Francisco Cunha – Página: 4 – Revista Algomais – a revista de Pernambuco

Francisco Cunha

O mundo recomeça pelo Centro do Recife

Na quinta-feira, 18.11.21, tive a oportunidade de participar, no Cais do Sertão, do lançamento, pela Prefeitura do Recife, da inciativa denominada Recentro que tem como slogam uma paráfrase do famoso título do painel pintado pelo grande artista plástico pernambucano e modernista brasileiro, Cícero Dias, escrito no chão da Praça do Marco Zero: “Eu Vi o Mundo… Ele começava no Recife”. O slogam do Recentro é: “O mundo recomeça pelo Recife”. Trata-se de uma iniciativa que há muito tempo o Recife estava requerendo, precisando, praticamente exigindo: prioridade para o seu centro, com destaque para uma gestão territorial própria, no caso uma espécie de escritório de gestão com status de secretaria municipal, ligada diretamente ao prefeito. A área de abrangência dessa gestão territorial será os bairros do Recife, Santo Antônio e São José, historicamente os territórios que primeiro se desenvolveram na cidade e que formam o seu primitivo núcleo de povoação. Até a década de 1970 eram o centro comercial (as principais e as mais sofisticadas lojas da cidade), de serviços públicos (as principais “repartições” municipais, estaduais e federais) e privados (quase todos os médicos, dentistas, advogados, bancos, agências de viagem, restaurantes, bares, cinemas, etc), cultural (basta dizer que o frevo nasceu em São José e que o teatro Santa Isabel fica em Santo Antônio), religiosa (provavelmente a maior concentração de capelas e templos barrocos do mundo). Pois, desde então, com o desenvolvimento dos outros bairros mais distantes e a implantação neles de grandes centros comerciais (shoppings), foi-se dando a decadência e o esvazimento paulatino e contínuo dessa importande região onde a cidade nasceu e, inclusive, abrigou, 100 anos depois, a primeira cidade planejada do Brasil (Mauriciópolis, a sede da ocupação holandesa do Nordeste Brasileiro). Exceção feita ao Bairro do Recife que, a partir do início do atual século descobriu uma nova vocação como polo tecnológico (o Porto Digital). Tive a oportunidade de dizer ao prefeito João Campos, após o lançamento, que, naquele momento, ele tinha feito história. Desejo a ele, a sua equipe e a Ana Paula Vilaça, que assumirá a nova secretaria, todo o sucesso, inclusive para resgatar o indispensável planejamento de longo prazo para a região, também há décadas desaparecido.

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Para não morrer na praia

Felizmente a observação dos números da pandemia no Brasil parece indicar que, na disputa entre as vacinas e as variantes, as vacinas estão levando vantagem, inclusive sobre a temida variante Delta. Se for isto mesmo, trata-se de uma notável vitória da ciência (no desenvolvimento de vacinas eficazes em tempo recorde) e da capacidade instalada de décadas do SUS na administração vacinal. Tudo isso, com uma característica notável demonstrada pela população brasileira que é a determinação de se vacinar. As pesquisas mais recentes dão conta de que mais de 94% da população afirma que tomou ou tomará a vacina contra o novo coronavírus. Muito diferente, por exemplo, do que acontece nos EUA onde as pesquisas dão conta de que cerca de 40% dos norte-americanos dizem que não vão se vacinar de jeito nenhum. Resultado: lá a epidemia está grassando na parcela dos não imunizados. Mais de 90% das internações e óbitos são de não vacinados. Na predominância do bem-vindo cenário de controle, há um risco de considerarmos que o perigo passou e, como se diz popularmente, muita gente querer “meter o pé na jaca”. Ou seja, fazer de conta de que o perigo desapareceu e relaxar, antes do tempo, as medidas preventivas. Embora seja uma atitude esperada da natureza humana e até previsível diante do tanto de provação e sofrimento que todos nós passamos, ela traz associada o risco de abrir espaço para novas artimanhas de um vírus que já se mostrou suficientemente traiçoeiro para ser subestimado. A imagem que me vem à cabeça e a do náufrago que dispendeu enorme esforço para chegar na praia e, assim que a avista, relaxa e se afoga antes de pisar em terra firme. Diante da feliz possibilidade de estarmos chegando ao fim do terrível estorvo da epidemia, cabe a nós não baixar a guarda de jeito nenhum, mesmo quando vacinados até três vezes, já que está provado que vacinados podem se contaminar também, ainda que com reduzidas chances de desenvolvimento das formas mais graves da doença. Máscaras são incômodas, sim! Distanciamento é desagradável, sim! Aglomerar com pessoas queridas ou até mesmo em eventos coletivos é bom, sim! Todavia, como o seguro morreu de velho, o mais indicado e sensato é concentrar a mente e os esforços necessários para chegar são e salvo na areia e ficar longe das ondas assassinas. Com mais um pouco de sorte e cuidado breve estaremos em segurança sanitária real. Até lá, é manter toda a atenção para não morrer na beira da praia.

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Sem Suape, por aqui não passa!

A opinião pública pernambucana foi surpreendida na semana passada com o anúncio feito pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, de que havia sido “decidido” pelo governo federal que não seria mais concluido o ramal pernambucano da ferrovia Transnordestina até Suape em detrimento do ramal até Pecém no Ceará que teria prioridade absoluta para conclusão. Depois do susto inicial, caiu a ficha do absurdo total que essa “decisão” inadequada, ilegal e estapafúrdia representa em termos de perda irreparável para o desenvolvimento não só do Estado mas, também, de todo o Nordeste Oriental (além de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas). Afinal, a concessão pública para a construção da Transnordestina já recebeu, segundo as contas do jornalista Fernando Castilho do JC/PE, o investimento direto de R$ 5,15 bilhões de recursos públicos (Finor, FNE, FNDE, BNDES, Valec) contra R$ 1,39 bilhões da concessionária CSN controlada por Benjamim Steinbruch. O traçado original da ferrovia, no âmbito da concessão pública realizada, é de 1.753 km ligando a cidade de Eliseu Martins no Piauí até a cidade de Salgueiro em Pernambuco e, de lá, bifurcando-se num ramal para o porto de Suape e em outro para o porto de Pecém. O trecho de Eliseu Martins a Suape é 94 km mais curto do que o de Eliseu Martins a Pecém e cerca de R$ 1 bilhão mais barato. O próprio ministro tinha anunciado, tempos atrás, a contratação da consultoria internacional McKinsey & Company para reestudo da situação do projeto e suporte à decisão sobre os próximos encaminhamentos. Aí, sem que o prazo para os estudos fosse concluído e sem que qualquer resultado fosse divulgado, anuncia publicamente o cancelamento do trecho Salgueiro-Suape. Trata-se, na verdade, de um fato consumado que os pernambucanos não podemos aceitar de jeito nenhum! O que defendemos é que os dois ramais sejam construídos ou que se desfaça o contrato ou que se rediscuta o projeto todo. O que não dá é para vir com fato consumado desaforado. Se for assim, a vontade que dá é responder com outro desaforo: “Ah, é? Não vai para Suape? Pois, então, arranje outro lugar para passar direto para Pecém porque por dentro de Pernambuco não vai passar não!”.

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Vacina, vacina, vacina! (por Francisco Cunha)

Na situação em que a pandemia chegou, de escalada de casos e mortes, só há uma alternativa para enfrentá-la com possibilidade de êxito, tanto do ponto de vista sanitário quanto econômico: cobertura vacinal ampla da população. Ou seja, “imunização de rebanho” com a vacina (e ainda bem que as vacinas foram desenvolvidas com a eficiência necessária, numa corrida científica notável, menos de um ano depois do aparecimento do vírus). Pelo fato de várias dessas vacinas, felizmente, terem mostrado, pelo mundo afora, níveis de eficiência adequados, embora com diferenças entre eles, muita gente está, no momento, fazendo a pergunta: qual a melhor vacina a tomar? A resposta, infelizmente, é uma só: a melhor vacina é a que podemos ter! Ou seja, como diz o médico Marcio Bittencourt, pesquisador da USP: “A melhor vacina é a que eu possa tomar logo, a pior é a que demore para chegar. A melhor estratégia é tomar o quanto antes a primeira vacina a que a gente tiver acesso, desde que aprovada pela agência reguladora”. E, aí, temos que considerar dois condicionantes muito importantes. O primeiro deles, desfavorável, é que as vacinas mais avançadas do mundo, as que acusam eficiência acima de 90%  (feitas com o chamado RNA mensageiro, da BioNTech e da Moderna) são inalcançáveis para nós (tecnologia nova, temperatura de armazenamento muito baixa, pouca capacidade de fabricação, produção já vendida aos países desenvolvidos). O segundo condicionante, favorável, é que o Brasil tem duas instituições públicas de excelência na produção vacinal (Fiocruz e Butantan) que fizeram parcerias com organizações de pesquisa, duas inglesas (Oxford/AstraZeneca) e outra chinesa (Sinovac), e conseguiram desenvolver duas vacinas eficazes para produção local em escala. Moral da história: não podemos sonhar com as vacinas que não temos e temos que usar aquelas que estão à mão, o mais rápido possível, sem atrasos desnecessários! Portanto, a nossa prioridade, seja como pessoas físicas seja como pessoas jurídicas, deve ser só uma: vacina, vacina, vacina! Sem elas, só nos resta esperar pelo pior na saúde e na economia. *Francisco Cunha é sócio da TGI e da Revista Algomais. Esse artigo foi publicado na coluna Última Página, da Revista Algomais, publicada no dia 15 de janeiro de 2021.

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Não sou candidato… e sou!

Depois que passei a caminhar sistematicamente pelo Recife (e já lá se vai bem mais do que uma década!), a guiar caminhadas pela cidade e me transformei em militante da mobilidade a pé, passei também a ser periodicamente questionado sobre porque não me candidatava a algum cargo eletivo, majoritariamente vereador. Sempre levei na brincadeira dizendo que só aceitaria candidatura à Presidência da República para “resolver logo tudo de uma vez só”. Agora, com a aproximação do pleito municipal, os questionamentos recomeçaram e mantive a resposta padrão até que o amigo e contemporâneo do Colégio de Aplicação da UFPE, Fernando Dourado, de algum lugar do mundo (globetrotter da “diplomacia privada” que é) resolveu me “lançar”, em postagem nas redes socias, candidato a prefeito do Recife. Essa foi a senha para inúmeros amigos se solidarizarem comigo dizendo que estariam do meu lado e, inclusive, se prontificavam a “fazer campanha” se a candidatura fosse “para valer”… Respondi pessoalmente a todos os que entraram em contato e, agora, aproveito para fazer publicamente aqui: agradeço muito a “lembrança” de Dourado e a confiança, que é envaidecedora, dos amigos que se manifestaram mas a única candidatura à qual me proponho, de fato, é a de continuar sendo um consultor que procura estar continuamente se aperfeiçoando e antenado com o que está acontecendo no mundo dos negócios, além de ser um recifense cada dia mais atento à história, à atualidade e ao futuro da minha cidade, o mais participante que puder como cidadão! Entendo que a politica representativa deve ser exercida pelos profissionais da política, assim como a consultoria, a medicina, o direito etc. devem ser exercidos pelos seus respectivos profissionais dedicados, que se habilitaram e continuam se preparando todo dia para isto. Não dá para improvisar em política, por melhores que sejam as intenções, como não dá para improvisar em consultoria, medicina, engenharia etc. Se alguns não estão correspondendo às expectativas (assim como eventualmente consultores, médicos, advogados etc.), cobremos com firmeza e, se for o caso, substituamos por outros… profissionais (políticos, consultores, médicos, advogados etc.). Não sou candidato a cargo político mas sou a ser melhor profissional e cidadão. Tenho certeza que, assim, estou atuando politicamente também. Não no estrito mas no lato senso.

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O mito da “indústria da multa” (por Francisco Cunha)

Há cerca de 15 anos voltei a caminhar regularmente no Recife, depois de ter passado 25 anos “fora da cidade”. Não propriamente fora do Recife, mas “fora da cidade” porque, depois que comecei a trabalhar, comprei um carro e passei a ver o mundo (e a cidade) de dentro de um cockpit (uma cápsula) que, mais tarde, viria, inclusive, a ser refrigerada e, portanto, mais segregada ainda do entorno. Só após ter começado a caminhar foi que percebi o que estava acontecendo. Quando me locomovia só de carro, não tinha percepção disso. A mudança que se operou na minha forma de ver a cidade (e o mundo!) foi tão intensa que no lançamento da Agenda TGI 2020, final do ano passado, cheguei a parafrasear o pintor Cícero Dias: “Eu vi o mundo e ele começava nas calçadas do Recife”. Pela minha contabilidade, nos últimos 10 anos foram, pelo menos, 15.000 km andados dentro do Recife, vendo o mundo, em especial o mundo do trânsito, de outra perspectiva que não de dentro de um carro e posso dizer, sem medo de errar, que a quantidade de infrações cometidas e não punidas é absolutamente colossal! Sobretudo aquelas que colocam em risco direto a integridade física do pedestre, o ator mais frágil do trânsito que todos os outros deveriam, por obrigação legal, proteger (garantir a sua “incolumidade”, conforme diz o Código de Trânsito). Exemplos cotidianamente abundantes dessas infrações não punidas são a prática de velocidade excessiva e o estaciomento proibido sobre a calçada. Em sendo assim, tenho muita dificuldade de entender a quase histeria em curso relativa a uma tal de “indústria de multas”. Pela minha percepção cotidiana, se indústria há é a das infrações não punidas. E isso sem falar num tipo de infração cuja prática é absolutamente disseminada e que se, de fato, fosse punida com multa, na razão direta de sua existência, resolveria a crise fiscal das cidades brasileiras e ainda sobrariam recursos para investimento: uso de celular ao volante. Num País onde morrem cerca de 40 mil e resultam feridas 300 mil pessoas por ano (das quais cerca de 11 mil e 85 mil pedestres, respectivamente), vítimas de eventos trágicos de trânsito, em sua maioria provocados por práticas infratoras, não temos o direito de nos envolver emocionalmente em falsas discussões nem na propagação de mitos como a tal da “indústria de multas”. As vítimas não merecem mais esta desconsideração! *Francisco Cunha é arquiteto e urbanista e consultor empresarial

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De“repente”, a turbulência internacional (por Francisco Cunha)

Logo nos primeiros dias de 2020, os EUA, em ataque relâmpago e fulminante no aeroporto de Bagdá, eliminaram o general iraniano Qasem Soleimani, considerado o segundo personagem mais poderoso do Irã, atrás apenas do aiatolá Ali Khamenei, sucessor do aiatolá dos aiatolás, Ruhollah Khomeini, líder inconteste da revolução iraniana de 1979 que depôs o famoso xá Reza Pahlav. Sem entrar no mérito dos argumentos usados pelo presidente Donald Trump para justificar o ato, o fato é que, imediatamente, sobreveio uma grande incerteza sobre o cenário internacional, mudando completamente a “temperatura” das tendências predominantes para o ambiente externo que fecharam as projeções do ano de 2019 para o de 2020. Esse acontecimento que, depois de ocorrido, pode parecer até óbvio, nos chama a atenção para, justamente, uma espécie de inverso do óbvio que é a incerteza diante do grande leque de possibilidades disruptivas, a partir de uma aparente ordem que nos incentiva a projetar no futuro a pseudo “calmaria” do presente, como se ela estivesse condenada a acontecer para a frente só porque era o estado “normal” até pouco tempo atrás. Que nada! Nós tendemos a esquecer disso mas o “normal” é, justamente, o “anormal”. Afinal, como nos disse o compositor Paulo César Pinheiro na letra da música Mordaça que fez sucesso na década de 1970, incluída no disco O importante é que a nossa emoção sobreviva: “Pois tudo é instável e irregular / E de repente o furor volta”. E, no caso específico, que potencial de furor! Nada mais, nada menos do que, de um lado, todo o excepcional poderio bélico e de inteligência dos EUA, supremamente comandados por um presidente sobre o qual, o mais brando que se pode dizer é que se trata de uma criatura nada convencional. Do outro lado, toda a carga do fundamentalismo xiita comandado por uma obstinada ortodoxia de tradição milenar muçulmana, herdeira direta do império persa. Dois “ossos” muito “duros de roer”! A partir daí, tudo pode acontecer, inclusive nada, como diz o ditado popular, embora, dadas as características dos contendores, “nada” seja o menos provável. De “repente”, o ano começa agitado no cenário externo para nós brasileiros que tivemos os últimos anos bem agitados no cenário interno. Mas, estamos aí para isso mesmo, afinal, o importante é que a emoção sobreviva.

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Por uma sociedade fraterna em 2020 (por Francisco Cunha)

Finalizei a apresentação da Agenda TGI 2020, dia 25.11 no Teatro RioMar (ver matéria de capa), com a música Epitáfio dos Titãs, aquela que tem como refrão: “O acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído”. Justifiquei a escolha com o argumento de que a música fala de “andar”, algo que hoje me é muito caro mas, também, trata de tolerância. E tolerância, solidariedade e cooperação são para mim valores indispensáveis à construção de uma sociedade fraterna. Creio firmemente que nenhuma sociedade, da qual valha a pena fazer parte, pode se edificar sobre pilares diferentes desses valores, muito menos sobre seus opostos como, muito desafortunadamente, temos visto prosperar nos últimos tempos no nosso País! “Explicadores” do Brasil do porte de Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Darcy Ribeiro, dentre outros, contribuíram com ideias e ideais que corroboram esse estendimento, destacando a originalidade da nossa formação social e cultural. Darcy Ribeiro, por exemplo, no livro que escreveu como uma espécie de síntese derradeira da sua obra e da sua carreira de militante político e cultural (O Povo Brasileiro), afirma que no Brasil “formações sociais se enfrentam e se fundem para dar lugar a um povo novo, num novo modelo de estruturação societária. Novo porque surge como uma etnia nacional, diferenciada culturalmente de suas matrizes formadoras, fortemente mestiçada, dinamizada por uma cultura sincrética e singularizada pela redefinição de traços culturais delas oriundos. Novo, inclusive, pela inverossímil alegria e espantosa vontade de felicidade, num povo tão sacrificado, que alenta e comove a todos os brasileiros.” Uma sociedade em formação como a nossa, com essas características, para chegar a bom termo depende, de forma crucial, da cooperação como mecanismo superior ou, pelo menos, como diz Manuel Castells, guru da sociedade conectada em rede, também citado na apresentação, como forma de “correção” da competição. E cooperação rima com solidariedade e tolerância, nunca com seus antônimos! Por fim, fiz votos, como faço aqui para os leitores da Algomais, de que o espírito de fraternidade que se reinaugura sazonalmente com o mês de dezembro se estenda pelo próximo ano, e nos demais pela frente, atenuando e “desidratando” o clima de acirramento de ânimos e de antagonismos cotidianos, reduzindo e “soldando” as fraturas abertas pelo processo político. Bom final de 2019 e excelente 2020 fraternos!

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Sobre a nova escola no Parnamirim

Ao longo do mês de setembro, recebi inúmeras solicitações de amigos, conhecidos e vizinhos para opinar e “agir” sobre a construção de uma escola, praticamente na esquina da rua onde moro, no bairro do Parnamirim. As alegações principais eram de que o trânsito, que já é travado nos períodos de pico, ficaria “muito pior” (e, até, “insuportável”), nos horários de chegada e saída dos alunos. Procurei me inteirar do que se tratava e, até onde pude perceber, “salvo melhor juízo” como diz a turma do direito, cheguei à conclusão de que, nesta altura do campeonato, do ponto de vista legal, há muito pouco a ser feito para mudar o que foi aprovado (que, também segundo o que pude apurar, seguiu os trâmites requeridos e o devido processo legal). Inclusive porque as atuais manifestações estão se dando sobre os efeitos ou consequências do direito de construir no local de acordo com a legislação vigente. E, de acordo com a legislação vigente, ali pode ser feita construção não só de escola mas de edifício de apartamentos, de supermercado, de academia, de centro de compras, de salas comerciais, de bar etc. O que, aliás, é positivo para dar vida diversa a um bairro que não deve ser só residencial. E, desses usos, não me ocorre nenhum mais nobre do que uma escola para os filhos dos moradores… Se vai impactar no trânsito, todos, de uma forma ou de outra, mais ou menos, impactariam também! A bem da verdade, devo ainda dizer que, do ponto de vista da benéfica participação dos cidadãos, é melhor que as mobilizações se deem “antes tarde do que nunca”. Todavia, o melhor seria que elas pudessem se dar sobre as causas, ou seja, sobre a pertinência da legislação (é adequada? poderia ser melhor? deveria ser ajustada?) que permite as construções (com seus devidos parâmetros e áreas possíveis de edificação), não só ali mas em qualquer outro lugar. Aliás, do ponto de vista institucional, este debate está justamente em curso com a revisão decenal do Plano Diretor do Recife que está na Câmara Municipal, em fase de discussão para aprovação legislativa. O que há que ser defendido, sempre, é que os legisladores considerem os diferentes interesses em jogo, do dinamismo próprio de cada bairro, dos empreendedores que podem ser estimulados, dos cidadão que precisam ser respeitados e que têm o direito de influenciar sobre o que vai ser legislado. Tratam-se, afinal, dos destinos da nossa cidade e da vida de cada um de nós!

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Controlar velocidades é reduzir a tragédia!

Setembro é o mês do trânsito e eu tenho muito pouca crença na eficácia das campanhas educativas de trânsito porque os efeitos são demasiadamente modestos para um País onde morrem cerca de 40 mil pessoas por ano vítimas dos chamados “acidentes de trânsito”, dos quais cerca de um quarto são pedestres. Pior ainda: recente estudo divulgado pela seguradora Líder (que administra o seguro DPVAT) dá conta de que nos últimos 10 anos morreram 200 mil motociclistas e outros 2,5 milhões se tornaram vítimas de invalidez permanente. Se considerados todos os acidentes envolvendo motociclistas, os números chegam a assombrosos 3,3 milhões de pessoas. Essa população de atingidos só não é maior do que a das cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro. Uma tragédia social de proporções epidêmicas! Depois de divulgado o estudo, uma reportagem da Folha de S. Paulo publicou opiniões de especialistas sobre como enfrentar essa situação catastrófica. As medidas indicadas foram as seguintes: (1) mais rigor na formação do condutor; (2) maior e mais eficiente fiscalização; (3) engenharia de tráfego de melhor qualidade com o objetivo de tornar as vias mais seguras; e (4) redução da velocidade nas áreas urbanas. De fato, são medidas essenciais para enfrentar essa tragédia terrível mas, com base em minha experiência de observação do problema de fora dos veículos, como caminhante regular na cidade do Recife, se tivesse que indicar apenas uma dessas medidas, não hesitaria em apontar o controle da velocidade. Isso, por uma razão simples, numa espécie de prova pelo absurdo: se todos andassem devagar, o número de mortes no trânsito seria residual! Aí, retorno com minha desconfiança acerca das “campanhas” de trânsito: gasta-se uma quantidade grande de recursos para fiscalização da chamada Lei Seca com evidentes benefícios em termos de redução da alcoolemia ao volante já que, hoje em dia, muito pouca gente corre o risco de dirigir depois de beber… Todavia, desconfio de que se esses recursos fossem gastos com radares controladores de velocidade (tão satanizados nos últimos tempos), o número de mortes cairia drasticamente! Afinal, o que é mais prejudicial para a sociedade: um alcoolizado lento ao volante ou um abstêmico veloz? Não tenho dúvidas de que é o abstêmico veloz! E um e outro só são flagrados correndo por radares. Simples assim!

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