Rainier Michael sempre foi um cidadão global. Descendente de alemães, seu bisavô nasceu na Tanzânia, possui vários familiares na Europa e, como empresário, já morou em muitos países. Por isso, não foi difícil se adaptar ao mundo diplomático. Hoje é cônsul da Eslovênia e presidente do Instituto de Pesquisas Estratégicas em Relações Internacionais e Diplomacia (Iperid). Nesta entrevista a Cláudia Santos e Rafael Dantas, ele analisa o cenário internacional e defende que Pernambuco invista na diplomacia econômica para atrair mais investimentos e participar do mercado global de forma mais efetiva. Por que você defende que a diplomacia econômica deve ser prioridade para Pernambuco? A diplomacia econômica leva em consideração não apenas o fluxo comercial entre duas regiões, países ou blocos, mas o impacto social que vai ser gerado dessa interação, porque possui um cunho social importante. Acho que trabalhar a diplomacia econômica é uma ação nova, pioneira em Pernambuco e se encaixa perfeitamente dentro da estratégia do Iperid, que é juntar as partes, mas tendo uma visão humana. O que é o Iperid? É um think-tank, uma denominação americana que se pode traduzir como banco de ideias. Um think-tank pode ter vários formatos, como apresentar um viés político ou focado numa área de atuação como, por exemplo, o setor industrial. Mas, de acordo com a pesquisa que fizemos achamos interessante ter um think-tank neutro, com atuação não-partidária, sem ter um viés de um único setor econômico, mas que fosse realmente um banco de ideias para desenvolvimento de uma visão estratégica para Pernambuco. Priorizamos quatro pilares: acadêmico, empresarial, parlamentar e consular, porque verificamos que existe uma baixíssima interação entre esses elementos, mas poderia ser trabalhada pelo Iperid de forma independente, capilar e ágil, dentro desses quatro universos, para a inserção de Pernambuco no contexto regional, nacional e internacional. Quais os entraves para que a diplomacia econômica se estabeleça no Estado? Os quatro pilares não se enxergam. Além disso, diplomacia não é protocolo, é relacionamento interpessoal. Você imagina que assim que chega um representante diplomático, ele deva ser recebido pelas autoridades. Mas isso é protocolo. Isso tem que existir. Se as entidades souberem da existência desse consulado e não tomarem a ação, não vai existir troca, inclusive econômica. Não adianta a gente ter 40 consulados aqui e as entidades não os conhecerem e não visitá-los. Se esse relacionamento não for alimentado constantemente, não funciona. Cabe aos empresários e ao poder público atuar para que esse relacionamento não deixe de existir. As áreas pública e privada têm que entender como funciona essa engrenagem. Qual a importância de Suape para a inserção de Pernambuco no comércio internacional? A importância é fato consumado, concreto e conhecido. A questão é como fazer o porto acontecer. Existem situações inacreditáveis, como ter produtos pernambucanos saindo via terrestre até Santos ou por outros portos para serem exportados. É uma situação que não deveria acontecer. Por que acontece? No meu entendimento, quando Suape começou a operar, a visão realmente era que fosse um porto voltado para o comércio internacional. Hoje ele está muito restrito à cabotagem (navegação que se faz na costa, em portos de um mesmo país, em distâncias pequenas). Se é um porto que tem um calado excelente para navios de grande porte, com uma grande estrutura, localização geopolítica fantástica, então a gente tem que entender porque isso aconteceu. Existe ainda a questão de logística que deve ser considerada. Temos ferrovia que chegue até Suape? Não. O segundo ponto é que o exportador não enxerga Suape como um local para escoar seu produto. Vamos lembrar que a balança econômica de Pernambuco é negativa. Se é deficitária, não estão entrando dólares. Somos mais consumidores do que exportadores. Como está o acordo de comércio entre Suape e o porto de Koper, na Eslovênia? Os documentos estão prontos. Estamos aguardando as partes agendarem para fazer as assinaturas. Esse acordo é interessante para dar acesso a Pernambuco ao que se chama de oceano azul. Pernambuco pode montar sua estratégia de atuar num oceano vermelho, isto é, um mercado maduro, consolidado (como o Porto de Roterdã ou Hamburgo). Mas para isso é preciso ter um capital enorme, ter uma grande estrutura financeira para aguentar a concorrência. A outra opção é atuar em um mercado que não foi descoberto. É o caso do Porto de Koper, que está localizado no mar Adriático, ao lado do porto de Trieste. Ele é extremamente ágil, eficiente e é uma porta de entrada para a União Europeia. A BMW exporta basicamente 30% da sua produção pelo porto de Koper. A Eslovênia é um país de dois milhões de habitantes, não é um mercado consumidor grande, mas está próximo a vários países chamados de land-locked, que não têm porto, como Hungria, República Tcheca, Eslováquia, Ucrânia. Ou seja, dá acesso ao mercado da Europa Central. Por que a cachaça não é trabalhada na Europa Central, que é um grande consumidor de destilados? Essa pergunta eu não sei responder. Não é interesse, não é estratégico? Ou nunca foi estudado? Como o pequeno empresário pode se beneficiar da representatividade consular em Pernambuco? Ele tem que ser mais atuante com as entidades que o representam. O pequeno e o médio empresário têm que estar organizados e é por meio das entidades que vão poder contatar os consulados. São instituições como a Associação Comercial de Pernambuco ou a Câmara dos Dirigentes Lojistas. Aí eu faço até uma pequena provocação: quando foi a última vez que um ente consular visitou essas entidades? Veja, não apenas de forma protocolar. É o que eu repito: protocolo é a base da diplomacia, mas o que traz resultados é o relacionamento interpessoal. Quando foi a última vez que houve uma integração, um evento, para se discutir isso? Não adianta esperar que a representação consular vá bater na porta. Tem que existir uma chamada dessas entidades. Da mesma forma, tem que haver uma interação da área acadêmica com os consulados. Não estou me referindo ao intercâmbio de estudantes, mas da interação dos acadêmicos com a área empresarial – do