentos e vacinas contra o novo coronavírus serão o tema do seminário on-line “Vetores saudáveis: Desenvolvimento de Medicamentos e Vacinas para a COVID-19 e os Desafios em Saúde no Brasil”, que será realizado nesta quarta-feira (10/06) pela Universidade de São Paulo (USP) e a Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp). O evento terá como expositores o médico Drauzio Varella; o pesquisador Adriano D. Andricopulo, do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP e diretor executivo da Aciesp; e Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan e pesquisador do Centro de Terapia Celular (CTC), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) apoiado pela FAPESP na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP). “Uma análise cuidadosa dos 1.765 estudos em andamento revelou algumas surpresas e curiosidades. Entre as 153 substâncias químicas registradas nos testes clínicos há antivirais, antiparasitários e medicamentos desenvolvidos para diferentes condições”, diz Andricopulo, responsável pelo levantamento. Foram analisados dados das quatro principais bases on-line de estudos clínicos do mundo: Clinical Trials, mantida pelos National Institutes of Health (NIH) dos Estados Unidos (1.001 registros); EU Clinical Trials Register, da União Europeia (51 registros); ISRCTN, que segue diretrizes da Plataforma Internacional de Registro de Ensaios Clínicos (ICTRP), da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas ICMJE (39 registros), e Chinese Clinical Trial Registry, da China (674 registros). Estudos brasileiros e de outros continentes são registrados em algumas dessas bases. Andricopulo é pesquisador e coordenador de transferência de tecnologia do Centro de Pesquisa e Inovação em Biodiversidade e Fármacos (CIBFar), um CEPID apoiado pela FAPESP no IFSC-USP. O centro busca atualmente potenciais antivirais para o tratamento de COVID-19 entre compostos sintéticos e produtos naturais da biodiversidade brasileira, além de realizar estudos voltados ao reposicionamento de fármacos já existentes (leia mais em: agencia.fapesp.br/33270/) . Diversidade de medicamentos Pela metodologia conhecida como reposicionamento de fármacos, são testadas moléculas já aprovadas para outras doenças ou que estão em fase avançada de testes clínicos. Por isso, entre as 153 moléculas que estão sendo avaliadas para a COVID-19, há uma grande diversidade de classes terapêuticas. Os antivirais aparecem na liderança, com 26 candidatos. Outros 18 são medicamentos anticâncer, 14 imunossupressores, 13 anti-hipertensivos, 12 antiparasitários e 12 anti-inflamatórios. Entre os outros 58 candidatos estão antibióticos diversos, antiulcerosos, anticoagulantes, antidepressivos, antipsicóticos, vasodilatadores, antidiabéticos, corticosteroides e redutores de colesterol. Um dos mais promissores, até agora, é o antiviral remdesivir, desenvolvido originalmente para combater o vírus ebola. O medicamento, no entanto, tem a desvantagem de só poder ser administrado na forma injetável. Por isso, duas outras moléculas têm se destacado como alternativas superiores a ele. A EIDD-2801 ataca a mesma enzima viral que o remdesivir, mas pode ser administrada por via oral, em comprimidos. Além disso, os testes realizados até agora mostram que ela pode ser mais eficaz contra as formas mutantes do vírus, evitando a criação de resistência ao medicamento. Outra molécula semelhante e mais simples, a EIDD-1931, atrapalha o processo de transcrição do material genético do vírus, levando à interrupção da replicação. O pesquisador ressalta, porém, que não há vacina nem medicamento específico aprovado para a COVID-19 e que, por isso, o levantamento acende um sinal de alerta. “Ainda estamos distantes de alcançar um tratamento com 100% de eficácia e é pouco provável que isso ocorra no curto prazo. E a pouca eficácia dos medicamentos em investigação clínica sugere que o tratamento da COVID-19 deva ser feito com uma combinação de fármacos, de acordo com a avaliação do quadro e das condições de cada paciente”, diz. O webinar terá abertura de Sylvio Canuto, pró-reitor de pesquisa da USP; Vanderlan Bolzani, professora do Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista (IQ-Unesp) e presidente da Aciesp e Guilherme Ary Plonski, diretor do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP. A mediação do debate será do jornalista Herton Escobar. O evento poderá ser acompanhado pelo site do IEA: www.iea.usp.br/aovivo. André Julião | Agência FAPESP

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Líderes que promovem cooperação ajudam a superar pandemias

Um grupo internacional de pesquisadores reuniu um conjunto de informações sobre respostas a desastres e pandemias e apontou uma série de comportamentos que podem contribuir para a superação da crise da COVID-19. Entre os resultados, os autores apontam as vantagens de ter líderes que promovam a cooperação entre as pessoas e a adesão às novas normas, da difusão de mensagens que tragam um senso de propósito comum entre a população e da diminuição da polarização política. O estudo, publicado na Nature Human Behaviour, foi liderado por pesquisadores da New York University e da Stanford University, nos Estados Unidos, e tem ainda autores de outras universidades norte-americanas, do Reino Unido, Holanda, China, Austrália, Canadá e do Brasil. “Quando começou a pandemia e ficou evidente o tamanho do problema, formou-se esse grupo para dar um panorama geral de como as ciências humanas e do comportamento poderiam contribuir na contenção da pandemia”, disse à Agência FAPESP Paulo Sérgio Boggio, professor do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Presbiteriana Mackenzie (CCBS-UPM), único coautor brasileiro do estudo. Boggio coordena o Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social do CCBS-UPM e é pesquisador do Centro de Pesquisa Aplicada em Bem-Estar e Comportamento Humano (CEBEM), um Centro de Pesquisa e Engenharia (CPE) constituído pela FAPESP e pela Natura, com sede na Universidade de São Paulo (USP). “Não é exagero dizer que essa é uma pandemia sem precedentes em vários aspectos. Por isso, buscamos assuntos relacionados, como desastres e outras pandemias. Esses eventos nos ensinaram muito”, diz Jay J. van Bavel, professor da New York University, que coordenou a pesquisa com Robb Willer, da Stanford University. O grupo realiza atualmente uma pesquisa em mais de 60 países para verificar o quanto o que foi levantado no estudo se aplica especificamente à pandemia do novo coronavírus SARS-CoV-2. Propagação de informação sobre saúde O artigo mostra que crises como a atual criam uma oportunidade para líderes em diferentes níveis, nas famílias e locais de trabalho e até em comunidades e nações. Os líderes podem coordenar os indivíduos e ajudá-los a evitar comportamentos inadequados para a nova situação, como formar aglomerações e não usar máscaras, no caso da pandemia atual. Isso pode ser bastante positivo em comunidades mais pobres, onde líderes religiosos e comunitários podem ajudar a propagar informações de saúde que ajudem a conter a pandemia nesses locais. No entanto, se aplica também a autoridades em nível nacional. “Um exemplo emblemático de liderança positiva é a primeira-ministra da Nova Zelândia [Jacinda Ardern], que se colocou o tempo todo como mais uma cidadã do país e que estava junto com a população no enfrentamento da pandemia. O resultado foi muito positivo, com o país tendo praticamente erradicado novas infecções”, diz Boggio. No caso dos Estados Unidos e do Brasil, explica o pesquisador, as diferentes versões de presidentes e governadores sobre a gravidade do vírus podem abalar a confiança da população e prejudicar a adesão às novas normas de saúde, resultando, por exemplo, em níveis de isolamento abaixo do ideal. O alto grau de polarização política nos dois países também é visto como um fator que atrapalha a contenção do novo coronavírus, uma vez que estudos mostram que pessoas em polos opostos do espectro político tendem a duvidar de mensagens vindas do outro lado. “Líderes e membros da mídia devem destacar medidas tomadas em conjunto por ambos os lados, quando houver. Em outros contextos, isso reduziu a polarização e levou a uma visão menos enviesada dos fatos”, escrevem os autores. “Ter políticos, celebridades e líderes comunitários respeitados, com comportamentos exemplares, pode ajudar a promover a cooperação e condutas em prol da sociedade.” Além desses resultados, o estudo traz uma série de lições de outras crises que podem ajudar na contenção da pandemia e dos efeitos sociais causados por ela. Uma delas é que a solidariedade é a regra, enquanto o “pânico”, a exceção, em episódios como esse. Estudos sobre respostas a terremotos e outros desastres mostram que as pessoas tendem a ajudar umas às outras nessas situações. O destaque pela mídia de imagens de saques, ou de pessoas fazendo compras em excesso, traz uma ideia equivocada da situação e gera medo e ansiedade na população. Nesse sentido, os autores apontam que as mensagens que mais surtem efeito, sejam elas transmitidas pela mídia ou pelos líderes, normalmente obedecem a alguns requisitos, como enfatizar os benefícios para o indivíduo em seguir as novas normas, focar na proteção de outros (como pais e avós, por exemplo), alinhar-se a valores morais da pessoa (como a ênfase na família) e apelar para o consenso científico, social ou mesmo para a aprovação do grupo ao qual o indivíduo pertence (classe social, igreja etc.). Os pesquisadores destacam ainda que preparar as pessoas para lidar com notícias fraudulentas (fake news), garantindo informação de qualidade e argumentos contra boatos, pode ajudar a prevenir contra informações falsas durante a pandemia. Por fim, uma vez que as pessoas sentem necessidade maior de conexão com as outras, os pesquisadores recomendam o uso do termo “distanciamento físico” em vez dos usados atualmente. “A ideia do termo é também de enquadramento da informação. ‘Distanciamento’ ou ‘isolamento social' aumentam a conotação de um isolamento do contato humano. Mas, como temos muitas alternativas tecnológicas para interagir com os outros, o ideal seria chamar apenas de distanciamento ou isolamento físico. Isso ajuda a manter uma perspectiva mais positiva, de que os contatos sociais podem existir, contanto que se mantenha fisicamente afastado”, diz Boggio. O artigo Using social and behavioural science to support COVID-19 pandemic response pode ser lido em: www.nature.com/articles/s41562-020-0884-z. André Julião | Agência FAPESP

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Ferramenta permite selecionar antígenos do coronavírus para criar vacina terapêutica

Uma ferramenta computacional tem ajudado pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e colaboradores internacionais a desenvolver uma vacina terapêutica contra o HIV, vírus causador da Aids, que já começou a ser testada em pacientes no Brasil. Um artigo divulgado recentemente na plataforma medRxiv, ainda em versão preprint (sem revisão por pares), o grupo validou a plataforma computacional e propôs adaptar a metodologia para criar uma formulação capaz de auxiliar na recuperação de pessoas com a forma grave da COVID-19. “A vacina terapêutica seria indicada para pacientes que começam a apresentar queda na saturação de oxigênio, o que pode ocorrer por volta do sétimo dia após o início dos sintomas. A ideia seria evitar que o quadro progrida para insuficiência respiratória”, afirma Ricardo Sobhie Diaz, professor da Disciplina de Infectologia na Escola Paulista de Medicina (EPM-Unifesp) e coautor do estudo. Com apoio da FAPESP, Diaz tem se dedicado a buscar, nos últimos oito anos, a "cura esterilizante" da Aids, ou seja, a eliminação completa do HIV do organismo. O tratamento atual, feito com um coquetel de fármacos, consegue zerar a carga viral. Mas o HIV pode voltar a se replicar caso a terapia seja interrompida. Uma das estratégias pesquisadas na Unifesp consiste em treinar determinadas células do sistema imunológico para “caçar” o vírus no organismo – mesmo que ele esteja na fase latente (inerte dentro dos linfócitos, sem replicação) ou escondido em regiões do organismo em que os medicamentos antirretrovirais não conseguem chegar. O trabalho conta com a participação de cientistas da Itália, da Alemanha e do Egito. “Desenvolvemos uma vacina de células dendríticas, também conhecidas como ‘apresentadoras de antígenos’. Essas células de defesa têm o papel de ensinar os linfócitos do tipo T-CD4 a reconhecer partículas de vírus, bactérias ou qualquer outro invasor. Estes, por sua vez, induzem os linfócitos do tipo T-CD8, também chamados citotóxicos, a buscar e a eliminar as células infectadas por aquele antígeno específico”, explica Diaz. No estudo da Unifesp, o “treinamento” das células dendríticas é feito na bancada do laboratório, de forma personalizada. Para isso, os pesquisadores fazem o sequenciamento do HIV presente em cada paciente, com foco em uma região do genoma viral conhecida como GAG (antígeno grupo-específico, na sigla em inglês), considerada altamente imunogênica (capaz de induzir resposta imune). Também é analisado o perfil genético de cada participante, por meio do sequenciamento dos genes que codificam os antígenos leucocitários humanos (HLA, na sigla em inglês). O objetivo, nesse caso, é descobrir quais são as proteínas usadas pelas células dendríticas para fazer o reconhecimento e a apresentação dos antígenos. “Desenvolvemos uma ferramenta computacional chamada Custommune para selecionar, com base nos dados genéticos, nanômetros virais [peptídeos formados por nove aminoácidos] capazes de induzir uma forte resposta antiviral naquele indivíduo. E então sintetizamos esses peptídeos em laboratório e os colocamos para interagir in vitro com as células dendríticas”, conta Diaz. As células dendríticas são obtidas a partir de uma amostra de sangue do paciente a ser tratado. Os pesquisadores extraem do soro sanguíneo um tipo de leucócito denominado monócito e o expõem a determinadas citocinas (proteínas que atuam como sinalizadores do sistema imune) que induzem a transformação. Após o treinamento, as células dendríticas são injetadas na região inguinal e nas axilas dos pacientes para que se disseminem pelo sistema linfático, onde deverão “capacitar” os linfócitos para eliminar o HIV. Resultados promissores A metodologia já foi testada em 10 pacientes, que receberam três doses da vacina. Análises preliminares indicam que a formulação promoveu uma resposta antiviral no organismo. “Após cada dose, colhemos uma nova amostra de sangue dos voluntários e extraímos os linfócitos T-CD4 e T-CD8. Em seguida, colocamos essas células para interagir, in vitro, com os mesmos peptídeos virais usados na composição da vacina terapêutica. Observamos que os linfócitos, nessa condição, passavam a produzir moléculas como interleucina-2, fator de necrose tumoral alfa e interferon gama – citocinas pró-inflamatórias características de uma resposta antiviral. A cada dose da vacina foi possível observar um aumento linear e significativo na produção das citocinas”, conta Diaz. Como controle, os pesquisadores colocaram os leucócitos dos pacientes para interagir com antígenos da bactéria Staphylococcus aureus e, nesse caso, não houve produção de citocinas. Todos os participantes do estudo já faziam uso do coquetel antiaids (antirretrovirais) há pelo menos dois anos e, portanto, não foi possível avaliar o efeito da vacina em termos de redução da carga viral, que já era indetectável desde o início do estudo. O tratamento com antirretroviral foi interrompido nessas pessoas e, em duas delas, o vírus não voltou a ser detectado no plasma sanguíneo na maior parte das amostras coletadas para análise. O grupo pretende ampliar o teste clínico para um grupo de 50 voluntários, mas os planos foram adiados por causa da pandemia de COVID-19. A proposta é combinar a vacina terapêutica com o coquetel de antirretrovirais padrão acrescido de dois fármacos normalmente não usados no tratamento da Aids. No caso da COVID-19, explica Diaz, a vacina terapêutica também teria de ser personalizada para cada paciente. “No artigo, o pesquisador Andrea Savarino [Università Cattolica del Sacro Cuore, Itália] simulou o uso da ferramenta para selecionar antígenos do SARS-CoV-2 que poderiam ser usados em uma formulação. A plataforma computacional permite desenvolver vacinas de células dendríticas, de peptídeos ou de DNA”, conclui Diaz. O artigo Custommune: a web tool to design personalized and population-targeted vaccine epitopes pode ser lido em https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.04.25.20079426v1. Karina Toledo | Agência FAPESP

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Pesquisadores defendem economia ambientalista para superar a crise causada pela COVID-19

A construção de novas rotas de desenvolvimento econômico baseadas na valorização e na valoração da biodiversidade e dos serviços prestados pela natureza (ecossistêmicos), como o fornecimento de água e a regulação climática, será crucial não só para evitar crises desencadeadas por novas pandemias como para superar a atual. A avaliação foi feita por pesquisadores participantes do seminário on-line “Biodiversidade, crise climática, economias e pandemias”, que aconteceu em 22 de maio por ocasião do Dia Internacional da Biodiversidade. O encontro foi realizado por iniciativa da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos BPBES e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, com apoio do Programa BIOTA-FAPESP e da Academia Brasileira de Ciências ABC. “É fundamental a compreensão de que a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento econômico não são processos antagônicos, mas interdependentes. Desenvolvimento não é viável sem uma base de sustentação dos processos naturais que geram os serviços ecossistêmicos, também conhecidos como contribuição da natureza para o bem-estar humano”, disse Cristiana Seixas, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e membro da coordenação da BPBES. A produção em larga escala de alimentos, fibras têxteis e madeira, entre outros itens, pela rota atual, tem impactado diretamente na expansão de áreas de cultivo agrícola e de pastagem para áreas naturais em biomas brasileiros, como a Amazônia. Além de possuírem uma grande diversidade de animais, plantas e microrganismos, cuja interação gera os serviços ecossistêmicos, essas áreas de floresta estocam carbono e são reservatórios de vírus, bactérias e outros microrganismos, presentes em espécies selvagens de animais e com potencial de serem transmitidos para o ser humano, como ocorreu com o novo coronavírus, o SARS-CoV-2. Dessa forma, a destruição dessas áreas naturais causa a perda de biodiversidade e serviços ecossistêmicos, agrava a crise climática e aumenta o risco de novas pandemias, ressaltou Seixas. “Está claro que a escolha de consumo que fazemos hoje de alimentos, roupas ou utensílios domésticos tem implicações diretas na conservação ou destruição de áreas naturais e no risco de novas pandemias”, afirmou a pesquisadora. A fim de desacelerar a perda de áreas naturais, minimizar as mudanças climáticas e favorecer o desenvolvimento sustentável em longo prazo, será preciso promover mudanças em políticas públicas, nos padrões de consumo e investir em novos modelos de produção agropecuária que conservem a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos. Além disso, será necessário desenvolver sistemas de produção industrial que operem em uma lógica de economia circular, evitando a poluição ambiental; investir na produção de energia renovável, saneamento básico e tratamento de efluentes, de modo a evitar a poluição de corpos d’água; e valorar a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos nos processos econômicos, apontou Seixas. “Em geral, os serviços ecossistêmicos, que são gerados pela interação de animais, plantas, fungos e microrganismos, não são contabilizados nos custos de produção”, disse a pesquisadora. O serviço de polinização de culturas agrícolas de grande importância para a agricultura brasileira, como a soja (Glycine max) e a laranja (Citrus sinensis), realizado por abelhas e outros polinizadores, foi estimado em 2018 em R$ 43 milhões (leia mais em agencia.fapesp.br/29730). Já o valor total dos serviços ecossistêmicos prestados pela natureza nas Américas equivale ao PIB do continente, de mais de US$ 24 trilhões por ano, exemplificou Seixas. Estímulo à economia verde A crise econômica gerada pela COVID-19 deve resultar em uma retração de 5% a 10% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, que em 2019 foi de US$ 87 trilhões. Essa redução da atividade econômica global – da ordem de US$ 5 trilhões a US$ 10 trilhões – é equivalente a perda de três a cinco vezes o PIB do Brasil, o nono maior do mundo, estimado em US$ 1,8 trilhão, comparou Carlos Eduardo Frickmann Young, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em economia ambiental. “Teremos uma crise de desemprego que certamente não tem paralelo no mundo pós Segunda Guerra Mundial”, disse Young. As crises econômica e fiscal – marcada pela queda de arrecadação de impostos – geradas pela pandemia devem resultar em um aumento dos gastos públicos dos países, voltados a apoiar atividades que contribuam para a recuperação de suas economias. Os critérios para a concessão desses incentivos devem levar em contar atividades que contribuam para o desenvolvimento de uma economia verde ou de baixo carbono, que não piorem as condições socioeconômicas atuais, avaliou Young. “O risco agora é que, em vez de ser desenhado um conjunto de incentivos econômicos que melhorem as condições socioeconômicas, se regresse ao modelo econômico anterior à pandemia, que é predatório e gera desemprego”, disse Young. De acordo com o pesquisador, o modelo econômico adotado pelo Brasil, por exemplo, baseado na agropecuária e na extração mineral, é pouco inclusivo. O setor agropecuário tem apresentado um déficit de 3,6 milhões de empregos nas últimas duas décadas, apontou.  "O modelo econômico em vigor no Brasil não gera empregos, dinamismo e crescimento econômico desejáveis. É fundamental ter, nesse momento, outra forma de incentivar a recuperação da atividade econômica do país”, avaliou Young. Na opinião de Eduardo Brondizio, professor da Indiana University, dos Estados Unidos, o momento atual representa uma janela de oportunidades para repensar a trajetória de desenvolvimento econômico e social do planeta. “Estamos em um momento crítico em que, de maneira sem precedentes, os países vão começar a investir, subsidiar e ajudar a recuperar vários setores da sociedade. Temos a oportunidade de escolher novos caminhos ou reforçar os existentes e que só servem aos interesses de grupos particulares”, avaliou. O pesquisador brasileiro, radicado há mais de 20 anos nos Estados Unidos, foi um dos coordenadores da primeira avaliação global da biodiversidade, publicada em 2019 pela Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES). O relatório produzido pelo órgão, que inspirou a criação da BPBES, indicou que a extinção de espécies de plantas e de animais tem ocorrido em uma escala sem precedentes e anteviu a possibilidade de surgir uma pandemia (leia mais em agencia.fapesp.br/30430). “O relatório mostrou que progressivamente estamos erodindo a fundação mais básica da nossa economia, que garante a saúde, segurança alimentar, disponibilidade de água e o bem-estar humano, que é a biodiversidade”,

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