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"Queremos tornar o Bairro do Recife a Disneylândia da Assombração"

César William Costa, integrante do Recife Mal-Assombrado fala do projeto que divulga a história e a cultura da cidade por meio de divertidos passeios em que atores interpretam apavorantes lendas recifenses. Para manter o clima de mistério, ele não revela sua identidade e se mostra ao público como o personagem Mestre Devas. I magine caminhar pelas ruas escuras do Bairro do Recife e, de repente, se deparar com ninguém menos que o temível Papa-Figo? Essa é a proposta assustadoramente lúdica do Recife Mal-Assombrado. O projeto promove excursões pela cidade, nas quais atores, na figura de apavorantes lendas recifenses, surgem entre os caminhantes. Eles também podem se defrontar com um fantasma de algum personagem da história local, a exemplo de Maurício de Nassau ou Frei Caneca. Além de provocar sustos, o projeto, segundo um dos seus integrantes, César William Costa, visa a divulgar a história do Recife, seus locais históricos e sua arquitetura, de uma maneira muito divertida. Para não quebrar a magia apavorante da proposta, nenhum dos atores do Recife Mal-Assombrado mostra seu rosto. Por isso, César, concedeu esta entrevista a Cláudia Santos, com o figurino do personagem sacerdote Devas C. William Costa, mestre de uma ordem hermética. Com sua roupa negra e seu imenso capuz, “Mestre Devas” falou à Algomais no deslumbrante Palácio do Comércio, no Marco Zero, com sua bela escadaria, magníficos vitrais e cercado de símbolos da maçonaria. Um cenário que compôs um clima a mais de mistério. Segundo o “sacerdote” mais de 22 mil espectadores já se divertiram e se assustaram com o tour assombrado, cujo roteiro é inspirado nas obras de Gilberto Freyre, Roberto Beltrão, Carneiro Vilela e até em notícias de jornal. O que é o projeto Recife Mal-Assombrado? O Recife Mal-Assombrado já fez sete anos e tem inspiração em autores da literatura fantástica. Ele é um misto de espetáculo místico, turístico e cultural. Nós convidamos o turista e o público local a se encontrarem conosco em determinado local, geralmente na praça do Arsenal e, de lá, fazemos uma viagem ao passado, percorrendo os lugares reais das lendas antigas. E, no meio do passeio, eles se deparam com aquelas personalidades que, tempos atrás, assombraram os habitantes do Recife. Os mais variados espectros são encontrados no meio da rua. Mais do que somente um passeio de susto, o projeto traz a nossa cultura e traz também – até fisicamente – o que nossos antepassados viam e percebiam nas ruas do Recife naquele tempo. Dessa forma, consolida as lendas, os milagres, os fantasmas, as assombrações de outrora. Nesses sete anos, já tivemos uns 22 mil espectadores. Você poderia dar um exemplo de um desses roteiros? Temos dezenas deles, mas vamos falar dos principais: Fazemos a Caminhada Assombrada pelo Bairro do Recife, que geralmente sai às sextas-feiras, fazemos uma caminhada que dura uma hora e meia e durante o caminho, nas ruas mais vazias, mais soturnas, mais escuras, de repente, se materializa uma assombração. Pode ser o Seu Amorim, que é o Papa-Figo, pode ser uma Feiticeira, Antônia Maria ou Felícia Turim da nossa história, pode ser uma pisadeira, ou um cocheiro mencionado por Gilberto Freyre em seu livro. São mais de 120 personagens. O público nunca sabe quem aparece. Já o passeio de ônibus tem quatro horas de duração. Pegamos o nosso ônibus assombrado e visitamos, durante a noite, quatro a cinco locais assombrados, onde viviam as lendas. Temos um roteiro destinado só para os bairros mais antigos: Bairro do Recife, São José, Santo Antônio, Boa Vista, às vezes Santo Amaro, e outro que vai até a casa de Gilberto Freyre. Passa pelas Graças, Casa Forte, Parnamirim, Poço da Panela até Apipucos. A proposta é explorar mesmo. Pode ser um casarão, um museu, pode ser um teatro, um palácio. Podemos estar às 22h no Palácio do Governo, ou, nos casos mais extremos, como agora em outubro, quando há Halloween, podemos estar às 23h no Cemitério dos Ingleses. Nesses passeios não há luz, no máximo velas. Então, quando entramos no Forte de Cinco Pontas ou do Brum, por exemplo, só com as luzes de velas, pode surgir, de repente, um soldado que conta sua história, porque ele está ali sofrendo, preso naquele local. Fatalmente ele fala como era aquele lugar antigamente. O público começa a se surpreender: “puxa! Não havia prédios e o mar batia no muro do forte? Isso aqui foi aterrado?”. O passeio abrange muita coisa, de arquitetura à história e os ingressos podem ser adquiridos no site www.recifemalassombrado.com. Como são as reações do público? Ah, são as mais variadas. Imagine você ter crescido ouvindo as histórias do Papa Figo, da Loira do Banheiro, da Mulher do Algodão, da Comadre Fulozinha e, eles aparecem, de supetão, na sua frente? Aí, é um misto de alegria, de susto, de medo. Tem gente que corre, tem gente que cai na gargalhada nervosa, tem de tudo. Qual a importância de se resgatar e preservar essas assombrações do Recife? Raízes. Precisamos ter em mente quem somos, de onde viemos. Temos um problema no Brasil de ausência de laço ancestral, geralmente não sabemos nem o nome de nossos avós. Se tivéssemos uma ligação maior com essa ancestralidade, principalmente com a ancestralidade do Recife, teríamos mais amor à cidade. É isso que o Recife Mal-Assombrado propõe: que tenhamos mais amor pela cidade, que percebamos mais a sua cultura, seus aspectos arquitetônicos, históricos e culturais. Isso vai criando um link e sem perceber as pessoas vão tendo esse conhecimento, vão construindo esse amor e daqui a pouco estão envolvidas na preservação de um local histórico. Você precisa ver os olhos brilhando de quem faz o Recife Mal-Assombrado. Eles não se atentam somente para a assombração, mas ao contexto da assombração na sua época, na sua cidade. Essas assombrações podem ser históricas. De repente na caminhada pode aparecer o espectro de Domingo José Martins, Frei Caneca, Maurício de Nassau, e darem a versão deles sobre os fatos da época. Leia a entrevista completa na ediçãp 199.2 da Revista Algomais: assine.algomais.com

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igreja matriz

Goiana: qual o cenário da preservação do patrimônio arquitetônico e cultural?

Com um conjunto de templos tombados, Goiana viu na última década a recuperação de vários deles por parte de iniciativa da paróquia da cidade e da Santa Casa de Misericórdia. Os recursos para as obras vieram de campanhas junto à população e , no caso da Igreja da Misericórida, do BNDES. Goiana é uma das cidades pernambucanas com maior participação nas lutas históricas do Estado e que guarda no seu centro urbano um precioso conjunto de igrejas centenárias, conventos e monumentos tombadas pelo Iphan. Apesar da quantidade e do valor desses templos religiosos, a preservação deles sempre foi um desafio. Há 8 anos, a Algomais esteve na cidade em uma reportagem para observar o município que vivia a fase de construção do polo automotivo. “Uma característica singular de Goiana, em comparação a outras cidades que receberam polos industriais com alto volume de investimentos, é a riqueza do patrimônio histórico e cultural do município”, registrou a matéria em 2014, que identificou os edifícios religiosos deteriorados, fechados, com seus pátios ocupados pelo comércio popular. Há algumas mudanças nesse cenário, com melhorias, mas também com novas preocupações. Uma das relíquias desse patrimônio histórico, a Igreja da Misericórdia, começou a ser recuperada em 2016. Erguida no século 18, funcionou no seu anexo o único hospital da região por mais de em século. Um dos heróis da história de Pernambuco, o Vigário Tenório, teve suas mãos estão sepultadas na capela-mor desse templo. Pertencente à Santa Casa da Misericórdia de Goiana, o templo e o seu prédio anexo receberam investimentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a revitalização. Em sua primeira fase, a reforma promoveu serviços de recuperação da torre sineira, esquadrias, cantaria, pisos, coberta, janelas, portas e instalações elétricas, além da pintura interna da igreja. Um dos pré-requisitos para a segunda fase dessa obra era a remoção do comércio popular que se instalava no pátio frontal ao templo. “Através de um pacto entre a Prefeitura, o BNDES e Santa Casa da Misericórdia, foi realizada a remoção da feira do entorno. O Largo da Misericórdia era completamente fechado por bancos de feira, hoje esse espaço é ocupado por jovens, grupos de dança, capoeira. À noite, as pessoas estão passeando, tem recreação para crianças. A população passou a usar o largo imediatamente, pois havia carência de uso desses espaços. É importante olhar não apenas a recuperação dos monumentos, mas da ambiência da cidade. É preciso ter uma atenção nisso", afirmou o provedor da Santa Casa de Misericórdia de Goiana, Bôsco Rabello.  Estão previstos para a próxima etapa a restauração da capela, do altar-mor e do piso de pedra da igreja, além da adaptação dos imóveis a outros usos. O projeto de restauração dela transformará o conjunto arquitetônico em um centro cultural, preparado para receber exposições, apresentações culturais, com adaptação da nave ao uso de teatro e cinema (com equipamentos de projeção de imagem, som e iluminação cênica apropriados), além de estrutura para guarda e pesquisa do acervo documental. Um dos espaços de destaque da cidade que também recebeu um novo cuidado foi a praça do Carmo, que abriga o Cruzeiro mais antigo da América Latina e está de frente à Igreja Nossa Senhora do Carmo e o Convento de São Alberto, pertencente à Congregação dos Freis Carmelitas, restaurada entre 2017 e 2018. “Esse cruzeiro completou 300 anos em 2017. Mas como estava sem restauração na época não foi feita nenhuma festa para o tricentenário. Agora a Prefeitura Municipal e o Iphan fizeram a restauração da praça e uma limpeza nele”, afirmou o pároco da cidade, o padre José Edson Alexandre Ferreira. O pároco chegou em Goiana justamente em 2017. E foi a partir daí que mais peças começaram a se mover para a recuperação do patrimônio arquitetônico da cidade, que são em sua maioria é gerido pela paróquia. “Todas as igrejas de Goiana, que integram o nosso Patrimônio Histórico, são tombadas desde 1938, mas várias estavam fechadas por falta de restauração mesmo. Goiana mudou muito nessa década, mas faltou um plano para o patrimônio histórico. Já que estávamos com grandes empresas chegando, o poder público deveria ter um projeto de revitalização, já que essas empresas têm interesse nesse tipo de investimento. Faltou esse projeto. Quando cheguei, em 2017, junto com as pessoas da cidade, começamos a fazer campanhas para recuperá-las”. A primeira a ser restaurada foi a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Brancos, que estava fechada desde 2008 e foi reaberta em fevereiro de 2021. O padre considera que a recuperação desse templo foi a mais importante desse ciclo, pelo simbolismo dela para a cidade. O pároco informa que no ano passado a Igreja Nossa Senhora da Soledade, conhecida na cidade como Casa de Recolhimento, passou a funcionar um abrigo de idosos.  Em 2022, foi recuperada também a Igreja de Nossa Senhora do Amparo dos Homens Pardos, que estava fechada há tanto tempo que as pessoas da paróquia sequer sabem a data em que suas atividades foram interrompidas. Ela foi reaberta em abril deste ano. Outro templo que recebeu recursos dessa campanha para a revitalização dos patrimônios religiosos de Goiana foi a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. A expectativa é que em pouco mais de um mês ela seja reinaugurada. Nela funcionava no passado o Museu de Arte Sacra de Goiana, que hoje tem um outro endereço. “O Museu de Arte Sacra foi para o Sesc Goiana. Fizemos um comodato entre a Diocese, a Paróquia e o Sesc. A gente cedeu as peças para eles reabrirem o museu. E o Governo do Estado ficaria responsável de fazer a restauração dessas peças”, declarou o padre. Apesar dos avanços, nem todas as igrejas tombadas do município foram recuperadas. Um dos templos que está na área urbana da cidade, que já possui projeto de restauro é a Igreja Nossa Senhora da Conceição dos Homens Pardos Cativos. Além dos templos, os moradores destacaram que várias praças da cidade foram revitalizadas nos últimos anos, como a Praça da Bíblia, a

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aida pontes

"Segurança, acessibilidade e diversão são as palavras-chave de uma cidade amiga das crianças"

No mês das crianças, a Algomais está discutindo o que é uma cidade amigável para as crianças. Aída Pontes, consultora do projeto Urban95 do Instituto de Arquitetos do Brasil, uma das entrevistadas da reportagem Uma cidade amiga da garotada, publicada na semana passada, do repórter Rafael Dantas, explica os elementos que tornam o espaço público mais convidativo para o público infantil. Dominada por carros, sem cuidado urbano e estético, além de desagradáveis para os adultos, as metrópoles se transformaram em lugares bem repulsivos para os pequenos cidadãos. Quais as características de uma cidade amigável para as crianças?Três palavras chave são importantes quando se pensa em uma cidade amigável para as crianças: segurança, acessibilidade e diversão. Para um ambiente urbano ser pensado para as crianças, ele também é pensado nas pessoas que as acompanham ou são responsáveis pelo seu cuidado. Logo, uma cidade amigável para as crianças necessariamente é uma cidade amigável para todas as pessoas.Para se projetar uma cidade para crianças, é preciso enxergar o espaço urbano a partir dos 95 centímetros de altura, que é a altura média de uma criança de três anos. É projetar espaços que sejam seguros, saudáveis, confortáveis, adequados, inspiradores e criativos. Mais especificamente, garantir a segurança através de um desenho urbano que atrai pessoas a usarem o espaço público e coloca os veículos motorizados no seu lugar, desincentivando o uso de veículos motorizados e priorizando as calçadas e espaços cicláveis. Inserir arborização e paisagismo de forma a garantir a permanência confortável nos espaços públicos, tanto nas ruas quanto em parques e praças. Assegurar a plena acessibilidade na circulação, com um ambiente livre de barreiras arquitetônicas, rampas e travessias adequadas. Tudo isso em um ambiente divertido, com espaços para brincadeiras e aprendizagem. "Desenhar ou redesenhar as ruas urbanas através da perspectiva das crianças nos mostra por que é necessário elevar o padrão de segurança, acessibilidade e diversão. O ambiente pode ter efeitos de longo prazo sobre a saúde das crianças, em seu desenvolvimento físico e cognitivo e no bem-estar social. Quando as lideranças da cidade investem em um projeto de ruas que seja bom para as crianças, criam ruas que atendem melhor a todas as pessoas." Quais os principais pontos críticos das metrópoles brasileiras atualmente em relação às crianças?O planejamento voltado à primeira infância deve pertencer a todos os setores da sociedade, especialmente quando se pensa em instituições governamentais. Apesar da importância do tema, as políticas públicas no Brasil ainda estão engatinhando no entendimento que focar na primeira infância é central na construção de uma sociedade com um futuro mais promissor, e que traz benefícios para toda a sociedade.Dados da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, no site Primeira Infância Primeiro, mostram que falta acesso a creches a ⅓ das crianças entre 2 e 3 anos e que apenas 26% das crianças que estão no quartil mais pobre da população estão em creches.É preciso reorientar as políticas públicas para que haja investimento na orientação das cidades pensadas na primeira infância, invertendo a lógica que vem sendo dada nas cidades: no lugar de priorização dos transportes motorizados, priorizar uma cidade na escala humana, onde você tem a oportunidade de ter a maioria das suas necessidades cotidianas de uma cidade a uma distância caminhável - a exemplo da cidade de 15 minutos.Existem diversos guias e orientações para que os tomadores de decisão, gestores e demais profissionais estejam habilitados a lidar com a linguagem do desenvolvimento infantil. É preciso que a informação chegue nesse grupo e que eles sejam sensibilizados a garantir espaços urbanos mais completos, onde as famílias possam prosperar de modo saudável. Como uma cidade pensada para as crianças contribui para o desenvolvimento delas?Fácil. Uma cidade acolhedora é aquela que forma bons cidadãos. Garantir um bom alicerce no desenvolvimento de uma criança é imprescindível e esse crescimento saudável passa por cuidados pessoais, como acesso a médicos e nutrição adequada, mas também cidades com espaços seguros e saudáveis, contando com planejamento e design urbanos que incorporam as necessidades de bebês, crianças na primeira infância e seus cuidadores.Crianças nos primeiros anos de vida e, principalmente, bebês e mulheres grávidas fazem parte de um grupo que são mais suscetíveis a impactos negativos causados pelo sistema urbano, impactos esses que podem ter efeito para o restante de suas vidas. Segundo o guia Urban 95:“O cérebro de uma criança cria mais de um milhão de novas conexões neurais por segundo. As primeiras experiências de vida, particularmente entre o nascimento e os três anos de idade, influenciam quais conexões serão reforçadas, estabelecendo uma base sólida para futuras funções cerebrais de nível superior, e quais conexões serão limitadas, deixando uma criança sujeita a ficar para trás.”Para criar uma base sólida como um futuro adulto, é importante estimular o desenvolvimento cerebral saudável ainda nos primeiros anos de vida, proporcionando ferramentas necessárias para conquistas educacionais, produtividade econômica, cidadania responsável, saúde ao longo da vida, comunidades fortes e parentalidade bem-sucedida para as futuras gerações. A provisão de um ambiente urbano adequado, é o cenário que as crianças necessitam para se desenvolver de forma saudável e se tornarem adultos saudáveis.

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capa 171.2

Uma década do polo automotivo de Goiana

Quais as mudanças e o que não mudou na cidade que recebeu um dos maiores investimentos industriais de Pernambuco no século? A Algomais inicia hoje a série de reportagens Uma década da chegada do polo automotivo. O projeto teve apoio da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e da Meta Journalism Project, em parceria com o International Center for Journalists (ICFJ). *Por Rafael Dantas, repórter da Algomais (rafael@algomais.com) Há 10 anos, o solo que por séculos foi destinado ao plantio da cana-de- -açúcar passou receber as obras de um conjunto de fábricas que em pouco tempo estariam produzindo veículos com tecnologia de última geração. Encabeçada pela Stellantis (fusão da Fiat Chrysler com a montadora PSA Group), o polo automotivo emprega mais de 13 mil pessoas, promovendo uma série de transformações em Goiana. Com um investimento bilionário, o empreendimento impactou também um cinturão de cidades vizinhas e mexeu até na balança comercial de Pernambuco. Os primeiros veículos só saíram da linha de produção há sete anos, mas as mudanças na economia e na rotina local começaram desde que os primeiros tijolos foram erguidos. A virada de chave da secular atividade agrícola praticada na região para dar lugar a um dos parques industriais mais avançados do mundo teve como um dos principais efeitos a mudança da perspectiva profissional dos jovens. Além da chegada de um grande player internacional, o município assistiu ao encerramento de duas grandes empregadoras do setor agro, as usinas Maravilha (no final de 2011) e Santa Tereza (2017), além da fábrica de Cimento Nassau (2017), essas duas últimas pertencentes ao Grupo João Santos. Uma mudança brusca de cenário que abriu caminho para a transição da matriz de empregos e da oferta de profissionais. Hoje, 85% dos trabalhadores que atuam na Stellantis são mão de obra local, de Goiana e de cidades vizinhas, como Igarassu e Itambé. Muitos filhos de pequenos comerciantes, agricultores ou pescadores passaram a integrar a linha de produção da empresa ou dos sistemistas, que fornecem peças e equipamentos. O polo emprega ainda profissionais das capitais do Recife e de João Pessoa. Weslley Vasconcelos (foto abaixo), 25 anos, é um dos jovens que aproveitou a oportunidade de ter uma multinacional na região para dar seus primeiros passos profissionais. Morador de Igarassu, município que fica a 30 quilômetros do polo, ele entrou aos 18 anos na fábrica. Em sete anos, foram sete promoções até sua posição atual de supervisão de logística. “Meu pai sempre trabalhou em indústrias, mas nunca teve formação. Minha mãe era camareira de um hotel. Eu saí do ensino médio direto para a planta e nesses anos eu só pude crescer. Fiz uma faculdade de administração. Sou a primeira pessoa da família com ensino superior. Hoje faço a gestão de 73 pessoas, sendo 80% delas daqui da região”, afirmou Weslley, que agora participa de um programa de desenvolvimento de jovens talentos da empresa para prepará-lo para os próximos passos na multinacional. Como morador da região, ele comenta que percebeu uma transformação forte principalmente em Goiana. “Tudo mudou na Mata Norte. Vemos hoje uma nova Goiana, com muito investimento em comércio, valorização das moradias, novos hotéis na região. Estamos num processo de transformação da capacitação também. Antigamente tudo era voltado para o setor agrícola, hoje está se voltando para a área industrial e automobilística. Há muito interesse dos jovens em investir neles mesmos, de se qualificarem para as oportunidades de emprego no polo”. Junia Morais, 21 anos, teve a oportunidade de viver uma experiência profissional no setor industrial e retornou para Goiana. Com formação técnica na área de segurança do trabalho, ela atuou em uma terceirizada do polo por um ano e três meses, antes de dar passos profissionais para fora do Estado. “Isso foi bom, me abriu um leque de oportunidades e networking. Surgiu uma oportunidade de trabalhar na Heineken em São Paulo, onde passei um tempo. Mas voltei agora para tentar um trabalho próximo de casa, da família. A principal mudança na cidade foi a movimentação, o comércio mudou bastante, temos hoje oportunidade de fazer novos cursos. Trouxe oportunidade para os goianenses”. A chegada do polo automotivo e de outros grandes empreendimentos, como a CBVP (Companhia Brasileira de Vidros Planos) e, em menor escala, a Hemobrás (Empresa Brasileira de Hemoderivados), gerou empregos industriais e um efeito renda para o comércio e serviços que ampliou muito o estoque de vagas na cidade. Em 2011, último ano antes do início das obras de construção civil, eram 12.766 mil postos de trabalho registrados em Goiana. O dado mais atualizado, da Relação Anual de Informações Sociais, elaborado pela Agência Condepe-Fidem, no ano de 2020, foi de 21.733. Mesmo considerando a crise econômica, que se arrastou no Brasil a partir de 2015, o fechamento de grandes empregadores da região e a pandemia, o aumento no período foi de 70,2%. “Chegamos numa região onde não havia uma cultura automotiva. A região da cana-de-açúcar se abriu para o novo, com muita vontade de aprender e de crescer. Trabalhamos muito o desenvolvimento das pessoas para estabelecermos essa cultura automotiva, que é muito singular dentro da indústria. Hoje estamos em uma fase de consolidação, porque é um conhecimento que conseguimos formar. A gente tem a planta, mas é um polo que envolve diversas pessoas, outros produtos e tecnologias que compõem o carro. Os nossos produtos mostram a força da transformação que foi feita na região”, afirma Mateus Marchioro, o plant manager na Stellantis Goiana. Essa consolidação do polo, em paralelo às outras novas atividades que chegaram ao município, fizeram o PIB de Goiana crescer de R$ 1,2 bilhão em 2012 para R$ 10.2 bilhões em 2019. O crescimento registrado do primeiro ano das obras da fábrica em 2012 para 2019, que é o último ano com dados fechados do PIB municipal pelo IBGE, foi de 754%. “Em 2010, a participação da indústria da Mata Norte representava 4,4% do PIB industrial de Pernambuco. Em 2019, ela pulou para 19,1%. A região passou a participar com quase um quinto do valor agregado industrial. Hoje

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capa 199.2

As lições das urnas do primeiro turno

*Por Rafael Dantas, repórter da Algomais O diagnóstico de polarização do País, discutido há meses, foi confirmado pela radiografia do voto. As urnas revelaram também um Brasil mais conservador do que previam as pesquisas até às vésperas do primeiro turno, em especial no Senado. Em Pernambuco, o pleito eleitoral marcou o fim de uma trajetória de 16 anos do PSB no Governo do Estado, que terá a disputa inédita de mulheres no segundo turno. A ex-prefeita de Caruaru Raquel Lyra (PSDB) e a deputada federal Marília Arraes (Solidariedade) se enfrentam na decisão de quem comandará o Palácio do Campo das Princesas nos próximos quatro anos. O Painel Mensal da Agenda TGI, live realizada pela Algomais e a TGI, tratou sobre os diferentes fenômenos desse panorama político atual e apontou ainda os principais acontecimentos do cenário internacional que terão impactos no País em 2023. Leia a reportagem completa na edição 199.2 da Algomais: assine.algomais.com

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m berzin chanteclair

6 fotos do Edifício Chanteclair Antigamente

*Por Rafael Dantas O icônico Edifício Chanteclair recebe a edição deste ano da Casacor Pernambuco. Situado bem próximo ao Paço Alfândega, ele aparece na maioria das fotos antigas da Ponte Maurício de Nassau. O prédio, inaugurado na década de 1920, está há 22 anos em desuso no Bairro do Recife. Nele funcionou no passado o Gambrinus, que era um misto de restaurante e boate. A primeira operação do Chanteclair, no entanto, foi de residência para trabalhadores do porto do Recife e região. Apenas nas décadas de 40 e 50 é que ganharia o contornos de salões de festas, bares e restaurantes. Entre os anos 60 e 80, o edifício abrigou pensões e prostíbulos ao mesmo tempo que no térreo tinham lojas, lanchonetes, bancos e já mencionado Gambrinus. "No térreo do edifício ficavam os estabelecimentos comercias e apartamentos residenciais nos dois pavimentos superiores. Com o crescimento das atividades portuárias, os apartamentos residenciais foram transformados em pensões onde moravam as prostitutas e faziam programas. O edifício teve esta função até os anos 80 quando diminuíram as atividades do porto.", destacou o artigo científico O papel do mapa de danos na conservação do patrimônio arquitetônico. "Testemunho da boemia que marcou o Bairro do Recife no final do século XIX início do século XX, o Chanteclair não tem apenas valor como monumento isolado, mas faz parte do conjunto eclético que caracteriza um período importante para a história do Bairro do Recife, além do seu valor no contexto paisagístico local.", destacou o artigo o artigo científico O papel do mapa de danos na conservação do patrimônio arquitetônico. *Rafael Dantas é repórter da Revista Algomais e assina as colunas Gente & Negócios e Pernambuco Antigamente (rafael@algomais.com | rafaeldantas.jornalista@gmail.com)

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trabalho ruim

No mundo pós-pandemia, o trabalho ainda dignifica o homem?

Passada a pandemia, as pessoas estão demonstrando novas formas de encarar a vida produtiva. Desde o confronto da cultura da alta performance nas empresas até a priorização dos objetivos pessoais em detrimento do emprego, os profissionais da pós-pandemia demandam outras formas de relação com o trabalho. Por outro lado, nem todos os contratantes estão entendendo essas mudanças. A primeira mudança de comportamento é o great resignation, a grande demissão em tradução livre. Aconteceu durante a pandemia em muitos países quando os trabalhadores decidiram não retornar aos seus empregos após o lockdown, em busca de oportunidades menos estressantes. No Brasil, entre julho de 2021 e julho de 2022, cerca de 500 mil pessoas pediram demissão por mês. É o dobro do registrado nos anos anteriores à pandemia, de acordo com o estudo da Lagom Data e da revista Você S/A. Outro comportamento pós-pandemia no mundo do trabalho é o quiet quitting. Quando traduzido ao pé da letra, o termo significa “demissão silenciosa”. Mas, ao contrário do que parece, quem se comporta assim não tem intenção de pedir as contas. Na prática, esse tipo de profissional fica esperando o tempo passar, acessando redes sociais e aguardando a hora de largar, em vez de executar as atividades para as quais foi contratado. Um tipo de “operação padrão” em protesto à falta de perspectiva para evolução da carreira. Uma tendência também é o acting your wage, ou trabalhar com esforço proporcional ao salário. A ideia é que, se a empresa não oferece incentivos e um ambiente saudável, não há motivo para se esforçar além do limite. Nesse caso, o trabalhador faz apenas o que foi contratado para fazer — e nada mais. Em outras palavras, é o profissional que não “veste a camisa”, que não dá o “sangue pela empresa”. O protesto dessa vez é contra as condições não ideais de trabalho. Com a explosão da modalidade remota, alguns profissionais adotaram também o cyberloafing. É o trabalho para vários contratantes, ao mesmo tempo, e que pode ser feito sem sair de casa, porém de remuneração mais baixa. Dessa maneira, esse trabalhador evita o tempo desperdiçado com deslocamento e não gasta com alimentação em restaurantes. O esperado nesse modelo é o aumento da remuneração total e a melhora da qualidade de vida, atuando apenas em home office. O great resignation, o quiet quitting, o acting your wage e o cyberloafing podem não parecer novos, pois muitos trabalhadores já se comportavam assim antes mesmo da pandemia. A diferença é que, depois do Covid-19, essas atitudes passaram a ser mais conscientes e não mais isoladas. Fazem parte de um comportamento intergeracional e estão presentes em diversos países, até mesmo quando o mercado apresenta crise, com alta taxa de desemprego, como é o caso do Brasil. A conclusão é que o trabalho está deixando de ser prioridade. As pessoas estão em busca de outros objetivos na vida. Elas procuram realização pessoal, priorizam a saúde mental, mais tempo com a família etc. Não estão mais dispostas a encarar ambientes corporativos de alta competitividade, cargas horárias extensas e exaustivas, sem um propósito alinhado com seus interesses. Apesar disso, nem todas as empresas estão dando a devida atenção aos sinais claros de mudança que a pandemia gerou no mercado. Insistem em oferecer modelos de trabalho do passado. Algumas, inclusive, que atuaram em home office durante a pandemia, estão obrigando seus integrantes a retornarem ao trabalho presencial, sem oferecer alternativas ou flexibilidade, como o modelo híbrido. As empresas não estão compreendendo que um profissional equilibrado entre a vida pessoal e o trabalho tende a elevar a produtividade, o engajamento e, principalmente, a lealdade à empresa. Nessa direção, é preciso rever a medição de desempenho baseada apenas no cumprimento de horários e em metas operacionais e financeiras. Proporcionar melhores condições de trabalho, que privilegiem a saúde mental, por exemplo, se tornaram uma exigência para atrair e manter talentos no futuro pós-pandêmico. Outra forma de avaliar essas mudanças de comportamento é uma resposta inconsciente dos profissionais ao que vem sendo desenhado para o futuro do trabalho. Diante da perspectiva de que máquinas e algoritmos farão a maior parte das atividades pesadas e repetitivas, o novo modo de agir dos trabalhadores demonstra uma antecipação do cenário em que os humanos terão mais tempo livre para atividades intelectuais, sociais e de lazer. O pensamento de que o “trabalho dignifica o ser humano”, do sociólogo alemão Max Weber, parece estar perdendo, aos poucos, o sentido.

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luciana entrevista

"O exercício da política não é só na hora de votar"

Luciana Santana, cientista política e professora da Universidade Federal de Alagoas, analisa os resultados do primeiro turno das eleições, o conservadorismo do Brasil e como está representada a diversidade da população brasileira no Congresso Nacional. Também aborda a participação política do eleitor além do voto. Acabamos de participar de pleito em primeiro turno e a pergunta que se faz presente é: e agora, como podemos participar politicamente depois das eleições? Para a professora da Universidade Federal de Alagoas, Luciana Santana, que é doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais, a atuação dos cidadãos no campo político deve ser diário. “Isso pode ser realizado, fazendo a política no dia a dia, nas nossas associações, nos bairros, nos nossos sindicatos, nos nossos grupos de sociabilidade, porque eu acho que a política está em todos os espaços da nossa interação humana, nos temas que a gente discute na família, no grupo de amigos”. Luciana reconhece, no entanto, que apesar de a Constituição estabelecer canais de participação, nem sempre eles são ofertados nos governos. Outro problema é o desconhecimento do eleitor brasileiro sobre quais são as funções de um parlamentar. Nesta conversa com Cláudia Santos, a cientista política analisa as eleições, o conservadorismo no Brasil e as dificuldades para efetivar a representação da diversidade da população brasileira no Congresso. Como a senhora analisa os resultados dessas eleições no País no primeiro turno? Tivemos uma eleição muito intensa, muito acirrada e disputada nacionalmente, mas que teve um impacto também nas disputas no âmbito dos estados. Houve uma mobilização muito grande, tanto que o resultado mostra, claramente, uma divisão do País. Em alguns estados, alguns presidenciáveis que estavam à frente nas pesquisas – os dois principais – acabaram influenciando diretamente no resultado, seja na definição do primeiro turno da campanha para governo do estado, seja quanto à possibilidade de alguns candidatos irem para o segundo turno, o que às vezes, não era aventado. Houve várias dessas situações e que mostram o impacto que a eleição presidencial teve no âmbito local. O que se destacou neste pleito foi a discrepância entre os resultados dos votos dos candidatos e a estimativa mostrada pelas pesquisas. A senhora acredita que as pesquisas serão desacreditadas pelos eleitores? Não é a primeira vez que isso acontece. Em 2014 e 2018 também houve esses questionamentos em relação aos institutos. Agora aconteceram com mais intensidade porque há uma rede de desinformação que nega qualquer evidência, qualquer tipo de dado que explique esse processo. Temos que entender o que está acontecendo realmente e o que tem também influenciado esses erros, que não foram cometidos apenas por um instituto, mas por vários que trabalham de formas independentes. Temos, por exemplo, um censo defasado, que foi realizado pela última vez lá em 2010. Isso impacta na forma como as amostras são construídas e se elas efetivamente estão conseguindo ser representativas da opinião das pessoas que participam dessas entrevistas. Pode ainda ter tido mobilizações de eleitores buscando intensificar essa desinformação, ao responder de forma equivocada a uma pesquisa. Quando observamos a eleição presidencial, o resultado de Lula é basicamente o informado pelas pesquisas. A diferença está nos votos do Bolsonaro. Como as pesquisas mostravam o ex-presidente à frente, isso também pode ter gerado alguma onda nos dois últimos dias de antipetismo e pessoas que poderiam votar nulo, no Ciro, ou mesmo na Simone, resolveram votar em Bolsonaro. Então, são muitas variáveis difíceis de controlar. Não sou favorável a penalizar os institutos por isso. Eles forneceram informações importantes, mostraram o Lula na frente de Bolsonaro e isso se confirmou, talvez a distância não seja a esperada, mas é isso. E ocorreram erros tanto à direita e quanto à esquerda. Por exemplo, na Bahia, ninguém esperava que o Jerônimo fosse chegar tão longe, sendo que era um lugar onde havia a perspectiva de a eleição ser encerrada no primeiro turno com a vitória do ACM Neto, a mesma coisa no Piauí, todas as pesquisas indicavam, algumas semanas atrás, que o Silvio Mendes, do União Brasil, seria o vitorioso também em primeiro turno e a gente teve uma eleição em que o Rafael Fonteles, foi o candidato eleito. No Ceará, a mesma coisa. Não se pode criminalizar os institutos, como se tem visto, principalmente algumas pessoas de direita fazendo esse tipo de questionamento. Nós precisamos dessas informações e precisamos ter acesso a elas e ajudar, de alguma maneira, a melhorar o trabalho desses institutos. A partir dos resultados dessas eleições, pode-se afirmar que o Brasil está mais conservador? Acho que o Brasil sempre foi conservador. É só estudar um pouquinho de história para entender, desde o processo de colonização, como fundamos o nosso Estado nacional, como nos apropriamos desse Estado, e quais ideias políticas e valores que sempre tiveram predominância a ponto de, no Brasil, a população adquirir primeiro o direito político antes dos direitos sociais. Nunca conseguimos uma democracia plena e não existe democracia plena se há tanta exclusão social e tanta concentração de renda. Existe, sim, o conservadorismo em que as pessoas não querem mudar seus status sociais para beneficiar os menos favorecidos. O Brasil sempre foi conservador, em algum momento ele se abriu para um pacto, quando o ex-presidente Lula foi eleito, em 2002, e começou o mandato em 2003. Isso ocorreu porque se conseguiu fazer um pacto com a elite econômica do País ao trazer José Alencar como vice-presidente. Essa elite não gostou do que aconteceu em termos de mudanças sociais e hoje ela é resistente a qualquer tipo de mudança. Esse conservadorismo que eu vejo crescendo desde 2013, especialmente, é um aumento do conservadorismo reacionário e extremo. Acabou o centro democrático. Quando a gente olha para a votação, cadê o PSDB? O próprio MDB teve uma votação muito baixa. Cadê aqueles partidos que conseguiam minimamente um diálogo com a centro esquerda? Não existem mais. É muito preocupante essa situação. Leia a entrevista completa na edição 199.1 da Algomais: assine.algomais.com

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Por uma cidade amiga da garotada

*Por Rafael Dantas, repórter da Algomais A s cidades como conhecemos foram pensadas e construídas por adultos. Arranha-céus, vias rápidas para carros, centros urbanos esquecidos e poucos parques são uma realidade na maioria das metrópoles. Mas, como seriam esses espaços se as crianças fossem consultadas? O que os pequeninos observam, valorizam ou rejeitam quando estão no espaço público? Essas são algumas perguntas feitas por organizações focadas no desenvolvimento infantil e no urbanismo sustentável que tem o objetivo de provocar mudanças na organização dos bairros e municípios. Cecília Gomes, 4 anos, moradora de Olinda, gosta de sair de casa para parquinhos, praia e para o shopping. Ela disse também que gosta de andar na rua com os pais. Quando perguntada sobre o que ela aprecia quando sai de casa, a pequena não hesitou em lembrar dos brinquedos e da arborização. “Brincar no parquinho. Correr. Gosto de balanço e escorregador também. Árvores grandes. Gosto das árvores porque têm passarinhos”. Quem tem os gostos semelhantes aos de Cecília é a pequena Pâmela Cavalcanti, de 6 anos, que mora em Petrolina. Entre sair ou ficar em casa, ela prefere um bom passeio em família. “Gosto de parque e shopping. Não gosto de buracos na rua. Gosto de parque de diversão e rua sem buracos”, afirmou a criança. Para captar as percepções das crianças, pais e cuidadores, existe no Brasil a Rede Brasileira Urban95, uma iniciativa da Fundação Bernard van Leer e do Instituto Cidades Sustentáveis, com o objetivo de promover programas e políticas públicas voltadas ao bem-estar e qualidade de vida das crianças. “O ponto de partida é a possibilidade de escutar o que é uma cidade boa para elas. Escutá-las nos seus territórios, sobre os espaços relacionados à escola e aos seus arredores, ao trajeto. Uma cidade boa permite que elas exerçam seu papel de investigadores ao brincar. Normalmente elas estão sempre explorando coisas novas, pessoas novas. É importante criar oportunidades para elas aprenderem com os espaços, exercendo a sua curiosidade, com as pedrinhas, a natureza, as cores, a água que escorre”, afirma Cláudia Vidigal, representante do Brasil da Fundação Bernard Van Leer. Leia a reportagem complta na edição 199.1 da Algomais: assine.algomais.com

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