Transição energética e combate às desigualdades marcam os debates sobre o futuro do Estado A discussão do novo ciclo de desenvolvimento de Pernambuco chegou à pauta da sustentabilidade ambiental. Embora o tema já tenha sido abordado em discussões anteriores, o evento Pernambuco em Perspectiva, realizado ontem, trouxe à tona um debate mais aprofundado sobre a necessidade de haver uma transição para a economia regenerativa. O encontro contou com a participação de Ana Luíza Ferreira, Secretária de Meio Ambiente, Sustentabilidade e de Fernando de Noronha, e de Sérgio Xavier, ex-secretário de Meio Ambiente e atual coordenador do Fórum Nacional de Mudança do Clima. Além dos dois painéis temáticos, Francisco Cunha apresentou um diagnóstico histórico do Estado, reforçando a urgência de repensar o futuro de Pernambuco e a necessidade de incorporar práticas sustentáveis como eixo central de desenvolvimento. Ana Luíza Ferreira discutiu as oportunidades trazidas pela nova economia regenerativa, destacando a necessidade de uma transição para um modelo de baixo carbono que também combata as profundas desigualdades sociais que afetam o Estado. "Estamos falando de uma nova lente de desenvolvimento. O trabalho é mudar o vetor de desenvolvimento de Pernambuco. A gente, enquanto Estado, precisa entender de onde estamos partindo. Partimos de um estado que 50% da população está abaixo da linha e pobreza e 20% abaixo da linha de miséria. O novo modelo de desenvolvimento é uma oportunidade real de transformação para o nosso Estado." A Secretária de Meio Ambiente, Sustentabilidade e de Fernando de Noronha apresentou as diretrizes do PerMeie - Plano Pernambucano de Mudança Econômico-Ecológica, criado pela atual gestão do Governo do Estado, bem como apresentou algumas das iniciativas em andamento pela pasta. Ela destacou que os eixos do PerMeie são 1) Fomento a investimentos sustentáveis regenerativos, 2) Mobilização Cultural e Educativa para o Desenvolvimento Sustentável, 3) Inovação em Serviços e Tecnologias Disruptivas para a Economia Regenerativa, 4) Planejamento Urbano e Territorial Sustentável e 5) Promoção da bioeconomia nas biorregiões do estado. "Uma das nossas prioridades tem sido no bioma da Caatinga. Precisamos conhecer nosso Estado e nossas potencialidades. A caatinga, enquanto bioma único exclusivamente brasileiro, tem um potencial genético de ensinar para o mundo sobre adaptação a condições climáticas extremas, isso precisa ser estudado, tem diversas outras potencialidades por essa característica de resiliência e precisa mais conhecido", conta Ana Luíza Ferreira. Na sua fala, além do desafio de ser neutro em carbono, a secretária ressaltou a necessidade de ter uma visão de "ser positivo em restauração de natureza" e de redução das desigualdades extremas. Para que as iniciativas em andamento não sejam apenas de uma gestão, ela explicou que está em desenvolvimento um programa de Estado, não apenas de governo, que atravesse o período da gestão Raquel Lyra. O programa pode ser acessado no site da Semas. FOCO EM MUDAR A ECONOMIA Sérgio Xavier falou sobre como os planos de sustentabilidade influenciam no desenho do novo modelo de desenvolvimento de Pernambuco. Em sua palestra, ele destacou especialmente os desafios no campo econômico. "A economia é o eixo fundamental para fazer grandes transformações", afirmou. A grande questão provocadora levantada foi: Como sair do modelo degradador para um modelo regenerativo? "A economia modela a sociedade. Temos que reduzir o PIB poluidor, elevar o PIB verde e regenerativo, migrar empregos para processos saudáveis e sustentáveis, capacitar as pessoas para crescimento e inovação. E temos atividades que passaram dos limites (sustentáveis do planeta) e que precisam decrescer." No diagnóstico dos grandes desafios relacionados aos eventos extremos estão a recessão econômica provocada pelas mudanças climáticas, a polarização social, a desinformação, entre outros. Sérgio apresentou um panorama preocupante do planeta - mesmo para quem já acompanha a pauta ambiental - em direção ao caos. Mesmo diante dos desafios vistos a cada dia no País, como as graves queimadas e da recente inundação do Rio Grande do Sul, um estudo do Governo Federal indicou que 3,679 municípios tem capacidade adaptativa muito baixa ou inexistente diante das mudanças climáticas. "A linha de degradação ambiental passou dos limites e a linha de exclusão social está abaixo do aceitável, precisamos trazer essas linhas para o equilíbrio, Reduzir a exclusão e incluir as pessoas. Só é possível fazer isso com uma nova economia e o modelo de regeneração entrar nos modelos de negócios. Para ter sustentabilidade tem que ter resiliência ambiental, social e políticas públicas que empurrem a linha social para cima. É preciso trazer as pessoas de baixo da linha de pobreza para o mínimo de condições de vida. E trazer a linha de degradação para uma posição sustentável. Precisamos fazer a economia regenerativa mudar esse processo atual. Isso é sair de uma visão fragmentada para uma visão sistêmica. Sair de uma visão ultracompetitiva para uma visão colaborativa. Os sistemas regenerativos são todos circulares e a nossa economia ainda é toda linear. Temos que descarbonizar, recompor os ciclos e fazer isso recompondo as oportunidades econômicas". A economia regenerativa é um sistema econômico voltado para suprir as necessidades humanas sem comprometer os recursos naturais. Ela segue uma abordagem circular, priorizando a reutilização, o reaproveitamento, a reciclagem e o descarte adequado dos produtos. Sérgio destacou a urgência de fazer essa virada de chave no modelo de desenvolvimento em virtude da aceleração das mudanças climáticas. Ele exemplificou isso com a antecipação de várias previsões de catástrofes ambientais para 2035 ou 2050 que já são possíveis ver em pleno 2024. Prognósticos que pareciam alarmistas no passado, mas que hoje entraram na agenda do dia. Os depoimentos mais incisivos do ex-secretário foram acerca da Escola de Sargentos, do Arco Metropolitano e da Bacia do Rio São Francisco. "A Escola de Sargentos é uma oportunidade de se encaixar nos espaços já desmatados. É um absurdo desmatar mais 90 hectares. Se fosse 1 hectare eu já acharia ruim, mas 90 hectares..." Além de se posicionar de forma veemente contrária ao desmatamento da mata atlântica para a Escola de Sargentos e para o Arco Metropolitano, o ambientalista alertou para o avançado estado de degradação da Bacia do Rio São Francisco, que segue sem um combate