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Governo do Estado anuncia investimento de mais de R$ 80 milhões em estradas

A governadora Raquel Lyra anunciou investimentos significativos para a recuperação de estradas nas regiões, totalizando mais de R$ 80 milhões em recursos. Um dos principais projetos inclui a restauração completa de um trecho de dez quilômetros da PE-089, que se estende desde a PE-074, no distrito de Siriji, até o município de São Vicente Férrer. Essa iniciativa receberá um investimento de R$ 17 milhões, com previsão de conclusão das obras até o final do segundo semestre de 2024. Além disso, a governadora também realizou uma visita às obras de requalificação da PE-091, que conecta o município de Macaparana ao distrito de Pirauá, localizado na divisa com o estado da Paraíba. Para essa rodovia, estão destinados recursos no valor de R$ 16 milhões. As obras estão sendo executadas pela Secretaria de Mobilidade e Infraestrutura (Semobi), através do Departamento de Estradas de Rodagem (DER). "As máquinas estão nas estradas para garantir à população o direito de ir e vir, facilitando o acesso à Zona da Mata e ao Agreste, fazendo a economia girar e contribuindo para a criação de empregos nas regiões", destacou Raquel Lyra, que realizou ainda uma vistoria na PE-075, que tem obras de requalificação orçadas em R$ 50 milhões, com prazo de conclusão para março de 2024. O trecho tem 39,5 quilômetros de extensão, e liga Goiana ao distrito de Ibiranga, na Mata Norte. A governadora também formalizou a autorização para o início das obras de restauração da APE-062, que serve como acesso ao distrito de Caueiras, situado no município de Aliança, na região da Zona da Mata. Essa via abrange uma extensão de 2,78 quilômetros e receberá um investimento de R$ 4,1 milhões. A expectativa é de que as obras sejam finalizadas em até quatro meses, trazendo benefícios para mais de 38 mil moradores da região.

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Rio Tejipió: entre águas, sonhos e pesadelos

Série "3 Rios, 3 Comunidades, 3 Desafios" apresenta os problemas ambientais e sociais que se entrelaçam na Região Metropolitana do Recife. A produção é apoiada pelo Programa Acelerando a Transformação Digital, desenvolvido pelo International Center for Journalism (ICFJ) e Meta, em parceria com associações brasileiras de mídia. Na reportagem desta edição destacamos o Rio Tejipió. *Reportagem: Rafael Dantas*Fotos: Thally Santos | Instituto Solidade Apoio Poluído e com suas margens densamente povoadas, o Tejipió repete a história dos muitos rios urbanos que cortam as grandes cidades brasileiras. As populações vizinhas às suas águas têm uma vida quase anfíbia, adaptadas às enchentes que há décadas assolam durante o inverno esse território que um dia se tornou lar. Nos últimos anos, no entanto, a agressividade das cheias assustou. Intensidade e frequências maiores são sintomas de uma dura sintonia com as mudanças climáticas. Um cenário de muita tensão que terá nos próximos anos a chance de ser enfrentado com muitos investimentos que foram captados pelo poder público. Enquanto ainda não enxergam os projetos e as obras, a ansiedade permanece nas comunidades ribeirinhas e além delas. Carla Suzart, 46 anos, mora exatamente ao lado do Rio Tejipió há quase 29 anos. Ela vivia com quatro irmãos e um filho no bairro de Areias, quando sua mãe faleceu. Com os poucos recursos que conseguiu com o pai, comprou o espaço, no bairro de Coqueiral, onde vive desde então. “Quando minha mãe faleceu, eu fiquei desesperada. Disse ao meu pai que precisava de uma casa. Ele mandou uma quantia de dinheiro que não dava para comprar lá. Aqui era o canto mais barato que encontrei. Ou eu comprava ou ficava sem casa. Precisava de uma base para recomeçar a vida”. Ela já sabia que o lugar era vulnerável à subida do rio. Mas, mesmo assim, surpreendeu-se no primeiro inverno. “Foi desesperador. Sabia que enchia, mas não tinha noção na altura. Perdi tudo. Só deu tempo de enrolar meu filho e correr. Quando voltei para buscar as outras pessoas, a água já estava na metade da casa”. Com os anos de convívio com as enchentes, Carla aprendeu com a experiência. Ela conta que eram seis meses de casa arrumada e seis meses com os móveis todos suspensos em cavaletes, bancos ou no que pudesse prender nas paredes. Todos os cômodos da sua casa têm janela voltada para observar o nível das águas que, por muitos anos, invadiram sua residência. Com muita luta, ela conseguiu com aterramento subir em um metro o primeiro piso da moradia. “Pensei que iria ter sossego. Amenizou um bocado. Foi muito sacrifício. Refiz a casa umas duas vezes” Mesmo tendo uma casa muito elevada e adaptada, com sofá, cama, guarda-roupas, raque, construídos de alvenaria e cerâmica, a força das águas levou Carla e sua família a deixarem o lar às pressas mais uma vez. As intensas tempestades do ano passado foram as piores dos seus quase 30 anos em Coqueiral, a comunidade mais afetada. “Tem um nível da ponte que quando a água atinge eu já saio. Deixo todas as coisas aí e vou para casa da minha cunhada. Fica uma agonia porque ficam os animais e a vida da gente aqui. Mas a minha vida e a da minha família estão em primeiro lugar. Pra gente vale mais isso. Aqui está a história e a vida da gente”, conta a moradora. Ao atravessar a ponte e seguir a sua rota de fuga, a água estava na cintura. Para ter esse monitoramento, ela afirma que se reveza com o marido: durante a noite nos períodos chuvosos, enquanto um dorme, o outro observa a subida da altura das águas. Mesmo morando a uns 300 metros do Rio Tejipió, Fabiana Chagas, 40 anos, correu risco de vida nas cheias do ano passado. Sem estar tão acostumada com a chegada das águas com tanta força, como ocorre nas residências dos moradores ribeirinhos, ela perdeu praticamente tudo no ano passado. Fabiana mora há 40 anos no mesmo local, também em Coqueiral. A família está nessa habitação há quase um século. Ela guarda uma lembrança saudosa da sua infância, de um convívio agradável com o rio. “Minha lembrança do rio começa com 12 ou 13 anos. Lembro das lavadeiras do Rio Tejipió. Elas ganhavam dinheiro lavando roupa, era um rio muito limpo. São aí 25 anos ou 27 anos para, de repente, ele ser destruído tão rapidamente e virar uma ameaça pra gente. É um período muito curto. Não tem a ver só com a questão climática, mas com a postura humana, de jogar lixo, de invadir a margem, mas também de saneamento básico. Tem a ver com moradia”, analisa Fabiana. A primeira enchente que ela lembra no bairro faz pouco mais de 20 anos, mas não passou perto da sua casa. Porém, os problemas das cheias começaram a se aproximar cada vez mais, até se tornarem recorrentes. Ela conta que se não tivesse casa própria, já teria deixado o local pelo trauma da enchente de 2022. “Ano passado, quando a água chegou aqui, sabíamos que ao redor estava uma situação de guerra. Foi algo sobrenatural, muito rápido. Houve uma elevação de 50 centímetros em uma hora. Todo mundo se apavorou e quis somente sair de casa. Ficamos sem energia, sem 4G, o bombeiro disse que não poderia entrar nessa rua por causa das ondas formadas pelo rio que eram perigosas”, conta a moradora, que saiu de casa amarrada em cordas para não ser levada pelas águas. As águas se foram, mas o medo de novos episódios permaneceu. O filho de Fabiana, John Chagas, de 12 anos, não quer ir para a escola quando começa a chover mais forte. A mãe conta que o adolescente foi diagnosticado com Síndrome do Pânico, estresse pós-traumático e ansiedade. Ele, que chega a vomitar com o nível de estresse elevado, foi uma das crianças que quase morreu no resgate, atingido por uma manilha que rolou na força das águas. Se os danos materiais são visíveis e contáveis, os danos psicológicos não são.

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"Fundamental é repovoar o Centro do Recife com moradores"

Washington Fajardo, ex-secretário municipal de Planejamento Urbano do Rio de Janeiro, aborda os desafios de atrair moradias para a região central da capital pernambucana, elogia as iniciativas do Recentro e defende ações como a instalação de instituições de ensino na área para cativar a juventude. Estimular a moradia no Centro do Recife tem sido uma estratégia defendida por estudiosos e até pela prefeitura para revitalizar a região. O arquiteto e urbanista Washington Fajardo é um desses especialistas que acreditam que nenhum processo de reabilitação urbana tem sustentabilidade se não tiver pessoas morando no espaço a ser revitalizado. Fajardo é ex-secretário municipal de Planejamento Urbano do Rio de Janeiro, responsável pelo projeto Reviver Centro elaborado para atrair moradores para a região central da Cidade Maravilhosa. O sucesso do programa o levou a ser convidado a ser consultor do planejamento estratégico do Centro do Recife - Recentro na Rota do Futuro. O urbanista ressalta, no entanto, que seduzir a população a morar no Centro é uma tarefa complexa. Nesta entrevista a Rafael Dantas, ele fala dessas dificuldades como, por exemplo, a percepção de segurança que as pessoas têm do Centro, a oferta de moradias no local e o fato de a região não ser mais vista como uma centralidade, onde os moradores resolviam coisas, estudavam, faziam compras e atividades culturais. Mas ressalva que a proposta de se ter uma governança local, a partir do Recentro, é um passo importante para a recuperação da região, assim como a decisão do gabinete de ouvir a população sobre o Centro, a partir de uma consulta pública. Quais as diretrizes para que o Recife possa promover uma recuperação do Centro da cidade? O ponto fundamental é repovoar o Centro do Recife com moradores. Ou seja, nenhum processo de reabilitação urbana tem sustentabilidade se não tiver pessoas morando. Esse é o princípio. É muito sintético e objetivo, mas implementar isso é muito complexo. Porque, assim como outras cidades brasileiras, o Recife cresceu horizontalmente nas últimas décadas, numa velocidade muito intensa. A gente está falando de um Centro Histórico de toda uma região metropolitana, que é onde as pessoas estão morando. Esse modelo de crescimento da cidade acabou criando uma economia imobiliária que sabe pegar terrenos e fazer prédios. Mas hoje temos essa tendência de investir em retrofits também. Esse é um fenômeno recente brasileiro. No Brasil desaprendemos a reocupar, reformar. A palavra hoje é o retrofit. É importante entender que essa área central está em direta competição com essas outras áreas, onde encontramos uma cultura técnica que passa pela economia, mas vai até a arquitetura e a engenharia. Os próprios órgãos públicos dos municípios aprenderam a criar uma normativa urbanística que favorece essa expansão da ocupação. O resultado disso é que as áreas centrais ganharam uma ociosidade do ponto de vista de moradia, mas conseguiram manter uma função comercial ou de centralidade dos empregos. Aí veio segundo um fenômeno, um pouco de nossa época, que tem a ver com digitalização da economia. Então, além do problema histórico de ocupação, a economia digital já está afetando os centros urbanos também? Tanto o emprego, quantos hábitos de consumo estão muito organizados em função das facilidades que a internet nos proporciona. Esses novos hábitos, que têm a ver com a digitalização da vida da cidade, também têm impactado diretamente a relevância do varejo. Por exemplo: comprar algo não significa mais a necessidade de ter que ir à rua. E isso tem tido um crescimento exponencial, especialmente a partir da pandemia da Covid-19. É um fenômeno que ganhou uma proporção planetária, quando fomos obrigados a aprender novos hábitos. Passamos a fazer reuniões online, pedir comida em casa, fazer compras pela internet. Algo que era incipiente ainda, ganhou relevância e está presente em diferentes gerações. Antes era mais concentrado na juventude, mas com pandemia mesmo as gerações mais maduras ganharam novos hábitos. Ou seja, os centros urbanos têm situação histórica, de longo prazo, muito brasileira. E tem também o contexto novo, um pouco mais global, que tem a ver com digitalização. Isso aumentou mais ainda os esvaziamentos das áreas centrais. Estão correndo certo risco de ficarem irrelevantes. Nesse contexto, como o senhor avalia a experiência do Recife? O Recife é um caso interessante. Teve uma posição de vanguarda, quando algumas décadas atrás tomou decisão de implantar o Porto Digital em sua área central. Observe que o Recife tomou uma decisão muito avançada para época, em dois sentidos: priorizar o Centro da cidade e priorizar a nova economia. Uma reflexão que trago é que apesar desse vanguardismo, não se constituiu, de fato, uma nova camada social morando no Centro. Apesar do sucesso do Porto Digital, a população continua a não morar na região. Isso mostra como essa produção habitacional nas áreas centrais é muito complexa. A prioridade é trazer pessoas para morar, mas não é simples. Como modificar esse cenário para incentivar a moradia no Centro do Recife? Temos que ter visão de mercado. Ou seja, a produção habitacional tem que acontecer com as próprias pernas. Ao mesmo tempo, é necessário ter estímulo público. Que tipo de estímulo? Incentivos fiscais e subsídios, com regulação urbanística própria. É fundamental também que as pessoas passem a desejar mais o Centro. Isso significa que as famílias que hoje estão tomando decisão de moradia deveriam considerar área central como opção. Para isso é fundamental que existam alternativas no Centro para incentivar a decisão de comprar ou alugar uma moradia. Será que a população pensa em morar no Centro? E se pensar, será que conseguirá encontrar algo? Essas questões precisam ser resolvidas. Opções para quem queira e ter o desejo de povoar os bairros centrais. É um desafio que está tanto na demanda como na oferta. Para ter desejo, a população precisa se sentir bem no Centro. Ser um lugar seguro, organizado. Um bom parâmetro é pensar a cidade tomando as crianças como referência. Você viveria com seus filhos no Centro do Recife? A população percebe na área central da cidade um lugar para educar seus filhos

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Um dos dias mais importantes de minha vida (por Francisco Cunha)

Foi o que tive oportunidade de dizer quando falei, na condição de presidente do Conselho de Administração da Aries – Agência Recife para Inovação e Estratégia, no lançamento do projeto Recentro na Rota do Futuro que será responsável pela formulação do planejamento estratégico de longo prazo para o Centro do Recife. Disse ainda que achava ser um dia muito importante para a cidade do Recife também. Afinal, nas últimas seis décadas, nossas trajetórias estiveram entrelaçadas. Estudei os antigos ginásio e colegial no Colégio de Aplicação da UFPE que ficava no Centro. Assisti todos os filmes da juventude nos cinemas do Centro (São Luiz, Trianon, Art Palácio, Moderno, Veneza, Parque, Astor e Ritz). Consultei médicos e dentistas, ganhei meus presentes, fiz minhas compras (antes da existência de qualquer shopping center na cidade), tomei minhas primeiras cervejas no Centro do Recife. Por ironia do destino, fui testemunha ocular cotidiana da plena decadência do Bairro do Recife pois trabalhei lá no início de minha vida profissional e, nos mais de 40 anos de carreira, presenciei também a sua recuperação, ao mesmo tempo em que via desolado a dolorosa decadência dos Bairros de Santo Antônio e São José. Hoje, todavia, não é despropositado dizer que o Bairro do Recife, depois de quatro décadas em processo de recuperação e de ter tido sua vocação redirecionada, já “passa por média” (com uma hipotética “nota 7”), enquanto Santo Antônio e São José estão no fundo do fundo do poço (com uma nota que, com muita benevolência, não passaria de 2 ou 3), como, aliás, se encontrava o Bairro do Recife 40 anos atrás. E digo isso com a experiência de ter dedicado metade de minha vida profissional (mais de 20 anos) à tentativa obstinada de recuperação de Santo Antônio e São José na condição de consultor da Câmara de Dirigentes Lojistas do Recife (CDL Recife). Nesse tempo, pela CDL, tentamos de tudo até compreender que a coordenação dos esforços teria que vir do setor público, mais especificamente da Prefeitura do Recife, mais precisamente, ainda, do compromisso pessoal do prefeito. Afortunadamente para a cidade e para o seu centro histórico, o prefeito João Campos comprou a briga e colocou no seu programa de governo a recuperação do Centro do Recife. Então, criou o programa Recentro e o Gabinete do Centro com dois enfoques: um, de curto prazo; e, outro, de médio e longo prazos. Ou seja, estruturou a atenção do Poder Executivo Municipal às ações do dia a dia, sem perder de vista a essencialidade do médio/longo prazos com, pelo menos, um horizonte determinado que é o ano de 2037 quando o Recife será a primeira capital brasileira a completar 500 anos. Ambos os enfoques carecem de planejamento. Tanto o de curto prazo, de caráter operacional, que gosto de chamar de “farol baixo”, responsável por iluminar o que está logo à frente, quanto o de caráter tático e estratégico, que eu gosto de chamar de “farol alto”, responsável por iluminar o que está mais à frente. Os dois planejamentos são indispensáveis à ação consequente, um para evitar que caiamos nos “buracos” do caminho e, o outro, para evitar que atropelemos a “vaca” que resolveu atravessar a pista lá mais adiante. O planejamento de longo prazo tem também a importância fundamental de definir com clareza o que (o objetivo) se pretende atingir e contornar as dificuldades, bem como aproveitar as oportunidades para isto. Afinal, como já bem sabiam os romanos, “não há vento favorável para quem não sabe para aonde vai”. Então, com o planejamento operacional estruturado em relação ao Recentro, chegou a hora de estruturar também, o planejamento estratégico em relação ao Centro como um todo. Daí que, além da competente atuação operacional do Gabinete do Centro, a Aries, organização social que coordenou a elaboração do Plano Recife 500 Anos, foi convocada para coordenar também a elaboração do Plano Estratégico (a Rota de Futuro) do Centro que ora se inicia. Para isso, foram mobilizados dois dos mais competentes planejadores do Brasil: Sérgio Buarque (coordenador do Plano Recife 500 Anos) e Washington Fajardo (ex-secretário de planejamento urbano da cidade do Rio de Janeiro). Quis também o destino que este momento especial para a cidade me encontrasse presidente do Conselho de Administração da Aries e, por isso, a importância do dia do lançamento para minha vida. Afinal, não só pude presenciar a importância do ato como, também, fazer parte dele em condições de prestar uma contribuição direta, ainda que modesta. Vamos lá, então, desenhar a Rota do Futuro do Centro para com ela poder direcionar as ações capazes de fazer com que o Centro (em especial os Bairros de Santo Antônio e São José) possa, no horizonte do aniversário dos 500 Anos do Recife, ter revertido o seu processo de decadência, com sua vocação redirecionada e a sua recuperação como centro histórico de uma das regiões metropolitanas mais importantes do Brasil em pleno andamento. Isso é o que o Centro requer, o que a cidade precisa e o que nós, envolvidos no processo, temos a obrigação de fazer. Tudo isso aproveitando o raro "alinhamento astral" de vontades e condições favoráveis, em benefício desta cidade tão especial onde resolvemos viver nossas vidas e temos a obrigação de fazer o que estiver ao nosso alcance para deixá- la, para nossos sucessores, em estado melhor do que o atual. Daí, a vital importância do dia do lançamento da busca do desenho do longo prazo do Centro, para mim e para a cidade. No que depender de nós, essa Rota do Futuro será traçada da melhor forma que for possível.

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Qual o Centro do Recife que precisamos? Participe da pesquisa

Qual o Centro do Recife que precisamos? Essa é a provocação da Aries (Agência Recife para Inovação e Estratégia) para entender os anseios dos moradores da cidade sobre a região central da capital pernambucana. A organização está realizando uma pesquisa de percepção com o objetivo de orientar a reabilitação urbana, dinamização econômica, conservação ambiental e melhoria da qualidade de vida nos bairros centrais. Embora abrigue monumentos e prédios históricos, muita atividade comercial e tecnológica, o Centro viveu um drástico esvaziamento de moradias e passa por um avançado processo de degradação urbana. Um quebra-cabeça entre potenciais e desafios que precisa ser remontado com a participação popular e de olho nas tendências de sustentabilidade do mundo contemporâneo. A remontagem das peças que estão fragmentadas no território do Centro do Recife, na percepção dos especialistas, passa tanto por quem ainda resiste na região, a exemplo dos moradores ou profissionais, como pelos habitantes de toda a região metropolitana. Os incômodos e anseios são diferentes, para o comerciante, o universitário, o artista, mas alguns consensos apontam os caminhos de retomada. A necessidade de qualificar a segurança do Centro e a revitalização do espaço, atualmente degradado, são algumas das percepções comuns. Outros fatores que são quase unanimidade no processo de reconexão deste território são a necessidade de oferecer moradia e a promoção de uma revitalização integrada e duradoura da região. REPOVOAR O CENTRO O arquiteto e urbanista Washington Fajardo considera que o aspecto fundamental para revitalizar o Centro do Recife é repovoar com moradores “Nenhum processo de reabilitação urbana tem sustentabilidade se não tiver pessoas morando", assegura. Com o crescimento da capital, é nas outras cidades e nas periferias da Região Metropolitana do Recife onde a população foi encontrando suas moradias. Toda a economia imobiliária decorrente desse fenômeno criou uma conjuntura favorável para a expansão dos demais municípios e contribuiu para o esvaziamento da área central. A reversão desse cenário não é fácil, na análise de Fajardo. “É preciso estimular tanto a oferta (disponibilização de unidades habitacionais), como a demanda. É necessário dispor de opções para quem tem desejo [de morar na região central do Recife]. Mas para despertar esse desejo é preciso se sentir bem no Centro. Com uma sensação de segurança. Um bom parâmetro é olhar para as crianças. É um lugar onde você viveria com seus filhos?” A ausência de imóveis residenciais à disposição de moradores interessados é um dos motivos para a dificuldade de reocupação do Centro do Recife, segundo o presidente da CDL (Câmara de Diretores Lojistas), Fred Leal. Ele sugere que no processo de recuperar o Centro é preciso adotar medidas rápidas, além de pensar a governança e um plano integrado para a região. “A primeira consideração é que as medidas para revitalizar o Centro da cidade precisam ser implementadas de forma imediata, mas abrangendo também o médio e o longo prazos. Precisamos de um plano geral, abrangente, como o que a Aries está desenvolvendo, pois o Centro precisa ser ocupado com moradias para dar vida a outras melhorias. Esse retorno de moradores é fundamental para esse espaço”, afirmou o presidente da CDL Recife, Fred Leal. “Outra sugestão é que todas as entidades, sejam municipais, federais ou estaduais, retornem ao Centro, trazendo secretarias e autarquias para a região”. Nesse esforço para estimular moradias, Leal destaca a importância de evitar a favelização do Centro. Para o empresário, a retomada não pode ser apenas de imóveis de luxo, sendo necessário ofertar moradias acessíveis também. A Prefeitura do Recife divulgou a criação de uma parceria público-privada, na modalidade de concessão patrocinada, para a construção, manutenção e operação de quatro empreendimentos de habitação de aluguel social e dois empreendimentos habitacionais direcionados tanto à população de baixa renda quanto ao mercado popular, na cidade do Recife. Também há uma consulta pública online sobre a PPP Morar no Centro. A secretária-chefe do Gabinete do Centro do Recife, Ana Paula Vilaça, revela que após focar em ações de curto prazo, como a zeladoria, os incentivos fiscais e a promoção da cultura, material e imaterial, o gabinete está voltado para ações mais amplas e estratégicas. “Atualmente, está sendo elaborado o Recentro na Rota do Futuro - Plano do Centro do Recife de médio e longo prazos. Trata-se de uma ação que visa a formular prioridades estratégicas que promovam o desenvolvimento, combinando reabilitação urbana, dinamização econômica, conservação ambiental e patrimonial na região central da capital pernambucana, com foco nos bairros do Recife, São José e Santo Antônio”. CONHECER PARA CUIDAR Para recuperar a atenção e o cuidado dos recifenses pelo Centro, o consultor e presidente do Conselho de Administração da Aries, Francisco Cunha, defende que sejam adotadas ações para ampliar o conhecimento da população sobre esse território estratégico para a cidade. “Como se diz popularmente: 'quem ama cuida'. Todavia, para amar é preciso conhecer. Suspeito que exista pelo menos uma geração inteira que nunca pisou no Centro do Recife, em especial em Santo Antônio e São José. Pode até passar de bicicleta no domingo mas, pisar mesmo, nunca pisou. Como, então, preservar o desconhecido?” A escuta da população sobre esse território é um passo importante na análise do consultor. “O conhecimento que reputo indispensável pode e deve ser ampliado para aquele referenciado por pesquisas científicas e de opinião em cujo âmbito se inscreve a presente pesquisa. Afinal, quem não conhece, não gosta, nem cuida. Isso serve para os planos também”, afirmou Francisco Cunha. O conhecimento, que pode gerar desejo de ocupar ou morar, é um dos combustíveis para a reativação desse território. "Não tem como pensar em revitalizar, em restaurar, em reconfigurar o Centro do Recife, sem haver um desejo, uma vontade”, apontou o músico, pesquisador e ex-secretário de Cultura de Pernambuco Silvério Pessoa. “A gente pensa em revitalizar, reconfigurar, eu acho que até o termo correto seria humanizar o Centro. A tração para esse retorno ao Centro necessita de vontade política, inclusive buscando recursos do Governo Federal e de um diálogo amplo, participativo e frequente com a sociedade. Além das pesquisas da Aries e da consulta da

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Municípios no Vermelho: entenda os motivos da greve dos prefeitos

A crise crônica das finanças das prefeituras se tornou aguda no segundo semestre de 2023. O questionamento da divisão de recursos entre a União, estados e municípios é antiga e está nas raízes do almejado Pacto Federativo. Porém, no atual trimestre, um combinado de queda de arrecadação e aumento das obrigações orçamentárias levou os prefeitos a um movimento “grevista” por um socorro federal. Em Pernambuco, a Amupe (Associação Municipalista de Pernambuco) estima que 80% das cidades sobrevivem do FPM (Fundo de Participação dos Municípios) e ficaram em uma situação de maior fragilidade nos últimos meses. Entender a briga pelo orçamento nesse caso não é fácil. Existem diferentes fontes de receitas dos municípios, como o ISS (Imposto sobre Serviços), o IPTU (Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana) e uma parcela do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). Porém, as pequenas cidades, de forma geral, dependem muito do FPM para realizar seus serviços. O fundo é composto por 22,5% da arrecadação líquida da União da soma do IR (Imposto de Renda) com o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). O resultado dessa sopa de letrinhas que deixou os prefeitos em pânico foi que houve uma redução das receitas vindas do IR das pessoas jurídicas, ao mesmo tempo em que aconteceu um aumento das restituições do Imposto de Renda. O resultado final é que houve uma diminuição da arrecadação da União e, consecutivamente, queda do repasse municipal. O impacto veio no início do segundo semestre. Os repasses do FPM são feitos três vezes ao mês. A queda do primeiro decêndio de julho foi de 32,4%, enquanto que nos meses de agosto e setembro, no mesmo período, foram respectivamente de 20,3% e 28,2%. “Se já temos um Pacto Federativo injusto aos municípios, perder cerca de 30% da receita prejudica muito os serviços que a gente presta para a população e a forma que temos de pagar os servidores. Somado a isso, tivemos queda de outras arrecadações, como o ICMS. Esses dois fatores fizeram com que muitas prefeituras se encontrassem em situação de calamidade”, destacou a presidente da Amupe e prefeita de Serra Talhada, Márcia Conrado. O processo de desindustrialização do País, intensificado nos últimos anos, e as mudanças mais recentes nas regras do Imposto de Renda tiveram uma relação com essa queda das receitas, segundo o economista e professor da UPE (Universidade de Pernambuco), Sandro Prado. “Enquanto nos anos 1980 chegamos a ter em torno de 30% do PIB da indústria, no Governo Bolsonaro chegou a 11%. Tivemos uma queda percentual desse setor que fez com que o IPI murchasse. Essa desindustrialização é um processo longo, que teve um agravamento muito forte nos últimos anos. Além disso, houve uma restituição maior do Imposto de Renda. É uma luta importante para a população, mas traz um complicador que é a diminuição desse repasse nos meses de agosto e setembro, fazendo com que os municípios ficassem enlouquecidos”, afirmou Sandro Prado. A proximidade com as eleições municipais do próximo ano se tornou um agravante nesse cenário, pois cria dificuldade para a máquina pública das prefeituras, na análise do economista. CRESCIMENTO DAS DESPESAS NO RADAR Além da queda das receitas, outra queixa forte dos prefeitos, capitaneada no País pela CNM (Confederação Nacional dos Municípios), é o aumento de despesas obrigatórias, sem uma fonte definida. Em outras palavras, são leis que elevam, por exemplo, salários, sem que haja a indicação de quem pagará a conta e tudo vai acabar nos cofres municipais. O aumento do piso dos professores, por exemplo, entra nessa conta. “Temos visto e revisto o Pacto Federativo porque é muito injusto com os municípios. As demandas só chegam, mas contrapartida financeira não chega para fazermos o melhor, que é cuidar das pessoas. Temos um grave subfinanciamento na saúde, na educação e na assistência social. É preciso rever a distribuição desses recursos”, afirmou a presidente da Amupe. Ela destaca que o subfinanciamento dos serviços não é um problema recente, mas algo que já atravessa pelo menos uma década, com graves prejuízos aos cofres municipais. De acordo com o estudo recém-publicado pela CNM, 53% das pequenas cidades do País e 38% dos municípios de médio e grande porte estão com déficit – despesas maiores que as receitas. “No primeiro semestre de 2023, a cada R$ 100 arrecadados nos pequenos municípios, R$ 91 foram destinados para pagamento de pessoal e custeio da máquina pública”, afirmou o estudo Avaliação do cenário de crise nos municípios. A pesquisa foi realizada a partir de dados do Siconfi (Sistema de Informações Contábeis e Fiscais do Setor Público Brasileiro) e elaborada pela CNM. O economista Sandro Prado avalia que são justas as reivindicações das categorias profissionais e que deveriam haver outros pisos instituídos em lei. No entanto, vê com preocupação a ausência de comunicação entre os legisladores e o Poder Executivo na definição dos recursos. “Essa falta de diálogo entre os dirigentes municipais, estaduais e federais é uma coisa muito séria. Quando o Congresso aprova uma legislação que vai afetar 5.570 municípios é algo muito grave. Obviamente as categorias são merecedoras. Algumas mais fortes conseguem. O piso dos professores e dos profissionais de saúde aumenta as despesas do município. Deveria haver, por parte dos gestores, um remanejamento dos recursos para esse pagamento, mas muitos colocam isso como algo que ele não conseguiu pagar e algo que fez com que dificultasse ainda mais a sobrevivência desses municípios”, disse o economista. No primeiro semestre, os municípios de Pernambuco tiveram um aumento de despesas com pessoal na ordem de 7%, em comparação com o mesmo período de 2022. Os gastos de custeio avançaram em 23% e os investimentos subiram em 24% nos primeiros seis meses de 2023. Já a arrecadação no primeiro semestre registrou um aumento de 7% do FPM e uma queda de 4% do ICMS. Uma redução abrupta, no entanto, foi das execuções de emendas parlamentares, que alcançaram o patamar de 63% a menos que em 2022. Diante do baque do começo do segundo semestre, Márcia Conrado destacou que os prefeitos

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Novo pátio da Feira de Casa Amarela receberá R$ 6,6 milhões em obras

O prefeito João Campos fez uma visita às obras em andamento do novo pátio da Feira de Casa Amarela, localizada na Zona Norte. Essas melhorias abrangem uma nova cobertura, um reservatório de água, uma área designada para animais vivos, além da criação de novos quiosques para flores e outras melhorias. O projeto abrange uma área de 3,8 mil metros quadrados e tem como objetivo estimular os comerciantes da região a aumentarem a visibilidade de seus produtos. Além disso, a feira contará com instalações sanitárias e uma área de lavagem de mercadorias. O investimento total nas obras da Feira de Casa Amarela é de R$ 6,6 milhões, dos quais R$ 2,2 milhões provêm de convênio firmado entre a Prefeitura do Recife e a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf). Este projeto faz parte de um amplo plano de reformas e requalificação em mercados e feiras públicas na cidade. Outros mercados e feiras, como Beberibe, Cais de Santa Rita, e Nova Descoberta, também passarão por intervenções semelhantes, totalizando um investimento de R$ 30 milhões no programa liderado pela Conviva - Feiras e Mercados. As melhorias incluem revisões nas coberturas, iluminação, estacionamentos, banheiros e outras instalações para proporcionar um ambiente mais confortável e eficiente para feirantes e visitantes. Durante a visita, o prefeito João Campos destacou a magnitude deste projeto, afirmando que é a maior obra de pátio de feira e mercado em toda a Zona Norte do Recife. Ele enfatizou que a nova cobertura será ainda maior do que o mercado de Casa Amarela.

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Ilha de Deus sedia a 2ª Conferência Livre de Mobilidade do Recife

Em comemoração ao Dia Mundial Sem Carro, acontece hoje (22) e amanhã (23) de setembro a segunda edição da II Colmob - Conferência Livre de Mobilidade do Recife. O evento nasce em 2016, através da articulação em rede dos diversos movimentos sociais da mobilidade urbana e do direito à cidade da Região Metropolitana do Recife (RMR). Visando fortalecer e ampliar a incidência política sobre mobilidade urbana e suas transversalidades a partir da mobilização das periferias do Grande Recife. A abertura da 2ªConferência Livre de Mobilidade do Recife, acontece hoje, às 19h, na sede da Ação Comunitária Caranguejo Uçá, na Ilha de Deus, e surge da necessidade de dialogar a mobilidade urbana de uma maneira ampla, participativa, tendo em vista, o esvaziamento dos espaços oficiais de participação, como as Conferências Municipais de Trânsito e Transporte, que desde 2007 não ocorrem em Recife. “É urgente pensar e propor soluções de mobilidade que dialoguem com toda a diversidade sociogeográfica da cidade, e que contemplem não apenas as áreas de planície, mas também os morros e os rios. Além disso, essa conferência é um espaço livre para a incidência política a fim de garantir o direito constitucional ao transporte e a mobilidade com as nossas especificidades locais de cada território”, afirma o coletivo de organização idealizadora da ação. A programação do evento conta com mostra de filmes, apresentações culturais e mesas de diálogos. No sábado (23), a primeira mesa debate a Conjuntura da Mobilidade Pernambucana e a segunda tem como tema: As utopias que não são utopias: questões da mobilidade que parecem impossíveis, mas já estão acontecendo”.  O bate-papo terá a contribuição de representantes das organizações Ameciclo, Fraternidade Cristã de Pessoas com Deficiência de Pernambuco (FND), Movimento Passe Livre, Coletivo Caranguejo Tabaiares Resiste, Sindicato dos Metroviários de Pernambuco - Sindmetro-PE, Rede Meu Recife, Observatório de Mobilidade de Salvador e Bigu Comunicativismo. Vale destacar, que toda a construção de propostas da 2ªConferência Livre, servirá de subsídio para as conferências que pautarão as discussões em torno da mobilidade urbana das eleições municipais de 2024.  A iniciativa é uma realização da Bigu Comunicativismo, Associação Metropolitana de Ciclistas do Recife - Ameciclo, Ação Comunitária Caranguejo Uçá, Rede Meu Recife, Movimento Passe Livre - Pernambuco, INCITI - Núcleo de Pesquisas Urbanísticas da UFPE e Escola de Ativismo.

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"A resolução da habitação e do saneamento pode aliviar a pressão ambiental do Rio Beberibe"

Edilson Junior, mestre em desenvolvimento e meio ambiente pela UFPE e doutor em geografia pela UFES, pesquisou o Rio Beberibe durante a sua dissertação Nas Trilhas da Floresta Urbana: Gestão ambiental e conflitos na Mata do Passarinho. Mais que uma questão natural, relacionada aos efeitos das mudanças climáticas, o cenário vivido na comunidade emblemática vizinha ao rio é um problema de ordem social. O pesquisador destaca que os indicadores sociais dos bairros que convivem com o Beberibe são comparáveis aos países mais pobres da África. Nesta entrevista concedida ao jornalista Rafael Dantas para a série 3 Rios, 3 Comunidades, 3 Desafios, Edilson Junior trata ainda dos possíveis caminhos para recuperação do Rio Beberibe e das comunidades do seu entorno, mas alerta para o agravamento da situação social nas últimas décadas, com o crescimento demográfico das comunidades ribeirinhas. (Fotos: Midiã Tavares, especial para a Algomais) Qual a relação entre o poder público, a comunidade que vive na região e o Rio Beberibe? A relação entre o poder público e a comunidade é de abandono; entre a comunidade e o rio é de desprezo; e entre o rio e o poder público é de serventia. Explico: se traçarmos um panorama com indicadores de renda, saúde e educação, que são utilizados no Índice de Desenvolvimento Humano, dentro de um município, veremos que os bairros que margeiam essa porção do Rio Beberibe estão historicamente atrelados a resultados similares aos de países africanos pobres. São décadas de desamparo, falta de equipamentos urbanos e oportunidades de trabalho. A desigualdade é muito violenta, o que torna secundária a pauta da conservação ambiental. A exemplo da Reserva de Floresta Urbana (FURB) Mata do Passarinho, que foi seu objeto de pesquisa, como se caracteriza a pressão ambiental nessa região? Ninguém vai pensar nos impactos ambientais de derrubar a mata para construir sua casa, de retirar lenha para poder cozinhar suas refeições, ou nos problemas de lançar esgoto e lixo diretamente no rio, enquanto o poder público não atende sequer as demandas sociais básicas. É uma situação triste, pois o Beberibe e as Reservas de Floresta Urbana que o margeiam são, de certa forma, patrimônios vivos da nossa terra e estão diariamente sofrendo com este tipo de ação. Portanto, por necessidade, a população faz uso desses recursos naturais e não há ação de conscientização que possa impedir isso. Apenas a resolução das demandas de habitação e saneamento, anulando a necessidade de fazer uso desses espaços naturais, pode aliviar a pressão ambiental do Beberibe e das FURBs. Há mais de uma década a região foi alvo do Prometrópole. Esse programa era voltado para a Bacia do Beberibe e inclusive retirou a população da Vila do Tetra, que fica entre a FURB e o Rio. Mas a área foi reocupada e não foi construído o habitacional. O que aconteceu para esse projeto não ser executado? O programa Prometrópole, que este ano completa duas décadas desde o grande aporte financeiro recebido do Banco Mundial, é um caso emblemático, tanto pelo seu escopo quanto pelo seu resultado. Em teoria, ele iria garantir uma transformação urbanística completa das margens do Beberibe, servindo de vitrine para Pernambuco numa época em que diversas organizações intergovernamentais, como as Nações Unidas, estavam financiando projetos de urbanização no Brasil. No entanto, o que tivemos foi a fragmentação do programa em obras sem a devida efetividade, pouco integradas entre si ou fora dos fundamentos de saneamento e combate à pobreza do programa. Isso é completamente diferente do que foi apresentado à população. Até hoje, os habitantes dos bairros contemplados pelo Prometrópole lembram do projeto com frustração. Muitas das áreas de lazer propostas não foram construídas, o quantitativo de habitações entregues ficou aquém da demanda, a pavimentação e o esgotamento sanitário das ruas se arrastaram além do necessário, e o abastecimento de água ainda é deficiente. Isso sem falar na rede de serviços públicos, que não foi ampliada como anunciado. Sobre a Vila do Tetra, pode-se dizer que a questão até triplicou de tamanho, tanto no quantitativo populacional quanto na área ocupada. Isso ocorreu porque, diante do atraso ou da inexistência das obras, novas frentes de ocupações foram se formando ao longo do Beberibe, a exemplo do terreno no antigo endereço da Rádio Olinda. Acredito que o Prometrópole sofreu muito pela visão engessada de um "kit de urbanização" que não atendia às especificidades do povo atendido e do espaço que habitavam. A população vive numa situação de extrema vulnerabilidade social e sem saneamento básico. Quais os possíveis caminhos para encontrar uma solução que seja satisfatória para a população e para o Rio Beberibe? Não há solução efetiva que não seja através de um grande projeto integrado entre urbanização e demais questões sociais. Em uma situação ideal, a realocação da população para moradias mais adequadas e a consequente proteção das margens seriam o melhor caminho. No entanto, isso tem um custo político e orçamental que pouquíssimas gestões municipais estão dispostas a enfrentar. Além disso, desde a Lei 14.285/2021, os municípios detêm competência para regularizar todas as ocupações urbanas nas margens dos rios, chancelando a transformação do que deveriam ser áreas de proteção em tecido urbano consolidado. É esse caminho que tem sido adotado, normatizando a precarização das margens dos rios. Dessa forma, temos o próprio poder público a "planejar" desastres, como os provocados por enchentes. O que fica claro é que qualquer projeto precisa contemplar as dimensões sociais e ambientais, pois não é possível pensar em recuperar um rio enquanto a população sofre necessidades mais urgentes como emprego e habitação. A história do Prometrópole mostra isso. A população se queixa da maior intensidade de eventos de enchentes nos últimos anos. Podemos inferir alguma relação com as mudanças climáticas e a maior intensidade de chuvas, num período mais curto de tempo? Não apenas as mudanças climáticas estão propiciando mais eventos hidrológicos extremos, mas também as características da suburbanização a partir do médio curso do Beberibe estão contribuindo para as situações de enchentes. Na verdade, as questões relacionadas a como produzimos a nossa cidade

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Seminário Nacional sobre Saneamento acontecerá no Recife neste mês

O Seminário Nacional "Saneamento & Desenvolvimento Sustentável" vai reunir especialistas de todo o país para debater questões cruciais relacionadas ao saneamento no Brasil. O evento, organizado pelo Instituto Brasileiro Pró-Cidadania, está agendado para os dias 27 e 28 de setembro e será realizado no Mar Hotel, localizado na zona sul do Recife. Profissionais da infraestrutura, líderes de empresas de saneamento, gestores municipais, parlamentares, membros de órgãos de controle e representantes do terceiro setor de todas as regiões do Brasil se reunirão para compartilhar suas experiências sobre modelos de gestão voltados para a universalização do acesso à água tratada, sistema de esgoto e limpeza urbana, que ainda não estão disponíveis para mais de 30 milhões de brasileiros. O seminário abordará temas cruciais, como o cumprimento de metas estabelecidas pelo marco legal, execução de contratos de Parcerias Público-Privadas (PPPs) e concessões, estratégias para alcançar a universalização dos serviços em diversas regiões do país, além da questão do financiamento e da estruturação de projetos para viabilizar investimentos. Já confirmaram presença Karla Bertocco, Sócia da Mauá Capital e Presidente do Conselho de Administração da SABESP, Márcia Conrado, Presidente da AMUPE e prefeita de Serra Talhada, além dos Deputados Federais Fernando Marangoni (SP), Fernando Monteiro (PE) e Pedro Campos (PE), Danilo Cabral, Superintendente da Sudene, Paulo Câmara, presidente do BNB e Ranilson Ramos, Presidente do TCE. Roberto Tavares, que contribui com a parte técnica do evento, destaca que "o empoderamento dos Municípios e da Sociedade Civil na questão do saneamento pode ajudar a tirar os projetos do papel e se transformar em melhorias efetivas no abastecimento de água e na coleta e tratamento de esgotos." As inscrições podem ser feitas no site www.procidadania.org.br

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