Bruno Jordão ministra aulas de Capoeira e informa que a luta beneficia a socialização entre as pessoas, além promover a saúde tanto física como mental Por Jademilson Silva A capoeira é originalmente uma luta que surgiu como arma de libertação e resistência para os negros escravizados no Brasil. A Capoeira foi criada no século XVII por escravos africanos da etnia banto. Na época, era praticada bastante em locais de vegetação rasteira chamada "capoeira", daí o nome. Porém, nas fazendas e senzalas, na intenção de ludibriar os Feitores, foram introduzidas a música e a dança, elementos fortes na cultura africana. Com o passar dos anos ficou evidente a pluralidade cultural que hoje é a Capoeira, podendo ser desenvolvida no âmbito da luta, esporte e cultura, mas a essência da luta nunca irá deixar de existir. O professor de Capoeira, Bruno Jordão, conhecido como Papaléguas, informa: “Eu particularmente, gosto de ensinar a Capoeira como luta, além de atividade esportiva e física”. Expressão cultural A roda de Capoeira foi reconhecida como Patrimônio Cultural Brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em 2008, e em 2014, Patrimônio da Humanidade pela Unesco, por simbolizar a resistência negra no Brasil durante o período da escravidão. É no universo da Capoeira onde ocorre todo o ritual desde "jogo”, nome dado ao combate entre capoeiristas, sendo algo amistoso ou mais agressivo, que a musicalidade e dança acontecem, vindo do aprendizado com os Mestres mais experientes. Conforme a região, os golpes da Capoeira podem mudar de nome: “Existem vários estilos de golpe que segundo a região pode mudar a nomenclatura, alguns exemplos de golpes são martelo, chapa, armada, queixada, bênção, ponteira, meia-lua de compasso, rabo de arraia, galopante, escala, cotovelada, joelhada, baiana, cabeçada, dentre outros", informa Bruno Jordão Musicalidade Como falamos anteriormente, a música faz parte da Capoeira e da caracterização de alguns momentos da luta. “Na Capoeira a musicalidade tem importância no comando da roda, pois através da música, são passadas informações para os jogadores como, por exemplo, o comando para começar o combate, bem como respeitar determinado comando. A música é um elemento fundamental em todo o processo”, explica Bruno Jordão. Os instrumentos musicais são: berimbau, atabaque, pandeiro, agogô. Treino de capoeira O treino de capoeira pode ser realizado por pessoas de qualquer sexo e sem rotulação de idade. “Existem profissionais que trabalham com a Capoeira Kids fazendo um belíssimo trabalho desenvolvendo inúmeras capacidades nas crianças como equilíbrio, reação, coordenação motora, dentre outros aspectos. Tenho um amigo, o prof. Timão, por exemplo, que trabalha com crianças a partir de 3 anos”, esclarece Bruno Jordão. Na Capoeira, além dos golpes, há movimentos acrobáticos, rápidos e fluídos. Tais movimentos contribuem para manutenção do peso ou emagrecimento. "A quantidade de calorias perdidas, durante 1 hora de aula de capoeira, vai depender da intensidade do treino e do metabolismo do aluno, mas pode variar de 400 a 700 calorias", informa o professor. Amor à primeira vista - Isabelle Holanda, 28 anos, bióloga, teve o primeiro contato com a Capoeira aos 7 anos, diante de uma apresentação na escola: "Lembro como se fosse hoje o quão fiquei encantada com a musicalidade e os golpes que os capoeiristas aplicavam. Eu senti uma energia de união, aquela roda parecia um organismo único, desde os dois que lutavam, até os de fora que batiam palmas e cantavam. Tudo num perfeito equilíbrio", afirma a aluna, que treina duas vezes por semana. Inclusão social - A Capoeira tem sido usada em muitos contextos para promover a inclusão social de pessoas com diferentes habilidades, incluindo portadores de síndrome de Down. É fundamental que haja conscientização e treinamento adequados para aqueles que trabalham com pessoas com síndrome de Down e outras habilidades diversas, a fim de garantir uma experiência positiva e inclusiva para todos os participantes. No município de Jaboatão dos Guararapes, o Mestre Sabiá desenvolve trabalho de inclusão social com portadores de síndrome de Down. Benefícios A Capoeira contribui para o condicionamento físico e cardiovascular do praticante, além de promover a saúde mental, socialização, desenvolvimento cognitivo, perda de peso e funciona como defesa pessoal. Evolução do treino No processo de graduação da Capoeira, cada professor avalia seu aluno no decorrer do ano em relação aos requisitos de sua instituição. Ao término dessa avaliação, ocorrerá um evento em data marcada, onde tem o chamado “Batizado”, neste momento acontecerá a atualização da graduação. “Na Capoeira utilizamos o sistema de cordas ao invés de faixas como ocorre, por exemplo, no jiu-jitsu", frisa o professor Bruno Jordão. "Deixo a ressalva sobre a importância da divulgação da capoeira nas escolas, para que os mais novos tenham a oportunidade de conhecer. Posso não saber muito de capoeira, mas uma coisa eu digo: a capoeira se expressa de forma única" - Aluna Isabelle Holanda. Um pouco de história Existem 3 tipos de Capoeira: Angola, Capoeira Regional e o que chamamos de Contemporânea, que é um segmento onde o capoeirista treina para jogar o que o berimbau tocar, buscando aprender um pouco de cada estilo. Existem vários golpes que podem e são utilizados na defesa pessoal. O prof. Bruno Jordão lamenta ainda existir preconceito contra a Capoeira, principalmente pela origem africana. “Infelizmente ainda existe preconceito contra pessoas negras, como a Capoeira é originalmente brasileira criada pelos negros, consequentemente, há discriminação ainda atualmente, porém já fizemos muito avanço, levando a Capoeira para instituições de ensino, como, por exemplo, na Universidade Federal de Pernambuco, trabalho feito pelas mãos do Mestre Tchê”, frisa Bruno Jordão. A Capoeira não é ligada a nenhuma religião: “O capoeirista é que terá a sua religião ou filosofia de vida. Assim como um advogado pode ser católico, evangélico ou do candomblé, ou até mesmo ateu”, complementa. Proibição, perseguição e legalização A capoeira foi proibida pelas autoridades coloniais e mais tarde pelo governo brasileiro no século XIX e início do século XX, devido ao seu potencial como uma forma de resistência e revolta. A prática continuou de forma clandestina durante esse período, muitas vezes disfarçada como uma dança. A capoeira foi