Colunistas – Página: 281 – Revista Algomais – a revista de Pernambuco

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Pedestre, a medida de todas as coisas (Por Francisco Cunha)

Na palestra que fiz mês passado no seminário A Mobilidade a Pé e o Futuro do Recife, organizado pelo INTG – Instituto da Gestão e apoiado pelo Cesar, pela Urbana/PE e pela Fiepe, tive oportunidade de falar sobre a importância crucial do pedestre para o urbanismo contemporâneo. Esse seminário regional foi um desdobramento no Recife do seminário internacional Cidades A Pé, realizado em São Paulo no mês de novembro do ano passado. Disse que, embora graduado em Arquitetura e Urbanismo pela UFPE, só fui entender o que considero vital na questão urbana atual depois que andei milhares de quilômetros no Recife. Depois, portanto, que, na prática, me “pós-graduei” pelos pés. O essencial do que aprendi foi que se o pedestre se sente mal no solo é porque o urbanismo é ruim e o planejamento urbano, se houve, falhou. O planejamento urbano tradicional, o que se aprende na escola e amiúde se aplica por aí, começa olhando o espaço pelo satélite (ainda mais agora com a proliferação das tecnologias de internet…), depois “desce” para o mapa, para a planta, para o detalhe e termina por não chegar ao nível do chão, de quem está andando na rua. Depois de gastar muita sola de sapato por aí, defendo que haja uma inversão de sentido, que o planejamento comece pelo chão, por onde anda o pedestre e, aí, vá “subindo” até chegar ao satélite. Se isso fosse feito, com certeza, não teríamos muitas das atrocidades que suportamos nas cidades brasileiras andando por elas… Na Grécia antiga, a filosofia pré-socrática defendia que “o homem é a medida de todas as coisas”. Na cidade, a medida de todas as coisas, sem a menor sombra de dúvida, é o pedestre! Não entender isso é ficar na contramão da história contemporânea do urbanismo. Que o digam Jan Gerl com seu consagrado livro “Cidade para as Pessoas” e Jeff Speck com o seu excelente livro “Cidade Caminhável”. Que o digam as cidades da Europa e, já, muitas dos EUA, além de praticamente todas as capitais latino-americanas… Já existem, inclusive, um conceito e um conjunto de indicadores que ajudam a materializar essa tendência. Trata-se, o conceito, do Walkability e o conjunto de indicadores, do Walk Score que medem o quanto “caminhável” é determinado local, bairro ou cidade. Temos que seguir por aí. Afinal, como repete aquele complemento de comercial de rádio e TV, independente do meio de transporte que utilizemos, “na cidade, todos somos pedestres”.

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As cervejas MADE IN PE (Por Rivaldo Neto)

Que o pernambucano é bairrista todo mundo sabe. Quem já não ouviu que foram os judeus do Recife que fundaram Nova York? Ou que o mar é um braço do rio Capibaribe? Partindo desse orgulho em ser de Pernambuco que alguns produtores de cervejas locais criaram o BebaLocal, um movimento que fortalece os produtores locais e estimula a cultura cervejeira no Estado. Uma oportunidade em conhecer algumas delas pode ser no estande montado na Fenearte com a participação de 7 cervejarias pernambucanas, são elas: Debron, Pat Lou, Ekäut, Duvália, Babylon, Estrada e Capunga. Experimentando alguns rótulos, tive uma impressão muito boa das cervejas aqui produzidas. Logo de entrada, a cervejaria Patt Lou, localizada em Vitória de Santo Antão, e que produz a Maracatu, uma IPA leve e refrescante com notas de maracujá e contendo 2 tipos de lúpulo e 6%vol. A 4All, cerveja de trigo, cítrica, suave e com dryhopping de Amarillo (lúpulo americano) e Galaxy (lúpulo neozelandês) dá um equilíbrio interessante a bebida. Uma outra cerveja presente no estande, a Babylon German Lager é leve com seus 5%Vol e com lúpulo alemão em sua composição. Da cervejaria Capunga Draft Beer, a APA (American Pale Ale) é uma cerveja leve, clara, suave, pequeno amargor e refrescante, bom para nosso clima. A Debron também presente e com uma novidade: a cervejaria, que já produz chopes Weizen, Pale Ale e Pilsner, agora recentemente lançou uma IPA. Experimentei o chope Debron Weizen tem boa textura, aromático e com boa carbonatação, com seu tom amarelo claro e levemente turva. Destaco três rótulos, a American IPA Route 66, da cervejaria Estrada, com seu amargor intenso, muito aromática amarelo escuro, e muito lupulada. Da cervejaria Duvália, para quem gosta de uma boa Stout é a pedida perfeita. Acertaram em cheio. Uma cerveja com uma espuma consistente, cremosa, bem ao estilo das inglesas com um aroma marcante de maltes torrados e com mel de engenho, dando com isso um toque marcante.   Albert Eckhout foi um desenhista holandês que participou da comitiva de Maurício de Nassau, quando Pernambuco estava sob domínio da Holanda, em 1637, e retratou os habitantes locais e assim foi dado o nome Ekäut a esta cervejaria pernambucana. A American IPA da Ekäut é uma cerveja com muito amargor, muito aromática, refrescante, notas florais, excelente retrogosto, que é a sensação que líquido deixa ao ser tomado. Contém o dois lúpulos, o Cascade (lúpulo americano) e o Magnum, que é alemão. A junção destes dois insumos dão uma excelente drinkability deixando a cerveja levemente picante e frutada.   E sabendo como nós pernambucanos somos, eu posso dizer com orgulho: cerveja feita em Pernambuco não vai demorar pra ser as melhores do mundo! Não duvidem! Aplicativo #BEBA LOCAL Para fortalecer ainda mais foi criado o aplicativo #BebaLocal, já disponínvel na Apple Store e no Google Play e também uma versão web (bebalocal.com), onde o foco é achar locais onde se bebe cervejas artesanais feitas aqui. Segundo Felipe Magalhães, idealizador do aplicativo e produtor da Babylon: “A ideia surgiu quando senti vontade de beber uma Capunga e senti dificuldade de achá-la onde estava sendo comercializada” afirmou.     *Rivaldo Neto é designer e cervejeiro gourmet nas horas vagas rivaldoneto@outlook.com

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Anatomia dos juros altos

O Brasil pratica a maior taxa de juros real e nominal do planeta. A esse custo do dinheiro trava-se o consumo e o investimento. Ademais, o custo fiscal é muito alto. Em 2015, o governo pagou aos credores cerca de meio trilhão de reais de juros, equivalente a 8% do PIB. E entre dezembro de 2014 e de 2015, graças à elevação da taxa de juros, o País desembolsou R$ 190 bilhões a mais. Esse valor é muito superior à meta de déficit primário aprovado recentemente pelo Governo Temer para 2016. As razões para o Banco Central praticar eventualmente juros altos não residem apenas no seu objetivo de manter a inflação de demanda sob controle. Há outras duas razões macroeconômicas importantes. Até o início da década passada juros altos atraiam capitais de curto prazo que ajudavam a financiar o déficit de transações correntes. Historicamente, investimento direto e financiamentos externos não fechavam essa conta. Os capitais de curto prazo eram quase sempre necessários para bancar a diferença. Por conseguinte, quando o País não conseguiu gerar saldos crescentemente positivos na sua balança comercial e atrair novos investimentos e financiamentos de forma sustentável, juros reais elevados foram funcionais para atrair os dólares necessários para equilibrar o balanço de pagamentos. A outra razão – muito mais importante e atual- é o desequilíbrio fiscal do setor público. Este setor captura a poupança privada oferecendo taxas de juros atraentes para financiar o seu déficit. A irresponsabilidade fiscal do passado gerou enormes déficits internos que são financiados com poupança privada intermediada pelas instituições financeiras. Uma vez que o estoque da divida representa cerca de 68% do PIB, o mercado para cobrir a possibilidade do default incorpora aos juros um fator de risco. Para rolar essa divida, indexada parte a Selic e parte a índices de preço, a União precisa oferecer uma remuneração que, no fundo, estabelece uma rigidez para baixo na taxa de juros real. Esses são os fundamentos para o argumento de que a taxa de juros real no Brasil tenha um piso alto porque cumpre duas funções: a primeira, agora não mais existente, mas que foi importante no passado, é ajudar a financiar o déficit externo (transações correntes), captando poupança do resto do mundo e, a segunda, bastante atual, é financiar o déficit interno (divida pública), captando poupança doméstica através do sistema financeiro. Todavia, essas razões não são as únicas que explicam as altas taxas de juros. É necessário entender, também, como funciona a intermediação financeira no Brasil e porque esse mercado pratica spreads (diferença entre o custo da captação e da aplicação) tão elevados. Segundo o Banco Mundial, o spread, brasileiro é um dos mais altos do mundo (22,8% em maio de 2016, sendo 32% no segmento de pessoas físicas e 12,2% no de pessoas jurídicas). Por que essa diferença é tão alta? Em primeiro lugar, há um prêmio pela inadimplência. Na composição do spread, a inadimplência responde, por cerca de um quarto da diferença. Em segundo lugar, há o mark-up dos bancos constituído pela soma das participações no spread das despesas administrativas (9,2%), dos impostos diretos (25,4%) e dos lucros (37,75%; dados de 2014). Pergunta-se: Existe indício de cartelização por parte do sistema bancário? Os lucros dos bancos são exagerados? A teoria econômica ensina que, em mercados onde o produto é artificialmente escasso e muito caro em comparação com mercados onde há mais competição, existem fortes indícios de práticas monopolísticas. Existe, de fato, um poder de mercado que se manifesta pelo elevado spread, pela escassez relativa de crédito e por altos lucros. O spread bancário é uma medida da eficiência e da competitividade do sistema financeiro. Países mais desenvolvidos e com sistemas financeiros mais competitivos apresentam spread inferiores a 10% e volumes de crédito, medidos com relação ao PIB, relativamente elevados. Além disso, a concentração bancária está longe de ensejar uma saudável concorrência no mercado de crédito. No Brasil, os quatro maiores bancos- dois públicos e dois privados- respondem por 70% do volume de crédito. É importante estimular a competição entre os bancos. Mais competição amplia o crédito e reduz o seu custo. Isso significa maior desenvolvimento para o mercado financeiro e para a economia como um todo. Caso essas condições se estabeleçam, os juros irão cair até atingir um ponto de equilíbrio que sempre será testado pelo mercado. O importante é que a oferta de crédito aumente e o seu custo caia a níveis que permitam retomar o crescimento econômico.

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Cervejas com mel, uma experiência que vale a pena (Por Rivaldo Neto)

Lembra de Robin Hood? Do simpático Frei Tuck? Se você lembra vai lembrar ainda mais que em meio a uma ou outra batalha contra o Xerife de Nottingham, o simpático monge entornava canecas e mais canecas de uma bebida produzida por ele. Mas que bebida era essa? O Mead, como chamam alguns, um fermentando alcoólico variado do mel, muito similar ao Hydromel. O mel é uma mistura complexa de açúcares, como a glicose (cerca de 30%) e frutose (40%), água (18%) e outras substâncias como carboidratos, proteínas e aminoácidos. A inclusão do mel em bebidas é ancestral. Esse estilo vem sendo cada vez mais resgatado por produtores de cerveja da Inglaterra, Irlanda e até pelos franceses na Bretanha. Os efeitos ao adicioná-lo a cerveja é que o mel é tão fermentável quanto o açúcar e que gera uma cerveja mais seca, aumenta a quantidade de álcool, mas mesmo assim causa uma sensação alcoólica mais suave se comparada ao açúcar comum. Com isso o mel também acrescenta notas sutis de florais dando mais aroma à bebida, isso se dá devido aos vários pólens e néctares utilizados pelas abelhas em sua produção. Das cervejas importadas, a inglesa Honey Dew, da Fullers, é um verdadeiro deleite. Primeiro que é uma cerveja orgânica, turva,levemente picante, em que logo no primeiro gole o mel aparece. Os maltes e o lúpulo acrescentados tornam essa cerveja uma das melhores. Tem uma variação alcoólica de 5%Vol e é vendida em garrafas de 500ml. Devido a tudo isso a Honey Dew é a cerveja orgânica mais consumida pelos ingleses. Ao servi-la deve-se sempre mexer a garrafa em movimentos circulares no final para que os insumos orgânicos e o mel se misturem mais, proporcionando uma gratificante experiência. Uma outra opção de cerveja com mel também vem da Inglaterra e chama-se Waggle Dance, da cervejaria Wells. O nome é um curiosidade, pois trata-se de uma dança praticada pelas abelhas quando descobrem uma nova fonte de néctar. Uma cerveja igualmente saborosa, leve, de cor âmbar, com leves notas de mel e amargor na medida certa com os seus 5,2%Vol em garrafas de 500ml. A cervejaria americana Rogue Ale produz a Rogue Farms 19 Original Colonies Mead, um nome tão exótico quanto a experiência que você irá embarcar. A pedida é interessante tanto que na sua produção foram postos leveduras de champagne. Corpo bem leve, carbonatação baixa e boa drinkability em garrafas de 650ml. Aroma é o que não falta, florais mais ainda, nada mais lógico, pois estamos falando do que mais se assemelha ao hydromel. No mercado nacional, a cervejaria Colorado, recém adquirida pela Ambev, produz a Appia, que é uma cerveja de trigo com mel de laranjeira em garrafas de 600ml. É uma cerveja amarela escura, turva, ligeiramente doce e que harmonizada com uma torta de chocolate amargo dará o tom certo de amargor e o doce. Uma experiência que deliciosamente vale muito a pena. *Rivaldo Neto é designer e cervejeiro gourmet nas horas vagas rivaldoneto@outlook.com

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Até o íntimo do íntimo

Dom Helder Câmara pediu audiência com um importante empresário (e também político) por quem tinha admiração e amizade. Indagado sobre do que se tratava, o Dom respondeu que o mote era o estilo de vida do amigo. Ao encontrá-lo, demonstrando preocupação, o pai dos pobres disse ao bem sucedido que a correria escondia, sem ele notar, um medo de encontrar-se com si mesmo. No texto em que narra esse episódio, Dom Helder afirma com sabedoria: “Tenho visto pessoas que parecem dinâmicas, decididas, fortes, sabendo pensar, sabendo querer, mas na hora de pensar em si, de olhar até o íntimo do íntimo, mil pretextos surgem, mal escondendo o meio pavor ou o pavor e meio de olhar de cheio para o próprio eu…”. Isso foi escrito na década de 70. Acrescente agora 40 anos e chegarás à conclusão que o mundo mudou. Para pior! Além do trabalho em demasia, nos foi adicionado um ingrediente perigoso: tsunami de informações sem filtro algum. Tudo ao nosso alcance. Tenho refletido sobre o nosso ritmo frenético de cada dia, causado pelo excesso de trabalho e de conteúdo. Rapaz, as informações têm chegado em quantidade tão avassaladora que Tico e Teco andam se estranhando. Férias aos neurônios, exijo! Ócio para o cérebro, reivindico! Feliz de quem consiga represar o conteúdo da sociedade moderna. Mais feliz ainda quem filtra ou ignora. Notícias chegam em velocidade estonteante. Depois de meia hora aquilo já não é novidade. Você chega naquela roda de amigos para contar o que ninguém sabe e, surpresa! Sim, todo o mundo já sabe. Tudo está na palma da mão. A informação democratizou-se em demasia. Banalizou-se. Entre as vinte e uma horas do jornal televisivo e as seis horas do dia seguinte, dois ministros já caíram. Quando o zelador entrega o jornal impresso, bem cedinho, já verbaliza que a manchete está desatualizada porque “saiu na internet, doutor, que…”. Criei dependência psicológica da tríade jornal-café-banheiro. Talvez por isso não abandone nem tão cedo a tinta suja do impresso. Teria que fazer terapia para atitude tão corajosa. Mas não bastasse o jornal, tem também o Facebook, o Whatsapp, o podcast do Murilo Gun, os sites especializados em matérias jurídicas. Tudo contribui para hemorroidas. O que antes se fazia em dez minutos, agora leva-se uma hora, sentado ao trono. É o rei escravizado pelo excesso de informação. A vida exige que eu saiba mais e trabalhe mais. Cada vez mais. Então, produtividade, eficiência e conhecimento é o que querem de mim. Run Forrest, Forrest Run! Com informação, estudo e trabalho em demasia, cuidado, o AVC se avizinha. A vida é atropelo, correria. Não vou deixar essa armadilha me pegar. Continuarei valorizando o trabalho. Ele é fundamental à vida como o próprio ato de respirar. “Sem o seu trabalho, o homem não tem honra e sem a sua honra se morre e se mata”, cantou Gonzaguinha. Mas decidi que, a partir de agora, o tempo é o meu. A batida é a minha. Escravizar-se pelo mundo dos negócios 24 horas por dia é afastar-se de si mesmo. É preciso encontrar o ponto de equilíbrio. Estou com 40 anos e com tesão enorme pela minha profissão. Mas, na mesma proporção, com muito desejo de me conhecer melhor. Animado para olhar, como disse o Dom, “até o íntimo do íntimo”. Doar tempo ao “eu” de quem tanto me afastei.

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Luiz Gonzaga: um rei na paisagem

Luiz Gonzaga do Nascimento, conhecido pelo Brasil inteiro como o Rei do Baião, falecido no Recife, em 2 de agosto de 1989, foi considerado por muitos como o Pernambucano do Século quando da passagem do ano de 2000. Em 12 de março de 2015, quando a cidade do Recife festejava o seu 378º aniversário, a prefeitura resolveu homenagear o Rei do Baião com um imenso painel de 77 metros de altura, oito metros de largura e 3,6 de profundidade, com sua imagem em cores vivas fixada no edifício sede. A monumental obra é de autoria do muralista paulista Eduardo Cobra, conhecido internacionalmente por seus trabalhos estampados em 14 países, em cidades como Nova York, Los Angeles e Moscou. O Gonzagão, como foi intitulado o painel da Prefeitura da Cidade do Recife, é a lateral de prédio com mural mais alta da América Latina. O trabalho mostra o cantor e compositor Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, com seu chapéu de couro e sua inseparável sanfona branca de 120 baixos. Para a confecção do mural, Eduardo Kobra usou cerca de 900 latas de spray e mais de 200 galões de esmalte sintético na fachada da prefeitura. “O equipamento foi instalado na face do prédio voltada para o rio e para a Rua da Aurora. É a maior imagem exposta em uma fachada na América Latina”, diz o artista. Nos dias atuais, quem quer que aviste o edifício da Prefeitura, localizado no Cais do Apollo, em qualquer hora do dia ou da noite, vai contemplar a monumental imagem de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião emoldurada pelo céu azul do Recife e pela mansidão do Capibaribe no seu caminhar em busca do oceano Atlântico. DE EXU PARA O MUNDO. Nascido em 13 de dezembro de 1912, no dia em que a Igreja Católica Romana celebra a festa de Santa Luzia, Luiz Gonzaga do Nascimento veio a tornar-se maior divulgador da música rural nordestina. Acompanhando o pai Januário, por bailes e feiras da região, o menino foi, aos poucos, afeiçoando-se aos oitos bai­xos e aos costumes. Cenas e usanças da região que viera des­crever mais tarde. Ao completar 17 anos, fugindo de um castigo de seu pai, o menino Luiz segue para Fortaleza onde se alista no Exército. Em outubro de 1930, com a Revo­lução Liberal é transferido para a Paraíba, percorre vários Estados do Norte, viajando, logo de­pois, para o Centro-Sul aonde vem fixar-se em Minas Gerais. Já no Rio de Janeiro, em 1939, deixa o Exér­cito e vai ganhar a vida como sanfoneiro. Passou a frequentar programas de rádio e surgiu assim o convite de Ja­nuário Franca para acompanhar Genésio Arruda numa gravação na RCA Victor; onde é convidado por Ernesto Matos para participar como solista: Em 1941, Luiz Gonzaga gravou os seus dois primeiros discos 78 RPM. Deixando a Rádio Clube passou para Rádio Tamoio, com um contrato de seiscentos mil réis acrescido da proibição de cantar; tão somente instrumentista. A sua primeira gravação como cantor veio acontecer em 1943, na mazurca Dança Mariquinha, feita de parceria com Miguel Lima. No ano seguinte deixa a Rádio Tamoio, passando para o cast da Rádio Nacional, onde Paulo Gracindo o apelida Luiz “Lua” Gonzaga, numa referência ao rosto redondo. Em 1945, quando do final da Segunda Guerra Mundial, Gonzaga com­põe com Miguel Lima o calango Dezessete e setecentos. No mesmo ano e com o mesmo parceiro, compõe Penerô xe­rém e a mazurca Cortando o pano, tornando-se parceiro, a partir daquele ano, do cearense Humberto Teixeira com quem compôs gran­des sucessos. Dessa parceria surgiu Baião, gravado pelos Quatro Ases e um Coringa na Odeon, gravado em 1946. Inspirado na vestimenta do cangaceiro nordestino e nos vaqueiros do Araripe, Luiz Gonzaga passou a apresentar-se encourado firmando-se como uma marca registrada em todo Brasil. No final dos anos 40 do século 20, surge o encontro com o então estudante de medi­cina José de Souza Dantas Filho… “Estávamos no ano de 1947, no Grande Hotel do Recife, e assim surgiu a parceria Zé Dantas-Luiz Gonzaga responsável pelos maio­res sucessos do baião nos anos 50”. Ao lado de Zé Dantas e Paulo Roberto, Gonzaga par­ticipou, em 1953, do programa da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, depois se transferiu para São Paulo quando suas apresenta­ções ficaram, cada vez mais, restritas a cidades do interior e ao ciclo junino. No mercado discográfico os seus discos con­tinuaram a ser reprensados e, com o aparecimento dos novos discos 33 RPM, os seus maiores sucessos tornaram a ser reeditados pela RCA. Com o aparecimento da bossa nova, da Jovem Guarda, da música dos Beatles e do Elvis Presley, nos anos 50 do século 20, Luiz Gonzaga eclipsou o seu talento e sumiu no cenário da música brasileira. Coube a Carlos Imperial chamar a atenção para o que muitos julgavam… “superado e obsoleto”: A música dos Beatles têm nítidas semelhanças com a música nordestina. Na se­gunda metade dos anos 60 foi o próprio Carlos Imperial que se encarregou de espalhar o boato de que os rapazes cabe­ludos do conjunto The Beatles iriam gravar Asa Branca. Na linguagem dos jornais, de uma “barriga” o Brasil despertou para a grande figura de Luiz Gonzaga. Daí em diante Luiz Gonzaga vol­tou a crescer, e voltou às paradas de sucesso com Ovo de codorna. Nestes três últimos discos, Luiz Gonzaga chegou atingir a mais de 200 mil cópias vendidas em cada lançamento. No âmbito discográfico suas gravações passaram a contar por vezes, com a participação de seu filho Gonzaguinha, Humberto Tei­xeira, Emilinha Borba, Carmélia Alves, Nélson Valença, José Marcolino, Fagner, Gal Costa, Elba Ramalho, Dominguinhos, Sivuca, Dorinha Gadelha, Alcione, dentre outros. O Rei voltou ao seu trono; novamente o baião vol­tou a reinar.

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Quem tem medo do bicho-papão? (Por Paulo Caldas)

Não se trata de um lançamento de literatura infantil, mas sim o resultado de estudos e experiências de um grupo de escritores que tem muito de seus truques e manhas a repassar para o público. Querem saber? Leiam “Quem tem medo do bicho-papão?”. . Cinco autores se reunindo para conversar, opinar sobre seus textos e os textos dos outros, fazer exercícios e tentar aprimorar seus estilos. E, claro, ninguém é de ferro: o trabalho duro fica mais suave com alguns goles de vinho e alguns petiscos ao longo da noite. Assim é a rotina quinzenal do Autoajuda Literária, que está completando seis anos de existência e comemorando o lançamento do seu segundo livro: Escrever ficção não é bicho-papão. Os componentes do grupo – Cícero Belmar, Cleyton Cabral, Gerusa Leal, Lucia Moura e Raimundo de Moraes – são autores premiados e com bastante experiência em oficinas de escrita criativa. Escrever ficção não é bicho-papão foi aprovado pelo Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura) e chega às livrarias com uma proposta inédita no Brasil, no que se refere às dicas de como dar os primeiros passos numa carreira literária. São seis autores (cinco do Autoajuda e o autor convidado Fernando Farias) com seis estilos diferentes, como se dentro do mesmo livro estivessem outros – tudo isso acompanhado de um audiobook nas vozes de Hilda Torres e Marcos Sugahara. O pré-lançamento do Bicho-papão está marcado para 14 de junho, às 18h, no Sesc Santa Rita. Nesse dia, o jornalista Ney Anderson conversa com o Autoajuda. Ney, por sinal, teve a ideia de fazer uma oficina literária on-line que acabou resultando nesse projeto aprovado pelo Funcultura. Quem não puder ir ao lançamento da terça, tem uma oportunidade de pegar os autógrafos na quinta 16, às 19h, no Pátio Café. Escrever ficção não é bicho-papão marca também o início das atividades do Autoajuda Literária como editores. É a primeira publicação das Edições Geni. O selo deverá seguir uma linha editorial investindo em livros em formato pocket e a preços mais acessíveis. Serviço O livro vem com audiobook nas vozes de Hilda Torres e Marcos Sugahara. Capa e arte do selo: Java Araújo. Preço: R$ 25,00 / 150 págs. *Paulo Caldas é escritor

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O mundo das Weissbiers (Por Rivaldo Neto)

Muitos historiadores relatam que a descoberta da cerveja foi acidental. Especula-se que tenha se deixado um pedaço de pão de centeio que se misturou a água, e com isso deu-se a fermentação alcoólica e assim surgiram as primeiras cervejas. Isso na Suméria, antiga Mesopotâmia, e em torno de 4.000 a.C. Depois disso o processo padronizou-se e o malte, constituído de grão de cevada germinados era moído e depois misturado com água e assado. Na Antiguidade, a cerveja era um alimento importante, o líquido era turvo e cheio de resíduos, onde se colocava uma palha para filtrá-los. Desde os primeiros momentos o trigo é um dos principais ingredientes na produção das cervejas. Mas foi na Alemanha que ela ganhou um destaque especial com as Weissbiers. A palavra Weiss, no alemão significa “branco”, ou seja, “cerveja branca”, que é a coloração natural das cervejas produzidas por esse cereal. Esse estilo tem uma variação alcoólica em torno de 5% a 6% não filtrada, característica que permite a ação das leveduras adicionadas na bebida, isso permite que o líquido fique turvo, frutado e bastante aromático. A grande maioria das cervejas Weiss remetem ao cravo, à banana e à maçã, ou podem ocorrer na mistura de várias outras frutas. Como não podia deixar de ser é na Alemanha onde se encontram as principais cervejarias que produzem cervejas de trigo como as cervejas Paulaner, a Erdinguer, a Flensburger e a minha preferida que são as produzidas pela Schneider Weisse.   Muito se confunde em relação as nomenclaturas desse estilo. Só para se ter um exemplo são denominadas de Weiss,Weizen, Hefeweizen, Kristallweizen, Dunkelweizen ou Weizendoppelbock. Mas nada de se assustar, isso nada mais é que os variados estilos de coloração e regiões onde são produzidas. O importante é saber que a palavra weiss como disse anteriormente, quer dizer “branco”, Weizen significa trigo e Hef está relacionado com as leveduras, consequentemente a sua turvação. As cervejas Weiss e Weizen são turvas pálidas e claras, já as Kristallweizen são ainda mais claras. As Witbiers são também cervejas de trigo, fabricadas com o estilo belga, como por exemplo a cerveja Hoegaarden, e são mais cítricas que as weiss alemãs. Vale a pedida: Importadas: Schneider Weisse Tap 7: Cerveja clássica de trigo, excelente. Schneider Weisse Tap 6: Cerveja forte, com graduação maior que média 8,2%. Erdinguer Weissbier: Clássica, leve e com aroma muito agradável. Flensburguer: Cerveja frutada e muito marcante. Paulaner Weiss: Leve e clara, excelente para iniciar nesse estilo. Hoegaarden: Cítrica e aromática. Nacionais: Fun: Frutada, cítricas e aromática, excelente. Weiss Schornstein: Clássica e leve. Schloss: Witbier nacional, cítrica e leve. *Rivaldo Neto é designer e cervejeiro gourmet nas horas vagas rivaldoneto@outlook.com.br

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Festival para crianças abre temporada dos grandes eventos (Por Romildo Moreira)

Anualmente, o segundo semestre é repleto de festivais de artes cênicas na capital pernambucana e o Festival de Teatro Para Crianças do Recife, realizado pela Metron Produções, é quem dá a largada a esses eventos. Na sequência, virão: a Mostra Brasileira de Dança, que acontecerá no período de 29 de julho a 07 de agosto; o Festival Estudantil de Teatro e Dança, em agosto; a 7ª Mostra de Circo do Recife, no mês de setembro; o 21º Festival de Dança do Recife, em outubro e o 18º Festival Recife do Teatro Nacional, em novembro. Em sua décima terceira edição, o Festival de Teatro Para Crianças do Recife traz uma programação plural em estilos de apresentações, totalizando 23 récitas, espalhadas por espaços como o Teatro de Santa Isabel e o Teatro Luiz Mendonça, assim como no mais novo teatro da região metropolitana, o Teatro Experimental Roberto Costa, que estará funcionando no Paulista North Way Shopping. – Que bom dá a notícia da abertura de um teatro e que já inaugura com uma programação de peso e local. Parabéns ao artista empreendedor Roberto Costa e à coordenação do Festival pela ocupação do espaço, contribuindo assim com a sua divulgação. Driblando as dificuldades orçamentárias para o festival em 2016 acontecer, a Metron Produções está contando com a parceria de todos os grupos e companhias teatrais participantes da programação, e da mesma forma, da equipe de produção, que não mede esforços para que esta XIII versão faça tanto sucesso quanto as anteriores. Em mês de férias escolares das crianças, torna-se imprescindível conferir os espetáculos conforme indicação a baixo. Como de práxis, no XIII Festival de Teatro Para Crianças do Recife também haverá homenagem a uma personalidade do teatro pernambucano. E desta feita o eleito foi o ator e diretor Paulo de Pontes, merecidamente, que mesmo residindo em São Paulo desde 2004, não fica ausente da ribalta recifense por muito tempo, a exemplo da última versão do Janeiro de Grandes Espetáculos e exibe em seu currículo, orgulhosamente, como costuma dizer, nos 32 anos de dedicação a este universo artístico, mais de cem espetáculos, sendo a maior parte deles destinados a crianças e jovens. Atualmente Paulo de Pontes integra o elenco fixo do grupo paulista Os Fofos Encenam e a partir do dia 02 de julho estará em cartaz no Teatro João Caetano, na capital paulista, com o espetáculo “O menino e as cerejas”, de Stella Tobar. Como já vimos dizendo neste espaço, da importância dos festivais para o movimento das artes cênicas, aqui e em qualquer parte do território nacional, tanto pela questão da circulação dos espetáculos quanto por possibilitar o acesso ao público local de uma programação que não estaria em pauta na cidade se não fosse o evento, acrescido ainda de trabalho e renda para atores, diretores e técnicos de espetáculo, além de tudo isso, o Festival de Teatro Para Crianças do Recife tem um quê a mais: é um dos poucos festivais inteiramente dedicados ao público infanto-juvenil no Brasil. E isso significa muito em questões como a renovação de público para o teatro e complemento cultural na formação intelectual dessa plateia. – Nunca me canso de repetir a seguinte frase: “Se a escola educa, o teatro instrui, e juntos, formam cidadãos melhores e culturalmente mais preparados para a labuta na vida”. – É de jovens bem preparados para a configuração do Brasil do amanhã, o que mais necessitamos agora. Toda a programação do XIII Festival de Teatro Para Crianças do Recife poderá ser conferida no site: www.teatroparacrianca.com.br . DICAS DE ESPETÁCULOS EM CARTAZ Programação do XIII FTCR: “A Revolta dos Brinquedos”, com a Circus Produções Artísticas. Local: Teatro Luiz Mendonça (Parque Dona Lindu). Dias: 02 e 03/07/2016, às 16h30. Preços: R$ 20,00 e R$ 10,00 – Informações: 988590777. “O Pequeno Príncipe”, com a Cia. do Riso (Foto acima). Local: Teatro Experimental Roberto Costa (Paulista North Wae Shopping) Dias: 02 e 03/07/2016, às 16h30. Preços: R$ 20,00 e R$ 10,00.

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Um Galeão Voador pousa nas escolas (Por Paulo Caldas)

Há um bom tempo que escolas do ensino médio e fundamental de Pernambuco adotam os livros paradidáticos, chamados de literatura complementar, da autoria de escritores locais ou aqui radicados. O fato poderia parecer comum não fosse a concorrência das editoras do Sudeste e Sul do País, sempre ávidas para ocupar preciosos espaços nesse nicho do mercado livreiro. Ao longo dos últimos 30 anos, pelo menos, a produção local tem marcado presença com a publicação de títulos que se mostram em conteúdo e estética tão bons quanto os que vêm de fora. E essa prática tanto resgatou quanto revelou inúmeros autores com o dom de escrever para a faixa etária a que se propõe e artistas gráficos que correspondem às expectativas com ilustrações de alta qualidade. Dois nomes que integram o atual cenário das letras e artes visuais por aqui se encontram no livro O Olho do Leviatã, Editora Bagaço (2014), escrito por Luiz Marcello Trigo e ilustrado por Eduardo Souza. A engenhosa peça de fantasia se passa num mundo fantástico, onde um galeão voador caça monstros pelo céu numa ação eletrizante destinada ao público infanto-juvenil. O texto apresenta personagens, cenários e trama concebidos à capacidade imaginativa do autor. Os desenhos de Souza se destacam no traço criativo e no manuseio dos matizes concebidos com destreza pelo artista. Mais um troféu no Balaio O escritor pernambucano André Balaio, autor de A Rasteira da Perna Cabeluda, entre outros sucessos no campo da narrativa fantástica, obteve o primeiro lugar no Prêmio Off Flip / Bibliomundi de Literatura com o conto “O lado de lá”. Balaio concorreu com outros  530 autores de todo o Brasil e demais países de língua portuguesa no gênero Conto. Além do prêmio em dinheiro, terá o texto publicado em coletânea do Selo Off Flip. O sarau de premiação acontecerá no sábado, dia 02 de julho, no Centro Cultural Sesc Paraty na programação da Off Flip das Letras durante a Festa Literária Internacional de Paraty.     *Paulo Caldas é Escritor

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